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9.01.2015

Após 10 anos desigualdade social diminui bastante no Brasil, diz Ipea

Índice caiu de 0,446 para 0,326 entre 2000 e 2010, segundo levantamento.
Quanto maior o número, pior o quadro; aponta estudo.



Mateus Rodrigues Do G1 DF


Mapas divulgados pelo Ipea mostram Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) por município, em 2000 e em 2010. O vermelho mostra indicadores 'ruins', com vulnerabilidade alta; o azul, indicadores 'bons', com vulnerabilidade baixa (Foto: Ipea/Reprodução)Mapas divulgados pelo Ipea mostram Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) por município, em 2000 e em 2010. O vermelho mostra vulnerabilidade 'alta' ou 'muito alta'; o azul indica 'baixa' ou 'muito baixa' (Foto: Ipea/Reprodução)
O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) no Brasil caiu 27% entre 2000 e 2010, segundo estudo divulgado nesta terça-feira (1º) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O indicador que mede a exclusão social da população passou de 0,446 para 0,326 em uma década. Com o resultado, o Brasil passa da faixa de alta vulnerabilidade social para a faixa média do índice.
Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) passou de 0,446 (alto) para 0,326 (médio) em 10 anos, diz Ipea
O estudo reúne 16 parâmetros de infraestrutura urbana, saúde, educação, renda e trabalho. Quanto maior o índice, piores são as condições de vida da população. O levantamento atualiza o índice dos 5.565 municípios brasileiros, segundo avaliação feita em 2010.
A quantidade de municípios com vulnerabilidade social baixa ou muito baixa subiu de 638 para 2.326 em dez anos, segundo o documento. Os municípios com alta ou muito alta vulnerabilidade, que eram 3.610 em 2000, somaram 1.981 em 2010. A melhoria foi mais intensa nos indicadores de trabalho e renda, e menor na área de infraestrutura urbana, segundo o Ipea.
Ao analisar os dados, o instituto reconhece a permanência de "um quadro de disparidades regionais", com a concentração das populações "mais vulneráveis" no Norte e no Nordeste. O problema se agrava em estados como Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rondônia e em parte da Bahia.
Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, cerca de metade dos municípios está na faixa de baixa vulnerabilidade social, com IVS entre 0,2 e 0,3. A melhoria no índice nacional é impulsionada pela região Sul, que tem 341 municípios (28,7% do total) na faixa "muito baixa", inferior a 0,2.
Prosperidade social
O relatório divulgado pelo Ipea faz a relação entre o IVS e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) – atualizado pela última vez em 2013 –, em um conceito chamado de "prosperidade social".

1.307 municípios brasileiros têm 'prosperidade social muito baixa', com IDH baixo e vulnerabilidade alta, segundo dados de 2010
Apesar da melhora nos indicadores, 1.307 municípios, ou 23,48% do país, estão na faixa de prosperidade social muito baixa, com IDHM baixo e vulnerabilidade alta. Desse número, 8 em cada 10 municípios estão na região Nordeste. Apenas 2,9% dos municípios nordestinos têm prosperidade alta ou muito alta, diz o relatório.
Na outra ponta do índice, 1.677 municípios (30,13% do total) têm prosperidade social muito alta, com IDHM alto e IVS baixo. O número também tem forte impacto das regiões Sul e Sudeste, responsáveis por nove em cada dez municípios "muito prósperos".
Mapa de 'prosperidade social' divulgado pelo Ipea. Áreas em verde reúnem IDH alto e vulnerabilidade baixa; áreas em laranja e vermelho têm IDH baixo e vulnerabilidade alta (Foto: Ipea/Reprodução)Mapa de 'prosperidade social' divulgado pelo Ipea. Áreas em verde reúnem IDH alto e vulnerabilidade baixa; áreas em laranja e vermelho têm IDH baixo e vulnerabilidade alta (Foto: Ipea/Reprodução)
"O conjunto de mapas e gráficos demonstra que a melhoria nas condições de prosperidade social não ocorreu de forma homogênea em todo o território nacional. Enquanto a maior parte dos municípios do centro-sul do país avança para os níveis mais altos da combinação entre alto desenvolvimento humano e baixa vulnerabilidade social, os municípios do Norte e Nordeste permanecem, em sua maioria, à margem do desenvolvimento enquanto processo capaz de reduzir a vulnerabilidade social", diz o relatório.
"Isso evidencia a existência de um país polarizado, com realidades, necessidades e prioridades distintas, que devem ser mais profundamente investigadas a fim de superar as, ainda existentes, desigualdades regionais", diz a parte do texto que encerra a publicação.
Infraestrutura urbana
Um dos componentes levados em conta na construção do IVS, a infraestrutura dos municípios, é medido em três variáveis: rede de água e esgoto, coleta de lixo e o tempo gasto no deslocamento entre moradia e trabalho. Esse último quesito não foi medido em 2000, por isso não há como comparar com os dados de 2010.

