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4.09.2013

A corrida contra o tempo ao volante dos ônibus

Carga excessiva de trabalho, estresse e descontos por metas não cumpridas são rotina


POR Alessandro Lo-Bianco
Rio -  Uma Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Rio já cobrava soluções para irregularidades na linha 328 da empresa Transportes Paranapuan S/A, antes do acidente que deixou sete mortos no dia 2 de abril, quando um ônibus caiu de um viaduto sobre a Avenida Brasil.
Proposta em dezembro do ano passado pelo promotor Carlos Andresano Moreira, ela exige providências em relação às “condições precárias dos veículos”, entre outros itens.

O presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio de Janeiro, José Carlos Sacramento, acusou nesta segybda0feura as empresas de provocar desgaste aos motoristas: “É desumano que eles trabalhem como cobradores e motoristas ao mesmo tempo. Este problema não atinge só o profissional, mas coloca em risco a segurança no trânsito”.

Trabalhando até 16 horas por dia, motorista almoça sobre o volante para conseguir bater a meta de 200 passageiros e não ser descontado | Foto: Alexandre Viera / Agência O Dia
Trabalhando até 16 horas por dia, motorista almoça sobre o volante para conseguir bater a meta de 200 passageiros e não ser descontado | Foto: Alexandre Viera / Agência O Dia
Segundo o presidente do sindicato, a dupla função está levando a uma escassez de motoristas: muitos estão pedindo demissão. É o caso de Ernani da Silva Freitas, que trabalha há 30 anos ao volante de um ônibus. Ele resolveu pedir as contas.
“Me colocaram para ser motorista e cobrador. Recusei e começaram a descontar do meu salário. Eles disseram que se eu não me adaptasse que pedisse para sair, pois iriam continuar descontando”.

Segundo um motorista que prefere não se identificar, a jornada de trabalho é bem puxada: “Trabalho 16 horas por dia sem horário de almoço, nem parada para usar o banheiro”.

Oferta maior que a procura: cartaz anuncia vagas de emprego para motorista de ônibus. Mas só para mulheres | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Oferta maior que a procura: cartaz anuncia vagas de emprego para motorista de ônibus. Mas só para mulheres | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Em nota, a Fetranspor argumentou que a cobrança de passagens por motoristas é uma função prevista em acordo coletivo com a categoria dos rodoviários desde 2003 e reconhecida pelo Ministério do Trabalho: “As empresas entendem que não há risco à segurança desde que o profissional permaneça com o veículo parado enquanto faz o troco”. A
A entidade afirma que, com a adoção da bilhetagem eletrônica, caiu o uso de dinheiro nos coletivos, que representaria 40% das transações.

Mulher no volante, sucesso constante?
Ainda de acordo com o presidente do sindicato, José Carlos Sacramento, a oferta pelo trabalho como cobrador e motorista está cada vez mais alta e as empresas já começam a sentir uma diminuição no quadro de funcionários, o que implica em mais horas de serviço para os que ficam.

“Algumas companhias estão convocando somente mulheres, como se isso fosse mudar o nível de estresse de quem está ao volante. Não adianta, não vai ficar nem homem nem mulher assim”, disse.

Inquéritos em processo de conclusão
De acordo com a Polícia Civil, o inquérito que investiga o acidente que resultou na morte de sete pessoas dia 2 de abril será encaminhado ao MP nesta quarta-feira, junto ao pedido de prisão preventiva do motorista e do agressor.

Outro inquérito chama atenção pela demora. Trata-se do acidente com a linha 484, que vitimou cinco pessoas em junho. Segundo o delegado da 17ª DP, Maurício Luciano de Almeida, a demora é devido ao MP, que reluta em aceitar a denúncia.

“O inquérito já tem dados suficientes na visão da polícia. Mas retornou duas vezes do MP solicitando provas que já estão bem embasadas”, disse. Procurado, o MP não explicou o motivo.

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