webmaster@boaspraticasfarmaceuticas.com.br

10.28.2013

Uma nova Clarice surge em ‘Correio Feminino’


Luzia Brunet, a "mulher madura" de 'Correio Feminino': estética publicitária e retrô cria uma atmosfera lúdica para o surgimento da mulher moderna (Reprodução)
Luzia Brunet, a “mulher madura” de ‘Correio Feminino’: estética publicitária e retrô cria uma atmosfera lúdica para o surgimento da mulher moderna (Reprodução)
A ideia de que um filme nasce na ilha de edição tem aplicação radical em Correio Feminino, série que o diretor Luiz Fernando Carvalho estreou ontem, dentro do Fantástico (Globo, 21h).
A difícil tarefa de dar formato televisivo às crônicas escritas por Clarice Lispector nos anos 50 sob o pseudônimo de Helen Palmer foi resolvida pelo editor Marcio Haschimoto, que formatou as imagens captadas pelo diretor num quadrado de tecido branco instalado num estúdio. O resultado é precioso: o grafismo, as cartelas que se alternam com rapidez mas com notável suavidade e a ausência das falas das atrizes reconstroem de maneira lúdica a atmosfera retrô daqueles tempos do surgimento da mulher moderna.
Nesse ponto, fica evidente mais uma vez a busca obsessiva do diretor por uma estética que de fato sirva à história, numa relação recheada de simbolismos e muito além da mera composição do quadro que ilustra as cenas. Isso aproxima Correio Feminino de obras anteriores de Carvalho, como Hoje é dia de Maria (2005) e Afinal, o que querem as mulheres? (2010) e, desta vez, pode ser por exemplo percebido na escolha cuidadosa das atrizes, duas delas – Cinthia Dicker e Luiza Brunet – modelos fotográficos, o que as favorece nas sequências que são como anúncios vivos de uma revista no estilo Vogue.
Mas a estética deslumbrante, de maneira surpreendente, não se sobrepõe à estrela principal, o texto de Clarice. A oportunidade de se descobrir essa nova Clarice Lispector, vista agora dizendo coisas como “julgar que por que se casou está dispensada de seduzir seu marido é um erro”, é sem dúvida a maior contribuição da série, coisa de quem gosta mesmo da Língua Portuguesa. Era de se esperar uma adaptação de algo “mais Clarice”, quem sabe com uma narradora tentando imitar o indefectível sotaque, mas Luiz Fernando preferiu mirar na Clarice menos óbvia, nessa Helen Palmer sentimental e divertida debruçada sobre que há de mais prosaico na existência feminina. Não houvesse tantos motivos para vê-la, bastaria esse. A se lamentar, apenas, que um trabalho tão caprichado tenha ficado diluído dentro do desgastado Fantástico que, registrou uma das piores médias de sua história no Ibope.

Nenhum comentário:

Postar um comentário