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9.21.2010
TOSSE
Tossir é normal. É um ato de defesa do organismo contra fatores agressores do aparelho respiratório, como por exemplo, quando estamos próximos a um carro “fumacento”. Mas, pode também ser um sintoma de inúmeras doenças, variando desde gripes e resfriados até casos graves pulmonares. Xaropes e expectorantes têm efeito paliativo, proporcionando apenas alívio passageiro. O mais importante é investigar e tratar a causa, para abolir a tosse.
Como ocorre a tosse:
A tosse é um reflexo complexo composto de uma inspiração profunda seguida pelo fechamento da glote e de uma expiração súbita e forçada, acompanhada da contração dos músculos do tórax, do diafragma. Ao mesmo tempo, os músculos abdominais sofrem uma violenta movimentação em direção ao aparelho respiratório, “empurrando” o diafragma , expulsando o ar. Segue-se a abertura da glote, culminando com a saída ruidosa e súbita do ar pela boca.
Existem ainda os chamados “centros de tosse”, que são verdadeiros sensores localizados em toda a árvore brônquica e ainda em locais variados do organismo, como: seios da face, laringe, esôfago, estômago, coração, etc. Estas estruturas são sensíveis ao reflexo e estão conectadas ao cérebro, que é o grande coordenador da tosse. Assim, emitem um aviso, o cérebro responde e envia a ordem para desencadear o sintoma. Por isso, a tosse é um reflexo que depende parcialmente de nossa vontade e em algumas situações não há como evitá-la.
O fato destes sensores existirem em locais variados do corpo humano explica o porquê de algumas doenças distantes do aparelho respiratório fazerem uma pessoa tossir, como por exemplo num refluxo gastro-esofágico ou numa inflamação do pericárdio.
Para que serve a tosse?
A tosse é um verdadeiro jato de limpeza: elimina o excesso de secreções e corpos estranhos, como por exemplo, partículas de pó. Defende contra um sem número de agressões: micróbios, infecções, poluição, fumaça, etc.
A tosse pode ser transitória, ou seja, quando desaparece em pouco tempo, ou pode ser crônica, quando permanece por mais de 3 semanas. No primeiro caso, não há problema, mas quando persiste, é importante procurar um médico para avaliar a causa de sua permanência. Na realidade, qualquer tosse deve ser valorizada, pois é a tosse recente que originará a tosse crônica, caso não seja resolvida.
O que pode provocar tosse?
Situações que provocam tosse: inflamação, secreção anormal, ressecamento ou resfriamento do ar inspirado, corpos estranhos ao local, irritantes químicos e gases. Momentos de estresse emocional são capazes de desencadear o sintoma.
Doenças que podem se acompanhar de tosse: resfriados, gripes, alergias respiratórias, infecções virais, asma, rinite, sinusite, DPOC (doenças pulmonares obstrutivas crônicas), refluxo gastro-esofágico
Citam-se ainda os remédios que podem provocar tosse : alguns antihipertensivos (inibidores da ECA e betabloqueadores), colírios para glaucoma, analgésicos e antinflamatórios em pessoas sensíveis à aspirina.
As doenças que acometem o nariz e os seios da face podem fazer tossir em decorrência do muco que tende a escorrer por trás das narinas em direção à faringe, denominado de gotejamento pós-nasal. Esta secreção provoca os centros da tosse localizados nesta região e provocam um estímulo reflexo em direção ao cérebro, surgindo a tosse. Em geral, ocorre piora à noite pois a permanência na posição deitada durante o sono aumenta o gotejamento e a irritação dos sensores localizados na hipofaringe.
Pessoas portadoras de asma tossem com facilidade. Um dado curioso é que em cerca de 20% de casos, a tosse pode ser o único sintoma da asma, surgindo em forma de crises, ao correr, rir ou praticar atividades que exijam esforço físico.
A tosse do fumante surge em função da inalação da fumaça contendo várias substâncias químicas nocivas que podem irritar o aparelho respiratório. Muitos pensam que neste caso, tossir é normal, mas não é verdadeiro: é sim, um sinal de agravamento dos males do cigarro.
