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4.27.2015

Por que os conselhos sobre alimentação mudam tanto?



Pesquisas nem sempre são confiáveis e nutricionista detona 

Faz bem ou faz mal?

F

Por que os conselhos sobre alimentação mudam tanto? Se comer ovos, não coma carne magra. Mas não era o contrário?
Quando recentemente o Conselho de Orientação de Dieta dos Estados Unidos (Dietary Guidelines Advisory Committee, DGAC, na sigla em inglês) desistiu da recomendação de restringir o consumo de alimentos ricos em colesterol, como os ovos, ou de reduzir o consumo de gorduras saturadas – para isso aconselhavam comer carne vermelha – ele contradisse uma recomendação tradicional adotada há anos e algo que era tomado como evidência científica.
"Apesar dos dados que relacionam a carne vermelha processada ao câncer de cólon, também há uma evidência que sustenta o contrário", disse a vice-presidente de assuntos científicos do Instituto de Carne dos Estados Unidos, Betsy Booren, à mídia local.Tanto que a ideia se tornou uma "crença" arraigada na cabeça dos consumidores e foi tomada como base por toda a indústria para alimentos com baixos teores de gordura e colesterol. Com a mudança da recomendação, os negócios afetados negativamente logo se revoltaram.
"Os cientistas erraram antes? Que garantia temos de que, desta vez, estão certos? Qual conselho devemos seguir? Por que parece que eles não conseguem entrar em um acordo?", questionou.
Veja por exemplo o que já foi dito sobre os ovos:
2010: Fazem mal. Só se deve comer um ou no máximo dois ao dia (recomendações do DGAC).
2011: Fazem bem. "Não aumentam o risco de doenças do coração" (Publicação científica europeia de nutrição médica – European Journal of Medical Nutrition).
2012: Fazem mal. "As gemas são tão prejudiciais ao coração como fumar" (revista Artherosclerosis).
2013: Fazem bem. "Não há relação entre o consumo de um ovo por dia e o aumento do risco de problemas cardiovasculares" (Publicação científica britânica - British Medical Journal).


Cientistas alertam para estudos 'pouco confiáveis' sobre alimentação
Getty Images
Cientistas alertam para estudos 'pouco confiáveis' 
sobre alimentação

Dificuldades
"Estamos diante de uma investigação contínua", explica à BBC
 Giuseppe Russolillo, diretor da Conferência Mundial de 
Nutricionistas e presidente da Fundação Espanhola de 
Nutricionistas (FEDN).
Em outras palavras, e como define Duane Mellor, professor
 de nutrição da Universidade de Nottingham, no norte da Inglaterra,
 conforme se adquire mais conhecimento, a ciência se refina, 
"e algumas coisas que acreditávamos ser definitivas o deixam de ser."
"Mas nós, cientistas e nutricionistas, temos de trabalhar 
melhor em como comunicamos a mudança, para que o público
 não fique confuso. E não somos muito bons nisso", admite.
No entanto, os especialistas concordam que nem todos os
 trabalhos que são publicados têm bases sólidas e admitem
 que muitas vezes eles, por si só, não fornecem fortes evidências. 
E parte do problema está no quão difícil é conseguir provas 
científicas aleatórias e controladas quando se trata de 
alimentação humana.
"Infelizmente, estudos aleatórios controlados são complicados.
 Fazem parte de um quebra-cabeças que temos que resolver", 
Rusolillo aponta que estes estudos são custosos e que não 
são suficientes.
"O que tem força mesmo são as meta-análises de estudos 
científicos controlados. Ou seja, o estudo de um número 
significativo de estudos científicos sobre uma pergunta específica", 

