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3.10.2012

Vírus respiratórios, um perigo que está no ar, mesmo no verão

Associados a temperaturas amenas, eles são cada vez mais comuns no calor

RIO — Calor, muito sol, praias lotadas, multidões nas ruas e vírus respiratórios. Normalmente associados às estações mais frias, em que as pessoas ficam confinadas em ambientes fechados, os vírus de gripe e resfriado no Rio viram no verão carioca um período ideal para se espalharem. Para enfrentar o calorão da cidade, as pessoas recorrem cada vez mais ao ar-condicionado, ficando tão ou mais confinadas quanto nas épocas mais frias. Além disso, o grande afluxo de turistas e as aglomerações (em festas como o carnaval e também em áreas públicas) facilitam a propagação. Mas não é só. Especialistas dizem que houve também uma mudança de estratégia dos vírus. Sua estrutura, mais frágil no calor, teria se adaptado às temperaturas mais altas.
Os vírus respiratórios, principalmente dos grupos influenza, adenovírus, rinovírus e seus assemelhados, teriam se capacitado para agir em qualquer época, em todos os lugares, e têm a facilidade de viajar pelo ar a partir de saliva, tosse e espirros, contaminando também quem tem contato com superfícies contaminadas, como maçanetas. Para a gripe, existe a vacina, mas sua eficácia varia de 70% a 90% e a fórmula precisa ser alterada constantemente, para se adaptar às mudanças do vírus.
Esta mudança de comportamento ou sazonalidade dos vírus respiratórios, especialmente o da gripe, acende o sinal de alerta entre infectologistas. Há quem recomende inclusive que o Ministério da Saúde repense o período de vacinação, no caso da gripe. Uma sugestão é fazer calendários diferenciados por regiões e épocas do ano. A gripe afeta anualmente 600 milhões de pessoas de todas idades no mundo, sendo de 20% a 30% crianças. E se estima que ocorram entre três e cinco milhões de casos graves, com 250 mil a 500 mil óbitos. Nos Estados Unidos, os gastos diretos com internações, consultas e medicamentos contra a gripe chegam a US$ 2,2 bilhões. E, no Brasil, a Associação Brasileira de Imunizações afirma que a doença afeta de sete a 14 milhões de pessoas por ano.
— O influenza, com seus tipos A, B e C, o menos agressivo, circula o ano todo — atesta o virologista Fernando Couto Motta, do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz.
O grupo do adenovírus, por sua vez, conta com mais de 40 tipos nocivos ao homem, e eles gostam de se instalar na garganta, desencadeando faringites e amigdalites, bem como nos pulmões. Também podem causar cistite e conjutivite. Já o rinovírus se subdivide em pelo menos cem tipos e é mais conhecido por causar o resfriado. Fora esses, estão em circulação o parainfluenza, associado à bronquiolite e à pneumonia; e o sincicial respiratório, que causa resfriado em adultos e inflamação nos brônquios em bebês. Todos eles juntos formam um exército difícil de ser batido depois que invade as mucosas e as células.
— A maioria dos vírus tem um arranjo, uma estrutura proteica, que sofre em altas temperaturas. Mesmo assim, as diferentes famílias que atacam o sistema respiratório são capazes de circular, mantendo-se ao longo do ano nos nossos diferentes tipos de clima, o temperado, o tropical e o equatorial. Lembra aquele cartaz de bandido procurado? No vírus da gripe, você prende um e logo há outro pronto para lhe infectar. Por isso a vacina precisa ser modificada periodicamente — diz Couto Motta.
Também a médica Isabella Ballalai, diretora da Associação Brasileira de Imunizações (SBIm), diz que já não existe época segura para estar a salvo dos vírus respiratórios. O melhor é evitar ambiente fechados e aglomerações:
— Antes a gente só via catapora, doença também causada por vírus transmitido pelo ar, na primavera. Hoje ela ocorre o ano inteiro. Isto certamente está associado à globalização; mas também a uma capacidade de adptação do próprio vírus.
Há quem não sofra tanto. Alguns não se contaminam facilmente ou reagem menos aos ataques, apresentando sintomas leves. Tudo depende da capacidade imunonata, ou seja, da defesa que o indivíduo tem, naturalmente. Em alguns casos, a pessoa se torna mais resistente porque teve contato com os vírus respiratórios em outras ocasiões e seu corpo formou uma memória contra novos ataques, explica Couto Motta. Com relação à gripe, as pessoas vacinadas frequentemente podem ficar mais fortalecidas. É como se o sistema imunológico fosse treinado periodicamente; e, assim, quando surpreendido, reagisse melhor.
O fato de ter sintomas leves não significa que se possa baixar a guarda. Se uma pessoa está infectada, contamina outras. Na gripe, o período de contágio varia de um a dois dias e dura até cinco dias após o início dos sintomas, tendo o seu auge nos segundo e terceiro dias após a formação do catarro. Além disso, os sintomas dos vírus respiratórios são parecidos, e confundem até médicos. Ignorá-los pode levar a complicações como pneumonia.
— Em qualquer doença respiratória, se a pessoa está tomando antitérmico e tem febre por mais de dois dias, deve ir ao médico, especialmente grávidas, bebês, crianças, idosos e doentes crônicos — alerta a médica Nancy Bellei, diretora e coordenadora do Setor de Viroses Respiratórias da Unifesp.
Esta recomendação é reforçada pelo infectologista Edimilson Migowski, diretor do Instituto de Pediatria da UFRJ. O Brasil está recebendo milhares de turistas do Hemisfério Norte, e agora é inverno lá. Aqui, no Norte e no Nordeste, a estação das chuvas (de dezembro a fevereiro) coincide com o maior número de casos de gripe.
— As pessoas que se vacinaram em 2011 já estão com níveis de anticorpos bem reduzidos e poderão adoecer, mesmo que o tipo de vírus em circulação em 2012 coincida com os vírus influenza que entraram na vacina em 2011 — diz o médico.
Ele lembra que, além das respiratórias, há outras viroses comuns no verão, relacionadas também à ingestão de água e alimentos contaminados. Como a gastroenterite, que pode ser causada por bactéria ou pelo norovírus, e leva a surtos em locais lotados, como piscinas públicas e regiões de praias.
Mesmo a gastroenterite (também causada por bactéria), que leva a perda de apetite, diarreias, cólicas e vômitos e pode parecer simples, precisa de atenção, diz o pesquisador Eduardo de Mello Volotão, assistente de pesquisa do Laboratório de Virologia Comparada. Em crianças, a vacinação contra o rotavírus e o aleitamento materno aumentam a proteção.
— Não apenas a água e os alimentos contaminado são fontes da doença; o gelo é um perigo. Esses germes são resistentes. E, antes de a pessoa manifestar sinais clínicos, já está contaminando outras. Não se pode tratar gastroenterite como um problema banal. Em crianças, elas podem matar. É preciso procurar o médico com urgência. Fazer a reidratação com soro oral e manter alimentação ajudam —

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