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4.02.2011

TRISTES POR NATUREZA

As mulheres têm duas vezes mais chances de sofrer de depressão do que os homens. Pesquisas sugerem que os hormônios podem ser os vilões

AJUDA ANIMAL
A consultora de marketing Liv Soban e o golden retriever Che. A presença do cão ajudou no tratamento para superar a melancolia
Existe uma matemática cruel que rege os diagnósticos de depressão no mundo inteiro: para cada homem abatido pela doença, há duas mulheres na mesma situação. Os dados são da Organização Mundial da Saúde e evidenciam aquilo que os médicos observam há décadas nos consultórios: a depressão afeta homens e mulheres em proporção e de maneiras diferentes. E a situação se repete entre os animais. A neurocientista Rita Valentino, pesquisadora do Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, analisou o cérebro de ratos de laboratório após os animais serem expostos a uma situação de perigo (para eles, um tanque com água). Rita descobriu que o cérebro das fêmeas retinha mais do que o dos machos um neurotransmissor que desencadeia a resposta de alerta e, portanto, de estresse, que pode levar a sintomas depressivos. “Precisamos de mais pesquisas para ter certeza de que o mesmo ocorre nos humanos”, diz Rita. “Mas isso nos ajuda a entender por que as mulheres podem ser mais suscetíveis à depressão.”
A presença de hormônios sexuais também teria sua parcela de culpa na prevalência da depressão feminina. Essas substâncias influenciariam a atividade de duas regiões do cérebro associadas à resposta emocional, o hipotálamo e a amígdala. Nas mulheres, o principal hormônio s sexual, o estrógeno, inibiria a atividade de uma substância no cérebro que ajuda a reduzir a ansiedade e a depressão. Segundo essa teoria, os homens teriam mais sorte – a testosterona, o principal hormônio masculino, estimularia a atividade da substância antiansiedade. Esse balanço hormonal também parece ter relação direta com o sucesso do tratamento da depressão.
   Reprodução
Existem vários tipos de antidepressivo. Cada um afeta um ou mais tipos de neurotransmissor. Alguns aumentam o nível de serotonina, outros o de noradrenalina ou de dopamina – todas substâncias associadas à regulação do humor e da ansiedade. Os cientistas começam a desconfiar que a eficácia dos remédios está relacionada ao nível dos hormônios sexuais. A equipe da psiquiatra americana Elizabeth Young, professora da Escola de Medicina da Universidade de Michigan, publicou um artigo científico em 2008 mostrando que os antidepressivos que aumentam a serotonina talvez sejam mais eficazes na presença de grandes quantidades de estrógeno. Por isso, eles seriam mais eficientes para tratar mulheres deprimidas nas fases da vida em que o organismo produz mais hormônio, durante a vida fértil da mulher. Após a menopausa, quando há uma redução importante de estrógeno, os remédios mais indicados para tratar depressão seriam aqueles que aumentam a noradrenalina e a dopamina. “Ainda não há comprovação clínica dessas relações entre hormônios sexuais e antidepressivos”, diz o psiquiatra Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da Universidade Federal de São Paulo. “São inferências baseadas em alguns estudos. Caso esses resultados sejam confirmados, serão uma ferramenta importante a ser considerada no tratamento.”
As mulheres estão mais sujeitas que os homens aos problemas que causam depressão o futuro das mulheres
Os antidepressivos são importantes em casos graves de depressão. Identificar qual deles é o mais eficaz para cada pessoa é uma etapa essencial – e difícil – do tratamento. Mas sozinhos eles não resolvem os problemas. A combinação de remédios e terapia é o melhor caminho. A consultora de marketing Liv Soban, de 30 anos, conseguiu vencer a tristeza que a dominava havia dois anos depois de tomar antidepressivos e começar a terapia. Foi aconselhada a amar sem cobranças, para aprender a lidar com as frustrações que podem desencadear um processo depressivo. Resolveu comprar um cachorro, o golden retriever Che. Com ele, aprendeu a ser responsável por alguém que não retribuiria da mesma maneira o carinho. “Eu tinha de levantar da cama por ele”, diz Liv.
Não é só a biologia que determina a maior prevalência de depressão entre mulheres. Os fatores ambientais também dão sua contribuição – e as mulheres estariam mais expostas a eles do que os homens. A OMS inclui nessa categoria episódios de violência sexual (uma em cada cinco mulheres já sofreu pelo menos uma tentativa de estupro), desigualdade de renda em relação a colegas homens na mesma posição e responsabilidade de cuidar da família – obrigação que continua a recair, sobretudo, sobre as mulheres.
A divisão de papéis sociais entre homens e mulheres ajuda a explicar outro aspecto que faz com que a depressão seja mais associada às mulheres do que aos homens. “Elas procuram mais os médicos, logo, geram os diagnósticos oficiais que dão origens às estatísticas”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Os homens, por questões culturais, não se sentem à vontade para expor fraquezas emocionais. Eles aprendem desde pequenos que “meninos não choram”. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o órgão epidemiológico dos Estados Unidos, estima que o risco de suicídio é quatro vezes maior entre os homens do que entre as mulheres, resultado provável da falta de acompanhamento médico em casos de doenças mentais.

Revista Época




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