7.20.2012

Candidatos às eleições dizem ter 'bilhões' em casa

Política

Do total, 2.006 deles disseram ter mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo. Desses, 33 possuem valores acima de R$ 1 milhão em espécie

Montanha de dinheiro sob o colchão
O valor é quase três vezes mais do que os candidatos declararam ter em caderneta de poupança: 362 milhões de reais (Getty)
Os candidatos às eleições 2012 dizem ser proprietários de um verdadeiro cofre do Tio Patinhas. No total, as declarações de bens registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) somam mais de 1 bilhão de reais em dinheiro vivo, fora de banco ou de qualquer fundo de investimento, dentre os 62 bilhões de reais totais declarados. Em notas de 10 reais, o valor seria suficiente para preencher mais de 30 contêineres e pesaria 100 toneladas.
É quase três vezes mais do que os candidatos declararam ter em caderneta de poupança: 362 milhões de reais. O valor também é superior a outros tipos de investimento, como renda fixa (473 milhões de reais) e ações (392 milhões de reais).
Mas este valor pode ser fictício. Segundo contadores, é uma prática usual deixar um "caixa" de dinheiro vivo, fora do banco, na declaração do Imposto de Renda, mesmo que o valor não exista de verdade. Isso ocorre quando os gastos declarados são menores que as receitas. Ao longo do tempo, o dinheiro acumulado na declaração pode ser usado para justificar investimentos para a Receita Federal.
"Este valor não é sobra de dinheiro, porque ninguém mais deixa dinheiro em espécie guardado debaixo de colchão", afirma José Maria Alcázar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis de São Paulo (Sescon-SP). "Fisicamente esse dinheiro não existe, senão estaria aplicado em algum lugar. A pessoa pode ter omitido despesas, como viagens e gastos que não precisam constar na declaração e acha que com esse dinheiro vai poder justificar a compra de um imóvel, barco, mansão".
No total, 28.000 candidatos declararam ter dinheiro em casa. Mas somente 10% deles são responsáveis por 60% do montante total, de 1,027 bilhão de reais. São 2.006 pessoas que disseram ter mais de 100 000 reais em dinheiro vivo. Acima de 1 milhão de reais em espécie, são 33 candidatos.
No topo da lista do TSE está Juarez Gontijo, o Juarez da Papelaria Comercial, candidato a vereador pelo PT do B no município de Inhumas (GO). Segundo os registros, ele teria "debaixo do colchão" 128 milhões de reais. Contudo, de acordo com o candidato – novato nas eleições – o valor informado está errado. O correto seria 128 000 reais. "É zero demais da conta", disse.
Devido ao engano, o comerciante afirma que foi até ameaçado por telefone. "Passei muita dificuldade com isso, muito medo", contou Gontijo. "Mas não tem lógica um candidato a vereador em uma cidade pequena (ter este valor em espécie). Mas o Brasil é cheio de coisa estranha, dá para entender (que as pessoas acreditem que o valor é de 128 milhões de reais)".
Segundo o candidato, os 128 000 reais também não existem em espécie. "Dinheiro guardado não tem", afirmou. "Quando a gente faz declaração de Imposto de Renda, vai acumulando ‘dobrinha’ que tem direito a não pagar imposto. Aí, tem esse dinheiro, coisa de papel, que vai guardando".
Atrás do dono da Papelaria Comercial, aparece Jair Correa, o Nozinho Correa, candidato a prefeito de Linhares (ES) pelo PDT. Pecuarista, ele declarou ter 4,5 milhões de reais em dinheiro vivo. Correa, entretanto, afirmou nunca ter visto o valor. Depois, retificou o que disse. Segundo o candidato, o negócio de gado movimenta valores altos e é possível que o montante tenha ficado disponível em dinheiro vivo.
Ilegal - O presidente do Sindicado dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP), Victor Galloro, explica que ter tanto dinheiro em casa "não é comum, mas pode acontecer". "Depende da circunstância, do ramo", disse. "Se o sujeito vendeu a casa em 31 de dezembro e recebeu em dinheiro, por exemplo, pode declarar para a Receita que o valor ficou em caixa".
Porém, se o dinheiro não existir, a declaração é ilegal. "Perante a Receita, isso chama-se simulação. É iilegal", afirmou Alcazar, do Sescon-SP. "É um dinheiro que não tem sustentação para nenhum uso futuro em qualquer investimento. É uma estratégia ultrapassada e uma orientação de risco para o contribuinte".
O contador explicou ainda que o fisco tem autuado contribuintes que usam dinheiro vivo fictício para justificar investimentos. A Receita Federal ainda não se manifestou.
(Com Agência Estado)

Nota: O caixa dois de José Serra, Sérgio Cabral, Eduardo Paes deve estar na Suiça, Ilhas Virgens ou aqui pertinho (Uruguai).

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