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7.26.2015

Visão no recém-nascido

Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo








O que vê o recém-nascido?

Muitos pais consideram que os seus bebês com poucos dias de vida já os conseguem ver. “Parece que estão mesmo a olhar para nós”, dizem. No entanto, e apesar do bebê aprender a ver desde o nascimento, a complexidade da sua visão requer alguns esclarecimentos.
Toda a estrutura morfológica do aparelho visual está formada ao nascimento. “Antes de nascer, já existem impulsos visuais mesmo sem estímulo luminoso. São mediados por estímulos químicos, geneticamente determinados e são responsáveis pelo desenvolvimento das estruturas nervosas do aparelho visual, nomeadamente do corpo geniculado lateral e do córtex visual primário”, afirma o Dr. Augusto Magalhães, médico oftalmologista.
No entanto, a capacidade de focagem está pouco desenvolvida e não vai para além dos 30 cm. “É como se o recém-nascido fosse míope”, explica Augusto Magalhães. Esta capacidade de focar melhora rapidamente até aos 6 meses permitindo uma focagem até aos três metros.
As células nervosas da porção mais central da retina (fovea) sofrem melhorias importantes na sua organização e estrutura nos primeiros meses de vida.
O oftalmologista entrevistado pela Mãe Ideal garante que “o nervo óptico, que conduz a informação visual desde o olho até ao cérebro, melhora a sua velocidade de condução durante os dois primeiros anos de vida. Por sua vez, o córtex cerebral sofre uma grande evolução após o nascimento mercê dos estímulos visuais que recebe”.
Afinal, o que consegue ver o recém-nascido?

O recém-nascido vê formas desfocadas e distingue linhas de fronteira entre os objetos. “As imagens são manchas pretas e brancas e em tons de cinzento. Devido à imaturidade das células nervosas da retina e do córtex cerebral, a acuidade visual ao nascimento é muito baixa. Estima-se que seja correspondente a cerca de 0,5/10.
Por outro lado, as reações aos estímulos visuais são muito rudimentares: a localização espacial faz-se efetuando movimentos lentos da cabeça e dos olhos no sentido do estímulo visual”, explica Augusto Magalhães.
Apesar de alguns pais considerarem que o seu filho os está a ver, o que acontece com os comportamentos de um recém-nascido está relacionado com os reflexos que são mediados “por mecanismos sub corticais, ou seja, que não envolvem o córtex cerebral. O comportamento visual ao nascimento não foge a esta regra. Daí as reações rudimentares que apresentam aos estímulos visuais”.
No entanto, é sabido que a função visual evolui muito rapidamente nos primeiros dois a três meses de vida. “Por um lado as estruturas oculares sofrem rápidas melhorias funcionais e por outro lado ocorre uma rápida evolução no funcionamento do córtex visual que é provocado pelo estímulo visual”, afirma o médico oftalmologista.
Novas competências e capacidades

O estímulo visual permite que os vários módulos da visão se desenvolvam. Estes módulos incluem aspectos relacionados com o movimento, a orientação, a cor e a disparidade binocular. Adquiridas estas competências da responsabilidade do córtex visual, “o bebê começa a ter a capacidade de, por um lado, integrar todos estes aspectos de forma a conseguir formar a representação cerebral de um objeto e, por outro, segmentar esta informação para que esses objetos possam ser distinguidos do background e dos outros objetos”, esclarece Augusto Magalhães. A fixação e a atenção são posteriormente integradas no fenômeno visual. A capacidade de decidir pela fixação num determinado objeto ou porventura mudar essa fixação para um novo objeto representa uma nova competência mais complexa que exige um desenvolvimento cortical só adquirido pelos cinco, seis meses de idade. “Toda esta evolução está integrada num desenvolvimento global, que inclui a evolução dos aspectos motores. A atenção e a capacidade de fixar objetos permite, numa primeira fase, explorar o espaço visual de perto que culmina na capacidade de tocar e agarrar os objetos ao alcance da mão; numa segunda fase com a aquisição da capacidade de gatinhar e de andar, permite a exploração do espaço visual de longe”, refere o oftalmologista.
A acuidade visual e a capacidade de discriminar o contraste são o resultado final de todas estas competências visuais adquiridas durante os primeiros meses de vida.
Augusto Magalhães assinala que “se estima que a acuidade visual evolua de 0.5/10 ao nascimento para 2 ou 3/10 por volta do ano de idade. A acuidade visual do adulto só é atingida entre os 4 e os 6 anos”.
Discriminação das cores