'Prostituição profissional'
A nutricionista independente Anna Daniels tem a impressão de que, 
ao menos no Reino Unido, "as recomendações não mudam de maneira 
frequente por nada"."Dá a impressão de que sim, e isso se deve ao 
fato de a mídia reproduzir certos estudos que surgem com evidências 
contraditórias, que podem não ser confiáveis o suficiente", diz.
A pergunta é: por que há tantos deles? E a resposta nos 
devolve à batalha que acontece nos Estados Unidos entre 
a indústria da carne e as autoridades encarregadas de 
formular as políticas públicas: existe uma linha tênue entre 
a ciência e as empresas de alimentos.
 Veja abaixo alguns alimentos que, incluídos na rotina
 alimentar, podem ajudar a proteger do câncer
Abacate: rico em ácidos-graxos poli-insaturados e em vitaminas do grupo B, essenciais no combate ao câncer . Foto: Getty Images
A abobrinha é rica em carotenoides, substâncias potentes contra o câncer. Foto: Getty Images
O agrião contém compostos índoles, conhecidos por sua capacidade anticancerígena. Foto: Getty Images
A alcachofra contém inulina, um prebiótico importante contra o aparecimento de câncer do trato gastronintestinal. Foto: Getty Images
O alho é rico em compostos sulfurados, que inibe o metabolismo da célula cancerosa. Foto: Getty Images
Composto em sua maioria de ácidos-graxos, o azeite é rico em ômega-3, importante antioxidante e, por isso, anticancerígeno. Foto: Getty Images
x. Foto: Getty Images
Além de ácidos-graxos, a azeitona verde contém ácidos fenólicos, poderosos antioxidantes. Foto: Getty Images
A beterraba contém antocianinas, um flavonoide antioxidante e anticancerígeno . Foto: Getty Images
O brócolis tem folato, que tem propriedade anticancerígena. Foto: Getty Images
A cebola branca contém selênio, rico em antioxidantes e, portanto, anticancerígeno. Foto: Getty Images
A uva contém polifenóis, entre eles o resveratrol, que protege as células dos danos oxidativos causados pelos radicais livres. Foto: Getty Images
A semente de girassol é rica em proteína e fibra, essa última um poderoso anticancerígeno. Foto: Getty Images
A salsa é rica em vitamina C e cálcio, que evitam a proliferação dos radicais livres . Foto: Getty Images
O tofu contém fitoestrogênios, que interferem no crescimento do câncer, principalmente o de mama. Foto: Getty Images
A rúcula é uma ótima fonte de quercetina e carotenoides, poderosos antioxidantes e anticancerígenos. Foto: Getty Images
A romã contém elagitaninos, poderosos antioxidantes - logo, um anticancerígeno natural. Foto: Getty Images
A quinoa, grão originário dos andes e rico em proteínas, contém também fibras insolúveis, que protegem contra o câncer. Foto: Getty Images
Pimentão tem bioflavonoides, agentes antioxidantes . Foto: Getty Images
A pimenta contém piperina, substância com ação anti-inflamatória, que inibe o crescimento do câncer. Foto: Thinkstock
A melancia tem licopeno, um antioxidante que pode reduzir o risco de câncer. Foto: Getty Images
O pão integral é rico em fibras, capazes de diminuir as chances de desenvolver câncer de intestino. Foto: Thinkstock/Getty Images
O mel é rico em enzimas antioxidantes, potentes contra o câncer. Foto: Getty Images
O kiwi tem luteína, substância com propriedades antioxidantes e, portanto, anticancerígena. Foto: Getty Images
A maçã contém quercetina, um flavonóide potente contra o câncer. Foto: Getty Images
A lentilha é uma ótima fonte de proteína vegetal e um poderoso anticancerígeno. Foto: Getty Images
Além de antisséptico, a menta é uma ótima fonte de antioxidantes. Foto: Getty Images
As nozes contêm ômega-3. Esse ácido-graxo é eficaz na proteção contra o câncer . Foto: Getty Images
O ovo é rico em zeaxantina e luteína, dois importantes antioxidantes, que evitam a doença. Foto: Thinkstock/Getty Images
O gengibre tem um alto teor de vitamina C, que é capaz de levar as células cancerígenas à morte. Foto: Getty Images
A cúrcuma contém curcumina, substância anti-inflamatória e antioxidante. Foto: Getty Images
A couve-flor é rica em compostos índoles, que protege contra o surgimento de câncer, principalmente de mama. Foto: Getty Images
Assim como a couve-flor, a couve-manteiga contém compostos índoles, que protegem contra o câncer. Foto: Getty Images
O chá verde contém epigalocatequina, um composto semelhante aos flavonóides, que ajuda na prevenção do câncer . Foto: Getty Images







Abacate: rico em ácidos-graxos poli-insaturados e em vitaminas 
do grupo B, essenciais no combate ao câncer . 
Foto: Getty Images
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"Enfrentamos aquilo que chamamos de 'prostituição profissional': 
sociedades médicas que não trabalham com base da evidência 
científica e que, com conflitos de interesses, começam a dar 
recomendações à população", disse Russolillo.
"Não existe uma fórmula fácil de resolver esse problema. 
Os cientistas precisam trabalhar com a indústria de alimentos, 
porque eles fornecem os materiais para fazer os testes. Mas a 
relação deve ser transparente e explicada publicamente", 
disse Duane Mellor.
Assim, será que podemos comer ovos tranquilamente ou é 
melhor não? Quantos copos de vinho podemos tomar? 
A quem devemos dar ouvidos?
Abaixo, um guia com três passos para a boa alimentação, 
conforme nos disseram os especialistas:
Não se deixar levar apenas pelas manchetes dos jornais.
 "Se uma notícia diz de repente que certo alimento, a gordura 
saturada por exemplo, é bom pra saúde, não faça esforços 
conscientes para incorporá-lo à dieta. A probabilidade maior
 é que o estudo tenha limitações e que a recomendação
 não seja tão clara", diz Anna Daniles.
Recorra a especialistas. "Tem de tentar buscar informação 
junto a profissionais da nutrição – que são muitos -, 
às organizações… ainda que às vezes seja difícil dar 
uma resposta definitiva, porque não existem estudos 
de qualidade indubitável", pontua Giuseppe Russolillo.
Prefira o equilíbrio. "Em vez de focar nos alimentos, 
temos de olhar para os padrões da dieta. As refeições 
devem ser à base de vegetais, quantidades modestas
 de carnes, pão e cereais", aconselha Mellor

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