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1.04.2014

Câncer de próstata aparece sem dar sinais e exige atenção

Ele ocupa a 2ª posição entre os tipos de câncer que mais matam os homens

Por Minha Vida -

Matéria vencedora do Prêmio IBCC de Jornalismo, na categoria mídia digital

Ainda é importante incentivar os homens de meia idade a deixarem o preconceito de lado e fazerem exames para descobrir possíveis anormalidades na próstata (glândula localizada perto da bexiga e que envolve a uretra).O câncer aparece sem dar sinais e, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA/MS), ocupa a segunda posição entre os tipos de câncer que mais matam a população masculina, ficando atrás apenas do câncer de pulmão.

"Por ser uma doença que não apresenta sintomas em muitos casos, a recomendação é que homens com mais de 45 anos façam os exames de rotina anualmente", alerta o urologista e diretor da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), André Cavalcanti.

A experiência do biólogo José Guimarães Gomes, de 57 anos, se diferenciou da maioria dos casos. "Eu já fazia os exames regularmente, mas fiquei uns dois anos sem ir ao urologista. Neste intervalo, comecei a notar que minha ejaculação estava falhando e quando vinha, era bem pouca", conta sobre os primeiros sintomas do câncer.

O diretor da SBU faz uma ressalva para homens que já tenham este tipo de doença no histórico familiar e também para os negros. "Por causa do fator genético, os negros têm chances de desenvolver a doença em um grau mais avançado", explica. Para os que se encaixam nestes dois últimos perfis, os exames anuais devem ser feitos a partir dos 40 anos.

Apesar de não existirem métodos preventivos, quanto antes o diagnóstico for feito, mais chance de cura tem o paciente e menos agressivos são os tratamentos. Os exames de rotina são o exame digital da próstata (mais conhecido como toque retal) e o associado à dosagem de uma proteína chamada PSA. No primeiro, o médico consegue apalpar a próstata através do reto e verificar eventuais alterações no tamanho e consistência da glândula. Já a dosagem é feita a partir de um exame de sangue: se a taxa da proteína estiver elevada, é mais um indício da presença do tumor.

Porém, a elevação da quantidade de PSA pode ter causa benigna. Sendo assim, a constatação do câncer não pode ser feita apenas com o exame de sangue. "Caso sejam notadas quaisquer alterações nestas duas análises, o paciente deve se submeter à biópsia de próstata", afirma o urologista.

Como tratar?
Os tipos de tratamento variam de acordo com o grau do câncer e com a idade do paciente. Segundo André, casos em que o câncer ainda não se espalhou por outros órgãos, e que a expectativa de vida do homem é de mais de 10 anos, recorre-se à prostatectomia radical. A cirurgia consiste na retirada total da próstata e dos tecidos linfáticos que a envolvem, podendo acarretar em disfunção erétil e incontinência urinária. "As duas seqüelas apresentam estatísticas bem variáveis, de acordo com o estágio em que o tumor se encontrava e com a faixa etária do paciente. Mas, em geral, a incontinência urinária acomete menos de 10% dos homens, enquanto a disfunção erétil não chega a atingir 30% dos pacientes", tranqüiliza o urologista.

Jorge Hallak, urologista do Hospital das Clínicas, diz que é importante lembrar que alguns co-fatores aumentam as chances do paciente sofrer com a disfunção erétil, depois do tratamento. "Ou seja, não só o tratamento contra o câncer é responsável pela disfunção, como muitos pacientes pensam. A somatória de fatores como idade, hipertensão, diabetes, colesterol elevado e obesidade, por exemplo, resultam na incidência do problema".Ainda falando da retirada total da próstata, Cavalcanti afirma que a recuperação da cirurgia é rápida, já que os pacientes têm alta em, no máximo, três dias. Em casa, os cuidados resumem-se em passar de uma a três semanas com uma sonda. O homem pode voltar às atividades rotineiras, depois de retirar a sonda, somando 30 dias para a recuperação total.
Quanto à atividade sexual, os próprios pacientes contam que ela se normaliza depois de um ano, em média. "Mas, enquanto a recuperação não era total, meu médico recomendou o uso de medicamentos que possibilitavam a ereção. Hoje em dia, como não tive nenhuma seqüela, tenho uma vida sexual que considero boa, adequada para a minha idade", diz o biólogo que passou pela cirurgia de retirada total da próstata em 2001.