A capacidade de discriminar cores também se dá nos primeiros meses de vida. Inicialmente, aos dois meses, os bebês distinguem o verde-vermelho. Só mais tarde, por volta dos três meses, começam a conhecer o azul. “Uma nota curiosa é que apesar de serem capazes de discriminar as cores logo nos primeiros meses de vida e apesar das cores primárias estarem incluídas nos primeiros 200 vocábulos que aprendem, as crianças só nomeiam de forma consistente as cores depois dos três ou quatro anos”, garante Augusto Magalhães.
Os bebés conhecem os seus familiares?

Apenas com poucos dias de vida os bebes já apresentam preferência por faces familiares, nomeadamente pela face da mãe que o amamenta. É esta a primeira cara que identifica desde os primeiros dias. “Contudo, esta preferência baseia-se apenas nas características do contorno da face, ou do perfil do cabelo. Este fenômeno é conhecido por efeito de externalidade. Se a mãe mudar o penteado ou colocar uma touca que lhe mude o perfil da face ou do penteado, o recém-nascido dificilmente a reconhece”, o que não deixa de ser curioso.
Os pormenores da face e um verdadeiro reconhecimento só ocorrem depois dos três meses quando uma área específica do córtex temporal for integrada na função visual. O reconhecimento de faces humanas está dependente dessa zona específica do córtex cerebral.
Cuidados a ter com os olhinhos dos recém-nascidos
Se a gravidez e o parto decorreram de forma normal, não são necessários cuidados especiais para além dos cuidados básicos de saúde geral. Estes incluem vigilância médica, uma alimentação adequada e bons cuidados de higiene.
“Todos os recém nascidos devem ser examinados por um pediatra. Os pediatras sabem examinar os aspectos morfológicos dos olhos do bebê, e assim excluir as malformações do globo ocular. Para além disso, os pediatras observam o reflexo vermelho do fundo do olho e assim excluem causas graves de má visão como as cataratas congênitas e algumas formas de tumores oculares”, afirma Augusto Magalhães. 
Os cuidados de higiene são importantes para evitar infecções capazes de deixar sequelas no aparelho visual. Refira-se que, em Portugal, as infecções graves são raras mas existem regiões do globo endêmicas para infecções oculares (por ex: tracoma) capazes de provocar cegueira.
“A alimentação é muito importante. Sempre que possível os bebes devem ser amamentados. O leite materno garante uma dieta equilibrada a todos os níveis e o seu alto teor em ácidos gordos polinsaturados favorece um desenvolvimento mais rápido da função visual no bebê”, diz-nos o oftalmologista.
Todos aqueles bebês que apresentem alterações na morfologia dos olhos ou alterações do reflexo do fundo ocular devem ser referenciados para uma consulta oftalmológica. De igual modo, os bebês com história familiar de doenças oculares e aqueles que tiverem doença neurológica, genética, dismorfias faciais e história de prematuridade também devem ser avaliados por um especialista.
Cor definitiva dos olhos. A partir de quando?

