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11.04.2010

O racismo na era da internet 

(Com Comentários)


A web confere uma falsa sensação de anonimato e torna-se um instrumento para manifestação de preconceitos contra nordestinos. Presidente da OAB-PE garante ação contra agressores
“É tudo culpa dos nordestinos….. seca eterna para vocês!!!! Dilma presidente Parabéns povo burro!!” Esta frase foi postada na rede de microblogs Twitter na segunda-feira 1º, dia seguinte a vitória de Dilma Rousseff na disputa pela presidência da República. Longe de ser um caso isolado, surgiram na rede social diversas manifestações de preconceito que atribuíam a eleição da candidata do PT à larga vantagem obtida nos estados do Norte e Nordeste.
A coordenadora do Núcleo de Combate a Discriminação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Maíra Coraci Diniz, lembra os autores dos posts no Twitter podem ser enquadrados na Lei 7.716, que trata dos crimes de preconceito contra raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. “O problema é que o anonimato na internet dificulta, porque tem que pedir a quebra do sigilo para o site de relacionamento”, explica. Segundo ela, as pessoas divulgam mensagens discriminatórias por acharem que, na rede, estarão livres de qualquer consequencia.
Apesar de não haver lei contra o racismo que foque a internet, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco, Henrique Mariano, destaca que a jurisprudência considera as redes sociais meios de comunicação e, por isso, as enquadra na Lei 7.716. “Tomamos o preconceito pela internet como igual a quem assina artigos racistas numa revista, por exemplo. Com o agravante de o Twitter ter um poder de disseminação muito maior”, destaca o presidente. Mariano afirma que a OAB-PE entrará, na quinta-feira 4, com uma queixa-crime contra a estudante de Direito Mayara Petruso, uma das autoras das mensagens. “Isso não impede que, na medida em que mais usuários forem identificados, ações contra outras pessoas sejam movidas”, destaca Mariano.
Não é a primeira vez que as redes sociais são usadas para manifestações preconceituosas. Durante as enchentes que assolaram os estados da região, neste ano, uma comunidade no Orkut foi criada com o nome Odeio Nordestino. Os integrantes lamentavam que, com o desastre natural, mais famílias do Nordeste migrariam para os estados do Sul-Sudeste.
Também da internet veio a reação de repúdio as mensagens. Um site chamado Xenofobia Não foi criado e tenta reunir o maior número possível de manifestações preconceituosas. Além do mais, na segunda-feira 1º, a tag #orgulhodesernordestino, campanha criada por tuiteiros contra a discriminação, foi a primeira nos Trending Topics Brasil e uma das mais comentadas no mundo.
Falácia
Além de revelar um profundo sentimento de discriminação, os comentários que circularam na internet após as eleições se baseiam em uma afirmação falsa. Dilma Rousseff venceria mesmo se só fossem computados os votos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Seriam 33,2 milhões de votos para a petista contra 32,9 milhões para José Serra (PSDB).
Sobre a questão do preconceito contra os eleitores do Nordeste, é imprescindível a leitura do texto da professora Tânia Bacelar Araújo, publicada aqui depois do 1º turno das eleições. (clique aqui)

