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6.13.2012

Família materna prepara festa para menino levado pelo pai para os EUA

“Não sei se existe algo pior do que ficar longe de um filho”, diz mãe de menino



A mãe e o menino X., em foto de arquivo pessoal
Foto: Reprodução da internet

A mãe e o menino X., em foto de arquivo pessoal Reprodução da internet
RIO - A família materna do menino X., de 3 anos, levado pelo pai, o brasileiro Márcio Sicoli, de 32 anos, para os Estados Unidos, no início do ano, já está preparando a festa de recepção do garoto, logo que ele chegar ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, com previsão para a manhã desta quinta-feira. Conforme a coluna de Ancelmo Gois publicou nesta terça-feira, o juiz americano Scott Gordon decidiu que a criança fosse devolvida à mãe, Isabel Bierrenbach, de 33 anos, também brasileira, que mora no Rio. Ela disse que comemorou discretamente a vitória, pois a discussão continuará na Justiça do Rio, onde ela pedirá a revisão das visitações do pai.
— Foi um drama. Foram cinco longos meses sem ele. Não sei se existe algo pior do que ficar longe de um filho. Felizmente, a verdade foi comprovada, mas ainda vou conversar com a minha advogada para definir como ficarão as visitas do pai, no Brasil. Infelizmente, houve uma quebra de confiança. Não quero que meu filho delete o pai de sua vida, mas vai demorar para que esta confiança seja restabelecida. Certamente, no início, serão poucas horas de convívio, mas depois pode ser que ele volte a dormir com o pai e viajar com ele. Isso vai depender do tempo, do comportamento dele e da Justiça — explicou Isabel.
A mãe do menino contou que os últimos cinco meses foram um verdadeiro pesadelo em sua vida. De janeiro deste ano, quando o pai pegou a criança para um mês de férias, mas não devolveu, até maio, Isabel não tinha sequer dado uma palavra com o filho.
— No nosso primeiro encontro, em meados de maio, peguei meu filho no colo, e ele ficou uns 20 segundos me olhando, demorando para processar em sua cabeça aquele momento. Ele mexeu no meu cabelo e sorriu. Parecia que ele estava hipnotizado. O encontro foi num parquinho, sob os olhares do pai e da avó paterna. Mesmo assim, foi um momento muito especial. Saí dali com força para mais seis meses, se fossem necessários, para continuar na luta pelo meu filho — contou Isabel, lembrando que a despedida foi rápida entre eles, para não chorar.
Isabel confessou que, por algumas vezes, sentiu um desespero de não ter o filho de volta, mas decidiu fazer a coisa certa:
— Cheguei a sentir vontade de pegá-lo no colo e sair correndo. Mas a voz da razão bateu mais rápido. Não podia fazer nada errado. Não podia fazer o mesmo que o pai dele fez — disse a mãe de X.
Para ela, o retorno ao Brasil será bom para o menino, que está muito ansioso. Segundo ela, o garoto entende, do seu modo, que os pais não estão mais juntos. Ela está separada de Sicoli desde 2011.
— Como o pai sempre viajava, sempre ensinei ao meu filho: “papai tem que trabalhar”. Ele tem um globo terrestre onde mostro as distâncias entre as casas do Brasil e dos Estados Unidos. A volta à rotina será difícil, talvez precise de acompanhamento especial na escola, mas vai dar tudo certo. Já comprei edredom e carrinhos do personagem predileto dele da Disney para decorar o quarto no Brasil — concluiu ela, entusiasmada, mas ainda com cautela, pois o filho ainda estava numa visita de quatro horas na casa do pai, na noite desta terça-feira.
O pai de X., treinador das bicampeãs olímpicas de vôlei de praia Walsh e May, foi acusado pela família materna do menino de abdução internacional de menores Bierrenbach. Segundo a família materna, Sicoli levou o garoto para os Estados Unidos desde janeiro, durante as férias e, desde então, os contatos entre a criança e a mãe cessaram. Como a mãe tinha a guarda provisória, concedida pela Justiça brasileira, o retorno ao Brasil estava marcado para 3 de fevereiro, mas o pai decidiu pedir à Justiça no estado da Califórnia, onde mora, para ficar com a guarda da criança.
Isabel entrou com um processo para recuperar o filho, na Secretaria de Direitos Humanos, a fim de que o governo brasileiro intercedesse na questão. A secretaria apresentou um pedido de busca e apreensão ao governo americano, baseado na Convenção de Haia, que regula esse tipo de caso e é assinada tanto pelo Brasil quanto pelos Estados Unidos. Isabel também contratou um advogado nos Estados Unidos para agilizar o processo por lá. Só ontem a família conseguiu a autorização para retornar ao Brasil com o menino.
Pelo telefone, o pai de X. falou com O GLOBO que a advogada dele pode dar mais explicações sobre o processo:
— A exposição que meu filho sofreu não é justa. Acho que já estou até falando demais — disse Sicoli, referindo-se ao site que foi criado, onde internautas pediam o retorno da criança ao Brasil. O GLOBO não conseguiu falar com a advogada dele.
Ao contrário do pai da criança, o avô materno, o jornalista Reinaldo Bierrenbach, agradeceu o carinho da imprensa e de todos que compartilharam pelas redes sociais que o menino retornasse ao Brasil.
— O movimento partiu de desconhecidos que, ao tomarem conhecimento da história, nos apoiaram. A mobilização aconteceu no Brasil todo e em 58 países. O mais incrível dessa história foi uma pessoa ligada a causas humanitárias, um pai, que nos procurou e disse que criaria um site em favor do retorno de meu neto. Obrigado a todos — agradeceu Reinaldo.

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