Por Larissa Alves
De repente toda a agonia do nunca mais dissipa-se no ar.Passou, finalmente passou.Toda a necessidade excessiva de um afeto inexistente não mais preenche as lacunas da carência que teimava em aborrecer os sentidos, o tato, a pele. Perde-se o brilho da lembrança,da saudade, das previsões sem rumo Perde-se a graça na espera que não chega a lugar nenhum, na espera que limita, desnutri e que nem chega a ser de fato uma esperança. A distância torna clara a falta de reciprocidade, de afeto, de carinho.E daí surge outra necessidade: A de outros carinhos. Não é mais necessária a presença de um toque frio, de um sentimento áspero que nem ao menos tem a preocupação de informar, ou até querer saber, se está tudo bem. O necessário agora vem com outro nome, desejo, vontade, e também sede.Vem com outra função: não mais se tem a descoberta, mas a cura.Vem então o descobrir de novo,e a vida mostrando que viver o oposto pode ser ainda mais revigorante do que se prender a uma única vertente. Porque a felicidade não precisa vir rotulada em frascos antigos. Alegria maior é descobrir no próprio presente uma nova forma de encarar os próprios sentimentos. Um turbilhão de novas experiências vêm preenchendo o peito e quando se vê lá está o coração pulsando estranho novamente. Taquicardia, saudade, suspiro, abraço apertado, desejo. De repente o corpo inteiro começa a repetir todos os movimentos que estiveram em coma .Os olhos começam a vibrar novamente, as mãos entrelaçam-se e as lábios selam toda e qualquer vontade que surge. Quando menos se espera lá estão de volta as incógnitas sobre qual roupa escolher, qual vinho pedir, qual casa dormir, qual presente dar. A solução dos anseios só vem quando se é permitido uma nova chance, um novo sorriso, uma nova companhia. Vem quando não mais há limitação de andar simplesmente sozinho...
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Vai passar, tu sabes que vai passar.
Por Caio Fernando Abreu
Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloquentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
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Vai passar, tu sabes que vai passar.
Por Caio Fernando Abreu
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