A importância da pesquisa de Marketing para a indústria farmacêutica – medicamentos fitoterápicos
Por Alessandra Freu de Figueiredo 05/11/2007
RESUMO
Este artigo sintetiza e divulga uma monografia de especialização em Marketing Farmacêutico (FIGUEIREDO, 2005) sobre a Pesquisa de Marketing feita em uma empresa de medicamentos fitoterápicos. No esforço de atualizar alguns dados, o artigo apresenta práticas comumente adotadas pelos laboratórios farmacêuticos desta natureza, no período de 2005 até janeiro/2007. A Pesquisa de Marketing é o instrumento pelo qual a empresa consegue aumentar a sua estratégia competitiva em relação aos concorrentes. Através dela, é possível obter informações importantes sobre o mercado onde a empresa atua e/ou tem interesse em atuar e, desta forma, poder traçar um plano de marketing eficiente. O setor de medicamentos fitoterápicos cresce a cada dia, provavelmente porque a população está mais consciente dos riscos que os medicamentos alopáticos podem provocar e estão mais preocupados com “qualidade de vida”. No entanto, apesar do crescimento da demanda por este tipo de medicamento, o setor fitoterápico carece de trabalhos que relacionem a importância da pesquisa de marketing ao modo como geralmente é feita. É neste contexto que situa-se a contribuição deste artigo, com o objetivo de auxiliar empresas deste ramo a refletir sobre as possibilidades de aumentar seu marketing share ( explicar, traduzir entre parênteses) através de um planejamento eficaz dos processos de marketing. pelos laboratórios farmacêuticos no período de 2005 até os dias atuais.
Palavras-chave: Pesquisa de Marketing, Indústria de Medicamentos Fitoterápicos,
Estratégia Competitiva.
ABSTRACT
This article summarizes and disseminates the specialization of a monograph in Pharmaceutical Marketing (FIGUEIREDO, 2005) about Marketing Research made in a company of phytotherapeutic drugs. In the effort to update some data, the article presents practices commonly adopted by pharmaceutical laboratories of this nature, in the period from 2005 to January 2007. The Marketing Research is the instrument by which the company can increase its competitive strategy in relation to competitors. Through it, it is possible to obtain important information about the market in which the company operates and / or has an interest in acting and, in this way, can draw a plan for efficient marketing. The sector of phytotherapeutic medicine grows every day, probably because people are more aware of the risks that the allopathic medicines can cause and are more concerned with "quality of life". However, despite the growth in demand for this type of product, the phytotherapeutic industry needs work that relates to the importance of marketing research to the way it is usually done. It is in this context that the contribution of this article, with the goal of helping companies in this industry to fall back on the possibilities to increase its market share through an effective planning of the processes of marketing by the pharmaceutical laboratories in the period from 2005 up to today.
Keywords: Research of Marketing, Industry Phytotherapeutic Medicine, Competitive Strategy.
INTRODUÇÃO
O intuito deste artigo é divulgar uma monografia de especialização na área de Marketing Farmacêutico intitulada “A importância da pesquisa de Marketing para a indústria farmacêutica- Medicamentos Fitoterápicos”, cujo enfoque foi a observação do crescimento de uma classe de medicamentos que desponta cada vez mais forte no mercado: a classe de medicamentos fitoterápicos. Além de evidenciar o crescimento de fitoterápicos, a monografia mostrou-se relevante em razão da ausência de estudos que abordam as práticas de gerenciamento do sistema de pesquisa de marketing neste setor.
O objetivo principal deste estudo foi, portanto, identificar e refletir a respeito da eficácia dos procedimentos adotados pelos laboratórios de fitoterápicos para o gerenciamento dos sistemas de pesquisa de marketing, além de fornecer subsídios teóricos e práticos para auxiliar os mesmos no desenvolvimento de práticas mais efetivas de gerenciamento de marketing.
Dados atuais de mercado mostram o grande potencial de crescimento da indústria de medicamentos fitoterápicos, até pouco tempo, considerada “terapia alternativa”. Paulatinamente, esta vem se fixando no mercado e mostrando ser uma “alternativa terapêutica” com baixos riscos de efeitos colaterais e contra-indicações, tal como demonstram Trentini e Yamada (in CORREA, 2004, p.202): “...E, enquanto 40% da população mundial se utiliza da medicina convencional, 60% é tratada pela medicina chamada de alternativa, fitoterapia”.
Frente à crescente demanda pela alternativa terapêutica fitoterápica, torna-se fundamental conhecer, do ponto de vista das estratégias de marketing, como este segmento vem se afirmando no amplo contexto da indústria farmacêutica. Neste sentido, evidencia-se o papel da pesquisa de marketing:
“A pesquisa de marketing corresponde à elaboração, à coleta, à análise e à edição de relatórios sistemáticos de dados e descobertas relevantes sobre uma situação específica de marketing enfrentada pela empresa”. (KOTLER, Philip, 2002, p. 125).
A pesquisa de marketing visa coletar dados e analisá-los, desta forma, ajudando as empresas a tomarem as melhores decisões comerciais e estratégicas.
DESENVOLVIMENTO
Evolução de Mercado
De acordo com a legislação atual, Resolução da diretoria Colegiada RDC número 43/04, os fitoterápicos são considerados, em sua grande maioria, medicamentos e para fabricar estes produtos uma empresa deve antes de tudo estar autorizada pala ANVISA/MS (Agência Nacional de Vigilância Sanitária / Ministério da Saúde), observando as recomendações das Boas Práticas de Fabricação e Controle de Qualidade.
“De acordo com dados da OMS – Organização Mundial de Saúde, cerca de 80% da população mundial faz uso de fitoterapia, seja na forma de chazinho ou medicamento industrializado”. (Trentini, A. M., Yamada, C. B., in CORRÊA; 2004, p. 202).
“25% dos produtos prescritos industrializados no mundo são de origem vegetal. Mais de 60 medicamentos comprovados anticâncer tem origem vegetal. Segundo estimativas, o mercado de fitoterápicos mundial atingiu faturamento de US$22 bilhões em 2002, sendo que o mercado brasileiro chegou a US$400 milhões”. (REVISTA GRUPEMEF, ed.72, 2003).
O Brasil possui uma biodiversidade extremamente complexa. Somente na região da Floresta Amazônica e áreas de Mata Atlântica, podemos dizer que existem aproximadamente 55.000 espécies de plantas, sendo que destas cerca de 10.000 apresentariam finalidade terapêutica. Porém, poucas destas plantas apresentam estudos científicos, e muito menos ainda, são utilizadas como medicamentos.
Sabe-se que devido à regionalidade é muito difícil fazer um levantamento específico e claro da utilização de plantas medicinais no Brasil. Sabe-se também que muitas plantas são usadas com base na tradicionalidade herdada pelos índios.
“Segundo o relatório da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica), as vendas de medicamentos no Brasil evoluíram cerca de US$3,6 bilhões em 1992 para US$5,9 bilhões em 2001. Atualmente, estima-se que as vendas de fitoterápicos no Brasil sejam de US$400 milhões, ou seja, 6,7% do total de venda de medicamentos”. (REVISTA GRUPEMEF, ed.72, 2003).
A ABIFISA - Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde - congrega empresas do setor fitoterápico, produtos naturais, medicamentos à base de vitaminas e/ou minerais, suplementos nutricionais, alimentos e afins. O setor de medicamentos fitoterápicos faturou de 6 a 8% a mais sobre o valor de 2005, o que caracteriza um crescimento do setor.
Além disso, ao longo de 2006, foram grandes os avanços junto às autoridades regulatórias. Em 03/05/2006 foi aprovada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – Portaria nº 971/06. Uma das principais medidas desta política é ampliar as opções terapêuticas aos usuários do Sistema Único de Saúde com garantia de acesso a plantas medicinais, medicamentos fitoterápicos e serviços relacionados a fitoterapia.
Em 22/06/2006, ocorreu a assinatura do Decreto 5813/06 - Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, o qual certamente estimulará o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva nacional que envolve as plantas medicinais e fitoterápicos.
Esta política será um marco para o desenvolvimento nacional, pois o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta. Além disso, possui uma rica diversidade étnica e cultural e detém valioso conhecimento tradicional relacionado ao uso de plantas medicinais, possuindo potencial necessário para o desenvolvimento de pesquisas que resultem em novas tecnologias e serviços terapêuticos.
A aprovação do Projeto de Lei 3381/2004 poderá contribuir substancialmente com o Decreto 5813/06, pois o mesmo está perfeitamente enquadrado nas políticas citadas acima. O projeto está aguardando que sejam nomeados os integrantes da Comissão Especial, que vai analisar a proposta, a qual é composta por representantes das diversas comissões temáticas permanentes: Defesa do Consumidor; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Seguridade Social e Família; Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; Constituição e Justiça e Cidadania.
Em novembro de 2006, foi realizado no Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu-PR, o II Mercofito. Foi uma oportunidade dos países membros do Mercosul trocarem suas experiências sobre temas relacionados às plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos. Foi redigido um documento final - Carta do Mercofito - com propostas formuladas pelos participantes entre elas o apoio a PL (Projeto de Lei) 3381/04 - Produtos de Origem Natural para a Promoção da Saúde, que está tramitando na Câmara Federal. Este documento será encaminhado às diversas autoridades e entidades relacionadas ao tema.
A expectativa da Sra. Magrid Teske – presidente da Abifisa – para 2007 é a de que o Projeto de Lei 3381/2004 torne-se lei o mais rápido possível.
Profissional prescritor
Hoje, devido ao grande embasamento científico e testes que comprovam a eficácia dos medicamentos feitos à base de plantas medicinais, o profissional prescritor já consegue enxergar a fitoterapia como uma grande alternativa de cura para as mais diversas doenças.
“As áreas que mais prescrevem fitoterápicos estão divididas da seguinte forma: 27% dos médicos são clínicos gerais, 13,5% ginecologistas, 7,9% cardiologistas, 4,6% angiologistas, pediatras, gastro, otorrino e neuro chegam a 3,6%, e todas as demais, menos de 1%. Ainda não existe um perfil definido do médico que é adepto e/ou prescreve medicamentos fitoterápicos. O que sabe-se é que a faixa etária destes médicos está compreendida entre 30 a 45 anos. Os médicos mais novos não possuem experiência profissional para ‘arriscar’ com a prescrição de medicamentos fitoterápicos, e os mais velhos, são muito resistentes a mudanças” , comenta Dr. Renato Klaumann, gerente farmacêutico de propaganda médica do Laboratório Herbarium.
Ainda existe por parte dos médicos um receio na prescrição de medicamentos fitoterápicos, isto porque, muitos ainda têm conhecimentos sobre os medicamentos existentes no mercado e sua ação terapêutica. O que sabemos com certeza, é que hoje, existem estudos que comprovam a ação e eficácia destes medicamentos e que estes, só podem ser comercializados se tiverem a aprovação da ANVISA.
Metodologia de pesquisa
O método adotado para a elaboração da monografia que originou este artigo contou com o uso combinado de entrevistas e questionários para identificar e analisar planos e pesquisas de marketing de uma empresa nacional de medicamentos fitoterápicos.
A referida empresa é considerada o maior laboratório especializado de medicamentos fitoterápicos da América Latina. Suas instalações e seus processos produtivos seguem os mais rigorosos padrões internacionais de qualidade, sendo inspecionadas regularmente pelas autoridades governamentais.
Possui uma política de qualificação de fornecedores, objetivando a padronização dos procedimentos de cultivo, coleta, processamento, armazenamento e transporte de materiais vegetais.
De modo igual, as etapas de processamento são monitoradas através de testes de qualidade minuciosos que garantem a integridade e a preservação das características das matérias-primas vegetais.
Por meio de questionários, foram entrevistados: o gerente comercial nacional, o gerente de marketing, os gerentes de linhas de produtos, e um gerente comercial de uma das distribuidoras da empresa analisada. Os questionários foram elaborados de acordo com cada área especificada e relacionaram-se à investigação dos processos usados pela empresa em todos os setores envolvidos ao planejamento eficaz de uma pesquisa de marketing.
Foi possível detectar que a empresa não possui um departamento específico de pesquisa de mercado, apesar de ter um departamento de Marketing que é responsável pela divulgação dos produtos no ponto de vendas, elaboração de campanhas promocionais, material gráfico, e mídia de uma forma geral.
As tendências de mercado são avaliadas tanto para lançamentos de novos produtos como para produtos já existentes no mercado. Esta avaliação é feita em conjunto pelo departamento de Pesquisa e Desenvolvimento e pelo Departamento Comercial da empresa, constituída pelos setores de marketing e gerentes de linha de produtos.
De acordo com pesquisas feitas pelo Departamento de Marketing e acompanhamento das tendências mercadológicas são sugeridos possíveis fitomedicamentos para serem estudados mais profundamente pelo setor de Desenvolvimento de Produtos. Após avaliação de estudos de eficácia e segurança de uso destes fitomedicamentos, parte-se para a avaliação e identificação de possíveis fornecedores de matéria-prima do produto a ser lançado, de acordo com as normas de processo da empresa relacionada. Também é feita a análise de concorrência, isto é, quando já existe um produto no mercado.
As informações são obtidas através de fornecedores, clientes, publicações científicas, página na internet da empresa e através da equipe de vendas dos distribuidores (no total 25 distribuidores com territórios definidos por critérios geográficos).
A empresa possui um cronograma anual para lançamento de produtos e planos de campanha para cada produto lançado.
Somente alguns produtos apresentam plano de marketing em massa e acompanhamento. A Linha de Fitomedicamentos é destinada somente à propaganda à profissionais prescritores e profissionais da área de saúde. Os produtos OTC (sigla em inglês que significa Over The Counter - traduzindo-se ao pé da letra significa “sob o balcão. Trazendo para o nosso dia-a-dia, são os medicamentos de comercialização livre, que não apresentam a tarja vermelha com venda sob prescrição médica) escolhidos pela empresa são os produtos que possuem maior valor agregado, além de produtos sazonais fortes no mercado como a Linha de Emagrecimento e Linha de Produtos de Inverno, sendo estes divulgados além dos canais citados cima, nas principais revistas femininas, jornais e propagandas de TV.
Os canais de divulgação em massa escolhidos irão depender da verba disponível pela empresa. Muitas vezes, são feitas ações promocionais somente nas principais praças a serem atingidas como, por exemplo, o estado de São Paulo e a região sul do país.
São confeccionados displays (expositor de balcão ou chão para os produtos da linha), faixas de gôndola, cartazes e folhetos de ponto de venda.
Para avaliar o giro dos produtos são compradas informações de institutos de pesquisa: Pharmadis, Close Up, Audit Farma, além, é claro, das informações passadas por cada distribuidor da linha (25 distribuidores em todo o Brasil).
A Pharmadis é uma empresa que audita o ponto de vendas. Através dela, a empresa consegue ter um controle de mercado onde atua. É possível saber quais pontos de venda apresentam o produto da empresa, quais os produtos apresenta, bem como é possível acompanhar o giro do mesmo. O Close Up e o Audit Farma são duas ferramentas que a empresa usa para acompanhar o receituário médico. O Close Up audita o comportamento do profissional prescritor, ou seja, a empresa verifica se o médico que está recebendo a visita do propagandista está prescrevendo o produto da empresa e quais os produtos estão sendo prescritos.
O Audit Farma, por sua vez, dá para a empresa o posicionamento de mercado dos produtos que são trabalhados na propaganda médica. Ele captura as informações no próprio ponto de vendas (farmácias e drogarias). Desta forma, é possível identificar em quais regiões os produtos estão apresentando giro e os principais concorrentes de mercado.
A previsão e a mensuração de demanda dos produtos são feitas através da avaliação do número de pessoas dentro do * target em relação ao potencial de consumo e ao índice de penetração do produto no mercado. Estes dados são cruzados com o número de pontos de venda em que a empresa atua e o potencial de compra de cada ponto. Após a obtenção destes dados, verifica-se qual a capacidade de produção da empresa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A empresa analisada não possui um departamento específico de pesquisa de marketing. Apresenta um departamento de marketing que é responsável pelas campanhas de mídia e apresenta gerentes de linhas. Estes gerentes de linhas são responsáveis pelas pesquisas de marketing.
A empresa gerencia as informações através de alguns sistemas de auditoria. A empresa possui o sistema de Database Marketing que gerencia as informações captadas no SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor. Com este sistema, é possível montar grupos de consumidores definidos de acordo com o nível sócio-econômico e pessoal. Porém, estas informações não são utilizadas de forma eficiente ,ou seja, hoje, o sistema de Database Marketing somente é usado para emissão do Jornal Informativo da empresa que é de distribuição bimestral para os clientes já cadastrados e em algumas farmácias que possuem a linha de produtos. Este sistema poderia informar ao público-alvo sobre determinado produto, fazer uma divulgação específica de produtos por região/idade/sexo, além de recolher dados importantes do perfil do consumidor dos produtos.
Possui o Pharmadis que audita o mercado. Apresenta o Close Up e o Audit Farma que auditam respectivamente o comportamento do médico e o receituário dos produtos no PDV – Ponto de Vendas.
Este acompanhamento é feito apenas dos produtos que são trabalhados na propaganda médica. Hoje, de toda a linha de produtos que a empresa apresenta, apenas 12 são trabalhos na propaganda médica. A empresa possui outros medicamentos, como medicamentos para processos alérgicos, ansiolíticos e calmantes, medicamentos para tratamento de queimaduras de primeiro e segundo graus além de outros, que poderiam ser amplamente divulgados e trabalhados junto aos profissionais prescritores através da propaganda médica ou até mesmo, por meio de publicações em revistas especializadas para esta classe. Isto ajudaria a empresa ficar mais conhecida e é claro, os seus medicamentos.
O sistema de pesquisa de marketing não apresenta um monitoramento específico e eficaz. Isto faz com que vários produtos sejam lançados ao mesmo tempo, desta forma, não se tem um tempo hábil para promover a introdução do produto no PDV e fazer um acompanhamento específico. A empresa possui vários produtos que poderiam apresentar um grande potencial comercial, porém, não são trabalhados. Não existe um investimento e uma campanha de lançamento eficaz para todos os produtos da linha, apesar do lado institucional da empresa ser forte.
