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11.10.2014

"Evangelho" perdido diz que Jesus se casou e teve 2 filhos

Manuscrito de mil anos conta que Maria Madalena teria sido a mulher do Messias


Maria Madalena teria sido mulher de Jesus, segundo manuscrito traduzido
Foto: The Mirror UK / Reprodução
Jesus não morreu solteiro.  Pelo menos é o que afirma um novo “Evangelho” escrito há mil anos em aramaico e traduzido recentemente por dois estudiosos, Barrie Wilsion e Simcha Jacobovici, que conta que o Messias teria se casado com Maria Madalena e tido dois filhos. As informações são do The Mirror UK. 
Os detalhes do novo livro, descoberto na Biblioteca Britânica, serão revelados em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira. Mas, segundo os especialistas, o manuscrito afirma que Jesus se casou com Maria Madalena, que aparece em todos os outros Evangelhos da Bíblia, especialmente em momentos importantes da vida de Cristo, como em sua ressurreição.
Ela teria tido dois filhos com ele. E, ao que tudo indica, o novo “Evangelho” cita o nome dos supostos descendentes.
Em alguns livros, como em Lucas, Maria Madalena é descrita como “pecadora”, sendo associada à prostituição.

Jesus teria se casado com Maria Madalena, afirma livro

A obra foi baseada em um manuscrito da Biblioteca Britânica, que data do século VI e é conhecido há quase 200 anos

Pintura de Jesus Cristo, de Rembrandt
Pintura de Jesus Cristo, de Rembrandt: sinopse descreve o livro como "história de detetive histórica" (Reprodução/VEJA)
Jesus teria se casado com Maria Madalena e tido dois filhos com ela. Essa teoria será defendida por um livro que será lançado ainda neste mês, baseado em um manuscrito encontrado na Biblioteca Britânica, afirma o jornal The Sunday Times.
A obra — que lembra trabalhos de ficção como O Código da Vinci, do escritor americano Dan Brown, e A Última Tentação de Cristo, do grego Nikos Kazantzakis — tem como autores Simcha Jacobovici, escritor e cineasta especializado em história antiga e investigações arqueológicas, e Barrie Wilson, professor de estudos da religião da Universidade York, no Canadá.
De acordo com o The Sunday Times, o livro The Lost Gospel (O Evangelho Perdido, em tradução livre) trará detalhes até então desconhecidos da vida de Jesus quando ele tinha vinte anos. Também serão abordadas supostas ligações de Jesus com figuras políticas importantes do Império Romano, como o imperador Tibério.
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O livro se baseia em um manuscrito conhecido como A História Eclesiástica de Zacharias Rhetor (de Mitilene), que esteve no Museu Britânico desde 1847, até ser transferido para a Biblioteca Britânica há cerca de duas décadas. A sinopse fornecida pela editora descreve a obra como uma "história de detetive histórica", uma ficção que traz a primeira tradução para o inglês do manuscrito redescoberto na Biblioteca Britânica. De acordo com Barrie Wilson em seu site, o texto está escrito em siríaco — um dialeto do aramaico — e "data do século VI, mas foi traduzido de um manuscrito grego muito mais antigo". “Os estudiosos têm conhecimento disso há quase 200 anos, mas ainda não sabem o que fazer com ele”, afirma Wilson. A Biblioteca Britânica não quis comentar as conclusões do livro.
Outras menções — As teorias que defendem o casamento de Maria Madalena com Jesus têm origem em uma passagem do Evangelho de Felipe, um dos livros apócrifos (que foram deixados de lado pela tradição católica), no qual os dois personagens aparecem se beijando.
Em 2012, a descoberta de um papiro que mencionava a “esposa de Jesus” reascendeu a discussão. Embora o documento tenha sido considerado falso pelo jornal L'Osservatore Romano, publicação oficial do Vaticano, cientistas da Universidade Columbia, da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) publicaram neste ano um estudo que descarta a possibilidade de falsificação. Não há no papiro nenhuma indicação do nome da "esposa de Jesus".

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Os autores dos Evangelhos conheceram Jesus?

A maior parte dos historiadores concorda que nenhum dos evangelistas foi testemunha ocular da vida de Jesus. Os Evangelhos, na verdade, faziam parte de uma grande variedade de textos que circulavam nos primeiros séculos depois de Cristo e representavam o que algumas das comunidades cristãs pensavam (os Evangelhos que foram deixados de lado pela tradição católica se tornaram conhecidos como apócrifos).
 
Os textos têm autoria anônima, e os pesquisadores possuem poucas informações sobre sua exata origem geográfica. O que se sabe é que eles foram criados a partir de relatos, memórias, tradições e textos mais antigos, que circulavam entre as primeiras comunidades cristãs. Eles teriam sido escritos entre o ano 60 e o 120, e só no século II é que seus autores foram atribuídos — o primeiro Evangelho a Marcos, e o último a João.

Com o passar dos séculos — e com a ortodoxia cristã tendo relações cada vez mais próximas ao Império Romano — surgiu a preocupação de delimitar exatamente quais os textos que guardavam a memória verdadeira sobre Jesus. Por volta do século IV, depois de sérias disputas teológicas, a Igreja finalmente escolheu quais haviam sido inspirados por Deus — criando o cânone do Novo Testamento. "Decidiu-se assim quais textos seria destruídos e quais preservados, e quais tradições cristãs seriam perseguidas e quais aceitas pela Igreja", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros "Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução" e "Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos" (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.

Dentre os textos do Novo Testamento, aqueles que os historiadores atribuem, de fato, a alguém que conviveu com Jesus são as encíclicas escritas por Paulo — pelo menos sete delas teriam sido ditadas pelo apóstolo. "Na forma como o Novo Testamento está organizado, os quatro Evangelhos aparecem antes dos textos de Paulo. No entanto, as encíclicas foram escritas primeiro. O pesquisador tem de começar a ler por elas — assim fica mais fácil entender a evolução das primeiras comunidades cristãs."

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