A cor dos olhos é, depois do sexo, o aspecto que mais referência merece num recém-nascido!
“Quando falamos da cor dos olhos falamos da cor da íris. Na sua estrutura, existem fundamentalmente duas camadas: uma posterior que é muito pigmentada em todas as pessoas (epitélio pigmentado da íris) e que serve para filtrar a entrada da luz no olho, e uma anterior chamada estroma em que a quantidade de pigmento é variável de pessoa para pessoa. É justamente o pigmento do estroma que confere a cor aos olhos. O pigmento do estroma aumenta após o nascimento por ação da luz (tal como acontece na pele). Uma criança com um ano de idade tem normalmente metade do pigmento final na sua íris, e só por volta dos três anos existe o pigmento definitivo”, salienta Augusto Magalhães.
Assim, pode-se dizer que, em crianças com íris escura ao nascimento, essa cor será praticamente definitiva, mas em recém-nascidos com íris clara, a cor definitiva dificilmente estará definida antes de um ano de idade e poderá escurecer ainda mais até aos três anos.
É preciso acrescentar que mesmo depois da infância a cor dos olhos pode mudar e que há doenças e medicamentos que fazem mudar a cor dos olhos em qualquer altura da vida.
Doenças visuais que se podem desenvolver.

Há uma lista infindável de doenças que podem ocorrer no aparelho visual do recém-nascido. Algumas envolvem exclusivamente o olho mas existem outras que se associam a doenças gerais que podem inclusivamente pôr em risco a saúde geral e a vida do bebê
Para além das anomalias congênitas que incluem as alterações da forma e do tamanho do globo ocular, importa salientar pela sua importância e frequência, as ptoses (pálpebra caída) e as cataratas congênitas. São duas situações que obstruem o eixo visual e que impedem o desenvolvimento correto da função visual e por isso devem ser corrigidas urgentemente. No caso das cataratas, elas podem ser devidas a genes herdados dos progenitores ou podem estar associadas a outras doenças gerais do bebe”, salienta Augusto Magalhães.


OS ÓCULOS DO SEU FILHO

O desenvolvimento da visão na criança depende de uma correta estimulação cerebral nos primeiros anos de vida.

Ao nascimento, toda a estrutura cerebral que suporta a função visual está presente. Contudo, para que se torne funcional, é necessário que receba nos primeiros anos de vida (e sobretudo nos primeiros meses) imagens de qualidade, imagens que sejam focadas de forma correta e simétrica pelos dois olhos. Quando isto não acontece, o desenvolvimento das competências visuais dá-se de forma incorreta com a instalação de ambliopia (olho preguiçoso).

Entre as causas mais frequente de mau desenvolvimentos visual na criança, predominam os erros refrativos, que em princípio devem ser corrigidos ou compensados com óculos. Segue-se o estrabismo, que na maioria das vezes, também ele, tem como causa um erro refrativo não corrigido.
Os erros refrativos mais frequentes são a hipermetropia (o olho foca a imagem atrás da retina), a miopia (o olho foca a imagem frente da retina) e o astigmatismo (o olho tem dois focos diferentes e esta dupla focagem dá uma imagem desfocada).

Nos adultos e nas crianças mais velhas (acima dos 7-8 anos) com erros refrativos, a ausência da sua correção tem como consequência apenas a diminuição imediata da acuidade visual e o cansaço muitas vezes associado a cefaleias. Porém, nas crianças mais novas o uso permanente dos óculos é muitas vezes fundamental para prevenir e/ou tratar a ambliopia e o estrabismo.

Neste grupo etário, a rejeição dos óculos pode por isso ter consequências nefastas e irreversíveis. Por isso é muito importante conhecer e otimizar os fatores capazes de aumentar a “compliance” neste grupo etário.

O aspecto mais importante nos óculos de uma criança é a prescrição.