As metas estipuladas para cada distribuidora são altas, porém, nem sempre a mensuração e previsão de demanda atende ao mercado. Os produtos que apresentam campanhas promocionais deveriam apresentar sempre um saldo em estoque para suprir a demanda caso seu giro fosse superior ao esperado. A empresa trabalha com números exatos, o que prejudica as vendas.
O gerenciamento eficaz da pesquisa de marketing pode trazer à empresa maior rentabilidade e melhor desempenho uma vez que irá acompanhar cada processo mais detalhadamente. Consegue minimizar gastos excessivos, aumentar a lucratividade, aumentar o marketing share, estabelecer objetivos e prioridades auxiliando as decisões de mercado, analisar caminhos criativos para compreender o consumidor final e/ou o ser humano, fidelizar clientes e a própria marca. Pode auxiliar a empresa na construção de um banco de dados preciso e atualizado, onde é possível avaliar diretamente os resultados de cada ação promocional.
Nem sempre a pesquisa de marketing precisa ser cara e sofisticada para ser válida.
A proposta de melhoria sugerida seria acompanhar de perto os processos de pesquisa de marketing e mercado através de uma re-estruturação de atividades de cada profissional envolvido. Esta proposta implicaria:
- intensificar treinamentos voltados à área referida e trabalhar com equipes multifuncionais, uma vez que possui moderno sistema de tecnologia de informação e dados;
- aumentar a agilidade e a interação entre os departamentos internos (gerentes de linha, marketing) e equipe externa (formada pelos distribuidores e suas equipes);
- desenvolver programas de monitoramento e indicadores de desempenho para cada produto lançado, fazendo com que a empresa consiga identificar possíveis falhas e tenha tempo hábil para elaborar sua correção, sem comprometer a qualidade dos serviços/produtos prestados e desta forma, comprometer o relacionamento com os clientes;
- monitorar não só alguns produtos, mas todos os produtos comercializados, não deixando que apresentem vida curta ou se tornem comodities (termo usado em transações comerciais internacionais para designar um tipo de mercadoria em estado bruto ou com um grau muito pequeno de industrialização).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIGUEIREDO, Alessandra Freu. A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA DE MARKETING PARA A INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS. Curso de pós-graduação “latu sensu” especialização em Marketing Farmacêutico. Centro de Pós-Graduação das Faculdades “Osvaldo Cruz”, setembro/2005.
KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
REVISTA GRUPEMEF, ed.72, São Paulo – SP, março/abril, 2003.
TRENTINI, Anny Maciel; YAMADA, Cristina Beerends. Indústria de Fitoterápicos – Case Herbarium in CORRÊA, Cirino Jr.; GRAÇA, Luiz Roberto; SCHEFFER, Marianne Christina. Complexo Agroindustrial das Plantas Medicinais, aromáticas e Condimentares no Estado do Paraná – Diagnóstico e Perspectivas 2004. 1ª ed. Paraná: Sociedade Paranaense de Plantas Medicinais, 2004.
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3.21.2008
MEDICAMENTO, FARMÁCIA, FARMACÊUTICO E O USUÁRIO:
MEDICAMENTO, FARMÁCIA, FARMACÊUTICO E O USUÁRIO:
novo século, novas demandas
Alide Marina Biehl Ferraes
O artigo se propõe a discutir sobre o medicamento, a farmácia, o farmacêutico e o usuário, no processo saúde doença e apontar tendências para o século XXI. O estudo utilizou a problematização e a análise se baseou em textos de Revisão Bibliográfica selecionada. Após leitura crítica, as questões que nortearam a reflexão foram: Frente à indústria do medicamento, é lucrativa a orientação sobre o uso racional do medicamento? O medicamento é mercadoria? A farmácia é um estabelecimento de saúde ou um mero comércio? Qual é o papel do farmacêutico no novo modelo assistencial? A ênfase deve ser no usuário ou no medicamento? Como o conceito de atenção farmacêutica pode ser articulado nos processos de saúde e formação profissional?
O artigo aponta para as possibilidades de resgate do papel, função e valorização do farmacêutico; da farmácia como estabelecimento de saúde com enfoque na atenção básica; e do medicamento como insumo crítico, mas útil para promoção e recuperação da saúde. Destaca a orientação farmacêutica na promoção do uso correto do medicamento e aponta a atenção farmacêutica como possível tendência para uma maior aproximação com o usuário, com vistas à adesão ao tratamento farmacológico e alcance de resultados concretos de melhoria da qualidade de vida. O estudo sugere reflexão sobre a atenção farmacêutica durante a graduação como estratégia na formação do farmacêutico para as novas demandas e enfatiza a necessidade de ampliar as discussões sobre a interação do farmacêutico com os demais profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Palavras chave: farmacêutico e saúde pública; usuário; medicamento; farmácia; atenção farmacêutica.
ABSTRACT
MEDICATION, PHARMACY, PHARMACIST AND THE PATIENT:
tendencies for the 21st century
This article discusses how medication, pharmacy, pharmacist and the patient interact in the disease-health process and points to tendencies for the 21st century. The study used the problematization and the analysis was based in a bibliographic review. After an initial critical reading, the following questions guided the reflection: Given the structures of the pharmaceutical industry, is it lucrative to think in terms of a rational use of medication? Is the medication simply a commodity? Is the pharmacy a health institution or mere commerce? What is the role of the pharmacist in the model of health care? Must the emphasis of the pharmacist’s work be on the medication or the patient? How can the concept of pharmaceutical care be articulated in the health process and in the professional’s training?
The article points to the ways in which the role, function, and value of the pharmacist can be rescued, how the pharmacy can work as a health institution in terms of primacy care, and how the critical role of medication both as product and as key to health promotion and recovery. It highlights the need of pharmaceutical guidance in promoting the correct use of medication and suggests that pharmaceutical attention helps the patient to maximize treatment adherence and concrete improvement in the quality of life. The article suggests that the question of pharmaceutical care be integrated in the pharmacist’s academic training so that she might be able face the new demands. It also emphasizes the need to widen the discussion of the interaction of the pharmacist with other professionals within the universal health care system (SUS).
Keywords: Pharmacist and Public Health; Patient; Medication; Pharmacy; Pharmaceutical Care.
Introdução
Atualmente, a farmácia e o farmacêutico têm sido alvos de uma série de discussões quando entram em cena aspectos relacionados à saúde (ou não!) da população. Estes aspectos dizem respeito a medicamentos falsificados, empurroterapia, preço abusivo de medicamentos essenciais, genéricos, livre concorrência no mercado de trabalho, propagandas transformando o medicamento em mágica curadora de todas as doenças, sem nem ao menos alertar para possíveis efeitos indesejados que podem ser provocados pelos mesmos, enfim, um grande incentivo ao consumo de medicamentos (FERRAES, 2001).
O século passado foi marcado com grandes avanços científicos e tecnológicos em diversas áreas inclusive na industrialização dos medicamentos. Por outro lado, a formação universitária não tem seguindo o mesmo ritmo e capacita profissionais que, na maioria das vezes, têm dificuldade de se adaptar às exigências da sociedade. Isto porque, os estudos concentram teoria e as ações subseqüentes acabam não contemplando a realidade e a demanda social (FERRAES, 2001).
Além disso, a indústria farmacêutica – hoje uma grande potência mundial – tornou-se capaz de exercer um “poder generalizado” sobre o ser humano. Este poder acaba submetendo muito sutilmente os indivíduos das mais diversas classes a um tipo de controle social. Conforme Cohen apud Chammé (1997), o
controle social é, na verdade, uma extensão do processo de socialização. Refere-se aos meios e métodos usados para induzir uma pessoa a corresponder às expectativas de um grupo particular ou da sociedade mais ampla. Se o controle social é exercido com eficiência o comportamento do indivíduo será consistente com o tipo de comportamento esperado.
O poder da indústria farmacêutica é alimentado pelo marketing, propagandas duvidosas, muitas vezes ou quase sempre enganosas, publicidade que oferece tipos ideais e perfeitos de medicamentos sempre de última geração, cada vez mais potentes (e mais caros!) do que aqueles que os antecederam. A propaganda de medicamentos acaba sendo um grande estímulo ao usuário, levando-o a comprar os produtos anunciados, e fazendo-o pensar que pode ter todos os seus problemas resolvidos com esta compra. Triste e cara ilusão para alguns! Mas, certamente lucro real para outros! A propaganda de medicamentos acaba induzindo muitas pessoas a comprarem sem haver real necessidade. Este tipo de procedimento gera lucro para a farmácia e para a indústria farmacêutica, mas pode prejudicar, sem sombra de dúvida, quem comprou o medicamento.
A grande ênfase na doença, as tentativas de fazer de tudo para encontrar e ter sempre mais saúde para as pessoas, o produto final que pode ser comprado para se ter saúde e o consumidor deste produto, não mais visto como usuário, contribuem para desvirtuar o papel tanto do medicamento, como da farmácia e do farmacêutico.
Este artigo se propõe a discutir sobre o medicamento, a farmácia, o farmacêutico e o paciente, no processo saúde doença e apontar tendências para o século XXI, utilizando a problematização. O estudo se baseia em textos de Revisão Bibliográfica, selecionados para leitura crítica e reflexão.
Problematização
Quando observamos esta triste realidade mercantilista, nos deparamos com problemas que merecem ser aprofundados, na tentativa de compreendê-los e assim, em alguma etapa deste processo, vislumbrar alternativas viáveis para superar os mesmos. Poderíamos nos perguntar: porque existe um incentivo tão grande ao consumo de medicamentos? O medicamento é o quê, afinal? É um meio a ser utilizado para uma determinada finalidade relacionada ao bem estar do usuário, ou o medicamento é mais uma mercadoria lançada no mercado e considerada como tal? A farmácia é um estabelecimento de saúde ou um mero comércio de medicamentos? Como o profissional farmacêutico pode atuar com qualidade dentro da Farmácia? Que aspectos devem ser observados? A ênfase deve ser no usuário ou no medicamento? Como o conceito de atenção farmacêutica pode ser articulado nos processos de saúde e formação profissional?
O medicamento deve ser encarado como um meio, uma estratégia para o processo de cura ou reabilitação de um paciente. Conforme o relatório final da CPI do Medicamento publicado em abril de 1996 e citado por Rech, em Pronunciamento da Federação Nacional dos Farmacêuticos na Câmara Federal, o medicamento
não pode ser tido como uma mercadoria qualquer, à disposição dos consumidores e sujeito às leis do mercado. Ele é, antes de tudo, um instrumento do conjunto de ações e medidas utilizadas para a promoção e recuperação da saúde (Rech,1996b, p. 14).
Mas, na era do capitalismo, esta qualidade do medicamento infelizmente tem-se descaracterizado. Chammé (1997), ao discutir sobre o processo saúde/doença, ressalta que os meios de comunicação para as massas são eficazes e potentes, uma vez que estas acabam sendo as compradoras das sedutoras mercadorias do capitalismo. Conforme Marcondes Filho apud Chammé (1997, p.4), [...] as pessoas não se realizam de fato sob este modo de produção econômico em que vivem. O domínio do capital transforma tudo em mercadoria e penetra até nos espaços mais escondidos.
Neste sentido, se a saúde e a doença forem considerados produtos que devem ser adquiridos e consumidos ou até descartados, os usuários estarão diante de mais um bem ideologizado pela mídia e moda capitalista (CHAMMÉ, 1997). O mesmo pode acontecer com o medicamento que é idealizado pela mídia e moda capitalista. Nesta perspectiva, o medicamento também se torna mais um produto, uma simples mercadoria que tem grande valia e um preço. E esta mercadoria pode ser facilmente adquirida em alguns supermercados, lojas de conveniência e até em mesmo em farmácias!
Em analogia à frase de Chammé (1997): Frente à indústria da doença, seria lucrativa a instalação da saúde? Os questionamentos que surgem nas nossas mentes são: “Frente à indústria do medicamento, seria lucrativa a terapia não medicamentosa?” ou “Frente à indústria do medicamento, seria lucrativa a orientação sobre o uso racional do medicamento?”
O Brasil se encontra atualmente entre os dez maiores mercados consumidores de medicamentos de acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), publicados em novembro de 1998. Os dados referentes à Saúde no Brasil possibilitaram uma visão global da situação relacionada aos medicamentos. O interessante é como se processa este consumo. Mais da metade da população brasileira (51%), com renda até quatro salários mínimos, é responsável pelo consumo de somente 16% dos medicamentos produzidos, enquanto que uma minoria de 15% da população tem renda superior a dez salários mínimos e consome 48% da produção de medicamentos (BRASIL, 1999; PESSINI, 2000). Este fato evidencia claramente que, por razão sócio-econômica, o acesso à terapia medicamentosa não ocorre de forma igual na população, ficando comprometido para milhões de brasileiros.
A farmácia é por sua natureza um centro prestador do serviço público onde há, além da distribuição de medicamentos, atenção à saúde da população (SANTOS, 1998b, p.11). Existe uma concordância de alguns autores sobre a importância de se integrar a Farmácia ao Sistema Sanitário, na tentativa de contribuir na atenção primária à saúde, através da participação em programas de prevenção e promoção da saúde (ZUBIOLI, 1996b; SANTOS, 1998a; MOTA et al., 2000).
A farmácia, que poderia ou deveria ser um estabelecimento de saúde, local também de atenção primária, acaba se tornando um comércio de medicamentos. Rech (1996a) ao se pronunciar sobre assistência farmacêutica destaca a qualidade da orientação farmacêutica em contrapartida ao interesse mercantilista de alguns proprietários leigos de Farmácia, que ao pensarem somente no lucro acabam induzindo ao consumo desnecessário e irracional de medicamentos. Da competição entre Farmácias, cada uma querendo vender o seu produto surge a empurroterapia (CARLINI, 1996; RECH, 1996a), que pode ser barrada quando o farmacêutico desempenha uma orientação adequada.
Em relação aos interesses econômicos prevalentes no Brasil, Rech (1996b) comenta que [...] a lógica puramente mercantilista, sobre a qual predominam os interesses particulares e a busca incansável e sem limites de lucro fácil, traz consigo distorções evidenciada no âmbito social, uma vez que os interesses coletivos são relegados aos esquecimentos. Com base nestas considerações do citado autor, são claramente perceptíveis os diversos interesses que geralmente sustentam a criação em profusão de farmácias, desconsiderando, muitas vezes, as necessidades da população. Assim, a farmácia isolada dos outros serviços de saúde, transformou-se em local de comercialização de mercadorias (com algumas raras exceções), onde o consumo é considerado indispensável e altamente rentável. Certamente, esta situação vai ganhando vulto à medida que mais e mais farmácias recebem o alvará de funcionamento fornecido pelas prefeituras das cidades, e enquanto não forem respeitados os Regulamentos sobre as propagandas de substâncias e medicamentos constantes na Portaria 344 de 12 de maio de 1998. A citada Portaria aprova o Regulamento Técnico sobre Substâncias e Medicamentos Sujeitos à Controle Especial, e no capítulo XI, no artigo 91 expõe o seguinte sobre a propaganda de medicamentos:
A propaganda de substâncias e medicamentos, constantes das listas deste Regulamento e suas atualizações, somente poderá ser efetuada em revista ou publicação tecno-científica de circulação restrita a profissionais de saúde (BRASIL, 1998, p.17, grifo nosso).
Os aspectos legais relacionados à abertura de farmácias são amplamente discutidos por Zubioli (1992). É lamentável que no Brasil muitas farmácias estejam descompromissadas com a saúde das pessoas a tal ponto de terem se tornado, exclusivamente, estabelecimentos que simplesmente comercializam os medicamentos. Parece que o compromisso social com a qualidade de vida da população praticamente inexiste. E, o usuário do medicamento nestas farmácias tornou-se só mais um consumidor, que para ser conquistado é atraído pelo olhar, propagandas, promoções, etc, além de vitrines maravilhosas com vidros e espelhos por todos os lados. A indústria farmacêutica tem grande interesse nessas farmácias, uma vez que elas acabam funcionando de intermediárias repassando os produtos farmacêuticos ao consumidor. Diante de todas estas considerações, se quisermos uma farmácia de interesse social e não somente um comércio com altos lucros, torna-se claro que o próprio farmacêutico tem uma grande tarefa devendo fazer parte de todo o processo de assistência à saúde.
O farmacêutico é o profissional capacitado para orientar educar e instruir o paciente sobre todos os aspectos relacionados ao medicamento (CARLINI,1996; RECH,1996a; PERETTA; CICCCIA, 1998). O papel do farmacêutico é importantíssimo no novo modelo assistencial onde a ênfase é atenção primária à saúde (MOTA et al., 2000). Na maioria das vezes, ele é o último profissional a ter contato direto com o paciente (ZUBIOLI, 1996a; RECH, 1996b) assistindo-o em todas as suas dúvidas antes de dar início ao tratamento. O diálogo com o paciente é necessário até para motivar o cumprimento do tratamento (FERRAES, 2001; 2002). Ferraes e Cordoni Jr (2001), mencionam que a orientação é um processo vital quando se visa a adesão do paciente ao tratamento.
Em locais onde não há assistência farmacêutica, só armazenamento e distribuição de medicamentos, os usuários não recebem o repasse das orientações esclarecedoras quanto aos cuidados na administração do medicamento (PAIVA FILHO, 1998, p.17). Cabe lembrar que a assistência farmacêutica é o termo utilizado na Política Nacional de Medicamentos para designar o grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Fala-se em ciclo de assistência farmacêutica, composta pelas fases: seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação do medicamento (BRASIL, 1999).
A condição essencial para o sucesso de qualquer tratamento depende da qualidade da orientação que é fornecida ao usuário sobre a utilização correta do medicamento. A ausência desta orientação, conforme Rech (1996b, p, 15), [...] tem sido uma das causas mais freqüentes de retorno de pacientes aos serviços de saúde, acarretando mais sofrimento à população e onerando ainda mais o sistema de saúde.
Provavelmente estas considerações sobre a ausência de uma orientação adequada no momento da dispensação do medicamento ao usuário, pode contribuir favorecendo a situação que Chammé (1999, p.9) descreve como “processo de metamorfose de simples usuário dos serviços públicos de saúde, à condição de poliqueixoso.” , referindo-se à figura típica do usuário que insistentemente se mantém “rotinizado e, de queixa em queixa, vá tentando encontrar resolutividade e eficiência para os males que o acometem.”
