Estudo americano com mulheres saudáveis e sem histórico familiar da doença apontou o processo do acrigel como responsável por um tumor de pele no dorso das mãos
Viviane Nogueira
RIO - Volta e meia é comum ouvir alguma mulher enumerar as vantagens
das unhas artificiais, mais resistentes e com durabilidade de até 20
dias. Só que um estudo publicado no periódico científico “Archives of
Dermatology” dá um golpe na vaidade das mulheres: a exposição das mãos à
máquina que ajuda a secar as unhas (e emite radiação UVA) foi
responsável pelo desenvolvimento de câncer de pele (carcinoma
espinocelular) no dorso das mãos de duas mulheres de meia idade.
Saudáveis e sem histórico familiar de câncer, as duas tinham em comum o fato de usar, durante 15 anos, unhas de acrigel, um preparado de gel e pó acrílico colocado sobre a unha que endurece em contato com a radiação. A conclusão do estudo é que as máquinas que secam as unhas artificiais são similares às câmaras de bronzeamento, proibidas no Brasil desde 2009.
Danos permanentes ao DNA
A exposição aos raios ultravioleta (UV) do sol ou desse tipo de aparelho sempre afeta os tecidos, e isso pode ou não ser ‘consertado’ pelas células, explica o pesquisador Franklin Rumjanek, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Quando a célula não consegue reparar esse dano, começa a se transformar, o que gera o tumor.
- O erro que o UV causa no DNA é juntar duas moléculas que não deveriam estar unidas. Os nucleotídeos de citosina se agrupam numa ligação que não deveria existir, os dímeros de citosina, que são a origem do tumor - explica.
Não há um limite seguro para esta exposição, o ideal seria pouco além do zero, apenas o suficiente para a síntese de vitamina D necessária ao organismo. Como já há a exposição inevitável da pele à radiação do dia, a recomendação é deixar de lado as opcionais.
- Se está bronzeando é porque a pele está reagindo, o que não é saudável. Na unha é ainda pior porque a área é menor. E a radiação incide direto sobre a pele das mãos - diz Rumjanek.
Para se ter ideia do tamanho do problema, a constante solar num dia de sol (energia do sol que chega em cada metro quadrado na Terra) é em torno de 1.400 watts, o equivalente à potência de 14 lâmpadas de 100 watts por metro quadrado — nem tudo é absorvido pela pele, já que parte refrate ou reflete. As câmaras de bronzeamento artificial, que são comparadas aos aparelhos que secam as unhas, produzem, em média, 1.200 watts, num espaço pequeno e com as lâmpadas bem próximas à pele. Ou seja, a absorção desses raios UV é grande e não adianta colocar filtro solar antes de ir à manicure.
— O filtro protegeria a pele, não a unha, e a presença de melanócitos na matriz da unha pode favorecer o melanoma ungueal, tipo de câncer raro e agressivo — explica a dermatologista Giuliana Bottino, da pós-graduação da Santa Casa de Misericórdia do Rio.
A dermatologista lembra que o estudo que apontou o câncer é pequeno e seria necessária uma observação num universo maior para resultados definitivos. Além do tumor, há outras doenças dermatológicas como alergias e micoses por fungos decorrentes do uso das unhas artificiais.
As dermatites de contato dependem da sensibilidade a alguma substância. Já as micoses são mais frequentes porque a unha começa a descolar, entra água e os fungos proliferam.
— Mas as manicures dizem que isso só acontece quando a manutenção não é feita — diz Giuliana.
Porcelana seria opção
Com uma disciplina militar, a estilista Vivian Groisman refaz as unhas de acrigel a cada 15 dias, há quatro anos, num processo que dura uma hora e meia. Ela usa, a mãe também e o motivo foi a unha que não crescia.
—Eu não sei viver sem. Vou passar 20 dias viajando, e as unhas vão durar esse tempo todo — conta.
Mas e os riscos de câncer?
— Vou esconder o jornal da minha mãe — brinca.
A manicure Joelma Oliveira Rocha, do salão Lounge Hair Style, no shopping Downtown, é especializada em unhas artificiais, mas diz que cada vez mais as mulheres trocam o acrigel pela porcelana, que não precisa do aparelho para secar e, segundo ela, é mais natural.
