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9.27.2010

TUDO SOBRE O REFLUXO

Combate ao refluxo

Entre os sintomas mais frequentes estão a azia e dores no tórax. Para prevenir, mude a alimentação e também outros hábitos
A definição é nebulosa: “Condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas e/ou outras complicações”.

Os sintomas e condições associadas à doença do refluxo podem ser classificados em dois grupos:
1. Síndromes esofágicas
Os sintomas mais comuns são: azia, regurgitação, dor à deglutição e dores no tórax. Salivação excessiva e náuseas são menos frequentes.
Há quatro condições associadas: esofagite de refluxo com erosão e necrose da mucosa de revestimento logo acima da junção com o estômago; estreitamento esofágico causado pela inflamação; esôfago de Barrett caracterizado por alterações nas células da porção terminal do órgão; e adenocarcinoma.
2. Síndromes extraesofágicas
Tosse crônica e laringite acompanhada de rouquidão e pigarro persistente, geralmente associada ao uso excessivo da voz, a irritantes ambientais e ao cigarro.
Asma (como um cofator nos casos de difícil controle das crises).
Erosão do esmalte dos dentes causada pelo conteúdo gástrico ao refluir até a boca
Paradoxalmente, cerca de dois terços das pessoas que se queixam de refluxo, não apresentam nenhuma esofagite à endoscopia.
Por essa razão, quando os sintomas são típicos e a resposta ao tratamento é rápida não há necessidade de realizar endoscopias nem outros exames. No entanto, a maioria dos médicos opta pelo exame endoscópico para afastar as possibilidades de estreitamento esofágico, câncer ou esôfago de Barrett, condição que predispõe à malignização.
Em casos selecionados, exames mais complexos permitem avaliar a motilidade gástrica, quantificar a exposição do esôfago ao ácido e relacionar os sintomas com a periodicidade dos refluxos.
O tratamento envolve:
1. Dieta alimentar
Evitar frutas cítricas, tomates, cebolas, bebidas gasosas ou com cafeína, comidas apimentadas, gordurosas ou fritas, chocolate, café e chá.
2. Mudanças no estilo de vida
Parar de fumar.
Se houver sobrepeso ou obesidade, emagrecer.
Reduzir o consumo de álcool (especialmente vinho tinto à noite).
Evitar refeições copiosas, e só ir para a cama duas ou três horas depois da alimentação. Não deitar depois das refeições.
Nos casos em que os refluxos acontecem à noite, elevar a cabeceira da cama. Não usar roupas nem cintos apertados.
3. Medicamentos
Reduzir a acidez do suco gástrico melhora os sintomas e facilita a regeneração dos tecidos lesados pela inflamação.
Existem dois grupos de medicamentos usados com essa finalidade: os inibidores da bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol, lanzoprazol, esomeprazol e outros) e os antagonistas do receptor H2 (cimetidina, ranitidina, famotidina e outros).
Os estudos mostram que os inibidores da bomba de prótons são mais eficazes tanto na cura das esofagites quanto no controle dos sintomas.
A duração do tratamento é extremamente variável. Como os sintomas tendem a se tornar crônicos, o uso prolongado é indicado em parte significante dos casos. Um estudo documentou boa eficácia e segurança dos inibidores da bomba de prótons por períodos de até 11 anos.
Os riscos potenciais do uso prolongado são: má absorção de nutrientes, pequenos aumentos do número de fraturas ósseas depois dos 50 anos de idade (má absorção de cálcio) e de gastroenterites.
Antiácidos podem ser úteis nas crises de azia que surgem apesar da medicação.
4. Cirurgia
A cirurgia clássica (fundoplicação de Nissen) é feita por laparoscopia. Nela, a parte alta do estômago é suturada ao redor da porção distal do esôfago com o objetivo de criar uma barreira antirrefluxo.
Depois de um período eufórico nos anos 90, as indicações cirúrgicas se tornaram mais restritas porque a eficácia é maior na cura da esofagite do que no controle dos sintomas. Avaliados depois de dez anos, cerca de 60% dos operados voltam a tomar medicação.
Drauzio Varella

