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7.27.2012

Cirurgias plásticas vaginais


Filme é iniciativa de ONG preocupada com o aumento na procura por operações como a labioplastia, de efeito desconhecido.

  BBC

Animação quer incentivar debate sobre cirurgias plásticas vaginais (Foto: Lynchpin)Animação quer incentivar debate sobre cirurgias
plásticas vaginais (Foto: Lynchpin)
Preocupada com um aumento no número de mulheres procurando cirurgias plásticas vaginais, uma ONG britânica lançou um desenho animado para incentivar o debate sobre o assunto.
O filme, da artista Ellie Land, foi financiado pelo Wellcome Trust - que fomenta pesquisas sobre questões ligadas à medicina - e intitula-se Centrefold. Assista.
O título, um jogo de palavras, quer dizer 'dobra central' em tradução livre. O termo é normalmente usado em referência à página central de um jornal.
O desenho mostra três mulheres discutindo como a cirurgia conhecida como labioplastia ou labiaplastia (para redução dos pequenos lábios) afetou suas vidas.
No ano passado, o Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha (NHS na sigla em inglês), realizou mais de 2 mil labioplastias no país e nos últimos cinco anos a procura aumentou cinco vezes.
Especialistas acreditam que o número total de cirurgias seja muito maior quando incluídas as operações feitas no setor privado de saúde, onde o procedimento pode custar mais de RS$ 9 mil.
Apesar do aumento no número de cirurgias, não há diretrizes do NHS especificando qual deve ser o tamanho e o formato dos genitais femininos.
Pesquisadores dizem que muito pouco é sabido a respeito dos efeitos, a longo prazo, da operação.
As mulheres envolvidas, eles alertam, não estão recebendo suporte psicológico adequado ao optar pela cirurgia.
Ansiedade
Uma das personagens, Jessie (as personagens são baseadas em mulheres reais entrevistadas para o filme), conta que costumava passar horas olhando revistas e procurando por mulheres que tivessem lábios da vagina pequenos semelhantes aos seus. Ela diz que nunca encontrou nenhuma.
Para ela, isso era 'mais uma prova' de que havia 'algo errado' com ela e isso fazia com que se sentisse 'anormal'.
Ela tinha sonhos recorrentes onde imaginava seus pequenos lábios se enrolando em seu pescoço como se fossem um lenço.
(No sonho) 'havia pessoas paradas em torno, rindo e apontando para mim', conta Jessie no filme.
'Logo após a operação eu sonhava que (os pequenos lábios) cresciam de novo e eu acordava em pânico'.
Um ano após a operação, os sonhos cessaram. Jessie conta que se sente 'boba' falando sobre isso, mas diz que o problema era grande o suficiente para lhe causar ansiedade diariamente.
Vagina de designer
Emma, outra das personagens, também achava que sua vagina era anormal. Antes da cirurgia, ela disse que seus pequenos lábios eram 'muito longos, escuros, elásticos. Eles tinham uma aparência nojenta, enrugada'.
'Era a única coisa na minha vida que me deprimia. Estava muito animada para fazer a labioplastia. Eu achava que ia ser o fim dos meus problemas. Achava que (minha vagina) ia ficar bonita, como uma pequena vagina de designer'.
Embora a vagina de Emma seja menor hoje em dia, ela ainda está infeliz com a aparência dos seus pequenos lábios.
Suporte psicológico
Mulheres que procuram a labioplastia precisam de mais oportunidades para discutir suas preocupações, disse a psicóloga dos hospitais da University College London Lih-Mel Liao.
'Preocupações a respeito dos pequenos lábios são, essencialmente, (um problema) psicológico. Quando uma mulher diz que está preocupada com seus pequenos lábios, cirurgiões podem ouvir o termo 'pequenos lábios' e operar, mas eu ouço a palavra 'preocupação''.
'Fica difícil quando a cirurgia é anunciada como uma solução simples e direta. Isso dificulta que essas mulheres abordem o que está ocorrendo do ponto de vista psicológico'.
Ela acrescenta que psicólogos não são convidados a participar do processo e a cirurgia é apresentada como 'a solução óbvia'.
Última moda
A British Association of Aesthetic Plastic Surgeons, associação britânica de cirurgiões plásticos, está pedindo que pessoas que desejam fazer cirurgias plásticas tenham de passar, obrigatoriamente, por uma avaliação psicológica.
Segundo a entidade, um estudo recente revelou que testes psicológicos de rotina foram feitos em menos de 35% das clínicas.
Liao acredita que a ansiedade de uma mulher, ou a insatisfação com certas áreas de sua vida, podem se manifestar na forma de preocupações com o corpo.
'A cirurgia tem seu papel, mas precisa ser encarada como o último recurso', acrescenta.
A ginecologista britânica Sarah Creighton disse que meninas com apenas 11 anos de idade já a procuraram para pedir a cirurgia.
Ela concluiu que, embora uma pequena porcentagem de mulheres tenha de fato alguma anormalidade nos pequenos lábios, na maioria dos casos, as pacientes preocupadas com o assunto têm o que ela consideraria ser vaginas de tamanho normal.
A moda da depilação mais radical deixa os pequenos lábios mais expostos, o que contribui para que mais mulheres busquem a cirurgia, disse Creighton.
'O que deveríamos fazer é considerar que alternativas existem no lugar da cirurgia para que as mulheres tenham outras opções, em vez de recorrer a uma operação sobre a qual sabemos muito pouco', recomenda.

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