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2.09.2012

Bola de Cristal

Augusto atirava para todos os lados, cartas, búzios, Buda, Nossa Senhora e um copo d'água


Quando eu era garota, acreditava em toda e qualquer crença. Apesar de ter sido criada entre o catolicismo de minha mãe e o ateísmo de meu pai, eu tinha medo de qualquer coisa que evocasse santos, espíritos e premonições. Não passava em porta de igreja católica sem fazer o sinal da cruz, mas não perdia oportunidade de fazer uma simpatia.

Conto aqui minhas aventuras com os profissionais da área, que, evidentemente, trocarei os nomes.

O primeiro, um pai de santo chamado Pai Ricardo, muito famoso no Leblon. Eu sabia que uma atriz, que eu admirava muito, frequentava sua casa. Vamos chamá-la de Valéria Gomes. A consulta era cara, mas claro, para ser o que Valéria Gomes era, valeria a pena. Chegando lá, vi fotos de vários atores consagrados em seu mural.

– Finalmente, vim ao lugar certo.
– Quem te indicou?
– Foi o Paulo.
– Ah... você também faz teatro, né?
– Sim, faço, sim.
– Eu tô vendo aqui que você vai casar, ter um filho, fazer uma viagem e fazer uma novela.
– Jura? Que bom.
– Só que seus caminhos estão fechados, tem que fazer um trabalho.
– Hum... tem que matar galinha?
– Não, querida, volta aqui com uma camisola velha na segunda.
Voltei cheia de fé, mas me perguntava como um ator
da Noruega se virava sem a ajuda da pombagira. Ele me levou para o banheiro de empregada; eu, de camisola. Me deu um banho gelado de balde, rasgou minha camisola, e eu só pensava na Valéria Gomes chiquérrima naquela situação. Era só acreditar, se com Valéria deu tão certo, comigo daria também.
Não deu. Meses depois eu fui até lá para dizer que não tinha me casado, não tinha tido filho, não tinha viajado nem feito novela... Uma moça atendeu o interfone.
– Oi, aqui é Márcia, eu marquei com o Pai Ricardo, ele está me esperando.
– Oi, Márcia, “seu pai” tá precisando de alho para temperar o feijão dele. Você pode ir ao supermercado comprar?
Hã? Comprar alho para “meu pai”? Fiquei com medo de não atender ao pedido do além e fui. Achei meio patético, eu com a sacolinha com alho na rua, pensando se Valéria teria atendido ao pedido divino. Acho que vou perguntar isso a ela. Hoje somos amigas, e ela não sabe dessa história.
Eu e um amigo gay resolvemos ir a uma cartomante em Nova York. Entramos os dois na consulta e ela manda essa:
– Vocês dois vão se casar.
– Ela disse que a gente vai casar? Let’s go.
Isso não tinha erro: mapa astral. Existem mil estudos, todo mundo leva fé. Vamos lá, fiz com astrólogo superbadalado e amigo querido na zona sul do Rio. Sou capricórnio com ascendente em aquário. Tudo bem, acreditei nisso durante anos até receber um telefonema dele.
– Márcia, descobri que no seu ano de nascimento houve horário de verão, portanto, seu ascendente não é aquele.
Oi? Eu agora sou Peixes?
Esse outro era incrível, fantástico, sabe tudo sem a gente falar nada. Entrei no apartamento. Dessa vez, eu me perguntava porque ele não ajudava a si próprio, já que sua casa era tão mal-ajambrada, a minha era bem melhor. Bem, eu não descobri qual era a religião de Augusto, em cima da mesa tinha de um tudo. Augusto atirava para todos os lados, cartas, búzios, Buda, Nossa Senhora e um copo d’água, em que pôde prever que eu casaria, teria filhos, faria uma viagem e faria uma novela.
Não sei por que eu questiono tanto esses seres tão especiais. Afinal, eu casei, tive filho, fiz várias viagens e novela. Não é incrível?
Por Márcia Cabrita ( atriz)

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