SAIBA MAIS SOBRE REFLUXO:

DOENÇA DO REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO - DRGE
Sinônimos e nomes populares:
Esofagite de refluxo, hérnia de hiato, azia, regurgitação e refluxo.
O que é?
É um conjunto de queixas que acompanha alterações no esôfago resultantes do refluxo (retorno) anormal do conteúdo estomacal, naturalmente ácido, para o esôfago.
Como se desenvolve ou como se adquire?
O esôfago do adulto é um canal de 35 a 40 cm, que liga a boca ao estômago. Ele é elástico e na espessura de sua parede contém camadas musculares recobertas internamente por uma delicada pele com o nome de mucosa, parecida com o revestimento da boca. O início do esôfago fixa-se na parte inferior da garganta, desce pelo mediastino e cruza o diafragma através de um orifício chamado hiato, poucos centímetros antes de se abrir no estômago. O mediastino é a região entre os dois pulmões e o diafragma; é uma calota muscular que divide o tórax do abdome. O esôfago tem ligamentos para prendê-lo junto ao hiato diafragmático e que contribuem para formar um tipo de válvula de retenção para impedir o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago.
Quando o esôfago desliza para cima mais que 2 a 3 cm., traciona o estômago e ambas as estruturas se deslocam para o tórax. Decorre dessa alteração anatômica a Hérnia Hiatal que, por sua vez, prejudica a válvula anti-refluxo. Quando o conteúdo do estômago, em geral muito ácido, atinge a mucosa esofágica, este tecido reage - inflama - originando a Esofagite de Refluxo.
O que se sente?
A azia é a principal queixa e raramente não ocorre. Seu nome técnico é pirose. Pode piorar, por exemplo, quando se dobra o peito sobre a barriga e quando se deita com o estômago cheio. É referida como ardência ou queimação, em algum ponto entre a "boca do estômago" e o queixo, correndo por trás do esterno, o "osso do peito". A azia pode ser tão intensa como uma dor no peito, causando impressão de infarto cardíaco. Pode ocorrer também um aumento da salivação, a sialorréia, que é um reflexo natural porque a deglutição dessa saliva alivia a queimação, como se fosse um antiácido natural.
A regurgitação é a percepção da volta do conteúdo estomacal no sentido da boca, sem enjôo ou vômito, freqüentemente, com azedume ou amargor. Não raro determina tosse, pigarro e alterações da voz. O engasgo - tosse forte e súbita, atrapalhando a respiração - pode despertar do sono e representar uma situação de refluxo gastro-esofágico. A ocorrência de falta de ar com chiado no peito, como a asma, pode ser desencadeada pelo refluxo.
Sensações, desde bola na garganta e desconforto ao engolir até fortes dores em aperto - espasmos - no meio do peito, representam uma desorganização das contrações faringo-esofágicas responsáveis por levarem ao estômago aquilo que ingerimos. Esses sintomas são considerados complicações do refluxo e levam o nome geral de dismotricidade esofágica.
Na criança, ainda no primeiro ano de vida, pode ocorrer um refluxo gastro-esofágico excessivo, levando à devolução da mamada, a engasgos, a choro excessivo, a sono interrompido e quando repetitivo, predispõe a infecções e distúrbios respiratórios.
Como o médico faz o diagnóstico?
O relato do paciente adulto jovem pode levar ao diagnóstico, sem necessidade de exames num primeiro evento.
A radiografia da transição esofagogástrica, enquanto se deglute um contraste rádio-opaco, pode demonstrar tanto a hérnia, quanto o refluxo.
