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9.27.2010

RACIONALIDADE E PRECONCEITO: A miséria urbana é resultado da proliferação dos filhos indesejados dos pobres.

Drauzio Varella afirma em entrevista à Carta Capital Saúde, N° 341-A  que: "não se convence pela racionalidade...pessoas racionais representam uma pequena parcela da população", p. 11. Será? Proporemos uma análise desta assertiva.

1. Porta voz da saúde: Drauzio Varella é tido por muitos como o médico provavelmente mais conhecido do país em virtude de seus programas de rádio e TV, onde procura tornar mais populares e acessíveis a medicina e a ciência.

2. Com a palavra o médico: Em entrevista à Carta Capital Saúde, Drauzio Varella afirma, o que será objeto de nossa análise mais abaixo: Aprendi, nesses anos todos, que não se convence pela racionalidade. Pela racionalidade, convencem-se as pessoas que são racionais, mas as pessoas racionais representam uma pequena parcela da população. Grande parte da humanidade é constituída por pessoas que agem emocionalmente o tempo todo...Você tem de passar o racional e, paralelamente, tem de pegar pela emoção, pois é pela emoção que você convence.

3. Analisando: Tudo o que disse Drauzio Varella pode ser resumido na seguinte lógica: a racionalidade é de poucos que a desenvolvem, ou seja, uma parcela da humanidade tem racionalidade e outra não e a esta se deve explicar tudo pela emoção. Drauzio Varella parece desenvolver uma dicotomia: razão e emoção, que são inseparáveis na realidade do homem, pois a emoção é própria do ser que tem racionalidade. Ninguém é mais racional por ter menos emoção ou mais emotivo por ser menos racional. O atributo racionalidade é comum a todos os homens, sejam eles alfabetizados ou não, pois o que norteia a racionalidade não é ser ou não dado às letras, senão possuir razão, que nos parece, segundo a afirmação de Drauzio Varella, somente uma parcela da população estaria excluída. Ora, se estivesse excluída a racionalidade de alguma parcela, os que a constituísse não seriam seres racionais e, logo, muito menos, humanos, o que é um absurdo. Portanto, as palavras do entrevistado apontam para duas situações: ou ele está desinformado acerca do que é razão e emoção ou é preconceituoso.

4. A ignorância gera o preconceito: Ninguém é obrigado a estudar filosofia para distinguir razão e emoção, mas também não precisa estudá-la para saber que no homem a intensidade de uma não anula a existência da outra. E isso não fica claro nas palavras do entrevistado. Pelo contrário, suas palavras reforçam que ele não entende que coisas podem distinguirem-se e não serem separadas: branco se distingue de vermelho, mas ambos são cores. Neste caso ele ignora isso e em virtude desta ignorância suas palavras soam preconceituosas ao afirmar que não se convence pela racionalidade. Pela racionalidade, convencem-se as pessoas que são racionais, mas as pessoas racionais representam uma pequena parcela da população. Este é um típico caso de como em ética aprendemos que da ignorância nasce o preconceito.

5. Conclusão: Drauzio Varella é formador de opinião entre o público que o assite e o acompanha em seus programas. Por esta razão deveria ter um maior cuidado com o que diz. Não há uma parcela emotiva e outra racional da população. O homem é em sua integralidade racional: e é justamente por ser racional a causa de ter emoções. As emoções são os sentimentos de uma alma racional. Não raro em sua pedagogia encontramos argumentos contraditórios que defendem uma postura que ele tem por verdadeira, mas que não necessariamente o é. Dou como exemplo a livre propaganda que faz do suposto benefício que o uso de contraceptivos e abortivos causariam à sociedade. Temos visto em outro lugar a falácia desta argumentação [vejam Steven Levitt]. A esterilização de pobres, tese muito defendida pelo médico, não resolve o problema da injustiça social que há, senão todo o contrário, abre o precedente, uma janela para um grande preconceito: a de que a miséria urbana é resultado da proliferação dos filhos indesejados dos pobres. Infelizmente de palavras não pensadas como estas nos levam a chegar a esta conclusão. Portanto, se para popularizar a medicina haja que cometer equívocos e defender teses imorais, deixem esta 'medicina' no púlpito das academias que a ensinam.
Carta Capital

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