Tratamentos
Câncer: A lesão é retirada e, se for melanoma, a quimioterapia é indicada.
Fungos: Tratamento com esmalte ou também medicamento oral.
Alergias: São usados anti-inflamatórios ou antialérgicos.
Saudáveis e sem histórico familiar de câncer, as duas tinham em comum o fato de usar, durante 15 anos, unhas de acrigel, um preparado de gel e pó acrílico colocado sobre a unha que endurece em contato com a radiação. A conclusão do estudo é que as máquinas que secam as unhas artificiais são similares às câmaras de bronzeamento, proibidas no Brasil desde 2009.
Danos permanentes ao DNA
A exposição aos raios ultravioleta (UV) do sol ou desse tipo de aparelho sempre afeta os tecidos, e isso pode ou não ser ‘consertado’ pelas células, explica o pesquisador Franklin Rumjanek, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Quando a célula não consegue reparar esse dano, começa a se transformar, o que gera o tumor.
- O erro que o UV causa no DNA é juntar duas moléculas que não deveriam estar unidas. Os nucleotídeos de citosina se agrupam numa ligação que não deveria existir, os dímeros de citosina, que são a origem do tumor - explica.
Não há um limite seguro para esta exposição, o ideal seria pouco além do zero, apenas o suficiente para a síntese de vitamina D necessária ao organismo. Como já há a exposição inevitável da pele à radiação do dia, a recomendação é deixar de lado as opcionais.
- Se está bronzeando é porque a pele está reagindo, o que não é saudável. Na unha é ainda pior porque a área é menor. E a radiação incide direto sobre a pele das mãos - diz Rumjanek.
Para se ter ideia do tamanho do problema, a constante solar num dia de sol (energia do sol que chega em cada metro quadrado na Terra) é em torno de 1.400 watts, o equivalente à potência de 14 lâmpadas de 100 watts por metro quadrado — nem tudo é absorvido pela pele, já que parte refrate ou reflete. As câmaras de bronzeamento artificial, que são comparadas aos aparelhos que secam as unhas, produzem, em média, 1.200 watts, num espaço pequeno e com as lâmpadas bem próximas à pele. Ou seja, a absorção desses raios UV é grande e não adianta colocar filtro solar antes de ir à manicure.
— O filtro protegeria a pele, não a unha, e a presença de melanócitos na matriz da unha pode favorecer o melanoma ungueal, tipo de câncer raro e agressivo — explica a dermatologista Giuliana Bottino, da pós-graduação da Santa Casa de Misericórdia do Rio.
A dermatologista lembra que o estudo que apontou o câncer é pequeno e seria necessária uma observação num universo maior para resultados definitivos. Além do tumor, há outras doenças dermatológicas como alergias e micoses por fungos decorrentes do uso das unhas artificiais.
As dermatites de contato dependem da sensibilidade a alguma substância. Já as micoses são mais frequentes porque a unha começa a descolar, entra água e os fungos proliferam.
— Mas as manicures dizem que isso só acontece quando a manutenção não é feita — diz Giuliana.
Porcelana seria opção
Com uma disciplina militar, a estilista Vivian Groisman refaz as unhas de acrigel a cada 15 dias, há quatro anos, num processo que dura uma hora e meia. Ela usa, a mãe também e o motivo foi a unha que não crescia.
—Eu não sei viver sem. Vou passar 20 dias viajando, e as unhas vão durar esse tempo todo — conta.
Mas e os riscos de câncer?
— Vou esconder o jornal da minha mãe — brinca.
A manicure Joelma Oliveira Rocha, do salão Lounge Hair Style, no shopping Downtown, é especializada em unhas artificiais, mas diz que cada vez mais as mulheres trocam o acrigel pela porcelana, que não precisa do aparelho para secar e, segundo ela, é mais natural.
Tratamentos
Câncer: A lesão é retirada e, se for melanoma, a quimioterapia é indicada.
Fungos: Tratamento com esmalte ou também medicamento oral.
Alergias: São usados anti-inflamatórios ou antialérgicos.
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