63 Respostas para “O racismo na era da internet”

  • Giovani Mocelin disse:
    Eu não sou anônimo e posto aqui o meu desagravo a esta força obscura, o renascer mais uma vez do fascismo, nem dissimulado, com uma paródia sobre texto original de Olavo Bilac:
    Última (será?) flor do Fascio,
    Estulta e feia,
    És a um tempo, horror e sepultura,
    Lodo nativo, que no esterco impura,
    Aflora e entre os fascistas vela,
    Detesto-te, e que permaneças desconhecida e impura,
    Entre os acólitos dos demos e tucanos,
    Como esta candidata a rábula da ditadura.
  • Robson disse:
    É muito bom ver que o Presidente da OAB-PE se pronunciou sobre o caso, agora tomara que haja realmente
    uma punição para todos que pratiquem tal atos.
  • ONILDO ELIAS DE CASTRO LIMA disse:
    A solução do problema não é o enquadramento do “tuwiteiro” na lei de preconceito, até porque não dá para caracterizar como tal.
    A rede social é formada na grande maioria de jovens, que ainda estão formando sua personalidade. A rede social também é para isso. As pessoas vão errando e acertando. É o método de “pesquisa-ação”, “tentativa-e-erro”.
    A solução está na própria rede social, como bem o artigo demonstra. O bom senso estabelecerá o equilíbrio e, com certeza, expurgará a “erva daninha”.
    Agora, a proposta é tão intolerante quanto à intolerância do anônimo “twitteiro”.
  • Cunha disse:
    Essa eleição foi uma obra Divina,pois fez a hipocrisia de Pindorama sair do sub-consciente de muita gente e se expor ao mundo na internet e nos meios de comunicação. Foi ótimo! Só assim pode-se diagnosticar o grau de influências das feridas históricas em nossa sociedade e poder haver uma nova ordem pública,criando assim uma “vacina” a ser reforçada no dia-a-dia em nosso sistema de educação.
  • Adriany disse:
    Fiquei chocada com a atitude dessa elite grotesca, que se intitula melhor do que os outros. Somos um só povo, de norte a sul, sem exceção. Nosso País deveria se envergonhar dessas pessoas, somos parabenizados pelos estrangeiros e ridicularizados por pessoas que se dizem brasileiros, aqui dentro de nossa própria terra. Me desculpem, mas essas pessoas não são dignas de serem chamados de “brasileiros”.
  • alexandre disse:
    Umdia me disseram que estudar de mais emburrece,duvidei, mas quando leio certas coisas me digno a dizer que estudar de mais endoidece.
  • Jorge disse:
    O preconceito dos paulistas é porque os nordestinos nunca tiraram o prêmio Nobel… nunca projetaram um carro ou televisão… nunca criaram um chip… Os paulistas TAMBÉM NÃO, mas eles se acham pioneiros nisso, e não aceitam que os nordestinos façam o mesmo.
  • Elvira Rosa disse:
    Providencial artigo. O texto de Tãnia Bacelar realmente é lúcido e reproduz exatamente a realidade do atual Nordeste.Sou paulistana, funcionária pública concursada de área estratégica estatal nordestina, tendo vivenciado os efeitos no povo tanto na gestão PSDB (dobradinha governo/presidencia) como os ultimos oito anos. Hoje, indiscutivelmente, o povo nordestino, do mais recondito munícipio não está mais disposto a ter sua força de trabalho remunerada por comida e teto: adquiriu auto-estima e dignidade tanto pelo bolsa-família como o acesso à educação e suas repercussões(universidades públicas interiorizadas e multiplicadas; tele-ensino do fundamental ao cursinho, que ainda que seja um método discutível, tanto alfabetizou como preparou para o mercado um sem número de pessoas que antes só tinham como perspectiva trabalhar na “casa grande” ou se “retirar” para as capitais).
  • Luisa disse:
    Esse racismo não aconteceu apenas nisso aí. Aconteceu também no episódio do pre-sal, comentários racistas nos comentários de O Globo contra nordestinos e que foram sustentados por Ricardo Boechat e Lucia Hipólito dos seus programas matutinos na CBN e Band NEWS. O preconceito contra o nordestino existe e não é de agora e são recorrentes na internet. Espero que a OAB consiga colocar todos estes vagabundos na cadeia. Claro que não é assim que conseguirá se combater o racismo, sendo alimentado pela própria mídia, basta ver os estereótipos nas novelas da Globo, do nordestino ser tratado como cidadão de segunda classe. Para isso acabar, o NE preicsa desenvolver mais e mais e retomar aquilo que lhe pertenceu por mais de dezuentos anos, ou seja, o domínio administrativo do país. Esperem o NE se desenvolver e veremos a retomada disto.
    Não foi Rio e não é Brasília ainda, o local em que o país foi administrado burocraticamente, mas foi a BA, no NE, local em que todo o aparato burocrático portuguès se instalou na nova Terra. Aliás, nunca foi SP e nunca será. Outra coisa, fica cada vez mais difícil alguém do PSDB chegar ao Planalto. Vai pensando que o nordestino que encontra fora do NE vai vontar maciçamente em vocês. Vai, vai sonhando. Aguardem o NE se desenvolver e vocês verão de onde virá o administrador do país.