É importante destacar a importância do papel que o farmacêutico desempenha na dispensação, orientando o usuário sobre o uso correto do medicamento, esclarecendo dúvidas e favorecendo a adesão e sucesso do tratamento prescrito (RECH, 1996a; CARLINI, 1996; FERRAES, 2000; 2001; 2002; FERRAES; CORDONI, 2001; PERETTA; CICCIA, 1998). Mota et al. (2000) quando se referem ao “Farmacêutico na Saúde Pública” consideram o farmacêutico como o profissional de saúde com maiores responsabilidades na cadeia da automedicação, sendo importantíssimo o seu papel no novo modelo assistencial com ênfase à atenção primária de saúde.
O tipo de atendimento que o paciente recebe influi de forma decisiva na utilização ou não do medicamento, e, mesmo que o diagnóstico e prescrição estejam corretos, a adesão ou “compliance” do paciente ao tratamento dependem da orientação recebida, da aceitação, da disponibilidade e possibilidade de se adquirir o medicamento (ZANINI et al., 1985). Conforme Zanini et al. (1985, p. 690), compliance é o termo utilizado para definir o nível de aceitação, cooperação e cumprimento das instruções por parte do paciente em relação ao tratamento médico recebido. A tradução mais apropriada na língua portuguesa é “adesão” do paciente ao tratamento farmacológico.
Enfim, não adianta somente ter acesso ao médico e ao medicamento, sendo necessárias as orientações corretas quanto ao uso adequado do medicamento. Zanini et al. (1985, p.691) fazem um comentário bastante interessante neste aspecto e atualmente não consideram suficiente, para o paciente, apenas a prescrição e orientação médica, mesmo quando cuidadosa. Surgem dúvidas que tornam necessário repetir as instruções e, eventualmente complementá-las. Correia Junior (1997) também partilha desta idéia e comenta que o farmacêutico tem as condições necessárias para reforçar as informações sobre a terapêutica do paciente. Sem, contudo, afirmar que, a presença do farmacêutico seja o sinônimo de adesão.
A Política de Medicamentos proposta pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1999, p.34) destaca alguns dos elementos importantes da dispensação. Estes elementos se referem a ênfase no cumprimento da dosagem, influência dos alimentos, a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas e as condições de conservação dos produtos.
Existem vários motivos para a não adesão do paciente ao tratamento. Conforme Hardon e Legrand apud Correia Junior (1997, p.11) encontram-se entre estes motivos: as características das drogas em si; a percepção do paciente; e a relação entre o paciente e os profissionais de saúde. Ressalta ainda um sério problema que pode induzir a uma não adesão e que se refere ao próprio paciente. O autor mencionado se refere a quebra de rotina do paciente, com supressão de hábitos (fumar, beber, etc), alteração de alguns (horários de refeições, dormir e acordar) e inclusão de outros (tomar remédios), como grande obstáculo à adesão ao tratamento medicamentoso. Contudo, na prática, percebe-se que estes aspectos podem ser corrigidos ou melhorados quando o profissional farmacêutico estiver inserido na equipe de saúde e quando houver as orientações adequadas sobre o uso racional do medicamento.
Infere-se a partir daí, a importância de um trabalho de equipe de saúde multiprofissional, onde o farmacêutico esteja inserido. Para desempenhar bem sua função, o farmacêutico deverá dispor de informações atualizadas, verdadeiras e embasadas cientificamente. Em relação às necessidades dos recursos humanos em saúde, um comitê de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1985, citado por Correia Junior (1997) declarou que a procura da saúde para todos, com ênfase na atenção primária de saúde, exigirá a redefinição dos papéis e funções de todas as categorias de pessoal sanitário, incluindo médicos, enfermeiros, farmacêuticos, dentistas ,engenheiros sanitários,dentre outros profissionais.
O termo “Pharmaceutical Care” de Hepler e Strand (1990) é o que mais se aproxima do que conhecemos como atenção farmacêutica. Marín (1999, p. 126) se refere ao conceito como el processo a através del cual un farmacéutico coopera con un paciente y otros professionales en definir, implementar y monitorear un plan terapeutico que producitrá un resultado terapéutico para el paciente.
A partir destes conceitos de Hepler e Strand (1990), e tendo em vista destes novos enfoques na atenção primária e contemplando os profissionais farmacêuticos é elaborado um documento pela OMS em 1993, em Tókio, intitulado “El Papel del Farmacéutico en el Sistema de Atención de Salud” (ORGANIZACIÓN, 1993, p.1) no qual a Atenção Farmacêutica
é um conceito de prática profissional em que o paciente é o principal beneficiário.É o conjunto de atitudes, comportamentos, compromissos, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e destrezas do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, objetivando conseguir resultados terapêuticos definidos e qualidade de vida do paciente (ORGANIZACIÓN, 1993, p. 1, grifo nosso).
Atualmente temos relatos de experiências de alguns países que têm tido êxito no modelo de atenção farmacêutica adotada, podendo citar: EUA, Canadá e Espanha (ANTEZANA, 1998; PERETTA e CICCIA, 1998). Na Argentina também temos algumas experiências positivas na atenção farmacêutica (PERETTA; CICCIA, 1998). No Brasil, o conceito tem começado a fazer parte da vida tanto de profissionais, como de acadêmicos de farmácia. Temos, no país o relato de algumas experiências que têm tido êxito, podendo citar os trabalhos desenvolvidos por Alberton et al. (2000) e Marcon et al. (2000).
Romero (1996) destaca as diferenças existentes entre farmácia clínica e atenção farmacêutica. Conforme o autor citado, na farmácia clínica é exercido um ato profissional que consiste em entregar um medicamento ao paciente, com informações suficientes, assegurando que o medicamento é adequado, que a dose é correta, que não há riscos de incompatibilidades, nem interação com outros medicamentos que o paciente esteja tomando ou pretenda tomar. E, na atenção farmacêutica, além do já mencionado, fala-se mais em interação com o paciente e acrescentam-se ainda dois aspectos: estabelecimento de um acordo prévio com o paciente que receberá a prestação de serviço farmacêutico, e necessidade de acompanhamento do paciente para posterior comprovação de resultados. A atenção farmacêutica e sua implantação em farmácias são amplamente discutidas por Peretta e Ciccia (1998).
Em relação à formação dos novos profissionais farmacêuticos, percebe-se que existe a necessidade do tema ser abordado em toda a sua amplitude. Não obstante, docentes dos cursos de farmácia tem demonstrado preocupação em inserir alguma disciplina específica sobre atenção farmacêutica nos cursos de graduação em farmácia. Neste sentido, temos a experiência de Ivama e Petris (2002), Petris (2000) e o estudo desenvolvido por Lorandi (2000). Além disso, pode-se mencionar que a UEL (Universidade Estadual de Londrina/PR), tem ofertado aos alunos dos cursos de medicina, enfermagem e farmácia, uma disciplina especial, visando tanto uma maior integração ensino, serviço e comunidade, como uma experiência interdisciplinar e multiprofissional aos futuros profissionais.
Ao mesmo tempo em que no país amadurece a questão sobre a atenção farmacêutica, conceitos de qualidade, qualidade total, controle de qualidade também começam a fazer parte da vida de cada cidadão sendo almejados e discutidos nas mais diversas situações e cercando tanto profissionais, quanto prestação de serviços dos mais variados. Conforme Rattner (1996), existe atualmente um movimento social em busca de qualidade nos diversos ramos da atividade humana, sendo que neste contexto não é possível excluir a atividade médica nem os demais profissionais de saúde. O farmacêutico deve estar atento a todas estas transformações na busca de qualidade no seu dia - a - dia no seu local de trabalho. Sabe-se, contudo, que nos estabelecimentos de saúde, mais especificamente na Farmácia, nem sempre será possível aplicar integramente os conceitos de qualidade no que diz respeito à plena satisfação do usuário em relação aos medicamentos. Faz-se necessário uma orientação adequada sobre o uso correto dos medicamentos e de um estímulo à adesão ao tratamento proposto para posterior verificação de resultados.
Para obter a qualidade em prestação de serviços, faz-se necessário construir um ambiente especial no local de trabalho, onde a excelência do serviço seja uma missão de todos (RODRIGUES et al., 1996). É muito importante que seja criado um bom ambiente de trabalho, onde toda a equipe se sinta bem; certamente isto refletirá no serviço prestado. Rodrigues et al. (1996) se referem a um serviço de qualidade quando falam da plena satisfação do cliente, sendo que o segredo para que isto ocorra envolve concentração profunda nas necessidades e desejos do cliente, criando um serviço que exceda as suas expectativas. Os mesmos autores comentam ainda que para isto acontecer, o serviço deve ser bem feito e ter um preço justo, além disso, não deve dar lugar a desperdícios. Assim, o cliente, vai consumi-lo novamente e se tornar divulgador daquele serviço e de sua qualidade (RODRIGUES et al.,1996, p.16).
Em relação à implantação da atenção farmacêutica, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS), como nos demais estabelecimentos que dispensam medicamentos num município, considera-se importante que primeiro se estabeleça um perfil das necessidades da população. Além disso, conforme o exposto, é imprescindível, antes da implantação da atenção farmacêutica, a prática de uma dispensação adequada, onde usuários ou pacientes sejam realmente orientados sobre a utilização racional dos medicamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste novo milênio, quando praticamente o mundo inteiro se volta para a necessidade de qualidade, faz-se necessário que o profissional responsável pelo medicamento dentro do estabelecimento de saúde motive-se pelo grande desafio de atuar com qualidade no seu dia-a-dia.
As reflexões neste artigo sobre o medicamento, a farmácia, o farmacêutico e o usuário não esgotam os pontos importantes a serem discutidos sobre as possibilidades da atenção farmacêutica. Porém, oferecem alguns subsídios ao profissional farmacêutico antes de implantar a atenção farmacêutica.
O farmacêutico é um profissional comprometido com o bem estar dos que estão à sua volta, com grandes perspectivas de resgate do seu papel, função e valorização no sistema de saúde, através de ações concretas na promoção e prevenção. Considera-se também importante ampliar as discussões sobre a interação do farmacêutico com os demais profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Acreditamos que qualquer mudança na atuação farmacêutica deva partir de uma reflexão de cada profissional a partir de sua realidade prática. É a partir desta conscientização que podem mudar os comportamentos dos profissionais, gerando ações com mais qualidade, inclusive, a possibilidade de implantar a atenção farmacêutica. Nesta conjuntura, é imprescindível orientar o paciente sobre o uso correto do medicamento. E, na interação com o paciente, numa visão holística, tratando-o de forma integral, há grandes possibilidades do paciente acabar sendo estimulando à adesão ao tratamento medicamentoso, e na seqüência implantar a atenção farmacêutica.
O artigo também aponta o resgate da farmácia como estabelecimento de saúde com enfoque na atenção básica; e do medicamento como insumo crítico, mas útil para promoção e recuperação da saúde. Destaca a atenção farmacêutica como possível tendência para uma maior aproximação com o usuário, com vistas à adesão ao tratamento farmacológico e alcance de resultados concretos de melhoria da qualidade de vida. O estudo sugere reflexão sobre a atenção farmacêutica, tanto na atual prática profissional, como durante a graduação como estratégia na formação do farmacêutico para as novas demandas.
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novo século, novas demandas
Alide Marina Biehl Ferraes
O artigo se propõe a discutir sobre o medicamento, a farmácia, o farmacêutico e o usuário, no processo saúde doença e apontar tendências para o século XXI. O estudo utilizou a problematização e a análise se baseou em textos de Revisão Bibliográfica selecionada. Após leitura crítica, as questões que nortearam a reflexão foram: Frente à indústria do medicamento, é lucrativa a orientação sobre o uso racional do medicamento? O medicamento é mercadoria? A farmácia é um estabelecimento de saúde ou um mero comércio? Qual é o papel do farmacêutico no novo modelo assistencial? A ênfase deve ser no usuário ou no medicamento? Como o conceito de atenção farmacêutica pode ser articulado nos processos de saúde e formação profissional?
O artigo aponta para as possibilidades de resgate do papel, função e valorização do farmacêutico; da farmácia como estabelecimento de saúde com enfoque na atenção básica; e do medicamento como insumo crítico, mas útil para promoção e recuperação da saúde. Destaca a orientação farmacêutica na promoção do uso correto do medicamento e aponta a atenção farmacêutica como possível tendência para uma maior aproximação com o usuário, com vistas à adesão ao tratamento farmacológico e alcance de resultados concretos de melhoria da qualidade de vida. O estudo sugere reflexão sobre a atenção farmacêutica durante a graduação como estratégia na formação do farmacêutico para as novas demandas e enfatiza a necessidade de ampliar as discussões sobre a interação do farmacêutico com os demais profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Palavras chave: farmacêutico e saúde pública; usuário; medicamento; farmácia; atenção farmacêutica.
ABSTRACT
MEDICATION, PHARMACY, PHARMACIST AND THE PATIENT:
tendencies for the 21st century
This article discusses how medication, pharmacy, pharmacist and the patient interact in the disease-health process and points to tendencies for the 21st century. The study used the problematization and the analysis was based in a bibliographic review. After an initial critical reading, the following questions guided the reflection: Given the structures of the pharmaceutical industry, is it lucrative to think in terms of a rational use of medication? Is the medication simply a commodity? Is the pharmacy a health institution or mere commerce? What is the role of the pharmacist in the model of health care? Must the emphasis of the pharmacist’s work be on the medication or the patient? How can the concept of pharmaceutical care be articulated in the health process and in the professional’s training?
The article points to the ways in which the role, function, and value of the pharmacist can be rescued, how the pharmacy can work as a health institution in terms of primacy care, and how the critical role of medication both as product and as key to health promotion and recovery. It highlights the need of pharmaceutical guidance in promoting the correct use of medication and suggests that pharmaceutical attention helps the patient to maximize treatment adherence and concrete improvement in the quality of life. The article suggests that the question of pharmaceutical care be integrated in the pharmacist’s academic training so that she might be able face the new demands. It also emphasizes the need to widen the discussion of the interaction of the pharmacist with other professionals within the universal health care system (SUS).
Keywords: Pharmacist and Public Health; Patient; Medication; Pharmacy; Pharmaceutical Care.
Introdução
Atualmente, a farmácia e o farmacêutico têm sido alvos de uma série de discussões quando entram em cena aspectos relacionados à saúde (ou não!) da população. Estes aspectos dizem respeito a medicamentos falsificados, empurroterapia, preço abusivo de medicamentos essenciais, genéricos, livre concorrência no mercado de trabalho, propagandas transformando o medicamento em mágica curadora de todas as doenças, sem nem ao menos alertar para possíveis efeitos indesejados que podem ser provocados pelos mesmos, enfim, um grande incentivo ao consumo de medicamentos (FERRAES, 2001).
O século passado foi marcado com grandes avanços científicos e tecnológicos em diversas áreas inclusive na industrialização dos medicamentos. Por outro lado, a formação universitária não tem seguindo o mesmo ritmo e capacita profissionais que, na maioria das vezes, têm dificuldade de se adaptar às exigências da sociedade. Isto porque, os estudos concentram teoria e as ações subseqüentes acabam não contemplando a realidade e a demanda social (FERRAES, 2001).
Além disso, a indústria farmacêutica – hoje uma grande potência mundial – tornou-se capaz de exercer um “poder generalizado” sobre o ser humano. Este poder acaba submetendo muito sutilmente os indivíduos das mais diversas classes a um tipo de controle social. Conforme Cohen apud Chammé (1997), o
controle social é, na verdade, uma extensão do processo de socialização. Refere-se aos meios e métodos usados para induzir uma pessoa a corresponder às expectativas de um grupo particular ou da sociedade mais ampla. Se o controle social é exercido com eficiência o comportamento do indivíduo será consistente com o tipo de comportamento esperado.
O poder da indústria farmacêutica é alimentado pelo marketing, propagandas duvidosas, muitas vezes ou quase sempre enganosas, publicidade que oferece tipos ideais e perfeitos de medicamentos sempre de última geração, cada vez mais potentes (e mais caros!) do que aqueles que os antecederam. A propaganda de medicamentos acaba sendo um grande estímulo ao usuário, levando-o a comprar os produtos anunciados, e fazendo-o pensar que pode ter todos os seus problemas resolvidos com esta compra. Triste e cara ilusão para alguns! Mas, certamente lucro real para outros! A propaganda de medicamentos acaba induzindo muitas pessoas a comprarem sem haver real necessidade. Este tipo de procedimento gera lucro para a farmácia e para a indústria farmacêutica, mas pode prejudicar, sem sombra de dúvida, quem comprou o medicamento.
A grande ênfase na doença, as tentativas de fazer de tudo para encontrar e ter sempre mais saúde para as pessoas, o produto final que pode ser comprado para se ter saúde e o consumidor deste produto, não mais visto como usuário, contribuem para desvirtuar o papel tanto do medicamento, como da farmácia e do farmacêutico.
Este artigo se propõe a discutir sobre o medicamento, a farmácia, o farmacêutico e o paciente, no processo saúde doença e apontar tendências para o século XXI, utilizando a problematização. O estudo se baseia em textos de Revisão Bibliográfica, selecionados para leitura crítica e reflexão.
Problematização
Quando observamos esta triste realidade mercantilista, nos deparamos com problemas que merecem ser aprofundados, na tentativa de compreendê-los e assim, em alguma etapa deste processo, vislumbrar alternativas viáveis para superar os mesmos. Poderíamos nos perguntar: porque existe um incentivo tão grande ao consumo de medicamentos? O medicamento é o quê, afinal? É um meio a ser utilizado para uma determinada finalidade relacionada ao bem estar do usuário, ou o medicamento é mais uma mercadoria lançada no mercado e considerada como tal? A farmácia é um estabelecimento de saúde ou um mero comércio de medicamentos? Como o profissional farmacêutico pode atuar com qualidade dentro da Farmácia? Que aspectos devem ser observados? A ênfase deve ser no usuário ou no medicamento? Como o conceito de atenção farmacêutica pode ser articulado nos processos de saúde e formação profissional?
