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12.28.2013

É preciso fazer bonito

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O torcedor não espera nada menos do que o hexacampeonato da Copa no Brasil. Mas, desta vez, apenas um belo futebol não será suficiente. O País tem grandes desafios de infraestrutura para que tudo dê certo

João Loes

Único país pentacampeão mundial de futebol, conhecido internacionalmente como a pátria das chuteiras e agora sede da Copa do Mundo, o Brasil entrará em campo para disputar o torneio diante de uma enorme expectativa da torcida. Como admitiu o próprio técnico Luiz Felipe Scolari, nada além da taça interessa. Não há obrigação maior para o País do que levar o hexacampeonato nesta que será a 20ª edição da competição. Afinal, se o brasileiro nunca foi de se contentar com um segundo lugar, não será agora, na nossa Copa, que isso será diferente. Pelo contrário. É preciso fazer bonito em campo, garantindo a vitória, de preferência exibindo um belo futebol para o mundo. E, para tanto, a Seleção conta com trunfos, como o jogador Neymar.
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O jogador Neymar é um dos trunfos do Brasil para garantir o hexa.
Abaixo, o estádio do Mineirão, reformado para a Copa
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Mas fazer bonito só em campo, desta vez, não vai bastar. Como sede de um dos mais complexos e populares campeonatos esportivos do mundo, o Brasil terá de mostrar que é bom também em organização. Serão 32 seleções disputando 64 jogos em 12 cidades-sede, durante 32 dias de competição (leia mais na pág. 52). Uma empreitada em áreas como construção civil, transporte, segurança e turismo. “No fim não tem muito mistério, tem é muito trabalho”, disse o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), à ISTOÉ. “Mas, se você cumprir o manual e fizer o dever de casa, as coisas acontecem.”
Esse é o grande desafio do Brasil. Tudo é superlativo quando se trata de Copa do Mundo. Segundo levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU), divulgado pelo Portal da Transparência, hoje correm 313 ações e empreendimentos do governo e da iniciativa privada para preparar o evento. Os 12 estádios onde acontecerão os jogos talvez sejam a parte mais visível desse esforço. Orçados em pouco mais de R$ 8 bilhões, metade já foi entregue e a outra metade corre para cumprir o prazo estabelecido pela Fifa, que adiou de janeiro para fevereiro a data final. “Atraso significa menos testes nas arenas e isso pode ser um problema”, afirma Rodrigo Prada, criador e diretor responsável pelo Portal 2014, do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco).
Para garantir que mesmo os estádios entregues com atraso funcionem, o Comitê Organizador Local da Fifa (COL), responsável pela organização e execução do evento, já monta um esquema de testes expresso. Não será a primeira vez que isso ocorre. Para testar os estádios de Rio de Janeiro, Brasília e Recife para a Copa das Confederações, por exemplo, foi preciso correr, já que eles só foram entregues dois meses antes da competição. O cenário pode se repetir agora na Copa do Mundo, com arenas como a do Pantanal, em Cuiabá, da Baixada, em Curitiba, de Manaus, no Amazonas, e do Corinthians, em São Paulo, todas atrasadas. “Para fazer os testes adequadamente, também é importante que as obras do entorno dos estádios estejam prontas, assim também testamos as operações de trânsito”, diz Ricardo Trade, presidente do COL.
ESPORTE-02-IE-2302.jpg ATRASO
A arena de Manaus, no Amazonas, deve ser entregue só em abril de 2014
