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6.04.2013

Sal escondido sob a pele

Pesquisa defende que o órgão tem papel na regulação do sódio e da pressão arterial

Flávia Milhorance 

O consumo em excesso de sal é considerado um dos fatores que leva ao aumento da pressão arterial
Foto: Terceiro / Latinstock
O consumo em excesso de sal é considerado um dos fatores que leva ao aumento da pressão arterial Terceiro / Latinstock
Uma nova abordagem científica levanta uma hipótese alternativa para a origem da hipertensão, cujas causas são muitas vezes indefinidas. Cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Vanderbilt, nos EUA, descobriram que, além do rim e dos vasos sanguíneos, a pele também é um importante regulador do sódio e da pressão arterial.
— Apesar dos esforços maciços de pesquisas, nós ainda não entendemos por que 90% dos nossos pacientes têm pressão alta. Pensamos que uma interpretação diferente poderia ser útil — defendeu o professor associado da universidade, Jens Titze, autor do estudo.
Numa série de testes, os pesquisadores mostraram que o corpo armazena sódio na pele. Observaram que as células do sistema imunológico e os capilares linfáticos (vasos do sistema linfático) regulam o equilíbrio de sódio e a pressão arterial. O papel da pele neste processo ainda é pouco estudado.
— Essa visão é nova. Até o momento, os principais sistemas estudados eram os rins e os vasos sanguíneos — explicou a diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia na Regional RJ (SBEM-RJ), Flávia Conceição. — O impacto do estudo é mostrar que isso pode ser a causa de casos de hipertensão sensível ao sal.
Flávia lembra que a pesquisa, por enquanto, não relaciona a quantidade de sal na dieta e a ocorrência de hipertensão. Jens Titze, por sua vez, ressalta que mais estudos são necessários.
— Não sabemos se o sódio se acumula porque estamos comendo muito sal. Tenho a impressão de que o depósito de sal no corpo humano não é benéfico para a saúde, mas isto teremos que provar experimentalmente — disse.
Sal em excesso leva à hipertensão
Segundo ele, entretanto, não há dúvida de que a redução do consumo de sal também abaixa a pressão arterial e de que manter a pressão arterial mais baixa é melhor para a saúde. O pesquisador cita estudos em que o consumo de até 6g de sal por dia pode ser administrado pelo corpo sem muitos problemas. Enquanto isto, a média de consumo de sal em países industrializados está em torno de 9g a 12g por dia.
O trabalho, publicado ontem no “Journal of Clinical Investigation”, usou camundongos para demostrar que o metabolismo do sal na pele também influi no controle da pressão arterial sistêmica. Os roedores foram alimentados com uma dieta com alta concentração de sal, que se acumulou na pele. O sistema imune percebeu o acúmulo de sódio e ativou a proteína chamada TONEBP. Esta, por sua vez, estimulou o fator de crescimento VEGFC no sistema imunológico, aumentando a capacidade dos vasos linfáticos e a depuração do cloreto de sódio.
Quando o gene TONEBP é eliminado, não há uma resposta do VEGFC a uma dieta com excesso de sal, o que levaria a um aumento da pressão arterial. De acordo com a pesquisa, os sistemas imune e linfático na pele trabalham juntos na regulação dos eletrólitos (cloreto de sódio) e da pressão sanguínea. Portanto, defeitos no sistema de regulação poderiam estar associados à hipertensão sensível ao sal.
Sódio também em músculos
O mesmo grupo já tinha publicado este ano um artigo apontando para o acúmulo de sódio também em músculos. Eles ainda mostraram que este acúmulo aumenta com a idade.
— O estudo mostra um novo sistema de controle do sal corporal, e pessoas com alteração nesse sistema teriam uma tendência a um maior acúmulo de sal, mais especificamente na pele e nos músculos, e esse acúmulo poderia levar ao desenvolvimento de hipertensão — destacou Flávia Conceição. — Como os próprios autores sugerem, a medida da quantidade de sal acumulada poderia ser um fator preditivo.
A partir dos resultados, os cientistas vão analisar o que o acúmulo de sódio significa. Por exemplo, se influenciaria o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Para isso, eles acompanharão dois mil indivíduos por cinco anos, medindo o sódio duas vezes por ano por meio de ressonância magnética e avaliando a probabilidade de ocorrência de ataques cardíacos, derrames e outras doenças arteriais. Os pesquisadores também vão analisar se mudanças no estilo de vida ou tratamentos médicos influenciam no acúmulo de sódio e na pressão arterial.
— Se o acúmulo de sódio é uma doença, então precisaremos focar na prevenção, facilitar a remoção de sódio ou ambos — ressaltou Titze. — Na pesquisa básica avaliamos como o sódio é armazenado na pele e nas células, e como o sistema imunológico percebe e regula o acúmulo nos tecidos.

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