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7.24.2014

O LIMITE DA SINCERIDADE



            Admiro pessoas sinceras. A sinceridade é, realmente, algo muito louvável em um mundo de tanta sem-vergonhice, de tantas mentiras, maldades, violências e enganações. Mas, a meu ver, tudo que é cultuado em excesso é prejudicial, por melhor que pareça. Tudo tem limite. Até a sinceridade, algo tão maravilhoso e perfeitinho, tem limite.
            Ser franco é uma coisa muito bonita, sem dúvida, quando é usada para evitar que alguém seja feito de bobo, para não passar por mentiroso, para abrir os olhos de quem merece um empurrãozinho para perceber certas coisas. Nesse caso, é questão de lealdade. Mas tem gente que não mede as consequências de sua sinceridade. Puxa, será que dá pra ter ataques de sinceridade apenas quando é conveniente?
            Claro que não estou defendendo a mentira, mas não acho necessário ser sincero ao dizer o quanto alguém engordou, quando se sabe que aquela pessoa está malhando desesperadamente e se alimentando mediocremente em prol de sua saúde. Você não precisa dizer a uma amiga que reparou nas unhas descascadas dela e que acha isso um relaxamento. (Afinal, nem se sabe como foi a semana dela para julgar isso como falta de vaidade. Vai ver, vontade de se ajeitar não faltou, mas podem ter faltado outras coisas.) Não precisa dizer “oh, você estragou seu cabelo!” quando alguém chega super feliz achando que vai agradar com seu visual novo. A não ser que essa pessoa pergunte, e que ela demonstre estar pronta para ouvir uma opinião sinceramente negativa.


            Não precisa mentir para as pessoas. E nem se deve fazer isso, de forma alguma. Mas meter o nariz onde não se é chamado, emitindo uma opinião negativa que não foi solicitada, apenas para tentar se fazer presente, fingir para os outros que se sente mais importante, sem pensar se vai chatear o outro ou não, é, muitíssimo sinceramente, coisa de gente pequena. Temos o direito e o dever de sermos sinceros, desde que, para isso, não tenhamos feito com que ninguém se sinta um lixo. Para isso existem os eufemismos.
            Temos o direito de nos irritar com uma pessoa que está com a saúde abalada por causa, por exemplo, da obesidade, e continua comendo compulsivamente. Mas ninguém tem o direito de julgá-la e humilhá-la por isso. Temos, sem dúvida, o direito de achar que alguém não ficou bem com determinada roupa, mas, se esse indivíduo está se sentindo bem assim, nós evidentemente não temos o direito de estragar o bem-estar alheio. Temos o direito de achar o outro feio, gordo, cafona, ridículo, mal vestido, desarrumado e o raio que o parta. Mas dizer isso só pra se sentir formador de opinião e melhorar a própria autoestima às custas da de outrem, é mesquinhez. É importante dizer o que se pensa, e isso é incontestável, para que possamos ter relações decentes com as pessoas que nos cercam. Mas nem tudo o que pensamos deve ou pode ser dito.
            Porque a sinceridade é uma das características mais admiradas pelos seres humanos. Mas quem sente a sinceridade destruidora de pessoas fúteis e vazias sabe que tudo, em excesso, tem um lado ruim. Talvez esteja aí a linha tênue entre a sinceridade necessária e a estupidez controladora. Uma coisa é ser crítico. Outra é ser inconveniente.

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