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1.30.2014

Escolhas amorosas

Como fazer boas escolhas amorosas?

 Vou me arriscar por aqui. 
Penso que três perguntas iniciais precisam ser respondidas com algum grau de dedicação, ainda que respeitado o seu caráter provisório tendo em vista que a nossa percepção muda constantemente. 
De onde eu vim? Onde estou? Para onde vou? Quero me deter nelas uma a uma. 
De onde eu vim? Não é para saber a origem do universo ou questionar a imortalidade alma, ainda que sejam perguntas interessantes. O ponto aqui é saber como tem sido o seu procedimento básico de escolhas passadas. Fazendo uma retrospectiva de sua vida a ideia é saber descobrir qual seria o seu manual de instruções cotidiano. Das decisões que tomou no que foram baseadas? Quais os parâmetros que usou para avaliar as vantagens ou os riscos de uma decisão? Que elementos costuma considerar antes de dizer sim ou não para alguma coisa?
Olhar para o passado é um jeito de identificar os seus bons e maus hábitos mentais.

Onde estou? Essa é outra pergunta reveladora e nada óbvia, pois para constatar a pessoa é preciso uma boa dose de coragem e honestidade. Somos muito covardes para olhar com humildade para os nossos fracassos e muito iludidos com as escolhas que fizemos. Na maior parte das vezes estamos agindo automaticamente e sem nenhuma noção do que fazemos. A impulsividade predomina na maior parte do que fazemos e apenas reagimos ao que surge do lado de fora.

Existe tanta fuligem sobre aquilo que chamamos de “eu” que posso garantir que qualquer autodefinição que tente fazer será um rascunho mal feito das opiniões dos outros misturada com aquilo que aprendeu no seu meio familiar e cultural.
Provavelmente você vem tentando mais se auto afirmar do que questionar com seriedade o motivo pelo qual faz o que faz. Esse espaço (geográfico e psicológico) que vivo potencializa ou diminui minhas opções pessoais de crescimento? As pessoas das quais me cerco favorecem ou limitam meu amadurecimento? Como posso ampliar meu grau de escolhas partindo dos recursos que tenho agora? O que de bom posso tornar excelente e o que de médio posso tornar bom? Onde vou aumentar meu repertório intelectual e emocional?

Para onde vou?
Ainda que não seja claro imaginar o dia de amanhã (principalmente para quem ainda está cego sobre o ontem e o hoje) também não podemos negligenciar uma dose de futurologia. O porvir não é um testes às cegas, mas um resultado de uma série de decisões que encadeadas com elementos externos será o seu futuro hoje. Ainda que não saiba o que cruzará o seu caminho precisa estar bem preparada. Quais as imagens de si mesmo que quer ter? Como anseia ver sua vida realizada? Se pudesse conversar com sua versão velhinha o que gostaria de estar ouvindo? Pelo que gostaria de ser lembrado depois da morte? Que valores foram essenciais para que realizasse uma vida significativa?
Perceba que essas perguntas não disseram nada a respeito de relacionamento amoroso, mas com certeza serão influenciadas diretamente pelo aumento de sabedoria proporcionado pela curiosidade saudável. Escreva tudo no papel (evita se perder em devaneios e incompletude de tarefa) e depois ponha a mão na massa, de preferência colocando datas e metas palpáveis.

O mistério das escolhas amorosas

Quando somos pequenos, os pais nos levam a criar figuras internas de homens e mulheres que motivarão, em boa parte, a atração que sentimos por alguém. As imagens nascem, de início, do tipo de relação que temos com a mãe. Isso talvez explique por que há homens que se casam com tiranas. Mas não basta para entender, pois em amor nada é garantido.
O belo poema Amor, de Carlos Drummond de Andrade (1902 1987)), toca na incógnita da atração que sentimos por uma determinada pessoa, enquanto outra, talvez muito interessante, nada nos desperta. O poeta escreve: “São dois em um: amor sublime selo/ que à vida imprime cor, graça e sentido./ O ser busca outro ser, e ao conhecê-lo,/ acha a razão de ser já dividido.”
Um poeta tem grande sensibilidade para falar de amor. A psicologia, embora de outra maneira, também é sensível ao assunto, e utiliza-se da análise para perceber o que motiva as escolhas amorosas. De início convém observar que apaixonar-se, ter um par, um companheiro é desejo quase unânime. Poucos querem ficar sós. Mesmo antes da adolescência, na puberdade, crianças já buscam namoradinhos; paqueram brincando. Não ser escolhido, ser rejeitado é o pavor de todos.
Mas não se limita a um belo corpo, roupas de grife, ser esportista ou intelectual, o que vai determinar se uma pessoa é mais ou menos atraente. Existem fatores internos, emoções, sentimentos e os famosos complexos, com maior poder sobre essas escolhas do que podemos sequer pensar.
Carl Gustav Jung ( 1875 -1961), renomado psiquiatra suíço, disse que somos todos psicologicamente andróginos. Muitas tradições e mitos trazem a idéia de que o homem original era masculino e feminino. Eva foi criada a partir de uma costela de Adão, que portanto já trazia o feminino dentro de si.
O filósofo grego Platão ( 427-347 A. C) nos conta um mito no qual se diz que os seres originais eram redondos, com quatro braços, quatro pernas e duas faces. Esses seres eram maravilhosos e completos. Os deuses, invejosos, os cortaram em duas metades, a masculina e a feminina. Desde então as metades ficam se procurando; quando se encontram têm um sentimento tão grande de união, de completude, que não querem separar-se nunca mais. E temoem que os deuses, novamente com inveja, os separem.
Para Jung , todo homem tem um lado feminino interno que ele chamou de anima (alma em latim); e toda mulher tem um lado interno masculino, animus (espírito). A anima e o animus. segundo o psiquiatra, é que se responsabilizam pela atração que sentimos por uma pessoa determinada. São figuras internas, fundamentais para realizarmos nossas escolhas amorosas. Elas se formam em nossa imaginação, primeiramente nas relações com a mãe; depois, com o pai, parentes, professoras, amigos. Nossa imagem interna será projetada no parceiro. Se encontramos alguém que se parece com nossa figura interna, temos a tendência de sentir atração por ela. Por isso é tão importante o relacionamento da criança com os pais.
Neste artigo comentarei apenas a relação mãe-filho.
* A mãe tem de ser bastante boa, acolhedora, amorosa, para que o filho se sinta amado, valorizado. O pequeno interpreta assim o comportamento materno: “Se minha mãe me ama, é porque sou bom, bonito”. A auto-estima se forma a partir desse contato. Se a mãe for negativa, destruidora ou agressiva, a criança vai achar de si mesma que não é suficientemente boa.
* Um menino que foi abandonado pela mãe formará uma imagem interna feminina negativa e terá a tendência de se apaixonar por pessoas que o rejeitam, traem ou agridem, repetindo o modelo inicial de sua vida.
* Se a mãe exagerar nos cuidados e mimá-lo em excesso, também poderá causar males. O filho ficará preso a ela, sem coragem de enfrentar o mundo; e, o que é pior, lhe faltará capacidade de amar. Nenhuma mulher poderá competir com a mãe perfeita. Provavelmente será machista, inseguro e imaturo.
Depois de tudo isso, é preciso destacar o seguinte: não há garantia nenhuma em questões amorosas, mesmo que a mãe tenha sido ótima. Mas o carinho e o bom senso nas relações com os filhos ajudarão a formar pessoas saudáveis que terão capacidade de se relacionar de maneira digna e amorosa com o parceiro. Para voltar a Drummond: “Amor, sublime selo, que à vida imprime cor, graça e sentido.”


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