Na criança, mais que no adulto, o rigor da prescrição é fundamental. No adulto, habitualmente a prescrição baseia-se em critérios subjetivos; é o doente quem decide qual a lente que lhe proporciona melhor visão e conforto. Na criança, e em particular nas mais novas, a prescrição de lentes de correcção baseia-se em critérios objectivos. A medição do erro refrativo deve ser efectuada após a aplicação de gotas que inibem a focagem automática do olho (cicloplegia), e os critérios de prescrição baseiam-se muitas vezes, mais na experiência individual (e na integração de outros achados clínicos como o equilíbrio oculomotor) do que em “guidelines” suportadas na evidência clínica. Por este motivo, a prescrição deve ser sempre efectuada por um oftalmologista, que de preferência tenha experiência e treino na avaliação de crianças.
A escolha e a montagem dos óculos são também aspectos fundamentais nos óculos de uma criança para que ela se sinta confortável e os assimile no seu quotidiano.

A armação

Deve ser leve, confortável e deve estar perfeitamente adaptada. É importante ter em conta que o nariz das crianças está normalmente mal desenvolvido e isso implica alguns ajustes importantes na adaptação ao nível da ponte. Outro aspecto crítico diz respeito às hastes; devem ser adaptadas de forma a impedir que a armação deslize ao longo do nariz, mas sem provocar desconforto nas orelhas.

As lentes

No que respeita às lentes, o aspecto mais importante é a sua qualidade óptica; se a visão não for confortável serão seguramente rejeitados. Devem também ser confortáveis; para isso devem ser leves e finas, construídas com um material de alto índice refrativo e de baixa densidade. O desconforto é uma das causas mais frequentes de rejeição dos óculos na infância. Devem ter um índice elevado de segurança; é importante que sejam de um material que tenha boa resistência ao impacto uma vez que a criança tem um risco elevado de traumatismo e de acidentes. Devem garantir boa proteção relativamente às radiações nocivas para o aparelho visual; devem filtrar a 100% a radiação UVA e UVB; é importante não esquecer que cerca de 80% da exposição à radiação UV ocorre durante as duas primeiras décadas de vida. Finalmente devem ter uma proteção anti-risco eficaz; as crianças são habitualmente menos cuidadosas na utilização dos óculos.

Os aspectos estéticos são menos importantes nas crianças mais novas e a durabilidade é também um aspecto secundário, uma vez que o mais importante é de facto a utilização continuada de lentes com qualidade óptica que satisfaçam um aparelho visual em desenvolvimento.
Que material ou materiais deverão então ser escolhidos no fabrico de lentes para crianças?
De um modo geral os materiais orgânicos têm clara vantagem sobre o vidro. O policarbonato tem vantagem adicional sobre as resinas orgânicas (plásticos convencionais). De facto o policarbonato tem uma estrutura química especial que lhe confere características ótimas para a construção de lentes ópticas.

O policarbonato

 
É diferente de todos os outros plásticos. As suas moléculas são constituídas por cadeias de átomos extremamente longas que deslizam para frente e para trás umas nas outras. Desta estrutura química resulta um material extremamente resistente que se curva ou deforma sem quebrar (a energia de qualquer impacto deforma a lente em vez de a partir); a sua resistência ao impacto é muito elevada quando comparada com os outros materiais, sendo por ex. 21 vezes superior ao CR-39.

Por outro lado, as características do policarbonato permitem a produção de lentes finas (com elevado índice refrativo) e leves (baixa gravidade), o que as torna muito confortáveis. Adicionalmente o policarbonato garante uma proteção UV natural, já que sem proteção adicional filtra 100% das radiações abaixo dos 380 nm.

Finalmente as lentes de policarbonato permitem uma excelente qualidade óptica embora apresentem mais aberração cromática lateral (numero de Abbe elevado) para potências da lente mais elevadas.

A grande desvantagem do policarbonato na construção de lentes é a sua fraca resistência ao risco, pelo que devem sempre ser suplementadas com uma capa de proteção anti-abrasão, de preferência de dupla superfície.

Conclusão

O policarbonato, pela sua estrutura químicas e pelas características que ela lhe confere, é seguramente o material mais adequado para a construção de lentes ópticas. Essas características são particularmente vantajosas para o uso em crianças e desportistas, devendo contudo ser suplementadas com capa de proteção anti-risco.

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