O medicamento deve ser encarado como um meio, uma estratégia para o processo de cura ou reabilitação de um paciente. Conforme o relatório final da CPI do Medicamento publicado em abril de 1996 e citado por Rech, em Pronunciamento da Federação Nacional dos Farmacêuticos na Câmara Federal, o medicamento
não pode ser tido como uma mercadoria qualquer, à disposição dos consumidores e sujeito às leis do mercado. Ele é, antes de tudo, um instrumento do conjunto de ações e medidas utilizadas para a promoção e recuperação da saúde (Rech,1996b, p. 14).
Mas, na era do capitalismo, esta qualidade do medicamento infelizmente tem-se descaracterizado. Chammé (1997), ao discutir sobre o processo saúde/doença, ressalta que os meios de comunicação para as massas são eficazes e potentes, uma vez que estas acabam sendo as compradoras das sedutoras mercadorias do capitalismo. Conforme Marcondes Filho apud Chammé (1997, p.4), [...] as pessoas não se realizam de fato sob este modo de produção econômico em que vivem. O domínio do capital transforma tudo em mercadoria e penetra até nos espaços mais escondidos.
Neste sentido, se a saúde e a doença forem considerados produtos que devem ser adquiridos e consumidos ou até descartados, os usuários estarão diante de mais um bem ideologizado pela mídia e moda capitalista (CHAMMÉ, 1997). O mesmo pode acontecer com o medicamento que é idealizado pela mídia e moda capitalista. Nesta perspectiva, o medicamento também se torna mais um produto, uma simples mercadoria que tem grande valia e um preço. E esta mercadoria pode ser facilmente adquirida em alguns supermercados, lojas de conveniência e até em mesmo em farmácias!
Em analogia à frase de Chammé (1997): Frente à indústria da doença, seria lucrativa a instalação da saúde? Os questionamentos que surgem nas nossas mentes são: “Frente à indústria do medicamento, seria lucrativa a terapia não medicamentosa?” ou “Frente à indústria do medicamento, seria lucrativa a orientação sobre o uso racional do medicamento?”
O Brasil se encontra atualmente entre os dez maiores mercados consumidores de medicamentos de acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), publicados em novembro de 1998. Os dados referentes à Saúde no Brasil possibilitaram uma visão global da situação relacionada aos medicamentos. O interessante é como se processa este consumo. Mais da metade da população brasileira (51%), com renda até quatro salários mínimos, é responsável pelo consumo de somente 16% dos medicamentos produzidos, enquanto que uma minoria de 15% da população tem renda superior a dez salários mínimos e consome 48% da produção de medicamentos (BRASIL, 1999; PESSINI, 2000). Este fato evidencia claramente que, por razão sócio-econômica, o acesso à terapia medicamentosa não ocorre de forma igual na população, ficando comprometido para milhões de brasileiros.
A farmácia é por sua natureza um centro prestador do serviço público onde há, além da distribuição de medicamentos, atenção à saúde da população (SANTOS, 1998b, p.11). Existe uma concordância de alguns autores sobre a importância de se integrar a Farmácia ao Sistema Sanitário, na tentativa de contribuir na atenção primária à saúde, através da participação em programas de prevenção e promoção da saúde (ZUBIOLI, 1996b; SANTOS, 1998a; MOTA et al., 2000).
A farmácia, que poderia ou deveria ser um estabelecimento de saúde, local também de atenção primária, acaba se tornando um comércio de medicamentos. Rech (1996a) ao se pronunciar sobre assistência farmacêutica destaca a qualidade da orientação farmacêutica em contrapartida ao interesse mercantilista de alguns proprietários leigos de Farmácia, que ao pensarem somente no lucro acabam induzindo ao consumo desnecessário e irracional de medicamentos. Da competição entre Farmácias, cada uma querendo vender o seu produto surge a empurroterapia (CARLINI, 1996; RECH, 1996a), que pode ser barrada quando o farmacêutico desempenha uma orientação adequada.
Em relação aos interesses econômicos prevalentes no Brasil, Rech (1996b) comenta que [...] a lógica puramente mercantilista, sobre a qual predominam os interesses particulares e a busca incansável e sem limites de lucro fácil, traz consigo distorções evidenciada no âmbito social, uma vez que os interesses coletivos são relegados aos esquecimentos. Com base nestas considerações do citado autor, são claramente perceptíveis os diversos interesses que geralmente sustentam a criação em profusão de farmácias, desconsiderando, muitas vezes, as necessidades da população. Assim, a farmácia isolada dos outros serviços de saúde, transformou-se em local de comercialização de mercadorias (com algumas raras exceções), onde o consumo é considerado indispensável e altamente rentável. Certamente, esta situação vai ganhando vulto à medida que mais e mais farmácias recebem o alvará de funcionamento fornecido pelas prefeituras das cidades, e enquanto não forem respeitados os Regulamentos sobre as propagandas de substâncias e medicamentos constantes na Portaria 344 de 12 de maio de 1998. A citada Portaria aprova o Regulamento Técnico sobre Substâncias e Medicamentos Sujeitos à Controle Especial, e no capítulo XI, no artigo 91 expõe o seguinte sobre a propaganda de medicamentos:
A propaganda de substâncias e medicamentos, constantes das listas deste Regulamento e suas atualizações, somente poderá ser efetuada em revista ou publicação tecno-científica de circulação restrita a profissionais de saúde (BRASIL, 1998, p.17, grifo nosso).
Os aspectos legais relacionados à abertura de farmácias são amplamente discutidos por Zubioli (1992). É lamentável que no Brasil muitas farmácias estejam descompromissadas com a saúde das pessoas a tal ponto de terem se tornado, exclusivamente, estabelecimentos que simplesmente comercializam os medicamentos. Parece que o compromisso social com a qualidade de vida da população praticamente inexiste. E, o usuário do medicamento nestas farmácias tornou-se só mais um consumidor, que para ser conquistado é atraído pelo olhar, propagandas, promoções, etc, além de vitrines maravilhosas com vidros e espelhos por todos os lados. A indústria farmacêutica tem grande interesse nessas farmácias, uma vez que elas acabam funcionando de intermediárias repassando os produtos farmacêuticos ao consumidor. Diante de todas estas considerações, se quisermos uma farmácia de interesse social e não somente um comércio com altos lucros, torna-se claro que o próprio farmacêutico tem uma grande tarefa devendo fazer parte de todo o processo de assistência à saúde.
O farmacêutico é o profissional capacitado para orientar educar e instruir o paciente sobre todos os aspectos relacionados ao medicamento (CARLINI,1996; RECH,1996a; PERETTA; CICCCIA, 1998). O papel do farmacêutico é importantíssimo no novo modelo assistencial onde a ênfase é atenção primária à saúde (MOTA et al., 2000). Na maioria das vezes, ele é o último profissional a ter contato direto com o paciente (ZUBIOLI, 1996a; RECH, 1996b) assistindo-o em todas as suas dúvidas antes de dar início ao tratamento. O diálogo com o paciente é necessário até para motivar o cumprimento do tratamento (FERRAES, 2001; 2002). Ferraes e Cordoni Jr (2001), mencionam que a orientação é um processo vital quando se visa a adesão do paciente ao tratamento.
Em locais onde não há assistência farmacêutica, só armazenamento e distribuição de medicamentos, os usuários não recebem o repasse das orientações esclarecedoras quanto aos cuidados na administração do medicamento (PAIVA FILHO, 1998, p.17). Cabe lembrar que a assistência farmacêutica é o termo utilizado na Política Nacional de Medicamentos para designar o grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Fala-se em ciclo de assistência farmacêutica, composta pelas fases: seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação do medicamento (BRASIL, 1999).
A condição essencial para o sucesso de qualquer tratamento depende da qualidade da orientação que é fornecida ao usuário sobre a utilização correta do medicamento. A ausência desta orientação, conforme Rech (1996b, p, 15), [...] tem sido uma das causas mais freqüentes de retorno de pacientes aos serviços de saúde, acarretando mais sofrimento à população e onerando ainda mais o sistema de saúde.
Provavelmente estas considerações sobre a ausência de uma orientação adequada no momento da dispensação do medicamento ao usuário, pode contribuir favorecendo a situação que Chammé (1999, p.9) descreve como “processo de metamorfose de simples usuário dos serviços públicos de saúde, à condição de poliqueixoso.” , referindo-se à figura típica do usuário que insistentemente se mantém “rotinizado e, de queixa em queixa, vá tentando encontrar resolutividade e eficiência para os males que o acometem.”
É importante destacar a importância do papel que o farmacêutico desempenha na dispensação, orientando o usuário sobre o uso correto do medicamento, esclarecendo dúvidas e favorecendo a adesão e sucesso do tratamento prescrito (RECH, 1996a; CARLINI, 1996; FERRAES, 2000; 2001; 2002; FERRAES; CORDONI, 2001; PERETTA; CICCIA, 1998). Mota et al. (2000) quando se referem ao “Farmacêutico na Saúde Pública” consideram o farmacêutico como o profissional de saúde com maiores responsabilidades na cadeia da automedicação, sendo importantíssimo o seu papel no novo modelo assistencial com ênfase à atenção primária de saúde.
O tipo de atendimento que o paciente recebe influi de forma decisiva na utilização ou não do medicamento, e, mesmo que o diagnóstico e prescrição estejam corretos, a adesão ou “compliance” do paciente ao tratamento dependem da orientação recebida, da aceitação, da disponibilidade e possibilidade de se adquirir o medicamento (ZANINI et al., 1985). Conforme Zanini et al. (1985, p. 690), compliance é o termo utilizado para definir o nível de aceitação, cooperação e cumprimento das instruções por parte do paciente em relação ao tratamento médico recebido. A tradução mais apropriada na língua portuguesa é “adesão” do paciente ao tratamento farmacológico.
Enfim, não adianta somente ter acesso ao médico e ao medicamento, sendo necessárias as orientações corretas quanto ao uso adequado do medicamento. Zanini et al. (1985, p.691) fazem um comentário bastante interessante neste aspecto e atualmente não consideram suficiente, para o paciente, apenas a prescrição e orientação médica, mesmo quando cuidadosa. Surgem dúvidas que tornam necessário repetir as instruções e, eventualmente complementá-las. Correia Junior (1997) também partilha desta idéia e comenta que o farmacêutico tem as condições necessárias para reforçar as informações sobre a terapêutica do paciente. Sem, contudo, afirmar que, a presença do farmacêutico seja o sinônimo de adesão.
A Política de Medicamentos proposta pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1999, p.34) destaca alguns dos elementos importantes da dispensação. Estes elementos se referem a ênfase no cumprimento da dosagem, influência dos alimentos, a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas e as condições de conservação dos produtos.
Existem vários motivos para a não adesão do paciente ao tratamento. Conforme Hardon e Legrand apud Correia Junior (1997, p.11) encontram-se entre estes motivos: as características das drogas em si; a percepção do paciente; e a relação entre o paciente e os profissionais de saúde. Ressalta ainda um sério problema que pode induzir a uma não adesão e que se refere ao próprio paciente. O autor mencionado se refere a quebra de rotina do paciente, com supressão de hábitos (fumar, beber, etc), alteração de alguns (horários de refeições, dormir e acordar) e inclusão de outros (tomar remédios), como grande obstáculo à adesão ao tratamento medicamentoso. Contudo, na prática, percebe-se que estes aspectos podem ser corrigidos ou melhorados quando o profissional farmacêutico estiver inserido na equipe de saúde e quando houver as orientações adequadas sobre o uso racional do medicamento.
Infere-se a partir daí, a importância de um trabalho de equipe de saúde multiprofissional, onde o farmacêutico esteja inserido. Para desempenhar bem sua função, o farmacêutico deverá dispor de informações atualizadas, verdadeiras e embasadas cientificamente. Em relação às necessidades dos recursos humanos em saúde, um comitê de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1985, citado por Correia Junior (1997) declarou que a procura da saúde para todos, com ênfase na atenção primária de saúde, exigirá a redefinição dos papéis e funções de todas as categorias de pessoal sanitário, incluindo médicos, enfermeiros, farmacêuticos, dentistas ,engenheiros sanitários,dentre outros profissionais.
O termo “Pharmaceutical Care” de Hepler e Strand (1990) é o que mais se aproxima do que conhecemos como atenção farmacêutica. Marín (1999, p. 126) se refere ao conceito como el processo a através del cual un farmacéutico coopera con un paciente y otros professionales en definir, implementar y monitorear un plan terapeutico que producitrá un resultado terapéutico para el paciente.
A partir destes conceitos de Hepler e Strand (1990), e tendo em vista destes novos enfoques na atenção primária e contemplando os profissionais farmacêuticos é elaborado um documento pela OMS em 1993, em Tókio, intitulado “El Papel del Farmacéutico en el Sistema de Atención de Salud” (ORGANIZACIÓN, 1993, p.1) no qual a Atenção Farmacêutica
é um conceito de prática profissional em que o paciente é o principal beneficiário.É o conjunto de atitudes, comportamentos, compromissos, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e destrezas do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, objetivando conseguir resultados terapêuticos definidos e qualidade de vida do paciente (ORGANIZACIÓN, 1993, p. 1, grifo nosso).
Atualmente temos relatos de experiências de alguns países que têm tido êxito no modelo de atenção farmacêutica adotada, podendo citar: EUA, Canadá e Espanha (ANTEZANA, 1998; PERETTA e CICCIA, 1998). Na Argentina também temos algumas experiências positivas na atenção farmacêutica (PERETTA; CICCIA, 1998). No Brasil, o conceito tem começado a fazer parte da vida tanto de profissionais, como de acadêmicos de farmácia. Temos, no país o relato de algumas experiências que têm tido êxito, podendo citar os trabalhos desenvolvidos por Alberton et al. (2000) e Marcon et al. (2000).
Romero (1996) destaca as diferenças existentes entre farmácia clínica e atenção farmacêutica. Conforme o autor citado, na farmácia clínica é exercido um ato profissional que consiste em entregar um medicamento ao paciente, com informações suficientes, assegurando que o medicamento é adequado, que a dose é correta, que não há riscos de incompatibilidades, nem interação com outros medicamentos que o paciente esteja tomando ou pretenda tomar. E, na atenção farmacêutica, além do já mencionado, fala-se mais em interação com o paciente e acrescentam-se ainda dois aspectos: estabelecimento de um acordo prévio com o paciente que receberá a prestação de serviço farmacêutico, e necessidade de acompanhamento do paciente para posterior comprovação de resultados. A atenção farmacêutica e sua implantação em farmácias são amplamente discutidas por Peretta e Ciccia (1998).
Em relação à formação dos novos profissionais farmacêuticos, percebe-se que existe a necessidade do tema ser abordado em toda a sua amplitude. Não obstante, docentes dos cursos de farmácia tem demonstrado preocupação em inserir alguma disciplina específica sobre atenção farmacêutica nos cursos de graduação em farmácia. Neste sentido, temos a experiência de Ivama e Petris (2002), Petris (2000) e o estudo desenvolvido por Lorandi (2000). Além disso, pode-se mencionar que a UEL (Universidade Estadual de Londrina/PR), tem ofertado aos alunos dos cursos de medicina, enfermagem e farmácia, uma disciplina especial, visando tanto uma maior integração ensino, serviço e comunidade, como uma experiência interdisciplinar e multiprofissional aos futuros profissionais.
Ao mesmo tempo em que no país amadurece a questão sobre a atenção farmacêutica, conceitos de qualidade, qualidade total, controle de qualidade também começam a fazer parte da vida de cada cidadão sendo almejados e discutidos nas mais diversas situações e cercando tanto profissionais, quanto prestação de serviços dos mais variados. Conforme Rattner (1996), existe atualmente um movimento social em busca de qualidade nos diversos ramos da atividade humana, sendo que neste contexto não é possível excluir a atividade médica nem os demais profissionais de saúde. O farmacêutico deve estar atento a todas estas transformações na busca de qualidade no seu dia - a - dia no seu local de trabalho. Sabe-se, contudo, que nos estabelecimentos de saúde, mais especificamente na Farmácia, nem sempre será possível aplicar integramente os conceitos de qualidade no que diz respeito à plena satisfação do usuário em relação aos medicamentos. Faz-se necessário uma orientação adequada sobre o uso correto dos medicamentos e de um estímulo à adesão ao tratamento proposto para posterior verificação de resultados.
Para obter a qualidade em prestação de serviços, faz-se necessário construir um ambiente especial no local de trabalho, onde a excelência do serviço seja uma missão de todos (RODRIGUES et al., 1996). É muito importante que seja criado um bom ambiente de trabalho, onde toda a equipe se sinta bem; certamente isto refletirá no serviço prestado. Rodrigues et al. (1996) se referem a um serviço de qualidade quando falam da plena satisfação do cliente, sendo que o segredo para que isto ocorra envolve concentração profunda nas necessidades e desejos do cliente, criando um serviço que exceda as suas expectativas. Os mesmos autores comentam ainda que para isto acontecer, o serviço deve ser bem feito e ter um preço justo, além disso, não deve dar lugar a desperdícios. Assim, o cliente, vai consumi-lo novamente e se tornar divulgador daquele serviço e de sua qualidade (RODRIGUES et al.,1996, p.16).
Em relação à implantação da atenção farmacêutica, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS), como nos demais estabelecimentos que dispensam medicamentos num município, considera-se importante que primeiro se estabeleça um perfil das necessidades da população. Além disso, conforme o exposto, é imprescindível, antes da implantação da atenção farmacêutica, a prática de uma dispensação adequada, onde usuários ou pacientes sejam realmente orientados sobre a utilização racional dos medicamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste novo milênio, quando praticamente o mundo inteiro se volta para a necessidade de qualidade, faz-se necessário que o profissional responsável pelo medicamento dentro do estabelecimento de saúde motive-se pelo grande desafio de atuar com qualidade no seu dia-a-dia.
As reflexões neste artigo sobre o medicamento, a farmácia, o farmacêutico e o usuário não esgotam os pontos importantes a serem discutidos sobre as possibilidades da atenção farmacêutica. Porém, oferecem alguns subsídios ao profissional farmacêutico antes de implantar a atenção farmacêutica.