A evolução das obras de mobilidade nas cidades-sede sugere que a perspectiva para esses testes completos não é boa. Segundo levantamento nacional do portal G1, no começo de dezembro 75% dessas obras estavam atrasadas ou foram retiradas da lista de objetivos a serem atingidos até o começo do campeonato. Além disso, é provável que o País assista a manifestações nas imediações das arenas, como ocorreu na Copa das Confederações. A Secretaria Especial de Segurança para Grandes Eventos (Sesge) vem investindo em inteligência e treinamento de equipes para lidar com imprevistos e irá disponibilizar 200 viaturas de polícia e dois helicópteros para cada jogo. “Os feriados, que devem ser decretados pelas cidades-sede em dias de grandes jogos, vão ajudar na mobilidade”, aposta Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral. “Mas com protestos a situação fica mais imprevisível.”
Cerca de R$ 1,2 bilhão estão sendo usados para integrar sistemas de comunicação de segurança, simular operações e comprar equipamentos. “Nosso objetivo maior, no que diz respeito às manifestações, é evitar o confronto e a violência”, diz Andrei Rodrigues, da Sesge. A julgar pelas imagens da truculência policial brasileira diante das manifestações durante a Copa das Confederações que rodaram o mundo, o Brasil tem muito a avançar nessa área. “É o tipo de coisa que não pode acontecer”, diz Prada, do Portal 2014. “Não tenho dúvida de que o governo teme esse tipo de repercussão novamente, porque pegou muito mal.”
Os desafios na área de transporte aéreo também são inúmeros. O trânsito das seleções pelas distantes cidades-sede não deverá ser um problema, pois um superesquema foi desenvolvido pelo COL. Entre seis e oito aviões ficarão à disposição dos times e staff e os cronogramas funcionarão com margens que permitem até 24 horas de atraso. O que preocupa é o trânsito aéreo das grandes torcidas. Tome-se como exemplo os jogos da Argentina e Irã em Belo Horizonte, no dia 21, e, quatro dias depois, Argentina e Nigéria em Porto Alegre. Estima-se que entre 30 mil e 40 mil argentinos venham ao País para o Mundial. Deslocar essa população, de avião, em quatro dias requer nada menos que 210 voos, ou 52 voos por dia. Seguir por terra significa encarar os 1.705 quilômetros que separam BH de Porto Alegre em estradas que não receberam um centavo sequer dos R$ 25 bilhões investidos na Copa. “Mesmo se todos os aeroportos funcionarem perfeitamente, o transporte aéreo ainda é o maior gargalo da Copa”, diz Resende, da Fundação Dom Cabral, acrescentando que muitos poderão enfrentar dificuldades em função de neblina nessa época.
Para contornar o problema, a Secretaria de Aviação Civil (SAC) organiza uma operação nos moldes das realizadas na Copa das Confederações e na Jornada Mundial da Juventude no ano passado. Embora o plano ainda não tenha sido divulgado, espera-se um aumento do efetivo nos aeroportos, a criação de um centro de comando e controle nacional que funcionará 24 horas por dia e estratégias para lidar com picos de demanda. Simulações das dificuldades que podem surgir no caminho também serão feitas a partir de janeiro. Um exército de 15 mil voluntários, atualmente sendo selecionados por proficiência em inglês e em espanhol, auxiliará os seis milhões de turistas brasileiros e 600 mil estrangeiros esperados que deverão lotar os 390 mil quartos de hotel disponíveis. O trânsito aéreo deverá ganhar uma folga das viagens de negócios, que estarão em baixa nessa época.
ESPORTE-03-IE-2302.jpg MOBILIDADE
Transcarioca, que liga Barra da Tijuca e Aeroporto Tom Jobim,
no Rio de Janeiro, ainda não está pronta
O tempo dirá se o tão falado legado positivo da Copa irá se realizar de fato. Não são poucos os estudos que demonstram como eventos grandiosos como este tendem a se revelar uma armadilha para os países-sede. Uma pesquisa recente feita pelo Departamento de Economia do Esporte da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, por exemplo, mostrou que esses grandes espetáculos esportivos podem ter impacto negativo na economia e na infraestrutura das nações anfitriãs. Mas, ainda que, na ponta do lápis, o saldo seja negativo, espera-se que a Copa promova pelo menos uma mudança de atitude nas arquibancadas nacionais e o brasileiro adote o padrão Fifa de torcida: empolgação com educação, sem lugar para quebra-quebra.
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