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9.10.2015

TV pessoal

Janio de Freitas

Os programas encomendados por Cunha não atendem à finalidade da TV Câmara, nem servem à população
A Câmara está submetida a um desvio de finalidade. E a uso impróprio da verba que recebe de impostos pagos pela população. O programa da TV Câmara "Onde o povo está", exibido várias vezes por semana, é uma burla em vários sentidos.
A começar pelo nome. Trata-se de mostrar onde o deputado enfocado está no seu Estado, divertindo-se ou em outra disponibilidade extraparlamentar. Em geral, com a apropriada vulgaridade.
O programa convém à pessoa do deputado, mas todas as despesas são cobertas pela verba destinada à função legislativa da Câmara. Equipes completas da TV Câmara viajam aos Estados –não faltam casos de profissionais contrariados– à inteira disposição do deputado. O material resulta em um filme a ser montado com outros dois para o programa exibido três vezes por semana. Partes de cada filme são exibidas como clipes entremeados na programação normal.
A boa iniciativa que criou a TV Câmara deu-lhe a finalidade de reportar as suas atividades de Poder Legislativo e contribuir para a melhoria cultural do brasileiro (a TV Câmara tem, por exemplo, excelente acervo de documentários históricos estrangeiros, com os quais fez, no seu início, programação de alto nível e única pelo destemor temático).
A série de programas mandada fazer por Eduardo Cunha não atende à finalidade prevista da TV Câmara, nem serve à população por outro modo. Serve a deputados. Como programas eleitoreiros, com intensa exibição durante o mandato. Além do mais, os programas quebram a igualdade entre candidatos à reeleição e pretendentes à eleição para a Câmara.
Deputado Miro Teixeira: "TV pública não é para promoção pessoal". Outros deputados são contrários ao novo uso da TV Câmara, mas não consta iniciativa alguma para detê-lo.
AQUELES PINGOS
A par do tratamento diferenciado entre os personagens, o noticiário difundiu impressões irreais sobre as citações judiciais ao ministro Aloizio Mercadante, ao senador peessedebista Aloysio Nunes Ferreira e a Edinho Silva, ministro da Comunicação da Presidência. Mesmo o governador Geraldo Alckmin, iludido pelo noticiário, mencionou a bandalheira na Petrobras para defender seu colega e atacar os dois petistas.
Os três não foram denunciados, como constou. Foram citados para investigação. E Aloizio Mercadante e Aloysio Nunes Ferreira não serão investigados pelos motivos próprios da Lava Jato, mas por eventual infração à lei eleitoral. Disparidade de valores entre a contabilidade das respectivas campanhas e de doações legítimas que Ricardo Pessoa diz ter feito aos dois e não registrou (no caso de Mercadante, contas ainda de 2010).
Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, responderá sobre entendimentos que Ricardo Pessoa, dono da OAS, disse em delação premiada haver tido para definir sua doação à campanha (não há disparidade de montante entre a delação premiada e a contabilidade da campanha).
Considerado o custo necessário às campanhas eleitorais, é ridículo que a Justiça Eleitoral perca tanto trabalho e tempo com disparidades pouco expressivas em uma doação a Mercadante e outra a Nunes Ferreira. Ainda mais, sendo apenas de memória as cifras citadas por Ricardo Pessoa. E é anti-ética a projeção comprometedora dada, por tamanha insignificância, aos dois políticos de integridade moral até hoje intocada.
MÁ SAÍDA
Nenhuma das explicações paisanas é aceitável, no caso do decreto assinado por Dilma para transferir ao ministro da Defesa, Jaques Wagner, um conjunto de atribuições e poderes passados dos antigos ministros militares aos seus sucessores, os comandantes das três Forças. Apenas para substituir essa denominação dos cargos, já com longo atraso, o decreto não precisaria transferir atribuições. A história é outra.
A solução para a trapalhada –uma simples portaria do ministro delegando aos comandantes os tais poderes –é polêmica. Há poderes indelegáveis pelo ministro, entre os citados. E é situação que exige clareza, não remendos

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