O farmacêutico é um profissional comprometido com o bem estar dos que estão à sua volta, com grandes perspectivas de resgate do seu papel, função e valorização no sistema de saúde, através de ações concretas na promoção e prevenção. Considera-se também importante ampliar as discussões sobre a interação do farmacêutico com os demais profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Acreditamos que qualquer mudança na atuação farmacêutica deva partir de uma reflexão de cada profissional a partir de sua realidade prática. É a partir desta conscientização que podem mudar os comportamentos dos profissionais, gerando ações com mais qualidade, inclusive, a possibilidade de implantar a atenção farmacêutica. Nesta conjuntura, é imprescindível orientar o paciente sobre o uso correto do medicamento. E, na interação com o paciente, numa visão holística, tratando-o de forma integral, há grandes possibilidades do paciente acabar sendo estimulando à adesão ao tratamento medicamentoso, e na seqüência implantar a atenção farmacêutica.
O artigo também aponta o resgate da farmácia como estabelecimento de saúde com enfoque na atenção básica; e do medicamento como insumo crítico, mas útil para promoção e recuperação da saúde. Destaca a atenção farmacêutica como possível tendência para uma maior aproximação com o usuário, com vistas à adesão ao tratamento farmacológico e alcance de resultados concretos de melhoria da qualidade de vida. O estudo sugere reflexão sobre a atenção farmacêutica, tanto na atual prática profissional, como durante a graduação como estratégia na formação do farmacêutico para as novas demandas.
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DROGAS DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
AnsiolíticosAspectos históricos e culturais
Os ansiolíticos surgiram em 1950, com o meprobamato, que praticamente desapareceu após a descoberta do clorodiazepóxido, em 1959. A partir daí, seguiu-se uma série de derivados que se mostraram muito eficientes no controle da ansiedade, insônia e certos distúrbios epilépticos.
O Diazepam foi o segundo a surgir, sendo o mais destacado membro desse grupo de substâncias conhecido como benzodiazepinas. Assim, as principais drogas pertencentes à classificação de ansiolíticos são os benzodiazepínicos.
A benzodiazepina, sintetizada na década de 50, tem mais de 2.000 derivados. Existem 19 substâncias comercializadas no Brasil, com mais de 250 nomes comerciais.
O meprobamato foi sendo abandonado e as benzodiazepinas dominam completamente os tratamentos farmacológicos das neuroses e das formas de ansiedade. Além da grande eficiência terapêutica, mostraram-se drogas muito seguras. Tem uso terapêutico como ansiolítico, hipnótico e síndrome de dependência do álcool.
O crescimento de seu consumo foi vertiginoso entre 1960 e 1980, e estima-se que cerca de 10% da população adulta dos países desenvolvidos tomem benzodiazepínicos, regular ou esporadicamente. Estas drogas têm sido prescritas indiscriminadamente. Hoje assistimos ao desenvolvimento de um novo padrão cultural, a "cultura das benzodiazepinas", pelo qual as pessoas encaram com permissividade o uso de um "calmante".
Estas drogas estão sendo usadas acima do que se justificaria, do ponto de vista exclusivamente médico. Não poucos autores tem comparado estas substâncias ao "Soma", descrito por Aldous Huxley em "O Admirável Mundo Novo".
Efeitos físicos e psíquicos
Estimulam os mecanismos do cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade, inibindo os mecanismos que estavam hiperfuncionantes, ficando a pessoa mais tranqüila, como que desligada do meio ambiente e dos estímulos externos.
Produzem uma atividade do cérebro que se caracteriza por diminuição da ansiedade, indução do sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta.
Dificultam os processos de aprendizagem e memória.
Prejudicam, em parte, as funções psicomotoras afetando atividades como, por exemplo, dirigir automóveis.
Efeitos tóxicos
Misturados com álcool, seus efeitos se potencializam, podendo levar a pessoa a estado de coma.
Em doses altas a pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade para ficar de pé e andar, queda da pressão e possibilidade de desmaios.
O seu uso por mulheres grávidas tem um poder teratogênico, isto é, pode produzir lesões ou defeitos físicos na criança.
Quando usados por alguns meses, podem levar a pessoa a um estado de dependência. Ou seja, sem a droga a pessoa passa a sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo, podendo, nos casos extremos, apresentar convulsões.
Há figuração de síndrome de abstinência e também desenvolvimento de tolerância, embora esta última não seja muito acentuada.
Nomes comerciais
Valium, Diempax, Kiatrium, Noan, Diazepam, Calmociteno (substância ativa - diazepam).
Psicosedim, Tensil, Relaxil (substância ativa - clorodiazepóxido).
Lorax, Mesmerin, Relax (substância ativa - lorazepam).
Deptran, Lexotan, Lexpiride (substância ativa - bromazapam).
Rohipnol, Fluzerin (substância ativa - flunitrazepam).
Nome popular: calmantes.
Álcool Aspectos históricos e culturais
A palavra álcool origina-se do árabe al-kuhul que significa líquido.
As bebidas alcóolicas representam as drogas mais antigas das quais se têm conhecimento, por seu simples processo de produção. Obtidas pela fermentação de diversos vegetais, segundo procedimento no início primitivos e depois cada vez mais sofisticados, elas já estavam presentes nas grandes culturas do Oriente Médio e são utilizadas em quase todos os grupos culturais, geralmente relacionadas a momentos festivos.
Os mais antigos documentos da civilização egípcia descrevem o uso do vinho e da cerveja. A medicina egípcia, respeitada em toda a região mediterrânea, usava essências alcóolicas para uma série de moléstias, enquanto meio embriagador contra dores e como abortivo. O vinho entre os egípcios era bebido em honra à deusa Isis.
O consumo de cerveja pelos jovens era comum; muitos contos, lendas e canções de amor relatam os seus poderes afrodisíacos. O seu uso social e festivo era bem tolerado, embora, já no Egito, moralistas populares se levantassem contra o seu abuso "por desviar os jovens dos estudos". A embriaguez, no entanto, era tolerada apenas quando decorrente de celebrações religiosas, onde era considerada normal ou mesmo estimulada.
Na Babilônia 500 a.C., a cerveja era oferta aos deuses. Nas culturas da Mesopotâmia, as bebidas alcóolicas existiram, com certeza, no final do segundo milênio a.C.; aos poucos, a cerveja à base de cereais foi substituída por fermentados à base de tâmaras. A fermentação da uva também é regularmente mencionada. O uso medicinal de produtos alcóolicos é comum.
O consumo de álcool nas civilizações gregas e romanas é bem conhecido. Ele era utilizado tanto pelo seu valor alimentício, quanto para festividades sociais. Ressaltamos apenas a associação entre o uso do vinho e certas práticas e concepções religiosas representadas pela popular figura do Bacchus. Durante longos períodos, o consumo de vinho era proibido para as mulheres, interdito do qual testemunham também os relatos bíblicos. Lembramos ainda que o vinho é parte integrante de cerimônias católicas e protestantes, bem como no judaísmo, no candomblé e em outras práticas espiritas.
O consumo de bebidas alcóolicas é amplamente difundido no Brasil, onde se consome mais álcool per capita do que leite.
Nos anos 20, nos Estados Unidos, houve uma proposta de coibição legal do uso de bebidas alcóolicas chamada Lei Seca. Porém, durou pouquíssimo tempo. O seu fracasso deu-se devido à pressões econômicas que fácil e vitoriosamente se interpuseram, além de que o próprio consumidor encontrou uma forma sutil e prática para alimentar suas necessidades.
O principal agente do álcool é o etanol (álcool etílico).
As bebidas alcóolicas são elaboradas a partir da fermentação de produtos naturais: vinho (fermentação da uva); cerveja (fermentação de grãos de cereais); outros (fermentação do mel, cana de açúcar, beterraba, mandioca, milho, pimenta, arroz etc.).
Bebidas alcóolicas destiladas - como cachaça, rum, uísque ou gim - são obtidas através da destilação de bebidas fermentadas.
Efeitos físicos e psíquicos
Provoca um efeito desinibidor.
Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência chegando-se ao coma alcóolico.
Com o aumento do seu uso, diminui a potência sexual.
O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância.
Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência caracterizada por confusão mental, visões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões. Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte.
"Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de alucinações, principalmente táteis).
BarbitúricosAspectos históricos e culturais
Os barbitúricos foram descobertos no começo do século XX e, diz a história, que o químico europeu que fez a síntese de um deles pela primeira vez, foi fazer a comemoração em um bar. Lá encantou-se com a garçonete, linda moça que se chamava Bárbara. Num acesso de entusiasmo, o cientista resolveu dar ao composto recém descoberto o nome de barbitúrico.
Em 1903, foi lançado no mercado farmacêutico o Veronal, que se mostrava um promissor hipnótico que vinha substituir os medicamentos menos eficientes até então existentes. O próprio nome comercial era uma alusão à cidade de Verona, sede da tragédia "Romeu e Julieta", onde a jovem toma uma droga que induz um sono profundo confundido com a morte para, em seguida, despertar suavemente.
Os barbitúricos foram amplamente empregados como hipnóticos até o aparecimento das benzodiazepinas, na década de 60. A partir daí, suas indicações se restringiram. Hoje alguns deles são úteis como antiepilépticos.
Nos primeiros anos, não se suspeitava que causassem dependência. Depois que milhares de pessoas já haviam se tornado dependentes, é que surgiram normas reguladoras que dificultaram a sua aquisição.
Até algum tempo atrás, sedativos leves que continham barbitúricos em pequenas quantidades, não estavam sujeitos aos controles de venda, podendo ser livremente adquiridos em farmácias. Era o caso dos analgésicos. Vários remédios para dor de cabeça, além da aspirina e os antigos Cibalena, Veramon, Optalidon, Fiorinal etc., continham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas.
O abuso de barbitúricos foi muito mais freqüente até a década de 50 do que é hoje em dia.
Efeitos físicos e psíquicos
São capazes de deprimir (diminuir) varias áreas do cérebro.
As pessoas podem ficar sonolentas, sentindo-se menos tensas, com uma sensação de calma e de relaxamento.
A capacidade de raciocínio e de concentração também ficam afetadas.
Com doses maiores, causa sensação de embriaguez (mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcóolicas em excesso), a fala fica "pastosa", a pessoa pode sentir dificuldade de andar direito, a atenção e a atividade psicomotora são prejudicadas (ficando perigoso operar máquinas, dirigir automóveis etc.). Em doses elevadas, a respiração, o coração e a pressão sangüínea são afetados.
Efeitos tóxicos
Os barbitúricos são drogas perigosas pois a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da que produz efeitos terapêuticos desejáveis.
Os efeitos tóxicos são: sinais de incoordenação motora, início de estado de inconsciência, dificuldade para se movimentar, sono pesado, coma onde a pessoa não responde a nada, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar (a morte ocorre exatamente por parada respiratória). Os efeitos tóxicos ficam mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas.
Os barbitúricos levam à dependência, desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência, com sintomas que vão desde insônia, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia e até convulsões generalizadas.
A síndrome de abstinência requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a morrer.
Nomes comerciais
Hipnóticos: Nembutal (substância ativa - pentobarbital); tiopental - substância ativa (utilizado por via endovenosa, exclusivamente por anestesistas para provocar anestesia em cirurgia).
Antiepilépticos: Gardenal, Comital, Bromosedan (substância ativa - fenobarbital).
Inalantes/solventes
Inalante: toda a substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organismo através da aspiração pela boca ou nariz.
Solvente: substância capaz de dissolver coisas. Via de regra, todo o solvente é uma substância altamente volátil, isto é, evapora-se muito facilmente podendo, por isso, ser inalado. Devido a essa característica, são, portanto, chamados de inalantes. Muitos dos solventes ou inalantes são inflamáveis, isto é, pegam fogo facilmente.
Aspectos históricos e culturais
Os solventes começam a ser utilizados como droga de abuso por volta de 1960 nos EUA. No Brasil, o uso de solventes aparece no período de 1965-1970.
Hoje, o consumo de solventes se dá muito em países do chamado Terceiro Mundo, enquanto que em países desenvolvidos a freqüência de uso é muito baixa.
Os solventes são drogas muito utilizadas por meninos em situação de rua como forma de, por exemplo, sanar a fome; e por estudantes de 1º e 2º graus dado seu fácil acesso e baixo custo.
Eles podem ser aspirados voluntariamente (caso dos meninos de rua que cheiram cola de sapateiro) ou involuntariamente (trabalhadores de indústrias de sapatos ou de oficinas de trabalho, expostos ao ar contaminado por essas substâncias).
O clorofórmio e o éter chegaram a servir como drogas de abuso em outros tempos e depois seu uso foi praticamente abandonado. No Brasil, a moda voltou com os lança-perfumes trazidos da Argentina. O clorofórmio é conhecido desde 1847 como anestésico, mas foi abandonado porque surgiram anestésicos mais eficientes e seguros. Assim também ocorreu com o éter. Há referências ao abuso do éter como substituto do álcool durante a Lei Seca nos Estados Unidos e durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha.
Por volta de 1960, os lança-perfumes, que eram feitos de Cloreto de Etila, começaram a ser aspirados para dar sensação de torpor, tontura e euforia. O Quelene, anestésico local, formava par com o lança-perfume e era empregado fora das épocas de Carnaval, quando a disponibilidade do lança-perfumes era menor. Muitas pessoas morreram de parada cardíaca provocada por essa droga e, por volta de 1965, o governo brasileiro proibiu a fabricação dos lança-perfumes e do Quelene. Contudo, começaram a surgir referências ao retorno do uso de lança-perfumes, só que como um produto à base de clorofórmio e éter.
Efeitos físicos e psíquicos
Após a aspiração, o início dos efeitos é bastante rápido. Entre 15-40 minutos já desapareceram. O efeito dos solventes vai desde uma pequena estimulação, seguida de uma depressão, até o surgimento de processos alucinatórios. Os principais efeitos são caracterizados por uma depressão da atividade do cérebro.
O aparecimento dos efeitos após a inalação foi dividido em 4 fases:
1a. fase: fase da excitação. A pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e visuais. Podem aparecer náuseas, espirro, tosse, muita salivação e as faces podem ficar avermelhadas.
2a. fase: a depressão começa a predominar. A pessoa entra em confusão, desorientação, fica com a voz pastosa, começa a ter a visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez e começa a ver e a ouvir coisas.
3a. fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular, incoordenação motora, fala "enrolada", reflexos deprimidos, já podendo ocorrer processos alucinatórios.
4a. fase: aparece a depressão tardia, podendo chegar a inconsciência. Há queda de pressão, sonhos estranhos, podendo ocorrer surtos de convulsão. Há possibilidade de se chegar ao coma e à morte.
A aspiração repetida, crônica, pode levar à destruição dos neurônios, causando lesões irreversíveis. Os usuários podem apresentar-se apáticos, com dificuldade de concentração e com déficit de memória.
Os solventes têm a propriedade de deixar o coração muito sensível à adrenalina (uma substância produzida pelo corpo), o que faz com que os batimentos cardíacos aumentem. Os solventes, inalados cronicamente, podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os nossos músculos.
Não há, na literatura médica, afirmativas claras de que os solventes possam levar à dependência. Também não se figura síndrome de abstinência. A tolerância pode ocorrer, instalando-se em um ou dois meses.
Nomes comerciais
Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais. Existem dois grupos principais:
Substâncias voláteis: éter, clorofórmio, gasolina, benzina, fluído de isqueiro, Carbex.
Substâncias usadas na indústria como solvente, diluente e adesivas: cola de sapateiro, tintas, vernizes, removedores, limpa-manchas, esmaltes.
Estes produtos pertencem a um grupo químico chamado Hidrocarbonetos Aromáticos ou Afiláticos cujas substâncias ativas são: Tolueno, N-hexano, Benzeno, Xilol, Acetato de Etila, Cloretila ou Cloreto de Etila etc.
Nomes populares: cheirinho da loló ou loló, lança-perfumes ou lança, cola.
Opiáceos ou drogas opiáceas são substâncias derivadas do ópio. Todas produzem uma analgesia (diminuem a dor) e uma hipnose (aumentam o sono). Em função disso, recebem o nome de narcóticos sendo também chamadas de drogas hipnoanalgésicas ou analgésicos narcóticos. São classificadas como substâncias entorpecentes podendo ser:
Opiáceos naturais: derivados do ópio que não sofreram nenhuma modificação (ópio, pó de ópio, morfina, codeína)
Opiáceos semi-sintéticos: resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (heroína)
Opiáceos sintéticos ou opióides: totalmente sintéticos, são fabricados em laboratório e tem ação semelhante à dos opiáceos (zipeprol, metadona)
As substâncias que compõem o grupo de drogas opiáceas são:
Codeína e ziprepol
Ópio
Morfina
Heroína
FONT: INFODROGA
Os ansiolíticos surgiram em 1950, com o meprobamato, que praticamente desapareceu após a descoberta do clorodiazepóxido, em 1959. A partir daí, seguiu-se uma série de derivados que se mostraram muito eficientes no controle da ansiedade, insônia e certos distúrbios epilépticos.
O Diazepam foi o segundo a surgir, sendo o mais destacado membro desse grupo de substâncias conhecido como benzodiazepinas. Assim, as principais drogas pertencentes à classificação de ansiolíticos são os benzodiazepínicos.
A benzodiazepina, sintetizada na década de 50, tem mais de 2.000 derivados. Existem 19 substâncias comercializadas no Brasil, com mais de 250 nomes comerciais.
O meprobamato foi sendo abandonado e as benzodiazepinas dominam completamente os tratamentos farmacológicos das neuroses e das formas de ansiedade. Além da grande eficiência terapêutica, mostraram-se drogas muito seguras. Tem uso terapêutico como ansiolítico, hipnótico e síndrome de dependência do álcool.
O crescimento de seu consumo foi vertiginoso entre 1960 e 1980, e estima-se que cerca de 10% da população adulta dos países desenvolvidos tomem benzodiazepínicos, regular ou esporadicamente. Estas drogas têm sido prescritas indiscriminadamente. Hoje assistimos ao desenvolvimento de um novo padrão cultural, a "cultura das benzodiazepinas", pelo qual as pessoas encaram com permissividade o uso de um "calmante".