A Endoscopia Digestiva Superior é um exame para visualizar o esôfago, estômago e duodeno, passando um fino feixe de fibras óticas através da boca. A evolução da qualidade dos equipamentos, da eficiência da anestesia local da garganta, a eficácia e a segurança da sedação do paciente, tornaram a endoscopia um exame simplificado, do qual se acorda “sem ressaca”. Além disto, pode ser repetida para controle de resultado de tratamento e, mais recentemente, para procedimentos terapêuticos especiais. Uma tela recebe e amplifica com nitidez as imagens das áreas sob inspeção direta, permitindo também fotos e filmes para reexaminar os achados. Pode mostrar a incompetência da válvula de retenção gastro-esofágica e a hérnia. O mais importante é que permite ver manchas vermelhas, placas branquicentas e úlceras, principalmente na mucosa do esôfago inferior, sugestivas de graus variados da Esofagite de Refluxo. A endoscopia facilita a coleta de material destas lesões para exame microscópico, no qual se pode definir a inflamação, avaliar um potencial cancerígeno e até diagnosticar o câncer.
A Cintilografia do trânsito esôfago-gástrico é um método que tem sido usado mais na criança. Administra-se uma mamadeira normal, contendo uma quantidade inofensiva de substância radioativa. A cintilografia capta e registra imagens da radioatividade descendo para o estômago ou do estômago refluindo para o esôfago. É uma metodologia não invasiva, indolor e ambulatorial. Entretanto, nem sempre capta o refluxo, pois este não é permanente.
O estudo da pressão interna ao longo do esôfago (Manometria) e a verificação do refluxo da acidez do estômago para o esôfago (pHmetria de 24 horas) detectam variações naturais e anormalidades capazes de diagnosticar a DRGE. São métodos que chegaram à rotina clínica há relativamente poucos anos. Precisam ser usados quando os demais tem resultados insatisfatórios e para estudar parâmetros antes e depois do eventual tratamento cirúrgico da doença do refluxo.
Como se trata?
Em geral, o tratamento é clínico, com medidas educativas associadas aos medicamentos. A vídeo-laparoscopia vem facilitando o método cirúrgico, aplicado a casos selecionados, com resultados muito bons.
Além de combater a obesidade, é importante evitar grandes volumes às refeições e de deitar nas primeiras duas horas seguintes. Algumas pessoas beneficiam-se de dormir numa cama elevada pelos pés da cabeceira, em 20 a 25 cm. Outras, não se adaptam à posição: incham os pés, doem as costas, etc. Há controvérsias sobre restrição de diversos alimentos, particularmente, cítricos, doces e gordurosos. Ajudam no controle dos sintomas, algumas medidas, como: evitar a bebida alcoólica, não deglutir líquidos muito quentes, ingerir um mínimo de líquidos durante ou logo após as refeições, evitar a ingestão de chá preto e café puro com estômago vazio.
Os medicamentos mais usados são os que diminuem o grau da acidez no estômago (os populares antiácidos) e aqueles que inibem a produção de ácido pelas células do estômago ("antiácidos sistêmicos"). Outros remédios de um grupo chamado de pró-cinéticos destinam-se a facilitar o esvaziamento do conteúdo estomacal para o intestino, minimizando a quantidade capaz de refluir para o esôfago.
Uma queixa importante dos pacientes é a recidiva dos sintomas, particularmente da azia, poucos dias após o término dos medicamentos. Nesse momento, surge a questão do tratamento por tempo indeterminado ou do tratamento cirúrgico.
Vale dizer que o tratamento clínico combate muito bem os sintomas, mas não modifica a hérnia hiatal e poucas vezes muda o refluxo gastro-esofágico, propriamente dito.
Como se previne?
Na prática clínica há a prevenção da recidiva dos sintomas, que se resume no seguimento das medidas ditas educativas instituídas quando do primeiro tratamento.

Perguntas que você pode fazer ao seu médico
Para que serve o tratamento?
Devo tomar os remédios mesmo quando estiver bem?
E se estiver bem há muito tempo?
Se eu parar de tomar os remédios, os sintomas vão voltar?
O que faço quando acabar a receita?
A doença tem cura?
Vou precisar repetir exames?
De quanto em quanto tempo?
O que faço se os sintomas piorarem durante o tratamento?
Posso precisar de cirurgia?
Se operar vou ficar curado?
A doença pode voltar?
Sou portador de “stent” arterial e recebo clopidogrel, posso usar omeprazol ao mesmo tempo?

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