Causas digestivas podem provocar tosse, como por exemplo nas pessoas portadoras de refluxo gastro-esofágico. Neste caso, há uma regurgitação do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, gerando uma inflamação local e daí ativando os centros reflexos, originando a tosse que em geral é seca com piora noturna e podendo se acompanhar de rouquidão. Nem sempre há sintomas gástricos, como azia, dor ou queimação, acompanhando o quadro.
Crianças: as principais causas de tosse também são a asma, rinite, sinusite e refluxo GE. Uma situação que pode ocorrer na infância é a aspiração de objetos provocando tosse. Além disso, verifica-se o surgimento do sintoma por ação irritativa, como por exemplo naquelas que convivem com fumantes ou em momentos de tensão emocional. A inalação da fumaça do cigarro piora a asma e a rinite, além de provocar tosse mesmo em crianças saudáveis.
Em crianças pequenas, recomenda-se que a mamadeira não seja oferecida durante o sono e na posição deitada pois constitui uma causa comum de piora noturna. A última refeição deve ser feita com a criança acordada, devendo deitar pelo menos uma hora após alimentar-se.
Tosse pós-viral: uma criança pode continuar tossindo semanas após uma infecção viral de vias respiratórias – um exemplo é a bronquiolite – em especial naquelas portadoras de alergia.
Em qualquer idade, uma atenção especial deve ser dada às condições do dormitório, travesseiros e colchões já que os ácaros são causas de alergia respiratória e tosse. A presença de animais domésticos (gatos e cães) pode contribuir, em especial quando permanecem nos quartos ou dormem nas camas junto aos seus donos.
Como combater a tosse?
Procure um médico: é necessário tratar a causa para combater a tosse.
Dicas que podem ajudar:
- beber muita água, de preferência fora das refeições.
- os fonoaudiólogos lembram que o pigarro e a tosse são hábitos que podem prejudicar a voz. O atrito brusco nas cordas vocais cada vez que tossimos pode provocar à longo prazo os chamados calos vocais. Beba água sempre que tiver vontade de pigarrear e combata a causa do problema
- iniciar uma medicação aliviadora orientada previamente por seu médico. Nos casos de asma, o uso de um broncodilatador, sob forma de aerossol ou nebulização pode aliviar a tosse e evitar uma crise. Na rinite, a lavagem nasal com solução salina e uso de antialérgico contribuem para a melhora.
- verificar se existe algum fator no ambiente da casa (pintura, odores ativos, focos de umidade, etc.) e comunicar ao médico.
- gripes e resfriados têm uma evolução própria, melhorando em geral no decorrer de 4 a 5 dias. A ingestão de líquidos, uma dieta equilibrada, repouso e uso de antitérmicos em geral são suficientes para a cura do processo.
- evite uso de vaporizadores e umidificadores no quarto pois aumentam a possibilidade de mofos, fungos e ácaros no ambiente.
Blog da Alergia
Entrevista do médico Daniel Deheinzelin sbre a Tosse
A Medicina parece não ter evoluído o suficiente para resolver um dos sintomas respiratórios mais freqüentes e que acarretam sérios transtornos para as pessoas: a tosse. Uma série de patologias, desde um simples resfriado até um tumor maligno, provoca tosse. Qual a explicação para a existência da tosse?
O aparelho respiratório assemelha-se a um grande funil invertido. O ar entra pela extremidade mais estreita e, através de tubos de condução, entre eles os brônquios, chega aos pulmões, a parte mais larga do funil. Há dezessete ramificações principais de brônquios que vão se dividindo até alcançar pequenas áreas onde ocorre a troca de gases. A questão é como manter limpo esse sistema, uma vez que o contato direto com o exterior permite a entrada de sujeira e infecções. Por isso, o ideal é respirar pelo nariz: sua estrutura anatomicamente perfeita para reter o material grosseiro que o ar carrega, impede que a poeira chegue aos pulmões. Além disso, o nariz é revestido por cílios e muco. Grosso modo, pode-se descrever o processo da seguinte maneira: o muco recobre os cílios e, por impacto ou perda de velocidade, as partículas de sujeira tendem a sedimentar-se sobre ele que as empurra num movimento oscilatório semelhante ao do vento soprando num campo de trigo. Assim, o muco progride até atingir as vias aéreas mais calibrosas para ser expulso. Relembrando a figura do funil invertido, é fácil deduzir que o caminho de volta pode ser obstruído por pequenas quantidades de muco. Fechada a ponta do funil, a pressão aumenta e, para eliminá-la, a musculatura é contraída e sobrevém um acesso de tosse. Em muitos aspectos, o reflexo da tosse é natural e benéfico, pois ajuda a expulsar secreção ou corpos estranhos.