Estas drogas estão sendo usadas acima do que se justificaria, do ponto de vista exclusivamente médico. Não poucos autores tem comparado estas substâncias ao "Soma", descrito por Aldous Huxley em "O Admirável Mundo Novo".
Efeitos físicos e psíquicos
Estimulam os mecanismos do cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade, inibindo os mecanismos que estavam hiperfuncionantes, ficando a pessoa mais tranqüila, como que desligada do meio ambiente e dos estímulos externos.
Produzem uma atividade do cérebro que se caracteriza por diminuição da ansiedade, indução do sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta.
Dificultam os processos de aprendizagem e memória.
Prejudicam, em parte, as funções psicomotoras afetando atividades como, por exemplo, dirigir automóveis.
Efeitos tóxicos
Misturados com álcool, seus efeitos se potencializam, podendo levar a pessoa a estado de coma.
Em doses altas a pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade para ficar de pé e andar, queda da pressão e possibilidade de desmaios.
O seu uso por mulheres grávidas tem um poder teratogênico, isto é, pode produzir lesões ou defeitos físicos na criança.
Quando usados por alguns meses, podem levar a pessoa a um estado de dependência. Ou seja, sem a droga a pessoa passa a sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo, podendo, nos casos extremos, apresentar convulsões.
Há figuração de síndrome de abstinência e também desenvolvimento de tolerância, embora esta última não seja muito acentuada.
Nomes comerciais
Valium, Diempax, Kiatrium, Noan, Diazepam, Calmociteno (substância ativa - diazepam).
Psicosedim, Tensil, Relaxil (substância ativa - clorodiazepóxido).
Lorax, Mesmerin, Relax (substância ativa - lorazepam).
Deptran, Lexotan, Lexpiride (substância ativa - bromazapam).
Rohipnol, Fluzerin (substância ativa - flunitrazepam).
Nome popular: calmantes.
Álcool Aspectos históricos e culturais
A palavra álcool origina-se do árabe al-kuhul que significa líquido.
As bebidas alcóolicas representam as drogas mais antigas das quais se têm conhecimento, por seu simples processo de produção. Obtidas pela fermentação de diversos vegetais, segundo procedimento no início primitivos e depois cada vez mais sofisticados, elas já estavam presentes nas grandes culturas do Oriente Médio e são utilizadas em quase todos os grupos culturais, geralmente relacionadas a momentos festivos.
Os mais antigos documentos da civilização egípcia descrevem o uso do vinho e da cerveja. A medicina egípcia, respeitada em toda a região mediterrânea, usava essências alcóolicas para uma série de moléstias, enquanto meio embriagador contra dores e como abortivo. O vinho entre os egípcios era bebido em honra à deusa Isis.
O consumo de cerveja pelos jovens era comum; muitos contos, lendas e canções de amor relatam os seus poderes afrodisíacos. O seu uso social e festivo era bem tolerado, embora, já no Egito, moralistas populares se levantassem contra o seu abuso "por desviar os jovens dos estudos". A embriaguez, no entanto, era tolerada apenas quando decorrente de celebrações religiosas, onde era considerada normal ou mesmo estimulada.
Na Babilônia 500 a.C., a cerveja era oferta aos deuses. Nas culturas da Mesopotâmia, as bebidas alcóolicas existiram, com certeza, no final do segundo milênio a.C.; aos poucos, a cerveja à base de cereais foi substituída por fermentados à base de tâmaras. A fermentação da uva também é regularmente mencionada. O uso medicinal de produtos alcóolicos é comum.
O consumo de álcool nas civilizações gregas e romanas é bem conhecido. Ele era utilizado tanto pelo seu valor alimentício, quanto para festividades sociais. Ressaltamos apenas a associação entre o uso do vinho e certas práticas e concepções religiosas representadas pela popular figura do Bacchus. Durante longos períodos, o consumo de vinho era proibido para as mulheres, interdito do qual testemunham também os relatos bíblicos. Lembramos ainda que o vinho é parte integrante de cerimônias católicas e protestantes, bem como no judaísmo, no candomblé e em outras práticas espiritas.
O consumo de bebidas alcóolicas é amplamente difundido no Brasil, onde se consome mais álcool per capita do que leite.
Nos anos 20, nos Estados Unidos, houve uma proposta de coibição legal do uso de bebidas alcóolicas chamada Lei Seca. Porém, durou pouquíssimo tempo. O seu fracasso deu-se devido à pressões econômicas que fácil e vitoriosamente se interpuseram, além de que o próprio consumidor encontrou uma forma sutil e prática para alimentar suas necessidades.
O principal agente do álcool é o etanol (álcool etílico).
As bebidas alcóolicas são elaboradas a partir da fermentação de produtos naturais: vinho (fermentação da uva); cerveja (fermentação de grãos de cereais); outros (fermentação do mel, cana de açúcar, beterraba, mandioca, milho, pimenta, arroz etc.).
Bebidas alcóolicas destiladas - como cachaça, rum, uísque ou gim - são obtidas através da destilação de bebidas fermentadas.
Efeitos físicos e psíquicos
Provoca um efeito desinibidor.
Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência chegando-se ao coma alcóolico.
Com o aumento do seu uso, diminui a potência sexual.
O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância.
Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência caracterizada por confusão mental, visões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões. Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte.
"Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de alucinações, principalmente táteis).
BarbitúricosAspectos históricos e culturais
Os barbitúricos foram descobertos no começo do século XX e, diz a história, que o químico europeu que fez a síntese de um deles pela primeira vez, foi fazer a comemoração em um bar. Lá encantou-se com a garçonete, linda moça que se chamava Bárbara. Num acesso de entusiasmo, o cientista resolveu dar ao composto recém descoberto o nome de barbitúrico.
Em 1903, foi lançado no mercado farmacêutico o Veronal, que se mostrava um promissor hipnótico que vinha substituir os medicamentos menos eficientes até então existentes. O próprio nome comercial era uma alusão à cidade de Verona, sede da tragédia "Romeu e Julieta", onde a jovem toma uma droga que induz um sono profundo confundido com a morte para, em seguida, despertar suavemente.
Os barbitúricos foram amplamente empregados como hipnóticos até o aparecimento das benzodiazepinas, na década de 60. A partir daí, suas indicações se restringiram. Hoje alguns deles são úteis como antiepilépticos.
Nos primeiros anos, não se suspeitava que causassem dependência. Depois que milhares de pessoas já haviam se tornado dependentes, é que surgiram normas reguladoras que dificultaram a sua aquisição.
Até algum tempo atrás, sedativos leves que continham barbitúricos em pequenas quantidades, não estavam sujeitos aos controles de venda, podendo ser livremente adquiridos em farmácias. Era o caso dos analgésicos. Vários remédios para dor de cabeça, além da aspirina e os antigos Cibalena, Veramon, Optalidon, Fiorinal etc., continham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas.
O abuso de barbitúricos foi muito mais freqüente até a década de 50 do que é hoje em dia.
Efeitos físicos e psíquicos
São capazes de deprimir (diminuir) varias áreas do cérebro.
As pessoas podem ficar sonolentas, sentindo-se menos tensas, com uma sensação de calma e de relaxamento.
A capacidade de raciocínio e de concentração também ficam afetadas.
Com doses maiores, causa sensação de embriaguez (mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcóolicas em excesso), a fala fica "pastosa", a pessoa pode sentir dificuldade de andar direito, a atenção e a atividade psicomotora são prejudicadas (ficando perigoso operar máquinas, dirigir automóveis etc.). Em doses elevadas, a respiração, o coração e a pressão sangüínea são afetados.
Efeitos tóxicos
Os barbitúricos são drogas perigosas pois a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da que produz efeitos terapêuticos desejáveis.
Os efeitos tóxicos são: sinais de incoordenação motora, início de estado de inconsciência, dificuldade para se movimentar, sono pesado, coma onde a pessoa não responde a nada, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar (a morte ocorre exatamente por parada respiratória). Os efeitos tóxicos ficam mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas.
Os barbitúricos levam à dependência, desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência, com sintomas que vão desde insônia, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia e até convulsões generalizadas.
A síndrome de abstinência requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a morrer.
Nomes comerciais
Hipnóticos: Nembutal (substância ativa - pentobarbital); tiopental - substância ativa (utilizado por via endovenosa, exclusivamente por anestesistas para provocar anestesia em cirurgia).
Antiepilépticos: Gardenal, Comital, Bromosedan (substância ativa - fenobarbital).
Inalantes/solventes
Inalante: toda a substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organismo através da aspiração pela boca ou nariz.
Solvente: substância capaz de dissolver coisas. Via de regra, todo o solvente é uma substância altamente volátil, isto é, evapora-se muito facilmente podendo, por isso, ser inalado. Devido a essa característica, são, portanto, chamados de inalantes. Muitos dos solventes ou inalantes são inflamáveis, isto é, pegam fogo facilmente.
Aspectos históricos e culturais
Os solventes começam a ser utilizados como droga de abuso por volta de 1960 nos EUA. No Brasil, o uso de solventes aparece no período de 1965-1970.
Hoje, o consumo de solventes se dá muito em países do chamado Terceiro Mundo, enquanto que em países desenvolvidos a freqüência de uso é muito baixa.
Os solventes são drogas muito utilizadas por meninos em situação de rua como forma de, por exemplo, sanar a fome; e por estudantes de 1º e 2º graus dado seu fácil acesso e baixo custo.
Eles podem ser aspirados voluntariamente (caso dos meninos de rua que cheiram cola de sapateiro) ou involuntariamente (trabalhadores de indústrias de sapatos ou de oficinas de trabalho, expostos ao ar contaminado por essas substâncias).
O clorofórmio e o éter chegaram a servir como drogas de abuso em outros tempos e depois seu uso foi praticamente abandonado. No Brasil, a moda voltou com os lança-perfumes trazidos da Argentina. O clorofórmio é conhecido desde 1847 como anestésico, mas foi abandonado porque surgiram anestésicos mais eficientes e seguros. Assim também ocorreu com o éter. Há referências ao abuso do éter como substituto do álcool durante a Lei Seca nos Estados Unidos e durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha.
Por volta de 1960, os lança-perfumes, que eram feitos de Cloreto de Etila, começaram a ser aspirados para dar sensação de torpor, tontura e euforia. O Quelene, anestésico local, formava par com o lança-perfume e era empregado fora das épocas de Carnaval, quando a disponibilidade do lança-perfumes era menor. Muitas pessoas morreram de parada cardíaca provocada por essa droga e, por volta de 1965, o governo brasileiro proibiu a fabricação dos lança-perfumes e do Quelene. Contudo, começaram a surgir referências ao retorno do uso de lança-perfumes, só que como um produto à base de clorofórmio e éter.
Efeitos físicos e psíquicos
Após a aspiração, o início dos efeitos é bastante rápido. Entre 15-40 minutos já desapareceram. O efeito dos solventes vai desde uma pequena estimulação, seguida de uma depressão, até o surgimento de processos alucinatórios. Os principais efeitos são caracterizados por uma depressão da atividade do cérebro.
O aparecimento dos efeitos após a inalação foi dividido em 4 fases:
1a. fase: fase da excitação. A pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e visuais. Podem aparecer náuseas, espirro, tosse, muita salivação e as faces podem ficar avermelhadas.
2a. fase: a depressão começa a predominar. A pessoa entra em confusão, desorientação, fica com a voz pastosa, começa a ter a visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez e começa a ver e a ouvir coisas.
3a. fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular, incoordenação motora, fala "enrolada", reflexos deprimidos, já podendo ocorrer processos alucinatórios.
4a. fase: aparece a depressão tardia, podendo chegar a inconsciência. Há queda de pressão, sonhos estranhos, podendo ocorrer surtos de convulsão. Há possibilidade de se chegar ao coma e à morte.
A aspiração repetida, crônica, pode levar à destruição dos neurônios, causando lesões irreversíveis. Os usuários podem apresentar-se apáticos, com dificuldade de concentração e com déficit de memória.
Os solventes têm a propriedade de deixar o coração muito sensível à adrenalina (uma substância produzida pelo corpo), o que faz com que os batimentos cardíacos aumentem. Os solventes, inalados cronicamente, podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os nossos músculos.
Não há, na literatura médica, afirmativas claras de que os solventes possam levar à dependência. Também não se figura síndrome de abstinência. A tolerância pode ocorrer, instalando-se em um ou dois meses.
Nomes comerciais
Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais. Existem dois grupos principais:
Substâncias voláteis: éter, clorofórmio, gasolina, benzina, fluído de isqueiro, Carbex.
Substâncias usadas na indústria como solvente, diluente e adesivas: cola de sapateiro, tintas, vernizes, removedores, limpa-manchas, esmaltes.
Estes produtos pertencem a um grupo químico chamado Hidrocarbonetos Aromáticos ou Afiláticos cujas substâncias ativas são: Tolueno, N-hexano, Benzeno, Xilol, Acetato de Etila, Cloretila ou Cloreto de Etila etc.
Nomes populares: cheirinho da loló ou loló, lança-perfumes ou lança, cola.
Opiáceos ou drogas opiáceas são substâncias derivadas do ópio. Todas produzem uma analgesia (diminuem a dor) e uma hipnose (aumentam o sono). Em função disso, recebem o nome de narcóticos sendo também chamadas de drogas hipnoanalgésicas ou analgésicos narcóticos. São classificadas como substâncias entorpecentes podendo ser:
Opiáceos naturais: derivados do ópio que não sofreram nenhuma modificação (ópio, pó de ópio, morfina, codeína)
Opiáceos semi-sintéticos: resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (heroína)
Opiáceos sintéticos ou opióides: totalmente sintéticos, são fabricados em laboratório e tem ação semelhante à dos opiáceos (zipeprol, metadona)
As substâncias que compõem o grupo de drogas opiáceas são:
Codeína e ziprepol
Ópio
Morfina
Heroína
FONT: INFODROGA
Anvisa libera embalagens PET em alimentos
Anvisa libera uso de embalagens PET recicladas em alimentos
Brasília - Cerca de 184 mil toneladas de garrafas PET deixaram de ser recicladas, no Brasil, em 2007. Uma resolução aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta terça-feira, pode contribuir para a mudança deste quadro. As novas regras editadas pela Agência permitem que as empresas utilizem PET reciclado para embalar alimentos.
A principal exigência para o uso do Polietilenotereftalato (PET) reciclado em contato com alimentos será o registro do produto na Anvisa. Além disso, o rótulo da embalagem deverá conter o nome do produtor, o número de lote e a expressão “PET-PCR”.
Tecnologia
A norma da Anvisa fundamenta-se no surgimento de novas tecnologias capazes de limpar e descontaminar esse tipo de material, independentemente do sistema de coleta. São as chamadas tecnologias Super Clean e Bottle to Bottle. Até o momento, apenas quatro empresas apresentaram pedidos à Anvisa para utilizar esse tipo de tecnologia: duas no Rio de Janeiro, uma em São Paulo e uma na Bahia..
O gerente de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Anvisa, Lucas Dantas, ressalta que as novas tecnologias são aplicadas em diferentes fases da cadeia de reciclagem. “O material a ser reciclado passa por várias etapas e testes experimentais, sendo que no final do processo dá origem à resina de PET limpa e própria para a confecção de embalagens que entram em contato com alimentos”, explica Dantas.
Plástico
O PET é o material utilizado, principalmente, na fabricação de garrafas plásticas para bebidas não alcoólicas como refrigerantes e sucos, entre outros alimentos. De acordo com o site www.ambientebrasil.com.br, as garrafas PET demoram cerca de 100 anos para se decompor no meio ambiente. A Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) estima que, só em 2006, foram produzidas 378 mil toneladas de embalagens a base de PET, no Brasil.
Exigências para reciclagem de PET em alimentos:
- Habilitação e o registro do estabelecimento na Anvisa
- Registro do plástico de Polietileno Tereftalato pós-consumo reciclado (PET - PCR) na Agência
- Autorizações especiais de uso da tecnologia utilizada de PET-PCR (FDA ou outra referência reconhecida)
- Análise validada de contaminantes e análise sensorial
- Comprovação pelo estabelecimento produtor que dispões de: sistemas de controle de processo/ produto e garantia da qualidade, laboratório de análise e pessoal capacitado e programa de monitoramento analítico que assegure a continuidade da qualidade do PET-PCR
- Na embalagem do produto deverá ser identificado o produtor, o número de lote ou codificação quer permita a rastreabilidade
- Inclusão da expressão “PET-PCR” na embalagem
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Brasília - Cerca de 184 mil toneladas de garrafas PET deixaram de ser recicladas, no Brasil, em 2007. Uma resolução aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta terça-feira, pode contribuir para a mudança deste quadro. As novas regras editadas pela Agência permitem que as empresas utilizem PET reciclado para embalar alimentos.
A principal exigência para o uso do Polietilenotereftalato (PET) reciclado em contato com alimentos será o registro do produto na Anvisa. Além disso, o rótulo da embalagem deverá conter o nome do produtor, o número de lote e a expressão “PET-PCR”.
Tecnologia
A norma da Anvisa fundamenta-se no surgimento de novas tecnologias capazes de limpar e descontaminar esse tipo de material, independentemente do sistema de coleta. São as chamadas tecnologias Super Clean e Bottle to Bottle. Até o momento, apenas quatro empresas apresentaram pedidos à Anvisa para utilizar esse tipo de tecnologia: duas no Rio de Janeiro, uma em São Paulo e uma na Bahia..
O gerente de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Anvisa, Lucas Dantas, ressalta que as novas tecnologias são aplicadas em diferentes fases da cadeia de reciclagem. “O material a ser reciclado passa por várias etapas e testes experimentais, sendo que no final do processo dá origem à resina de PET limpa e própria para a confecção de embalagens que entram em contato com alimentos”, explica Dantas.
Plástico
O PET é o material utilizado, principalmente, na fabricação de garrafas plásticas para bebidas não alcoólicas como refrigerantes e sucos, entre outros alimentos. De acordo com o site www.ambientebrasil.com.br, as garrafas PET demoram cerca de 100 anos para se decompor no meio ambiente. A Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) estima que, só em 2006, foram produzidas 378 mil toneladas de embalagens a base de PET, no Brasil.