Caso as sequelas apareçam, existem tratamentos específicos para cada uma. "Existem inúmeros tratamentos. Para a disfunção erétil, por exemplo, pode-se recorrer às auto-injeções no pênis ou à prótese peniana. Entre as séries de técnicas para tratar a incontinência urinária, o esfíncter artificial se destaca, apesar de ser um dos métodos mais caros", enumera o diretor da SBU.

A radioterapia entra como método alternativo para pacientes com alto risco cirúrgico ou que preferem driblar a cirurgia. Porém, o urologista do Hospital das Clínicas ressalta que o tratamento tem eficácia menor, se comparado com a retirada total da próstata. Mais um contratempo desta medida terapêutica é que o homem pode sofrer com efeitos colaterais, como irritação do colo e do reto e de tecidos próximos à próstata. "Como as radiações têm atuação local, os sintomas durante o tratamento se limitam à região da glândula", explica.

O especialista da SBU, André Cavalcanti cita ainda que "a radioterapia também pode ser recorrida quando nota-se que a quantidade de PSA voltou a aumentar. Nesses casos, ela funciona como tratamento complementar à cirurgia".

Quando a doença já está mais avançada, o especialista normalmente lança mão de hormônios que bloqueiam as elevações dos níveis de testosterona. "O câncer de próstata se alimenta de testosterona. Com o bloqueio hormonal, a tendência é que o tumor murche ou pare de crescer", explica André. A cirurgia também pode ser recomendada nestes casos, para retirada dos tecidos que circundam a próstata. O uso de medicamentos entra em cena como mais uma linha de tratamento, levando em conta a situação de cada paciente.

Depois do tratamento e da esperada cura, o urologista afirma que é importante fazer um acompanhamento constante dos níveis de PSA. "No primeiro ano pós-tratamento, é preciso verificar as taxas a cada três meses. Essa frequência vai aumentando com o tempo, mas é importante ver o paciente de seis em seis meses".

De acordo com o relato do biólogo José, que se curou do câncer há cinco anos, os exames pós-operatórios são partes fundamentais do tratamento do câncer. "Até agora, está tudo bem comigo e tenho uma ótima qualidade de vida. Mas, em meus últimos exames, parece ter sido detectado o restante de uma célula cancerígena. Caso a investigação seja confirmada, a medida terapêutica adotada serão os hormônios", fala.

Outras doenças da próstata
Apesar de só o câncer ser considerado maligno, algumas outras doenças que atingem a próstata também causam transtornos ao paciente, diminuindo sua qualidade de vida ou mesmo levando à morte, se não forem tratadas devidamente.

A prostatite aguda é um dos casos que pode levar à morte. Ao apresentar este quadro infeccioso, "o homem pode entrar em estado febril, ter retenção urinária, sentir dores na região do perineo e ao urinar", cita os sintomas, o especialista da SBU. Para solucionar o problema, o paciente precisa ser internado para esvaziar a bexiga com um método de pulsão pela pele. "Isso evita que um cateter passe pela uretra, inflamando-a ainda mais", diz o urologista André Cavalcanti. Além do esvaziamento da bexiga, o médico receita alguns antibióticos para acabar com a inflamação.

Outro tipo de prostatite é a crônica. Caracterizada por um quadro mais prolongado da doença (exigindo que o tratamento também seja), os sintomas da prostatite crônica são mais suaves, como desconforto no períneo, testículos e na região lombar. Nestes casos, a internação é dispensável, sendo necessário apenas o uso de medicamentos.

Quando a próstata aumenta de tamanho e passa a comprimir a bexiga, o homem sofre de hiperplasia. Os principais sintomas são dificuldade em urinar, com aumento da frequência e, muitas vezes, com urgência miccional. "Em todas as situações, o exame prostático não só desvenda o problema como também indica o tratamento ideal, já que consegue verificar o grau da doença", afirma o urologista. Geralmente, a hiperplasia é tratada com inibidores hormonais que relaxam a próstata ou diminuem seu tamanho. Outros medicamentos também são indicados para diminuir as dores. Caso os tratamentos medicamentosos não funcionem, o especialista recorre à cirurgia, em que a parte aumentada da próstata é retirada. "Os riscos são menores que os da retirada total da próstata, apresentando probabilidade de sequelas, como disfunção erétil e incontinência urinária, de apenas 3%", completa.

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