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8.16.2012

Pílula anticoncepcional para homens é aposta de cientistas americanos

Os anticoncepcionais masculinos vêm atraindo atenção crescente de cientistas.
Evitar filhos ainda é visto como tarefa feminina
Incentivadas por organizações de mulheres, grupos globais de saúde e pesquisas que indicam a receptividade dos homens, agências federais nos EUA vêm financiando novas pesquisas.
Alguns métodos serão apresentados em uma conferência marcada para outubro, sob o patrocínio da Fundação Bill e Melinda Gates.
A abordagem mais estudada nos EUA usa os hormônios testosterona e progesterona, que "mandam" o corpo parar de produzir espermatozoides.
Mas esse método não funciona para todos os homens e causa efeitos colaterais, como o aumento de colesterol.
Outra possibilidade é a pílula gamendazole, derivada de uma droga anticâncer, que interrompe o amadurecimento dos espermatozoides, afirma Gregory S. Kopf, vice-reitor no Centro Médico da Universidade do Kansas.
O centro iniciou discussões com a FDA (agência reguladora de remédios e alimentos no EUA) sobre a droga, já testada em ratos e macacos.
O cientista John K. Amory, da Universidade de Washington, estuda uma droga desenvolvida para infecções por vermes que causa infertilidade. Ele descobriu que a substância bloqueia a produção do ácido retinoico, importante para fabricar o esperma.
Mas a droga atua de forma semelhante a um medicamento usado contra o alcoolismo, de modo que, quando alguém bebe enquanto a está tomando, sente-se mal.
Amory está trabalhando para torná-la compatível com álcool. "O engraçado é que, não fosse pelo álcool, ninguém precisaria de anticoncepcionais", brinca.
Elaine Lissner, diretora do Projeto de Informação sobre Contracepção Masculina, criou uma fundação para desenvolver outras abordagens.
Uma delas envolve a injeção de gel no escroto para desativar os espermatozoides. Outra prevê aquecer os testículos brevemente com um ultrassom, o que pode sustar a produção de espermatozoides por meses.
"A cada seis meses, você levaria seu carro para trocar o óleo e, enquanto isso, iria para o consultório fazer um ultrassom", disse Lissner.

Editoria de arte/folhapress
CONFIANÇA
É claro que as mulheres teriam que confiar que seu parceiro estivesse usando uma pílula, como os homens precisam confiar nelas hoje.
Um dos métodos -implantes hormonais- deixa visível um volume no bíceps do homem. "Eles gostam porque podem se exibir; é a prova de que estão usando um anticoncepcional", diz Amory.
As empresas farmacêuticas ainda não apostaram em nenhum dos métodos, à espera de algo eficaz e seguro.
Os hormônios -em implantes, injeções, géis ou comprimidos-, embora não sejam a melhor solução, podem ser aprovados primeiro.
Hoje, 5% dos homens não reagem a eles. O motivo não é conhecido. Os hormônios ainda podem causar efeitos adversos sobre o coração, a pele, o humor e o colesterol.
Michael Lehmann, paisagista de 39 anos de Seattle, conta que sofreu efeitos colaterais mínimos com implantes e géis. Ele teve acne e pensamentos sexuais frequentes.
Steve Owens, 39, assistente social, não gostou do gel de testosterona que passou no braço. Sua mulher e filha não puderam encostar nele durante horas, para não serem expostas ao hormônio.
Já os implantes sob a pele foram aprovados. "Se eu fosse solteiro, poderia ter usado isso para chamar alguém para sair comigo."

Comprimido testado em ratos seria capaz de bloquear espermatozoides.
Droga atua em receptor de vitamina A e pode reverter fertilidade após uso.

Luna D'Alama Do G1, em São Paulo

Cientistas do Centro Médico da Universidade Columbia, em Nova York, estudam a possibilidade de formular a primeira pílula anticoncepcional oral para homens, capaz de interromper a produção de espermatozoides.
Em um trabalho ainda incipiente com ratos, publicado na revista Endocrinology, os pesquisadores relatam mexer em um receptor de ácido retinoico (derivado da vitamina A) e ter uma rápida recuperação da fertilidade após a interrupção do uso.
Há quase 100 anos, já se sabe que a falta dessa vitamina no organismo pode provocar esterilidade masculina, entre outros problemas, como prejuízos à visão.
Segundo o estudo, baixas doses da droga não afetam os olhos e, por não incluírem hormônios na composição, não teriam efeitos colaterais como diminuição da libido, maior risco de doenças cardiovasculares e hiperplasia (aumento) benigna da próstata.
O desafio agora, para que a pílula dos homens se torne realidade, é provar que o composto é seguro, eficaz e reversível quando usado por muitos anos.
Esses estudos ainda são experimentais e o grande problema é encontrar a reversão da infertilidade"
Urologista Fernando Almeida, do Sírio-Libanês
Segundo o urologista Fernando Almeida, médico do Hospital Sírio-Libanês e professor da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esses estudos ainda são experimentais, e o grande problema é encontrar a reversão da infertilidade.
“Ser uma droga não hormonal, como ocorre nas mulheres, é uma vantagem nesse caso, pois mexer com os hormônios masculinos causaria alterações na próstata, na voz e no cabelo, entre outras”, diz o médico.
O ideal, portanto, seria bloquear apenas os receptores de vitamina A nos testículos, preservando o restante do corpo.
O urologista Renato Fraietta, especialista em reprodução humana e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), reforça que essa descoberta ainda é inicial, porém promissora. Várias outras sugestões de contraceptivos masculinos já surgiram, de acordo com ele, mas nenhuma emplacou.
Os principais entraves são em relação a segurança, eficácia, praticidade e manutenção da função hormonal do indivíduo"
Urologista Renato Fraietta, da Unifesp
“Quem sabe, isso possa ser criado e substituir a pílula feminina ou democratizar o uso entre os parceiros. Mas ainda não é possível prever como será”, afirma.
De acordo com o médico, os principais entraves são em relação à segurança, eficácia, praticidade e manutenção da função hormonal do indivíduo.
Ao contrário da mulher, que já nasce com todos os óvulos que terá durante toda a vida, o homem produz espermatozoides continuamente. A ejaculação elimina espermatozoides produzidos apenas três meses antes.
Por conta disso, a confecção de uma pílula masculina é mais difícil, pois a recuperação não é rápida e a reversibilidade pode ser lenta ou inexistente. Além disso, mexer nos hormônios pode desencadear um efeito "rebote" (baixa hormonal até a recuperação dos testículos), perda de força muscular, cansaço, depressão e sonolência, entre outros prejuízos.
“No período de uso, o ideal seria o homem ejacular normalmente, sem espermatozoides, da mesma forma que um paciente vasectomizado, com a diferença de que poderia voltar a ser fértil a qualquer momento”, explica Fraietta.
Se o composto for injetável, com duração maior que a de um comprimido, a dificuldade para controlar a duração do princípio ativo seria ainda maior.

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