webmaster@boaspraticasfarmaceuticas.com.br

1.29.2015

Pitanguy: o sol nunca se põe.

No ano passado, 2014, o escritor Ivo Pitanguy publicou Viver Vale a Pena. que abre com uma frase instigante: envelhecer eh um privilegio para poucos...

Mas o passado para esse viajante de longo curso, nao é o que passou. É o que ficou do que passou, como disse o Alceu Amoroso Lima.

Uma noite com Sartre em Paris, drinques no Régine’s, com Alain Delon. Uma dança com Romy Schneider no Maxim’s. Jantares com Gina Lollobrigida em Roma (que pintou um retrato seu que ele expõe no salão verde de sua casa, na Gávea) e temporadas de esqui com Roman Polanski, na Suíça.



Ah, sim, além do quadro pintado pela Gina há um outro, "vizinho". Uma tela autografada “avec amitié”, por Salvador Dalí.

Sem contar a histórica hospedagem no Palácio Imperial de Teerã, para operar a Farah Diba. Mas essa é uma história tão extraordinária que só lendo este livro dele. Ou um futuro blog meu!



Aos 91 anos (92 este ano), Ivo Pitanguy passa em revista essas memória, mas sem nostalgia. Ele é do tipo que considera o passado um "back-up", para o caso de falhar o presente!

Corta (com trocadilho): de 2005 a 2010 eu era um dos coordenadores das atividades culturais da Casa do Jornal do Brasil, durante a FLIP, em Paraty.

E em julho de 2009, o tema era a presença França-Brasil nas letras, fotografia ,cinema, estética (moda, cosmética) etc. Montamos, inclusive, um painel interessante de valores correspondentes: Pão de Açúcar, Torre Eiffel; Sena, Guanabara; Brigitte, Sonia Braga, e por aí.

Convidado de honra: Ivo Pitanguy.

A sala repleta, gente pelo chão bem ao estilo Paraty na feira do livro (me lembro da Maitê Proença esticada embaixo do vão da escada) e de repente entra “o homem”.
De preto, como gosta, baixo e atlético, um sorriso-leve e permanente; chega e senta-se num banquinho alto, ao meu lado.

Eu olhei em volta, gente, gente, e pensei: bem, não vou “deixar barato”.

E atirei:

-- Mestre Ivo, o que é a feiura?

Três segundo de silêncio, um pouco de surpresa, um pouco de reprovação no sentido de que as pessoas gostam “do a favor” em favor das celebridades (quem gosta de desmanchar prazer é repórter!).

Mas ele, certeiro como um mergulho de gaivota, não se faz de rogado.

– O sapo acha a (sua) sapa… bonita .

Mais três segundos de silêncio e a plateia veio abaixo. Os aplausos saíram pela porta e rolavam pelos pés-de-moleques que ajudavam os escravos a escapar da cavalhada portuguesa…

Assim é esse mineiro-carioca-angrense-polinacional e que independente da idade é (desde há muito) multimídia, multinacional mas, sobretudo, universal.

(Segundo o Afonso Arinos no livro-aliteração “Amor a Roma”– lê-se igual de trás pra frente — – é a diferença de Roma para N. York)

Hoje, ele talvez seja o brasileiro mais célebre no exterior (jogador, rapper e atleta não valem), primeiro, porque a sua marca é a cirurgia plástica, num mundo de superegos, egotrips, selfies, ou seja: milhares de narcisos que já levam consigo o seu próprio espelho!

É o patrono certo.

Segundo, porque dentro da sua especialidade plástica, se destacam ainda a da plástica reparadora, serviço cirúrgico que ele criou na Santa Casa em 1954, e que agrega à sua legião de fãs uma legião de prejudicados (nascimento ou acidentes) que, graças a ele, levam vida normal. Além da cirurgia das mãos, técnica da qual é também pioneiro. E cujo ambulatório devolveu ao trabalho e ao amor milhares de mãos decepadas.

Mas esse é o médico. Que malgrado uma vida social intensa, criou técnicas de cirurgia plástica que hoje são consideradas clássicas, transformando-o na maior referência planetária da área. E que formou quase 600 médicos na especialidade, ministrou 1000 cursos, publicou 1000 trabalhos, fez mil viagens.

Há, também, o acadêmico, desde 1990.

Virtù e fortuna, como diria o Nicolau Maquiavel.

O terceiro Pitanguy, o que mais admiro, HOJE, no entanto, é a síntese do “homme du monde” — que fala e bem em cinco idiomas, porque lê igualmente (a leitura estende o entendimento da “cultura das línguas”, que é o diferencial do verdadeiro poliglota porque abrange, como propunha o Lacan, o significado e o significante), mas que se precisasse se comunicar com dez marcianos, se comunicaria com os olhos e com as mãos como um clone do Marcel Marceau — é um homem simplificado, Ulisses de retorno ao Pireu, que adora a sua casa na Gávea, a sua piscina, os seus livros.

Ou o seu paraíso marinho, em Angra, na Ilha dos Porcos, cercado de natureza, peixes, capivaras, pavões e araras.

O que não exclui o conversador inesgotável, urbano, gourmet, o apreciador de bons vinhos e champagnes, de quadros e de livros, que serve aos amigos -- entre os quais temos o privilégio de nos incluir, a minha mulher e eu, e não só dele como do filho Helcius, o mais dinâmico operador de relacionamento dos cinco continentes!



Ah, como dá prazer vê-lo apreciar cada raridade que oferece com prazer (“he seems so please to please them… ” Caetano, em London, London) quando a circunstância se oferece, em sua bela mesa de jantar, ou no Country, ou de calção, na sua ilha em Angra, só que em vez de apontar para um Margaux mostrar uma arara,
um pavão e, o que é mais assombroso, sem perder a paixão do/pelo convívio com todos as escalas da natureza: os humanos, os bichos, as plantas, as águas, as nuvens…

Por isso, ao se despedir de nós depois do simpático jantar que nos ofereceu e voltar em passos cadenciados para os seus aposentos para um rápido sono — o homem acorda muito cedo e vai nadar e ler — lembrei-me da espetacular saudação de Neruda ao prefaciar um álbum de Picasso: há pessoas dentro das quais o Sol nunca se põe.

E Pitanguy é uma delas.

Comentários

Reinaldo Paes Barreto enviou em 26/01/2015 as 14:08:
Meu caro Reinaldo, Somente um gentleman como você reconhece o momento em que os corações se encontram a procura de paz e amizade. Suas palavras me encantaram como sempre. Obrigado. Receba um abraço do amigo, Ivo
Reinaldo enviou em 26/01/2015 as 17:32:
Ver mais 11 comentários
Mariella Affonseca Amigo Reinaldo, não sei o que ficou mais atraente: o grande Pitanguy ou o seu texto maravilhoso? Bjs
22 de janeiro às 16:48 · Editado · Curtir
Carlos Alexandre Sá No Country tinha um massagista alemão - o Walter - com quem o Pitanguy fazia massagem só para praticar o alemão.
23 de janeiro às 02:00 · Curtir
Romeu Valadares quando crescer quero escrever assim... Sir Reinaldo Paes Barreto!! O Dr. Ivo encarna nosso sonho de um país digno e altivo, viva!
Maravilhoso depoimento de Reinaldo Paes Barreto, de onde emerge, encantadora, a imagem de Ivo Pitanguy, na gloria de seus 91 anos

Nenhum comentário:

Postar um comentário