Exigências para reciclagem de PET em alimentos:
- Habilitação e o registro do estabelecimento na Anvisa
- Registro do plástico de Polietileno Tereftalato pós-consumo reciclado (PET - PCR) na Agência
- Autorizações especiais de uso da tecnologia utilizada de PET-PCR (FDA ou outra referência reconhecida)
- Análise validada de contaminantes e análise sensorial
- Comprovação pelo estabelecimento produtor que dispões de: sistemas de controle de processo/ produto e garantia da qualidade, laboratório de análise e pessoal capacitado e programa de monitoramento analítico que assegure a continuidade da qualidade do PET-PCR
- Na embalagem do produto deverá ser identificado o produtor, o número de lote ou codificação quer permita a rastreabilidade
- Inclusão da expressão “PET-PCR” na embalagem
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Incompatibilidades físicas,químicas e terapêuticas
Por:Anderson Oliveira Ferreira
A incompatibilidade medicamentosa é um assunto complexo, sobretudo na farmácia hospitalar e na magistral, onde se trabalha com inúmeras substâncias e se manipula com maior freqüência suas associações em uma formulação.
Para VOIGT, as incompatibilidades compreendem os efeitos recíprocos entre dois ou mais componentes de uma preparação farmacêutica, com propriedades antagônicas entre si, que frustram ou colocam em dúvida a finalidade para qual foi concebido o medicamento. As incompatibilidades podem prejudicar a atividade, impedir a dosificação exata do medicamento e influir no aspecto da formulação, tornando inaceitável até mesmo do ponto de vista estético.
Quando pensamos em incompatibilidades em farmácia, devemos pensar no sentido amplo da formulação. As incompatibilidades podem se desenvolver entre as substâncias ativas, entre as substâncias coadjuvantes (excipientes) da formulação, entre as bases ativas e as coadjuvantes, ou entre uma ou outra e o material da embalagem ou impurezas.
Segundo a sua origem e manifestação, podem ser classificadas em:
¨ Incompatibilidades físicas;
¨ Incompatibilidades químicas;
¨ Incompatibilidades terapêuticas - farmacológicas;
Devido a extensão do assunto, é interessante nos determos às incompatibilidades químicas de importância e de interesse aos farmacêuticos manipuladores.
As incompatibilidades químicas caracterizam-se pela transformação parcial ou total das substâncias associadas, formando compostos secundários, com novas propriedades químicas e, conseqüentemente novas propriedades farmacodinâmicas. Das classes de incompatibilidades, essa é a que merece maior atenção, não só por ser a mais freqüente, como, também pelos grandes prejuízos que pode acarretar à reputação do médico, ao farmacêutico que prepara o medicamento e, acima de tudo, às condições do paciente. A associação de substâncias quimicamente incompatíveis pode causar acidentes (ex. explosões, vapores tóxicos), formar produtos tóxicos ou acarretar a inativação total ou perda parcial da atividade farmacológica.
As incompatibilidades químicas podem levar a:
¨ Formação de compostos muito pouco solúveis;
¨ Precipitação de ácidos e bases fracas, pouco solúveis, devido à alteração do valor do pH - as precipitações condicionadas pelo pH se originam principalmente pela adição de sais de reação ácida ou básica a soluções medicamentosas. Para predizer e compreender as reações de incompatibilidades, é requerido o conhecimento das condições de pH compatíveis com os componentes da formulação;
¨ Precipitação devido à adição do mesmo íon já presente na formulação - em preparações que se apresentam como solução saturada ou quase-saturada, pode produzir-se precipitação pela adição de sais que contenham um íon comum da formulação, o que diminui a solubilidade do sal. Ex. manipulação de soluções que contenham cloridratos e que devam ser isotonizadas com cloreto de sódio (efeito do íon comum);
¨ Precipitação devido à formação de sais muito pouco solúveis - reação iônica entre os componentes de uma formulação que provoca a formação de um sal insolúvel ou semi-solúvel. Por diminuição da solubilidade do produto resultante, ocorre uma precipitação ou uma turbidez. Freqüentemente, a aparição de um precipitado é imputada a uma reação química.
Exemplos:
¨ Formação de sais alcaloídicos muito pouco solúveis: os alcalóides são normalmente utilizados na forma de cloridratos ou nitratos. A adição de íons de halogênio (ex. íons de iodo ou bromo) levam à precipitação, pois há formação de compostos correspondentes dificilmente solúveis (ex. ioditratos e bromidratos alcaloídicos).
¨ Salicilatos, acetatos, benzoatos, tanatos (taninos), citratos também levam à formação de sais alcaloídicos dificilmente solúveis;
¨ Formação de sais muito pouco solúveis de bases sintéticas nitrogenadas, especialmente misturas de amônia quartenária. Ex. Cloreto de benzalcônio, cloreto de cetilpiridíneo com nitratos, salicilatos e iodetos formando precipitados. Os sais de benzalcônio são incompatíveis com a fluoresceína sódica utilizada no preparo de colírios para diagnóstico com sais de benzilpenicilina e com o lauril-sulfato de sódio;
¨ Formação de compostos muito pouco solúveis com tensoativos aniônicos do tipo lauril sulfato de sódio: este, tal como outros tensoativos aniônicos, é incompatível e forma precipitado insolúveis com substâncias catiônicas, tais como cloridrato de efedrina, fosfato de codeína, cloridrato de procaína, cloridrato de tetracaína e com íons cálcio, bário e de metais pesados.
Reações de Oxidação
O número de fármacos sensíveis à oxidação ou à redução é extenso. As reações de oxidação são prejudiciais e causam problemas de estabilidade ao medicamento. Quimicamente, a oxidação envolve a perda de elétrons de um átomo ou de uma molécula. Cada elétron perdido é aceito por algum outro átomo ou molécula, de tal modo a promover a redução do átomo ou molécula recipiente. Em química inorgânica, a oxidação é acompanhada por aumento de valência de um elemento - por exemplo, o íon ferroso (+2) oxidando para íon férrico (+3). Em química orgânica (portanto, para a maioria dos fármacos), oxidação é freqüentemente considerada sinônimo de perda de hidrogênio da molécula (dehidrogenação). O processo oxidativo freqüentemente envolve radicais livres, moléculas ou átomos contendo um ou mais elétrons desemparelhados, assim como o oxigênio molecular [O-2 (O-O-) e hidroxila livre (OH-)]. Esses radicais tendem a formar elétrons de outras substâncias, oxidando-as. O processo oxidativo tem sido descrito como um tipo de reação em cadeia, iniciando com a união do oxigênio com a molécula do fármaco e continuando como radical livre oriundo da molécula oxidada, que, por sua vez, participa da destruição de outra molécula do fármaco. Assim, o processo oxidativo se dá em cascata.
Classe dos fármacos suscetíveis à oxidação:
¨ Catecolaminas: ex. epinefrina.
¨ Substâncias fenólicas: ex. fenilefrina, morfina.
¨ Fenotiazínicos: ex. clorpromazina, prometazina.
¨ Esteróides
¨ Oleofinas (alcenos): compostos alifáticos com duplas ligações.
¨ Tricíclicos: ex. amitriptilina, nortiptilina, maprotilina.
¨ Substâncias com grupo sulfidrila (R-SH): ex. captopril.
¨ Anfotericina B, nitrofurantoína, tetraciclina, furosemida, ergotamina, sulfacetamida e outros.
Fatores que afetam a velocidade de oxidação:
¨ Presença de oxigênio
¨ Luz
¨ Presença de íons de metais pesados
¨ Temperatura
¨ pH
¨ Presença de outras substâncias que podem atuar como agentes oxidantes
Estratégias possíveis para proteger as substâncias e/ou formulações sujeitas à deterioração oxidativa:
¨ Proteção do produto ou fármaco (matéria-prima) contra a ação do oxigênio, utilização de gás inerte de nitrogênio;
¨ Limitação do efeito do oxigênio atmosférico pela utilização de embalagens menores e completamente cheias, sem espaço para o ar;
¨ Proteção contra a luz, com a utilização de embalagens fotorresistentes, como frasco de vidro âmbar;
¨ Utilização de agentes seqüestrantes na formulação, como de quelantes de metais pesados (catalisadores de reações de oxidação), tais como os sais de EDTA;
¨ Adição de antioxidantes: BHT, BHA, acetato de tocoferol (vitamina E), palmitato de ascorbila, propil galato para sistemas oleosos;
¨ Ácido ascórbico (vitamina C), bissulfito de sódio, matabissulfito de sódio, tiossulfato de sódio, cloridrato de cistéina para sistemas aquosos;
¨ Controle da temperatura de armazenamento: Geralmente, a velocidade do processo oxidativo é mais rápida em temperaturas elevadas. O processo pode ser retardado se determinado produto sensível for estocado sob refrigeração;
¨ Controle do pH da formulação: a oxidação é freqüentemente favorecida pelo pH alcalino. Deve-se tomar cuidado ao adicionar alguma substância em uma formulação que contenha algum componente sujeito à oxidação, devendo-se monitorar o pH no final da manipulação da fórmula e efetuar ajustes, se necessário.
à Adicione na formulação substâncias que são facilmente oxidadas separadamente daquelas que são facilmente reduzidas. 1) A cianocobalamina tem compatibilidade limitada com o ácido ascórbico (24 horas), tiamina e niacinamida.
2) O ácido fólico é incompatível com agentes oxidantes, agentes redutores e íons metálicos.
Redução
Uma espécie química (átomo ou molécula) é reduzida quando recebe elétrons, tem importância relativamente menor como fenômenos que originam incompatibilidades. Ex.: formação de prata e mercúrio elementar a partir dos sais correspondentes em presença de agentes redutores inorgânicos.
Hidrólise
A hidrólise é um processo de solvólise (lise pela solvatação), no qual a molécula-droga interage com moléculas de água, decompondo a molécula. Ex.: o ácido acetilsalicílico combina-se com uma molécula de água e se hidrolise em uma molécula de ácido salícilico e uma molécula de ácido acético.
O processo de hidrólise é provavelmente a causa mais importante de decomposição de fármacos, devido ao grande número de ésteres e substância que contem outros grupamentos - tais como amidas substituídas, lactonas e anéis lactânicos, os quais são suscetíveis ao processo hidrolítico - próprios para o uso medicinal.
Classes de fármacos suscetíveis à hidrólise:
¨ Ésteres R-CO-O-R (ex. anestésicos locais, tais como a procaína e a tetracaína, ácido acetilsalicílico, alcalóides da beladona, substâncias com sistemas de anéis do tipo das lactonas);
¨ Amidas R-CO-NH2 e, especialmente, amidas com anéis do tipo lactâmico (ex. penicilina);
¨ Imidas R-CO-NH-CO-R' (ex. barbituratos);
¨ Tioésteres R-CO-S-R'.
Fatores que afetam a velocidade de hidrólise:
¨ Presença de água no veículo, excipiente ou na própria matéria-prima;
¨ pH;
¨ Presença de ácidos e bases (citratos, acetatos, fosfatos), que são freqüentemente usados como tampões;
¨ Concentração da droga;
¨ Temperatura;
¨ Presença de outros componentes que podem catalizar a hidrólise. Ex. dextrose.
Estratégias para manipulação de fármacos sujeitos à hidrólise:
¨ Controle da exposição de fármacos sólidos à umidade com o uso de recipientes hermeticamente fechados e de dessecantes;
¨ Controle do pH de formulações aquosas: checar o pH de todas soluções de fármacos que serão combinadas, bem como do produto final, adequando-as ao pH ideal, se necessário;
¨ Checar referências apropriadas para possíveis efeitos negativos de ácidos e bases em geral sobre os fármacos. Se estes fatores pudrem acelerar o processo de hidrólise, evite a adição de compostos tais como tampões;
¨ Considerar a concentação da droga como um fator. Ex. Ampicilina sódica;
¨ Temperatura de armazenamento: a velocidade de hidrólise é maior em temperaturas elevadas e pode ser retardada através do armazenamento de produtos sensíveis sob refrigeração.
Complexação
Moléculas de um composto ativo podem interagir reversivelmente com excipientes para formar complexos que apresentam propriedades físico-químicas diferentes do composto de origem. A tetraciclina é um exemplo clássico de fármaco que é inativado por complexação.
Essa reação ocorre com íons multivalentes, tais como os de cálcio, magnésio, ferro e alumínio. A tetraciclina não deve ser misturada com outras substâncias que contenham alguns desses íons multivalentes.
Interação Excipiente-Excipiente
Parabenos podem ser inativados em complexos com derivados de polietilenoglicol.
Povidona pode formar complexos com outros excipientes (ex. corantes aniônicos ou catiônicos) ou com determinados fármacos, como, por exemplo, cloridrato de clorpromazina, cloranfenicol.
Amido forma complexos com fármacos ácidos e alguns outros coadjuvantes, como ácido benzóico e ácido salicílico.
Reações de Esterificação e Substituição
Em geral, devido à pequena velocidade desta reação, os produtos da incompatibilidade só são detectáveis analiticamente após certo tempo de armazenamento.
Ex.: Formação de acetato de prednisolona a partir de prednisolona base na presença do ácido acetilsalicílico. Produção de um flicosídeo de procaína (sem atividade anestésica) em solouções de cloridrato de procaína que contenham glicose.
Os bissulfitos, amplamente utilizados como antioxidantes, dão lugar a reações de substituição de menor valor. Originam-se produtos finais sulfonados de escassa atividade fisiológica. Ex.: A adrenalina reage com os íons sulfito originados a partir do bissulfito, perdendo grande parte da sua atividade farmacológica.
Outras Interações Químicas
Liberação de dióxido de carbono (CO2) oriunda das reações devido à mistura de bicarbonatos ou carbonatos com ácidos ou substâncias fortemente ácidas, podendo até causar explosões.
Composições com ácido acetilsalicílico associado à fenilefrina: o ácido acético formado pela hidrólise do ácido acetilsalicílico pode interagir com a fenilefrina formando um composto acetilado; a transacetilação também, pode ocorrer entre o ácido acetilsalicílico e o paracetamol.
Uma incompatibilidade comum, que pode ser exarcebada após o aquecimento a altas temperaturas de formas sólidas, é a Reação de Maillard. Ocorre entre grupos aldeídicos da glicose (ou outros açúcares reduzidos) e aminas primárias e secundárias (ex. aminoácidos, fluoxetina) formando produtos de tons marrom.
Incompatibilidades químicas entre fármacos e alguns excipientes
A estabilidade química de um fármaco pode ser reduzida caso o mesmo seja incorporado em um excipiente inadequado ou que contenha coadjuvantes farmacotécnicos compatíveis.
A incompatibilidade medicamentosa é um assunto complexo, sobretudo na farmácia hospitalar e na magistral, onde se trabalha com inúmeras substâncias e se manipula com maior freqüência suas associações em uma formulação.
Para VOIGT, as incompatibilidades compreendem os efeitos recíprocos entre dois ou mais componentes de uma preparação farmacêutica, com propriedades antagônicas entre si, que frustram ou colocam em dúvida a finalidade para qual foi concebido o medicamento. As incompatibilidades podem prejudicar a atividade, impedir a dosificação exata do medicamento e influir no aspecto da formulação, tornando inaceitável até mesmo do ponto de vista estético.
Quando pensamos em incompatibilidades em farmácia, devemos pensar no sentido amplo da formulação. As incompatibilidades podem se desenvolver entre as substâncias ativas, entre as substâncias coadjuvantes (excipientes) da formulação, entre as bases ativas e as coadjuvantes, ou entre uma ou outra e o material da embalagem ou impurezas.
Segundo a sua origem e manifestação, podem ser classificadas em:
¨ Incompatibilidades físicas;
¨ Incompatibilidades químicas;
¨ Incompatibilidades terapêuticas - farmacológicas;
Devido a extensão do assunto, é interessante nos determos às incompatibilidades químicas de importância e de interesse aos farmacêuticos manipuladores.
As incompatibilidades químicas caracterizam-se pela transformação parcial ou total das substâncias associadas, formando compostos secundários, com novas propriedades químicas e, conseqüentemente novas propriedades farmacodinâmicas. Das classes de incompatibilidades, essa é a que merece maior atenção, não só por ser a mais freqüente, como, também pelos grandes prejuízos que pode acarretar à reputação do médico, ao farmacêutico que prepara o medicamento e, acima de tudo, às condições do paciente. A associação de substâncias quimicamente incompatíveis pode causar acidentes (ex. explosões, vapores tóxicos), formar produtos tóxicos ou acarretar a inativação total ou perda parcial da atividade farmacológica.
As incompatibilidades químicas podem levar a:
¨ Formação de compostos muito pouco solúveis;
¨ Precipitação de ácidos e bases fracas, pouco solúveis, devido à alteração do valor do pH - as precipitações condicionadas pelo pH se originam principalmente pela adição de sais de reação ácida ou básica a soluções medicamentosas. Para predizer e compreender as reações de incompatibilidades, é requerido o conhecimento das condições de pH compatíveis com os componentes da formulação;
¨ Precipitação devido à adição do mesmo íon já presente na formulação - em preparações que se apresentam como solução saturada ou quase-saturada, pode produzir-se precipitação pela adição de sais que contenham um íon comum da formulação, o que diminui a solubilidade do sal. Ex. manipulação de soluções que contenham cloridratos e que devam ser isotonizadas com cloreto de sódio (efeito do íon comum);
¨ Precipitação devido à formação de sais muito pouco solúveis - reação iônica entre os componentes de uma formulação que provoca a formação de um sal insolúvel ou semi-solúvel. Por diminuição da solubilidade do produto resultante, ocorre uma precipitação ou uma turbidez. Freqüentemente, a aparição de um precipitado é imputada a uma reação química.
Exemplos:
¨ Formação de sais alcaloídicos muito pouco solúveis: os alcalóides são normalmente utilizados na forma de cloridratos ou nitratos. A adição de íons de halogênio (ex. íons de iodo ou bromo) levam à precipitação, pois há formação de compostos correspondentes dificilmente solúveis (ex. ioditratos e bromidratos alcaloídicos).