  • Cesar Augusto de Carvalho disse:
    O Problema é que toda manifesção racista é antes de tudo covarde! Como o caso do Indio Pataxó queimado em brasilia,como as agressoes dos ‘skinheads’ contra negros,homosexuais,etc.Infelizmente tal sentimento foi exacerbado pela campanha nazista da direita nesta eleição. Esses corvades ajem na calada da noite, no anonimato da Internet. É preciso que os grupos que lutam contra as discrminaçoes se unam, o consigam dispositvos legais pra dar um basta nesses corvades!CADEIA NELES!!!
  • alexandre disse:
    O maior medo do povo do sudeste é que estão se dando conta que a mão de obra barata que eles estavam acostumados esta indo embora , e que a mão de obra que virá será qualificada e bem mais cara ,isso se vierem porque viver no NE é mais barato e menos poluido, prais lindas ,morenas que falam “óchente” . Chupem essa manga …, ponham um salzinho para melhorar.
  • lilian disse:
    Espero que haja justiça para o exemplo ficar para todos.Pois a internet precisa urgentimente ter leis.
  • maria ap f disse:
    É essa gente que queria a Presidência? Que se considera preparada para votar? É triste!!!
  • Emília disse:
    Quando o Tiririca foi perguntado por que não se candidatava pela sua terra, o Ceará (minha também), e ele respondeu que as pessoas daqui não eram abestadas, eu dei risada como boa cearense. Mas, depois dessa notícia eu fiquei pensando, não é que o Tiririca tem razão! O nordestino não gosta de esmolas, é um povo orgulhoso de sua terra, precisava apenas de uma oportunidade, que o governo Lula deu e espero que continue com Dilma para descontarmos os anos de atraso. O Ceará cresceu em 2010 a números próximo da China, dados de jornal tucanocearense, portanto, não brinquem e nem tripudiem o nordeste, pois quando o resto do Brasil menos esperar, ele passou a perna no sudeste. Esses abestados, que existe em todos os lugares do mundo, são apenas isso abestados e continuaram a ser, pois como disse o filósofo, o preconceito é o refúgio dos idiotas.
  • Isa Ferreira disse:
    Manifestações explícitas de qualquer tipo de preconceito devem ser punidas com severidade. Nordestinos são vítimas frequentes. Mas é preciso recordar que aqui no Nordeste também há muito preconceito: afro-descendentes, homossexuais, pessoas com necessidades especiais, moradores de favelas, entre outros, támbém são vítimas de preconceito aqui. Para além de nossa indgnação com essa onda do momento, é preciso que o país implemente políticas eficazes para erradicar as práticas discriminatórias de qualquer tipo e em todas as regiões. Como o preconceito é fruto da ignorância, a educação deve ter um papel fundamental. As uniersidades, escolas técnicas e até na educação média deveriam ter programas de intercâmbio entre regiões permitindo que o processo de formação dos estudantes fosse o mais abrangente possível em termos de conhecimento real das caracterísiticas sociais, econômicas e culturais dos distintos estados da federação.

    O voto do Nordeste

    Por Tânia Bacelar Araújo
    A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.
    Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas – teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).
    A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.
    A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil.  E isso é bom para o Nordeste.
    Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização – que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns “clusters” (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro…) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.
    Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou – junto com o Norte – as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.
    Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar – via suas compras – a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.
    Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura – foco principal do PAC – que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil “bombou” na região.
    A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais – antes fortemente concentrados no Sudeste – dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira “cidade da ciência” num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).
    Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro – safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga  43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.
    Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.
    Daí  a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão – como antes – da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados – alguns ainda insipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, “Bolsa Família”), mas uma região plena de potencialidades. 

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