webmaster@boaspraticasfarmaceuticas.com.br

3.06.2014

Cura de bebê com aids nos EUA

A revelação da segunda criança livre do vírus HIV foi feita durante conferência no país. Outros dois estudos divulgados no evento indicam novos caminhos para prevenir a doença em todo o mundo

A pesquisadora Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins, coordenou o estudo
A pesquisadora Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, envolvida nos dois casos de possível cura de HIV em recém-nascidos (Universidade Johns Hopkins)
Cientistas americanos anunciaram nesta quarta-feira que um bebê nascido com HIV pode ter sido curado. Ele seria o segundo recém-nascido a livrar-se da doença por ter recebido altas doses de um coquetel antirretroviral poucas horas após o nascimento. 
No início do ano passado, cientistas revelaram que um bebê nascido no Mississipi, nos Estados Unidos, foi tratado com doses elevadas da medicação assim que nasceu e seguiu com o tratamento por 18 meses. Exames feitos depois disso não detectaram quantidades significativas do vírus na criança, que estava com dois anos e meio. Ela teria passado pelo que os médicos chamam de “cura funcional”, quando a presença do vírus é tão reduzida que o sistema imunológico é capaz de controlá-lo sem a ajuda de medicamentos. No entanto, os cientistas ainda estavam céticos a respeito desse tipo de cura e tinham dúvidas se o tratamento funcionaria em outros recém-nascidos. 
Os pediatras do Hospital Infantil Milller, na Califórnia, Estados Unidos, onde o segundo bebê nasceu, tinham visto o sucesso do tratamento da primeira criança e tentaram reproduzi-lo. Nove horas após o nascimento, deram ao bebê um coquetel de AZT, 3TC e nevirapine, usado para o tratamento de crianças mais velhas. 
As recomendações médicas sugerem que se administrem doses profiláticas de um ou dois antirretrovirais durante as primeiras seis semanas de vida em crianças com risco de desenvolver a doença – ou seja, nascidos de mães soropositivas que não receberam o tratamento adequado. Apenas depois de receberam o diagnóstico da doença, normalmente entre um e quatro meses de idade, elas passam a tomar o coquetel de três antirretrovirais. 
Leia também: 
HIV: tratamento precoce pode ter promovido a cura funcional em recém-nascido
O homem que derrotou a aids

Resultado - Hoje com nove meses, mesmo os testes mais sensíveis não detectam o vírus da aids no corpo da criança da Califórnia. Ele é filho de uma mãe que, apesar de ter recebido prescrições de medicamentos que protegeriam o filho da doença, não os tomou. Poucas horas depois do nascimento, o vírus foi encontrado no bebê. “Dizemos que ele está revertido para HIV negativo, porque ele ainda está em tratamento”, afirmou ao jornal The New York Times Deborah Persaud, virologista do Centro Infantil da Universidade Johns Hopkins, envolvida no tratamento dos dois bebês. Os cientistas são cautelosos em afirmar que a criança foi curada, mas têm a esperança de que ela não desenvolva a doença, como a criança de Mississipi, que hoje tem 3 anos e parece livre do vírus.
Novas perspectivas – A revelação foi feita em uma conferência sobre aids em Boston, nos Estados Unidos, que reúne os principais pesquisadores da doença do mundo. Os cientistas também afirmaram que um estudo financiado pelo governo americano irá submeter a testes cinquenta bebês dos Estados Unidos e de outros países. Eles irão receber a medicação agressiva após o nascimento e vão parar de usá-la após certo período. Se, depois desse tempo, for confirmado que a infecção não está ativa, isso provavelmente irá mudar a forma como é feito o tratamento em recém-nascidos diagnosticados com o vírus da aids.
As Nações Unidas estimam que mais de 3 milhões de crianças em todo o mundo vivam com a aids. No entanto, nos Estados Unidos, assim como no Brasil, poucas crianças nascem com a doença, pois as mães soropositivas costumam receber tratamento com medicamentos que protegem a criança do vírus. 
Prevenção da aids – Além da revelação da possível cura, dois estudos divulgados durante a conferência também mostraram evidências de que a doença poderá ser evitada de maneira mais eficaz. Eles demonstram como injeções mensais de antirretrovirais protegem macacos por várias semanas, após a infecção pelo HIV. Se os testes forem eficazes também em humanos, essa pode ser uma descoberta que ajudará prevenir a doença em todo o mundo. 
Na última década, testes clínicos demonstraram que ingerir pequenas doses diárias de antirretrovirais reduz em mais de 90% o risco de infecção pelo vírus da aids. Os médicos normalmente receitam essa medicação a pessoas de grupos de alto risco, como casais em que um dos parceiros é soropositivo ou prostitutas. O objetivo é dificultar a proliferação do vírus e reduzir as chances de a doença se desenvolver. No entanto, muitos não conseguem tomar o remédio todos os dias, reduzindo substancialmente sua eficácia. Uma injeção que funcione durante semanas ou meses poderia solucionar esse problema.
Foi o que mostraram as duas pesquisas, desenvolvidas nos Estados Unidos. Em uma delas, publicada na revista Science e realizada pela Universidade Rockfeller, nos Estados Unidos, os cientistas injetaram em dezesseis macacos uma medicação experimental chamada GSK774, desenvolvida pelo laboratório GlaxoSmithKline. Ela é a versão de longa duração de um antirretroviral aprovado pelo órgão regulatório americano Food and Drug Administration (FDA). Semanalmente, durante dois meses, os animais receberam doses do vírus, simulando a contaminação pela aids. Protegidos pelas injeções, nenhum deles desenvolveu a doença.
Leia também:
Vacina brasileira anti-HIV é testada com sucesso em macacos
EUA aprovam Truvada, 1ª. Pílula de prevenção ao vírus da aids 

O mesmo medicamento foi usado no estudo realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês). Seis macacos receberam as doses e, duas vezes por semana, por dois meses e meio, foram expostos ao vírus. Todos ficaram livres da aids.
Ação em humanos – Os pesquisadores pretendem começar os experimentos clínicos em humanos com a nova medicação até o fim deste ano. O primeiro grupo a participar dos testes será composto de 175 pessoas do Brasil, Estados Unidos, África do Sul e Malauí. No entanto, eles podem levar até três anos para comprovar que o antirretroviral de longa duração tem a mesma eficácia em nós que em macacos.
(Com AFP e Estadão Conteúdo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário