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6.15.2015

Pílula anticoncepcional completa 55 anos com avanços e poucos riscos à saúde




Priscila Capovilla cursava a faculdade e tinha 

20 anos quando ficou grávida da filha. 
A gestação não foi planejada. Por isso, pouco 
tempo depois do parto a jovem decidiu que não 
passaria por uma situação como aquela novamente 
e começou a tomar a pílula anticoncepcional. 
Após 20 anos, a analista de tecnologia da 
informação é uma entusiasta do método 
contraceptivo e garante que manterá o uso 
até que o desejo de ter um outro filho apareça.
“Tive minha filha, mas acabei não ficando
com o pai dela. Penso em ter mais filhos 
se me casar e tiver alguém para criá-lo 
comigo. Gostaria de er pelo menos mais 
um filho”, disse Priscila. “Acho ótima a 
possibilidade de planejar. A gente fica 
mais segura. Uma gravidez indesejada 
pode complicar muito a vida de uma 
pessoa.”, acrescentou.
A professora Carla Simone Castro,
41 anos, também fez uso da pílula
anticoncepcional, mas tem uma história
 bem diferente para contar. Após seis
utilizando a medicação, recomendada
por uma ginecologista, ela sentiu fortes
dores de cabeça seguidas de três
acidentes vasculares cerebrais. Como
sequela, Carla ficou 60 dias cega,
45 dias sem o movimento dos braços
e pernas e com a fala comprometida.
“Nunca tinha usado anticoncepcional.
A médica me indicou para diminuir as 
cólicas. Conversei muito sobre o risco 
de trombose que continha na bula, mas 
ela garantiu que, em 20 anos, não teve 
conhecimento de nenhum caso”, explicou.
 Carla enfrentou 67 dias de internação, 
sendo sete em uma unidade de terapia 
intensiva. Hoje, menos de um ano 
depois, ela precisa tomar remédio 
anticoagulante e tem fístulas no cérebro 
que podem se romper a qualquer momento.
Casos como o da professora, com mutação
genética e um risco aumentado para trombose,
 são raros, segundo a presidente da Comissão
Nacional de Anticoncepção da Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia, Marta Finotti. Ao comentar os
55 anos do surgimento da pílula
anticoncepcional, completados esta semana,
 ela lembrou que o medicamento evoluiu muito
e que os riscos para as pacientes já foram
bem maiores.
“Tivemos grandes mudanças, com uma
redução significativa das doses dos
componentes, principalmente do estrogêneo.
 Atualmente, temos uma grande variedade
 de pílulas, desde as hormonais combinadas
, com estrogêneo e progesterona, às pílulas
só com progesterona e com estrogêneo
natural no lugar do sintético. São avanços
 muito significativos na redução dos
efeitos adversos".
Para a ginecologista e integranteda Associação de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo, Cristina Benetti, a entrada da pílula anticoncepcional no mercado possibilitou às mulheres maior dedicação à vida profissional, liberdade de escolha e mudançasnos hábitos sexuais.
Ela ressaltou, entretanto, a importância 
da orientação médica especializada e 
de se fazer um histórico clínico cuidadoso
de cada paciente antes de prescrever o 
medicamento.
“Olhamos o histórico familiar, hábitos
 como tabagismo, características de
 obesidade, doenças associadas como
 hipertensão, diabetes e síndrome
metabólica. Com esse histórico clínico,
temos condição de avaliar se a paciente
 tem alguma contraindicação para a pílula.
 Não é necessário exames complementares
 para rastrear predisposição à trombofilia.
Não é custo efetivo e não é clinicamente
viável.”
A gerente-geral de Monitoramento de
Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), Maria Eugênia Cury, esclareceu
que, como a pílula anticoncepcional tem
como base hormônios com certo tipo de
risco, o medicamento é do tipo tarja vermelha
 e não tem venda livre no Brasil.
"Para que a mulher possa ter acesso aos
anticoncepcionais, é preciso passar por
avaliação do médico, afirmou. "O papel da
Anvisa é registrar o produto e fazer a análise.
 E a gente monitora. Temos um sistema para
 receber notificações de eventos adversos e
informativos e alertas com informações
sobre anticoncepcionais".
Socióloga e assessora do Centro
Feminista de Estudos e Assessoria
(Cfemea), Jolúzia Batista também                                                                        
avaliou a pílula como uma espécie
de revolução no comportamento
 feminino, sobretudo ao propor
a alternativa de relações sexuais
 livres, sem a imposição de um
relacionamento ou de um casamento.
“Mesmo assim, 55 anos depois,
ainda existe uma parcela de mulheres,
 a maioria da periferia e com baixa
escolaridade, que não tem acesso
à informação e nem ao
anticoncepcional. Conhecemos
mulheres que acham que o uso da
pílula não deve ser continuado e que
só tomam, por exemplo, no dia em que
vão ter relação sexual. Há um longo
caminho a percorrer para que a pílula
consiga cumprir o papel a que se propôs
 de contraceptivo”,
“Poderá uma pílula salvar a Humanidade?”.
Sua chegada às farmácias de todo o
mundo trouxe enorme expectativa, como
fica claro no título publicado pelo GLOBO em 10
de fevereiro de 1962, depois do seu lançamento
no mercado mundial. Nos EUA, isto ocorreu em
agosto de 1960 e, em seguida, no Brasil. Em cerca
de uma década, dez milhões de mulheres já consumiam
anticoncepcional. Hoje, estimam-se em cem milhões de
 usuárias de uma enorme diversidade de opções de
 contraceptivos hormonais. A grande expectativa
atualmente é com a pílula masculina.
As primeiras cartelas foram liberadas para mulheres
 que apresentassem receita médica e certidão de casamento
. Dos anos 1960 para cá, o impacto comportamental
que a pílula provocou foi enorme e, invariavelmente,
 ela vem associada a expressões como
 “revolução sexual” e “emancipação feminina”.
 Mas a preocupação brasileira à época de seu
 lançamento era, principalmente, o rápido
 crescimento populacional.
“Quantos filhos terá sua neta? A surpreendente
 resposta, se os entendidos estão certos, é
que ela terá tantos quantos lhe ordenarem que tenha.
 Esses cientistas atestam que drásticas restrições
à louca elevação numérica da humanidade virão,
 seja como for, dentro dos próximos cem anos”,
 diz a reportagem de 1962.
REJEIÇÃO HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA
Pelo menos essa “salvação” — controle
de natalidade — foi garantida. Associado
 a outros fatores além da pílula, os números
 de nascimentos caíram. Segundo o IBGE, em
 1960 as brasileiras tinham, em média, 6,3 filhos
 Em 1970, o número diminui para 5,8; e,
em 2007, chegou a 1,95.
— Houve redução, mas o impacto da pílula,
se fosse o carro-chefe de programas de
 planejamento familiar, poderia ser muito
maior no Brasil — comenta o ginecologista
Luiz Fernando Dale, da Clínica Dale, que
enfatiza a revolução provocada pelo medicamento.
 — A pílula trouxe uma liberdade que antigamente
 era exclusiva do homem. Ela trouxe igualdade
 na esfera sexual, isto foi fabuloso.




Uma década antes de começar a ser vendida,
 a pílula já ganhava uma inimiga histórica:
a Igreja Católica. A rejeição dos sacerdotes
ao método contraceptivo, que ainda se
 mantém, era tema frequente de discussão
. Em 17 de setembro de 1962, O GLOBO
 publicou o primeiro posicionamento
 oficial após o início das vendas, emitido
 pelo Papa Pio XII. Ele reafirmou as palavras
 de seu predecessor, Pio XI, que foi taxativo:
“Êsse atentado, que tem por fim impedir a
 procriação de uma nova existência, é imoral
e nenhuma ‘indicação’ ou necessidade pode
 transformar em ato moral e lícito uma ação
 intrinsecamente imoral”.
Além de debates morais, incertezas
 sempre permearam
 o uso do anticoncepcional. A principal
 delas é sobre sua
 segurança: “Essas pílulas parecem não
fazer mal, se tomadas mais ou menos por um ano.
 Caso, porém, se deseje um filho depois de essas
pílulas terem sido tomadas durante alguns anos,
poderá essa forma de prática anticoncepcional
prejudicar a criança?”, publicou O GLOBO no
dia 8 de maio de 1961.
Luiz Fernando Dale explica que elas são seguras,
 eficazes e que o mecanismo de ação da
pílula não mudou. Basicamente, ela age ao
 manter níveis constantes de progesterona e
 estrogênio, que inibem os hormônios LH e FSH
na hipófise (glândula no cérebro), impedindo, assim,
a ovulação. Elas, segundo Dale, avançaram, e a principal
evolução foi a redução da quantidade de
 hormônio despejado no organismo feminino,
hoje 30 vezes menor do que o das primeiras fórmulas,
o que reduziu os efeitos colaterais.
— Em mulheres sem fatores de risco, a única restrição que
existe de concreto é o fumo. A mulher deveria escolher
entre a pílula e o cigarro — afirma Dale, lembrando,
 no entanto, que um novo estudo deixou médicos atentos.
Publicada na revista “British Medical Journal”
 no mês passado, a pesquisa traz evidências
de que pílulas anticoncepcionais mais recentes
 têm mais risco de coágulos sanguíneos graves
(distúrbio do sistema circulatório conhecido
como tromboembolismo venoso).
— No momento, isto está balançando a
comunidade médica. Não é para abandonar
a pílula, mas estamos de olho. Mais estudos
precisam comprovar ou descartar esse dado 
Nos últimos anos, pesquisadores ao redor do
 mundo se empenham noutro grande desafio:
desenvolver um anticoncepcional para homens.
A tarefa está avançada, e um dos grupos que
 trabalham na meta, a Fundação Passemos, espera
 lançar o produto, hoje em fase de testes,
em 2017 no mercado americano.
O mecanismo consiste na aplicação de um gel nos
vasos deferentes, localizados nos testículos, que bloqueia
a passagem dos espermatozoides. Ele funciona por até
dez anos e pode ser revertido com a aplicação de uma
 injeção de bicarbonato de sódio no local.

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