Isso [a desigualdade entre os índices do Norte-Nordeste e do Sul-Sudeste] evidencia a existência de um país polarizado, com realidades, necessidades e prioridades distintas, que devem ser mais profundamente investigadas a fim de superar as, ainda existentes, desigualdades regionais"
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em estudo divulgado nesta terça
Segundo o Ipea, os dois primeiros quesitos demonstraram melhora ao longo da década. O percentual nacional de casas sem água e esgoto adequados caiu de 8,91% para 6,12%. A população sem acesso à coleta regular de lixo passou de 8,88% para 2,98%.
A variável de mobilidade leva em consideração as pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 344 (meio salário mínimo) e que têm emprego. Desse grupo, uma em cada dez pessoas gasta mais de uma hora para ir e voltar do trabalho diariamente. O estudo aponta esse tempo perdido como "estressante e comprometedor do bem-estar".
Capital humano
Outra dimensão do Índice de Vulnerabilidade Social é o "capital humano", que reúne indicadores de saúde e educação. Mortalidade infantil, crianças fora da escola, maternidade precoce, analfabetismo, mães que abandonam os estudos para chefiar a casa e jovens sem ocupação formal são quesitos avaliados pela pesquisa.

Os dados levantados pelo Ipea mostram que os índices melhoraram, mas ainda são preocupantes. Entre as crianças de 0 a 5 anos, 56,85% não frequentavam escola ou creche em 2010 – em 2000, eram 76,21%. O índice de crianças vivendo em casas onde ninguém completou o ensino fundamental também é alto: 30,39% em 2010, contra 49,86% em 2000.
Entre as mães chefes de família, o índice de mulheres sem ensino fundamental completo e com filhos menores de 15 anos aumentou. Passou de 14,66% em 2000 para 17,23%, dez anos depois. O volume de jovens entre 15 e 24 anos em casas de baixa renda que não trabalham nem estudam – os chamados "nem nem" – apresentou leve queda, passando de 15,4% para 11,61% em dez anos.
Mortalidade de bebês até 1 ano caiu de 30,57% para 16,7% em dez anos
A melhora mais significativa é notada no quesito mortalidade infantil até 1 ano completo, que caiu de 30,57% para 16,7% entre 2000 e 2010. Segundo o Ipea, esse indicador também tem "forte aderência regional", melhorando mais no Sul-Sudeste que no restante do Brasil.

Neste caso, a porcentagem é medida em relação ao "pior cenário nacional", e não à mortalidade total de crianças. O índice de 16,7% encontrado em 2010 não indica que 16,7% das crianças de até 1 ano morram no país.

Renda e trabalho
Os componentes relacionados à renda e ao trabalho da população brasileira registraram a melhora mais significativa no período avaliado pela pesquisa. O levantamento considerou a proporção de pessoas de baixa renda, a taxa de desemprego entre maiores de idade, o trabalho informal entre cidadãos de baixa escolaridade, o número de "dependentes de idosos" e o trabalho infantil.

Desemprego no Brasil passou de 13,82% em 2000 para 7,53% em 2010. Em agosto de 2015, taxa medida pelo IBGE era de 8,3%
O bom desempenho na área foi impulsionado pela queda de 47,2% na desocupação dos brasileiros, no período analisado. A taxa de desemprego, que era de 13,82% em 2000, caiu para 7,29% em 2010. Em agosto de 2015, a taxa medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em 8,3%.
A atividade profissional entre jovens de 10 e 14 anos caiu em relação aos 9,28% registrados há 15 anos, mas ainda era grande em 2010: 7,53% das crianças nessa idade trabalhavam informalmente. Segundo o Ipea, esse fator foi o que menos contribuiu para a redução do índice no período analisado.
Embora seja maior no Norte e no Nordeste, o trabalho infantil também aparece como problema grave em Minas Gerais e no interior dos estados da região Sul. O desemprego entre adultos se mostra mais grave em municípios com alta vulnerabilidade em todo o litoral brasileiro, segundo o instituto.

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