¨ Salicilatos, acetatos, benzoatos, tanatos (taninos), citratos também levam à formação de sais alcaloídicos dificilmente solúveis;
¨ Formação de sais muito pouco solúveis de bases sintéticas nitrogenadas, especialmente misturas de amônia quartenária. Ex. Cloreto de benzalcônio, cloreto de cetilpiridíneo com nitratos, salicilatos e iodetos formando precipitados. Os sais de benzalcônio são incompatíveis com a fluoresceína sódica utilizada no preparo de colírios para diagnóstico com sais de benzilpenicilina e com o lauril-sulfato de sódio;
¨ Formação de compostos muito pouco solúveis com tensoativos aniônicos do tipo lauril sulfato de sódio: este, tal como outros tensoativos aniônicos, é incompatível e forma precipitado insolúveis com substâncias catiônicas, tais como cloridrato de efedrina, fosfato de codeína, cloridrato de procaína, cloridrato de tetracaína e com íons cálcio, bário e de metais pesados.
Reações de Oxidação
O número de fármacos sensíveis à oxidação ou à redução é extenso. As reações de oxidação são prejudiciais e causam problemas de estabilidade ao medicamento. Quimicamente, a oxidação envolve a perda de elétrons de um átomo ou de uma molécula. Cada elétron perdido é aceito por algum outro átomo ou molécula, de tal modo a promover a redução do átomo ou molécula recipiente. Em química inorgânica, a oxidação é acompanhada por aumento de valência de um elemento - por exemplo, o íon ferroso (+2) oxidando para íon férrico (+3). Em química orgânica (portanto, para a maioria dos fármacos), oxidação é freqüentemente considerada sinônimo de perda de hidrogênio da molécula (dehidrogenação). O processo oxidativo freqüentemente envolve radicais livres, moléculas ou átomos contendo um ou mais elétrons desemparelhados, assim como o oxigênio molecular [O-2 (O-O-) e hidroxila livre (OH-)]. Esses radicais tendem a formar elétrons de outras substâncias, oxidando-as. O processo oxidativo tem sido descrito como um tipo de reação em cadeia, iniciando com a união do oxigênio com a molécula do fármaco e continuando como radical livre oriundo da molécula oxidada, que, por sua vez, participa da destruição de outra molécula do fármaco. Assim, o processo oxidativo se dá em cascata.
Classe dos fármacos suscetíveis à oxidação:
¨ Catecolaminas: ex. epinefrina.
¨ Substâncias fenólicas: ex. fenilefrina, morfina.
¨ Fenotiazínicos: ex. clorpromazina, prometazina.
¨ Esteróides
¨ Oleofinas (alcenos): compostos alifáticos com duplas ligações.
¨ Tricíclicos: ex. amitriptilina, nortiptilina, maprotilina.
¨ Substâncias com grupo sulfidrila (R-SH): ex. captopril.
¨ Anfotericina B, nitrofurantoína, tetraciclina, furosemida, ergotamina, sulfacetamida e outros.
Fatores que afetam a velocidade de oxidação:
¨ Presença de oxigênio
¨ Luz
¨ Presença de íons de metais pesados
¨ Temperatura
¨ pH
¨ Presença de outras substâncias que podem atuar como agentes oxidantes
Estratégias possíveis para proteger as substâncias e/ou formulações sujeitas à deterioração oxidativa:
¨ Proteção do produto ou fármaco (matéria-prima) contra a ação do oxigênio, utilização de gás inerte de nitrogênio;
¨ Limitação do efeito do oxigênio atmosférico pela utilização de embalagens menores e completamente cheias, sem espaço para o ar;
¨ Proteção contra a luz, com a utilização de embalagens fotorresistentes, como frasco de vidro âmbar;
¨ Utilização de agentes seqüestrantes na formulação, como de quelantes de metais pesados (catalisadores de reações de oxidação), tais como os sais de EDTA;
¨ Adição de antioxidantes: BHT, BHA, acetato de tocoferol (vitamina E), palmitato de ascorbila, propil galato para sistemas oleosos;
¨ Ácido ascórbico (vitamina C), bissulfito de sódio, matabissulfito de sódio, tiossulfato de sódio, cloridrato de cistéina para sistemas aquosos;
¨ Controle da temperatura de armazenamento: Geralmente, a velocidade do processo oxidativo é mais rápida em temperaturas elevadas. O processo pode ser retardado se determinado produto sensível for estocado sob refrigeração;
¨ Controle do pH da formulação: a oxidação é freqüentemente favorecida pelo pH alcalino. Deve-se tomar cuidado ao adicionar alguma substância em uma formulação que contenha algum componente sujeito à oxidação, devendo-se monitorar o pH no final da manipulação da fórmula e efetuar ajustes, se necessário.
à Adicione na formulação substâncias que são facilmente oxidadas separadamente daquelas que são facilmente reduzidas. 1) A cianocobalamina tem compatibilidade limitada com o ácido ascórbico (24 horas), tiamina e niacinamida.
2) O ácido fólico é incompatível com agentes oxidantes, agentes redutores e íons metálicos.
Redução
Uma espécie química (átomo ou molécula) é reduzida quando recebe elétrons, tem importância relativamente menor como fenômenos que originam incompatibilidades. Ex.: formação de prata e mercúrio elementar a partir dos sais correspondentes em presença de agentes redutores inorgânicos.
Hidrólise
A hidrólise é um processo de solvólise (lise pela solvatação), no qual a molécula-droga interage com moléculas de água, decompondo a molécula. Ex.: o ácido acetilsalicílico combina-se com uma molécula de água e se hidrolise em uma molécula de ácido salícilico e uma molécula de ácido acético.
O processo de hidrólise é provavelmente a causa mais importante de decomposição de fármacos, devido ao grande número de ésteres e substância que contem outros grupamentos - tais como amidas substituídas, lactonas e anéis lactânicos, os quais são suscetíveis ao processo hidrolítico - próprios para o uso medicinal.
Classes de fármacos suscetíveis à hidrólise:
¨ Ésteres R-CO-O-R (ex. anestésicos locais, tais como a procaína e a tetracaína, ácido acetilsalicílico, alcalóides da beladona, substâncias com sistemas de anéis do tipo das lactonas);
¨ Amidas R-CO-NH2 e, especialmente, amidas com anéis do tipo lactâmico (ex. penicilina);
¨ Imidas R-CO-NH-CO-R' (ex. barbituratos);
¨ Tioésteres R-CO-S-R'.
Fatores que afetam a velocidade de hidrólise:
¨ Presença de água no veículo, excipiente ou na própria matéria-prima;
¨ pH;
¨ Presença de ácidos e bases (citratos, acetatos, fosfatos), que são freqüentemente usados como tampões;
¨ Concentração da droga;
¨ Temperatura;
¨ Presença de outros componentes que podem catalizar a hidrólise. Ex. dextrose.
Estratégias para manipulação de fármacos sujeitos à hidrólise:
¨ Controle da exposição de fármacos sólidos à umidade com o uso de recipientes hermeticamente fechados e de dessecantes;
¨ Controle do pH de formulações aquosas: checar o pH de todas soluções de fármacos que serão combinadas, bem como do produto final, adequando-as ao pH ideal, se necessário;
¨ Checar referências apropriadas para possíveis efeitos negativos de ácidos e bases em geral sobre os fármacos. Se estes fatores pudrem acelerar o processo de hidrólise, evite a adição de compostos tais como tampões;
¨ Considerar a concentação da droga como um fator. Ex. Ampicilina sódica;
¨ Temperatura de armazenamento: a velocidade de hidrólise é maior em temperaturas elevadas e pode ser retardada através do armazenamento de produtos sensíveis sob refrigeração.
Complexação
Moléculas de um composto ativo podem interagir reversivelmente com excipientes para formar complexos que apresentam propriedades físico-químicas diferentes do composto de origem. A tetraciclina é um exemplo clássico de fármaco que é inativado por complexação.
Essa reação ocorre com íons multivalentes, tais como os de cálcio, magnésio, ferro e alumínio. A tetraciclina não deve ser misturada com outras substâncias que contenham alguns desses íons multivalentes.
Interação Excipiente-Excipiente
Parabenos podem ser inativados em complexos com derivados de polietilenoglicol.
Povidona pode formar complexos com outros excipientes (ex. corantes aniônicos ou catiônicos) ou com determinados fármacos, como, por exemplo, cloridrato de clorpromazina, cloranfenicol.
Amido forma complexos com fármacos ácidos e alguns outros coadjuvantes, como ácido benzóico e ácido salicílico.
Reações de Esterificação e Substituição
Em geral, devido à pequena velocidade desta reação, os produtos da incompatibilidade só são detectáveis analiticamente após certo tempo de armazenamento.
Ex.: Formação de acetato de prednisolona a partir de prednisolona base na presença do ácido acetilsalicílico. Produção de um flicosídeo de procaína (sem atividade anestésica) em solouções de cloridrato de procaína que contenham glicose.
Os bissulfitos, amplamente utilizados como antioxidantes, dão lugar a reações de substituição de menor valor. Originam-se produtos finais sulfonados de escassa atividade fisiológica. Ex.: A adrenalina reage com os íons sulfito originados a partir do bissulfito, perdendo grande parte da sua atividade farmacológica.
Outras Interações Químicas
Liberação de dióxido de carbono (CO2) oriunda das reações devido à mistura de bicarbonatos ou carbonatos com ácidos ou substâncias fortemente ácidas, podendo até causar explosões.
Composições com ácido acetilsalicílico associado à fenilefrina: o ácido acético formado pela hidrólise do ácido acetilsalicílico pode interagir com a fenilefrina formando um composto acetilado; a transacetilação também, pode ocorrer entre o ácido acetilsalicílico e o paracetamol.
Uma incompatibilidade comum, que pode ser exarcebada após o aquecimento a altas temperaturas de formas sólidas, é a Reação de Maillard. Ocorre entre grupos aldeídicos da glicose (ou outros açúcares reduzidos) e aminas primárias e secundárias (ex. aminoácidos, fluoxetina) formando produtos de tons marrom.
Incompatibilidades químicas entre fármacos e alguns excipientes
A estabilidade química de um fármaco pode ser reduzida caso o mesmo seja incorporado em um excipiente inadequado ou que contenha coadjuvantes farmacotécnicos compatíveis.
Crime Sanitário: Dengue no Rio de Janeiro
Rio: médicos classificam dengue de crime sanitário
O Sindicato dos Médicos anunciou nesta quarta-feira que a epidemia de dengue no Rio é um crime sanitário e que, até segunda-feira, vai enviar uma notícia-crime ao Ministério Público estadual e federal contra as três esferas do governo: Prefeitura, Estado e União. De acordo com o presidente do Sindicato, o médico Jorge Darze, a ausência do poder público é a causa da tragédia.
"É um momento preocupante. O que está ocorrendo é um crime sanitário e o governo contribui para agravar a situação e põe em risco a vida da população. Nós estamos constatando que houve a ausência do poder público em ter deixado de tomar as medidas que deveriam ser tomadas no momento histórico adequado, para que pudéssemos evitar o que vivemos hoje", alertou Darze.
O médico acredita que a constatação do sindicato não pode ser ignorada e por isso a entidade decidiu se posicionar politicamente.
"Esta situação não pode ficar impune", alertou Darze, em entrevista na sede do sindicato, ressaltando que o estado de calamidade pública na saúde, reconhecido pelo presidente Lula em 2005, ainda é uma realidade.
As críticas de Darze alcançam a prefeitura. Segundo ele, o município não oferece estrutura necessária. Por isso, o O governo federal tem que exercer o poder regulador e fiscalizador junto às prefeituras, já que gerencia toda a rede de saúde pública através do Sistema Único de Saúde.
"As autoridades estão omissas à epidemia. O governador está no Japão, o ministro não saiu de Brasília, e o prefeito governa pela internet. Isso é uma demonstração da preocupação das autoridades ou revela o medo deles de contrair a doença?", questionou Darze, que defende presença mais efetiva no Ministério da Saúde no Rio.
Para conter o quadro epidêmico, Darze acha que deveria haver investimento em locais especializados em infectologia, um projeto para educar e conscientizar a população durante o ano todo, a contratação médicos infectologistas e a disponibilização de mais leitos para os contaminados. Porém, a maior indignação do presidente do Sindimed é quanto a não utilização do Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião, no Caju, no combate a dengue.
"O instituto é uma referência mundial. Como pode o maior centro estar fechado desde janeiro do ano passado?"
Darze revela que a emergência do São Sebastião não está funcionando, mas tem capacidade para 80 leitos e pode até triplicar esse número, como foi feito nas epidemias anteriores. Ainda de acordo com ele, gastando cerca de R$ 400 mil em equipamentos seria possível reativar o CTI e, com mais verba, em uma semana, abrir 100 ou mais leitos no São Sebastião.
Fonte: JB ONLINE
O Sindicato dos Médicos anunciou nesta quarta-feira que a epidemia de dengue no Rio é um crime sanitário e que, até segunda-feira, vai enviar uma notícia-crime ao Ministério Público estadual e federal contra as três esferas do governo: Prefeitura, Estado e União. De acordo com o presidente do Sindicato, o médico Jorge Darze, a ausência do poder público é a causa da tragédia.
"É um momento preocupante. O que está ocorrendo é um crime sanitário e o governo contribui para agravar a situação e põe em risco a vida da população. Nós estamos constatando que houve a ausência do poder público em ter deixado de tomar as medidas que deveriam ser tomadas no momento histórico adequado, para que pudéssemos evitar o que vivemos hoje", alertou Darze.
O médico acredita que a constatação do sindicato não pode ser ignorada e por isso a entidade decidiu se posicionar politicamente.
"Esta situação não pode ficar impune", alertou Darze, em entrevista na sede do sindicato, ressaltando que o estado de calamidade pública na saúde, reconhecido pelo presidente Lula em 2005, ainda é uma realidade.
As críticas de Darze alcançam a prefeitura. Segundo ele, o município não oferece estrutura necessária. Por isso, o O governo federal tem que exercer o poder regulador e fiscalizador junto às prefeituras, já que gerencia toda a rede de saúde pública através do Sistema Único de Saúde.
"As autoridades estão omissas à epidemia. O governador está no Japão, o ministro não saiu de Brasília, e o prefeito governa pela internet. Isso é uma demonstração da preocupação das autoridades ou revela o medo deles de contrair a doença?", questionou Darze, que defende presença mais efetiva no Ministério da Saúde no Rio.
Para conter o quadro epidêmico, Darze acha que deveria haver investimento em locais especializados em infectologia, um projeto para educar e conscientizar a população durante o ano todo, a contratação médicos infectologistas e a disponibilização de mais leitos para os contaminados. Porém, a maior indignação do presidente do Sindimed é quanto a não utilização do Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião, no Caju, no combate a dengue.
"O instituto é uma referência mundial. Como pode o maior centro estar fechado desde janeiro do ano passado?"
Darze revela que a emergência do São Sebastião não está funcionando, mas tem capacidade para 80 leitos e pode até triplicar esse número, como foi feito nas epidemias anteriores. Ainda de acordo com ele, gastando cerca de R$ 400 mil em equipamentos seria possível reativar o CTI e, com mais verba, em uma semana, abrir 100 ou mais leitos no São Sebastião.
Fonte: JB ONLINE
3.20.2008
FEMARA ORAL REDUZ CHANCE DE REINCIDÊNCIA DE CÂNCER
10/03 - O uso do medicamento por via oral Femara pode reduzir significativamente a chance de reincidência do câncer de mama mesmo após um longo tempo desde a interrupção do tratamento com o bloqueador de estrógeno tamoxifen, disseram pesquisadores norte-americanos na segunda-feira. Segundo ele, mulheres já na menopausa que tomam o Femara, da Novartis, em algum momento entre um e sete anos depois de concluírem o tratamento com tamoxifen tiveram uma redução de 63 por cento na possibilidade da volta do tumor. "O que nossos resultados mostraram pela primeira vez na história do tratamento do câncer de mama é que tomar um antiestrógeno em algum momento parece resultar numa redução dramática no risco de recorrência", disse Paul Goss, do Hospital Geral de Massachusetts, cujo estudo foi publicado na Journal of Clinical Oncology. O medicamento, cujo nome genérico é letrozole, reduz em 61 por cento o risco da migração do tumor e em 80 por cento a chance de desenvolvimento do câncer na mama ilesa. O letrozole pertence a uma nova classe de medicamentos contra o câncer de mama, os inibidores de aromatase, que bloqueiam a produção do estrógeno, que pode provocar câncer. Seu uso é recomendado para mulheres que já entraram na menopausa. O principal bloqueador de estrógeno é o tamoxifen, que já demonstrou reduzir em quase 50 por cento o risco de recorrência do câncer. Mas os benefícios da pílula, vendida pelo laboratório AstraZeneca sob o nome Nolvadez (há também versão genérica), diminuem sensivelmente após cinco anos. O tamoxifen também agrava o risco de morte por derrame e câncer do endométrio. Mas mais de metade das reincidências e mortes do câncer de mama ocorrem após cinco anos ou mais depois da suspensão do tamoxifen. "O que é importante para médicos e pacientes reconhecerem infelizmente é que o risco da recorrência desse tipo de câncer de mama não termina em cinco anos", disse Goss por telefone. "O risco continua, e o benefício continua substancial mesmo iniciando tardiamente a terapia." Segundo Goss, as conclusões se baseiam em dados de 1.579 mulheres que decidiram trocar um placebo pelo letrozole após a suspensão dos testes. Esses resultados foram comparados aos de cerca de 800 mulheres que continuaram no placebo. Quase três anos após o fim do estudo, as mulheres que haviam tomado letrozole tinham uma taxa de recorrência de apenas 2 por cento; entre as demais, a reincidência subia para 5 por cento. Goss disse que o resultado é significativo e deve levar a mudanças no tratamento do câncer de mama. "O risco de que o câncer de mama hormônio-dependente reincida continua indefinidamente, e nossos resultados implicam que a inibição de aromatase é efetiva quando quer que seja iniciada", afirmou Goss, que também leciona em Harvard. Ele disse que o estudo avaliou apenas o letrozole, mas deve valer também para todos os inibidores de aromatase. A Pfizer também tem um medicamento dessa classe, o Aromasin (nome genérico: exemestane). O AstraZeneca faz o Arimidex (anastrozole). O câncer de mama é o segundo tipo de tumor mais letal para as mulheres dos EUA, após o de pulmão. Ele mata 500 mil mulheres por ano no mundo. Fonte: Reuters
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