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12.05.2012

Morre Oscar Niemeyer, aos 104 anos


Reconhecido em todo o mundo como um dos grandes expoentes da arquitetura moderna, o homem que desenhou Brasília deixou sua marca ao longo do século XX

O arquiteto Oscar Niemeyer, em foto de 2010 Foto: AFP
O arquiteto Oscar Niemeyer, em foto de 2010 AFP
RIO - Morreu nesta quarta-feira, por volta das 22h, o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, informou a TV Globo. Reconhecido em todo o mundo como um dos grandes expoentes da arquitetura moderna, o homem que desenhou Brasília deixou sua marca em várias cidades do mundo ao longo do século XX. Além disso, fez diversos projetos gratuitamente, em benefício das causas que inspiravam sua construção. Sua assinatura está nos principais edifícios do Distrito Federal, entre eles o Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada e o edifício do Congresso Nacional. Também projetou o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, o famoso "disco voador" do Museu de Arte Contemporânea de Niterói e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Seu trabalho conquistou admiração de personalidades mundiais, do líder cubano Fidel Castro ao astro de Hollywood Brad Pitt - ambos fãs declarados do arquiteto, que em 1947 participou com destaque da equipe que elaborou o edifício-sede da Organização das Nações Unidas.
Filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida, nasceu em 15 de dezembro de 1907, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Teve uma infância tranquila e uma juventude boêmia, passada entre as arquibancadas do estádio do Fluminense, nas Laranjeiras, as ruas da Lapa e as mesas do Café Lamas. Depois de se casar com a filha de imigrantes italianos Annita Baldo, aos 21 anos, decidiu finalmente retomar os estudos. Em 1934, formou-se em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes e se empregou no escritório de Lúcio Costa, onde em pouco tempo começou a se destacar.
Em 1945, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, de onde saiu apenas em 1990, por discordar dos novos rumos políticos da legenda. Mas permaneceu fiel a seu idealismo humanista ao longo de toda a vida. "A gente tem que se basear em convicções muito firmes para aguentar essa luta que a vida representa para o ser humano", declarou, no dia em que completou 100 anos.
Nos anos 60, perseguido pela ditadura militar no Brasil, exilou-se na França, onde projetou o Centro Cultural Le Havre e a sede do Partido Comunista Francês. Neste período, realizou projetos para diversos países, como Portugal, Israel, Argélia, Líbano e Itália. Em 1974, retornou ao Brasil e abriu um escritório na Avenida Atlântica, em Copacabana. Na década seguinte, deixou seu traço na construção do Sambódromo e dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), idealizados por Darcy Ribeiro durante o governo de Leonel Brizola. Em 2012, a passarela do samba ganhou uma nova remodelagem e deixou a avenida igual ao projeto original desenhado por Niemeyer há quase 30 anos, com arquibancadas também no setor par.
Celebrado tanto por seu talento como pela longevidade e capacidade de trabalho, Niemeyer foi ao longo de sua vida tema de inúmeros estudos acadêmicos, exposições, documentários e livros biográficos. Em 1988, recebeu o prêmio Pritzker, maior honraria da arquitetura mundial. Também inspirou obras de outros artistas e arquitetos e deu nome a espaços culturais.
Em Ravello, na Itália, foi construído o Auditório Oscar Niemeyer. A estrutura projetada pelo arquiteto brasileiro passou dez anos envolvida em polêmicas ambientais e legais até ser finalmente concluída, em 2010. Niemeyer começou a projetar o auditório em 2000, a pedido do amigo Domenico De Masi, sociólogo que preside a Fundação Ravello, que encomendou a obra.
O projeto demorou para sair do papel por causa de uma lei local que impede novas construções na cidade, de apenas 2,5 mil habitantes. Baseada nessa legislação, a organização Itália Nostra, voltada para a defesa do patrimônio cultural, histórico e ambiental do país, acionou a Justiça para impedir a construção do auditório. Depois de oito ações judiciais obstruindo a obra, o auditório finalmente saiu do papel quando o governo da região de Campânia aprovou uma lei regional se sobrepondo às restrições locais de Ravello e liberando a construção.
O Centro Cultural Niemeyer, em Avilés, um complexo cultural que custou 44 milhões de euros - e cujo desenho foi um presente do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer ao Principado das Astúrias -, também acabou se tornando uma polêmica. O local quase fechou as portas em dezembro de 2011, apenas seis meses após sua inauguração, sob acusações de irregularidades na gestão. Em outubro de 2011, o arquiteto chegou a escrever uma carta aberta sobre o possível encerramento das atividades do centro cultural e disse que iria lamentar se o espaço fechasse mesmo que por um curto prazo.
Luta pela vida
Sempre lúcido e empreendedor, trabalhou praticamente até os últimos dias de vida. Em 2009 chegou a ficar internado por 24 dias no Hospital Samaritano com dores abdominais. O arquiteto passou por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana depois de ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula e ficour 48 horas no CTI. Em junho do mesmo ano, ele havia sido internado no Hospital Cardiotrauma, também no Rio, com dores lombares. Enfrentou uma bateria de exames e recebeu alta horas depois. Na ocasião, os exames e uma tomografia diagnosticaram que o arquiteto estava com uma lombalgia. Em 2006, Niemeyer ficou 11 dias internado, após sofrer uma queda e passar por uma cirurgia.
Nem no hospital, o gênio da arquitetura ficou parado. Oscar Niemeyer procurava uma forma de driblar o tédio do leito de hospital, em 2010. Começou a esboçar uma letra, seu enfermeiro Caio Almeida, uma melodia, e nascia assim o samba "Tranquilo com a vida", mais tarde finalizado por Edu Krieger.
Em 2012, Niemeyer chegou a ser internado três vezes. Em maio deste ano, o arquiteto ficou por mais de duas semanas no Hospital Samaritano com quadro de desidratação e pneumonia. Em abril, Oscar Niemeyer passou 12 dias no mesmo hospital por conta de uma infecção urinária.
Niemeyer teve uma filha, a galerista Anna Maria, morta no último mês de junho aos 82 anos, vítima de um enfisema pulmonar. O arquiteto teve quatro netos, 13 bisnetos e seis trinetos. Deixa viúva Vera Lúcia Cabreira, com quem se casou em 2006.

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