Perigo da doença pode ir além do que imaginamos. Confira!
O câncer de cabeça e pescoço constitui um grupo de tumores malignos originados em cavidade oral, orofaringe, e laringe, tipicamente ocorre em pacientes entre a 5ª e 7ª década de vida, e tradicionalmente apresenta como fatores de risco mais significativos o consumo abusivo de bebidas alcoólicas e o tabagismo.
O tamanho da importância desta doença é revelado pela estimativa anual para 2013 do INCA, Instituto Nacional do Câncer: 15 mil casos novos de câncer de cavidade oral e laringe esperados em homens para 2013 no Brasil e mais de 4 mil em mulheres, sendo o 5º câncer de maior incidência entre homens, e o 11º em mulheres. Para Mato Grosso a estimativa do INCA para 2012 foi de 210 novos casos em homens e 40 em mulheres.
De acordo com o oncologista clínico da ONCOMED (MT), Eduardo Dicke, tem sido cada vez mais frequente o surgimento de casos de cabeça e pescoço em pacientes jovens, antes dos 40 e algumas vezes antes dos 30 anos, e em pacientes sem histórico de etilismo ou tabagismo significativo.
Este é o perfil típico do câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV, Papiloma vírus humano, vírus de transmissão habitualmente sexual, causador de infecções genitais e da grande maioria dos casos de câncer de colo de útero, de vagina, de pênis e de canal anal. Em população jovem, sexualmente ativa, a transmissão do HPV através das práticas liberais do sexo oral desprotegido somado à multiplicidade de parceiros pode contribuir para o surgimento futuro do câncer de boca, orofaringe e laringe.
Dados de um grande estudo publicado no Journal of Clinical Oncology, o periódico oficial da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, comprovam a importância crescente do HPV no surgimento dos novos casos de câncer de cabeça e pescoço.
Este estudo pesquisou a presença do vírus em amostras de biópsias de tumores através de uma técnica convencional rotineiramente utilizada hoje na prática clínica chamada imunohistoquímica, biópsias estas de pacientes com casos novos de tumores de cabeça e pescoço cadastrados no banco de dados epidemiológico dos Estados Unidos, no período de 1984 a 2004.
Os resultados foram surpreendentes: a prevalência de HPV nestes pacientes aumentou de forma estatisticamente e marcadamente significativa de 16% no período entre 1984-1989 para 71% entre 2000-2004.
Segundo o oncologista, o câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV está fortemente associado a um perfil diferente também quanto à sua resposta ao tratamento e ao seu prognóstico. Conforme dados de outra publicação importante no New England Journal of Medicine, o câncer de orofaringe associado ao HPV apresentou prognóstico mais favorável, com taxa de sobrevida global média em 3 anos estatisticamente superior de 82% versus 57%, em relação aos casos não associados ao HPV.
O status de tumor associado ao HPV está associado a um fator prognóstico marcadamente favorável principalmente devido à maior sensibilidade aos tratamentos convencionais com radioterapia e às medicações modernas empregadas no tratamento atual com quimioterapia.
O médico oncologista ressalta outro dado preocupante quanto à transmissão frequente do HPV e sua contribuição para os casos novos de câncer de cabeça e pescoço: o estudo publicado no Journal of Clínical Oncology revela no período de 1989-2004 uma redução gradual da mortalidade por esta doença, muito provavelmente causada pelo aumento marcado no número de casos novos associado ao HPV, sabidamente de melhor prognóstico, já os maiores avanços no tratamento medicamentoso surgiram somente a partir de 2004.
Ou seja, a proporção cada vez maior de casos de câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV, por serem tumores de melhor prognóstico, impactou inclusive nas taxas de mortalidade global da doença como um todo.
Segundo Dr. Eduardo, a doença pode se manifestar com úlceras ou feridas na boca ou garganta que não se cicatrizam, e devem avaliadas por médico e investigadas quando persistem por mais de 3 semanas, quando há rouquidão persistente ou quando há nódulos no pescoço persistentes por mais de 3 semanas.
Vale lembrar que existe uma vacina comercialmente disponível para prevenção ao HPV, registrada pela ANVISA e recomendada para meninos e meninas na faixa de idade entre 9 e 26 anos. Esta vacina encontra-se em análise pelo ministério da saúde quanto à possibilidade de disponibilização futura na rede pública.
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