Política
Do total, 2.006 deles disseram ter mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo. Desses, 33 possuem valores acima de R$ 1 milhão em espécie
O valor é quase três vezes mais do que os candidatos declararam ter em caderneta de poupança: 362 milhões de reais
(Getty)
É quase três vezes mais do que os candidatos declararam ter em caderneta de poupança: 362 milhões de reais. O valor também é superior a outros tipos de investimento, como renda fixa (473 milhões de reais) e ações (392 milhões de reais).
Mas este valor pode ser fictício. Segundo contadores, é uma prática usual deixar um "caixa" de dinheiro vivo, fora do banco, na declaração do Imposto de Renda, mesmo que o valor não exista de verdade. Isso ocorre quando os gastos declarados são menores que as receitas. Ao longo do tempo, o dinheiro acumulado na declaração pode ser usado para justificar investimentos para a Receita Federal.
"Este valor não é sobra de dinheiro, porque ninguém mais deixa dinheiro em espécie guardado debaixo de colchão", afirma José Maria Alcázar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis de São Paulo (Sescon-SP). "Fisicamente esse dinheiro não existe, senão estaria aplicado em algum lugar. A pessoa pode ter omitido despesas, como viagens e gastos que não precisam constar na declaração e acha que com esse dinheiro vai poder justificar a compra de um imóvel, barco, mansão".
No total, 28.000 candidatos declararam ter dinheiro em casa. Mas somente 10% deles são responsáveis por 60% do montante total, de 1,027 bilhão de reais. São 2.006 pessoas que disseram ter mais de 100 000 reais em dinheiro vivo. Acima de 1 milhão de reais em espécie, são 33 candidatos.
No topo da lista do TSE está Juarez Gontijo, o Juarez da Papelaria Comercial, candidato a vereador pelo PT do B no município de Inhumas (GO). Segundo os registros, ele teria "debaixo do colchão" 128 milhões de reais. Contudo, de acordo com o candidato – novato nas eleições – o valor informado está errado. O correto seria 128 000 reais. "É zero demais da conta", disse.
Devido ao engano, o comerciante afirma que foi até ameaçado por telefone. "Passei muita dificuldade com isso, muito medo", contou Gontijo. "Mas não tem lógica um candidato a vereador em uma cidade pequena (ter este valor em espécie). Mas o Brasil é cheio de coisa estranha, dá para entender (que as pessoas acreditem que o valor é de 128 milhões de reais)".
Segundo o candidato, os 128 000 reais também não existem em espécie. "Dinheiro guardado não tem", afirmou. "Quando a gente faz declaração de Imposto de Renda, vai acumulando dobrinha que tem direito a não pagar imposto. Aí, tem esse dinheiro, coisa de papel, que vai guardando".
Atrás do dono da Papelaria Comercial, aparece Jair Correa, o Nozinho Correa, candidato a prefeito de Linhares (ES) pelo PDT. Pecuarista, ele declarou ter 4,5 milhões de reais em dinheiro vivo. Correa, entretanto, afirmou nunca ter visto o valor. Depois, retificou o que disse. Segundo o candidato, o negócio de gado movimenta valores altos e é possível que o montante tenha ficado disponível em dinheiro vivo.
Ilegal - O presidente do Sindicado dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP), Victor Galloro, explica que ter tanto dinheiro em casa "não é comum, mas pode acontecer". "Depende da circunstância, do ramo", disse. "Se o sujeito vendeu a casa em 31 de dezembro e recebeu em dinheiro, por exemplo, pode declarar para a Receita que o valor ficou em caixa".
Porém, se o dinheiro não existir, a declaração é ilegal. "Perante a Receita, isso chama-se simulação. É iilegal", afirmou Alcazar, do Sescon-SP. "É um dinheiro que não tem sustentação para nenhum uso futuro em qualquer investimento. É uma estratégia ultrapassada e uma orientação de risco para o contribuinte".
O contador explicou ainda que o fisco tem autuado contribuintes que usam dinheiro vivo fictício para justificar investimentos. A Receita Federal ainda não se manifestou.
(Com Agência Estado)
Nota: O caixa dois de José Serra, Sérgio Cabral, Eduardo Paes deve estar na Suiça, Ilhas Virgens ou aqui pertinho (Uruguai).
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