Que alterações podem provocar o reflexo da tosse?
Inúmeras são as causas da tosse: irritação da mucosa, cílios defeituosos, acúmulo de secreção, presença de material estranho. Se alguém engasga, por exemplo, a obstrução se dá primeiro na glote, a “tampa” que abre e fecha a laringe. No entanto, se chegar aos pulmões, estimulará um reflexo de tosse. Também provoca tosse o crescimento anômalo de células no pulmão ou nos brônquios. O organismo reconhece a invasão e reage acionando um reflexo de tosse que infelizmente é incapaz de eliminar o tumor.
Apesar de incômoda e desgastante, a tosse pode ter efeitos benéficos. Isso sempre acontece ou há tosses inúteis, irritativas que só fazem sofrer. Como se distingue um tipo do outro?
Há dois tipos de tosse: a tosse seca e a tosse produtiva. É pela presença ou não de muco que se estabelece a diferença. Na tosse produtiva existe um catarro que se movimenta e é eliminado. Na tosse seca, esse catarro parece não existir. Portanto, é preciso avaliar se a tosse é realmente seca ou se, por desidratação ou tratamento incorreto, ele não flui.
Na verdade a tosse é apenas um sintoma que exige diagnóstico cuidadoso. Nas crises de asma, por exemplo, os brônquios entram em constrição. Esse fechar dos brônquios provoca a sensação de que algo estranho dentro deles deve ser expelido. A musculatura ao redor se contrai e surge tosse seca mesmo que não haja outros sintomas de asma.
Estatísticas sugerem, todavia, que 40% das tosses secas surgem por problemas nas vias aéreas superiores, dado que se repete nos casos de tosse produtiva, com catarro.
Vale mencionar, ainda, outra causa comum de tosse: a esofagite. O esôfago é um órgão muito próximo da traquéia e da entrada dos pulmões. Se, por problemas do aparelho digestivo, o refluxo do ácido estomacal subir pelo esôfago e atingir as vias aéreas, provocará um reflexo de tosse indicativo de uma patologia gastroesofágica que pode acarretar complicações respiratórias sérias.
O tratamento da tosse crônica
Que medidas práticas podem ser adotadas diante de crises de tosse?
A tosse é, em princípio, benéfica se ajuda a eliminar o catarro retido nos pulmões. Se for seca, deve-se investigar se o paciente está desidratado e, nesse caso, recomendar que beba muita água, de 2,5 a 3 litros por dia. A água é o melhor antitussígeno que se conhece, pois facilita a movimentação do muco sobre os cílios. E não fica só nisso: quando há obstrução e tosse, a respiração se acelera e o tempo necessário para umidificar e aquecer o ar externo torna-se exíguo, diminuindo a eficiência do movimento do muco. Por isso se recomenda ingerir muita água, beber água até a urina ficar clarinha, sinal de boa hidratação.
Muita cautela com o uso de xaropes, já que vários medicamentos englobados nessa categoria são vendidos livremente nas farmácias. Há os xaropes ditos expectorantes, de eficácia discutível, que facilitam o transporte do muco e os sedativos da tosse, em geral com codeína ou outra substância análoga, que inibem o reflexo de tosse. Há os que, paradoxalmente, associam as duas indicações, mas nenhum deles supera o valor terapêutico da água. Acredite, água é ótimo para tosse.
Em relação aos xaropes broncodilatadores, a coisa muda de figura. Esses são eficientes para quem apresenta broncoespasmo e devem ser prescritos.
Tosse crônica nunca é natural mesmo em se tratando de fumantes inveterados. É imprescindível procurar atendimento médico para uma avaliação precisa do quadro clínico se a tosse persistir por duas semanas.
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