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11.03.2015

Síndrome do pânico



Transtorno ou Síndrome do Pânico

É tão difícil, atualmente, encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar em Síndrome do Pânico. O sintoma básico é um medo enorme sem explicação, indefinido, medo infundado; você acha ridículo sentir esse medo, mas não consegue controlar. Ela é caracterizada pela presença de ataques de pânico. São crises súbitas, repentinas, espontâneas, com forte sensação de medo (medo de tudo e sem motivo), de perigo, de desmaio, de derrame cerebral, loucura ou morte iminente (o que nunca ocorre); sensação de alerta ou de fuga, necessidade de socorro imediato ou até de se encolher num canto, agitação e múltiplos sintomas indefiníveis. Enfim, um terrível mal estar. Você se sente totalmente inseguro, como uma criança. Não houve nenhum fator que o precipitasse.
De repente a pessoa sente um mal estar estranho na cabeça como se fosse perder a razão, a consciência. É comum uma sensação de estar fora da realidade; ou um mal estar generalizado, como um pressentimento algo muito grave fosse acontecer. E é nesse momento que um outro sintoma (bastante característico) aparece: a necessidade de estar ao lado de alguém que traga segurança. Geralmente, um parente próximo.
Podem surgir desde palpitações no coração, falta de ar ou dificuldade de respirar, sensação de sufocação ou bolo na garganta, mãos e pés molhados e frios, formigamentos nos braços, pernas ou nos rostos, zoeira, zumbido ou pressão nos ouvidos (como se fosse pressão baixa ou labirintite), suor ou tremedeira generalizado, distúrbio gastrintestinal como (náuseas, enjoos, diarreia, gases, vontade irresistível de urinar, falta ou excesso de apetite), desânimo acentuado, mal estar geral, insônia ou sono excessivo, ondas de calor ou frio, tonteiras.
Porém, pessoas predispostas à síndrome podem desencadeá-la depois de passar por situações traumáticas. Dias , semanas ou meses depois de determinados problemas como perda de entes queridos, desemprego, doenças no lar, pré ou pós-operatórios, assaltos, sequestros, acidentes, etc.
É comum um paciente passar meses tentando resolver a diarreia, sem solução. Tive um paciente que só de falar em sair de casa , quatro horas antes tinha que tomar antidiarreico de meia em meia hora, sem contar o uso de fraldas para protegê-lo. O mesmo acontece com o indivíduo que nunca teve pressão alta: passou a ter depois da crise.
Como a síndrome do pânico varia muito na sua intensidade, nem todos sentem os mesmos sintomas. Na minha experiência, a crise do pânico pode ser classificada em leve, moderada, grave e muito grave. Alguns portadores do pânico, apesar de muito desconforto, conseguem trabalhar com dificuldades, devido à necessidade; porém outros não conseguem nem mesmo sair da porta de sua casa, ficando confinados, reclusos em seu lar. À medida que o pânico se agrava, diminui o seu raio de ação, ficando bloqueados à mercê de seu “inimigo oculto”.


A Síndrome do Pânico e a Depressão

Com essa sensação de impotência, de inutilidade, a alegria de viver desaparece, diminui o brilho, o dinamismo e a espontaneidade; com isto, desenvolve-se um estado depressivo, que na maior parte das vezes é confundido com a depressão comum.
Existem crianças que só de ter que ir à escola apresentam mal-estar como náuseas, enjoos ou dores na barriga.
Como a maioria dos sintomas são físicos, as pessoas procuram outros profissionais, como cardiologistas, neurologistas, gastroenterologistas, clínicos e homeopatas, quando na realidade deveriam procurar o psiquiatra. A pessoa faz uma bateria de exames, desde eletrocardiograma, ecocardiograma, raios-X, exames de sangue e outros, e nada de anormal é detectado. Desesperado, parte até para centros espíritas.

O pânico não é detectável por nenhum tipo de exame laboratorial, apenas clinicamente. Os pronto-socorros cardiológicos ou cardiologistas são os primeiros a serem procurados devido à taquicardia, dor no peito e a dormência, depois os outros profissionais, deixando por último, até por preconceito, os psiquiatras. Dez por cento dos atendimentos cardiológicos são portadores da síndrome do pânico, que examinados pelos cardiologistas constatam que não há quaisquer anomalias. A síndrome do pânico não é uma doença psicológica, e sim física. O que ocorre é um desequilíbrio de determinada área do cérebro, alterando a química dos neuro-transmissores, responsáveis pelos impulsos nervosos. O sistema nervoso central é que comanda as funções vitais do nosso corpo, por isso ocorrem uma série de alterações no nosso organismo, é o que chamamos de D.N.V (distúrbios neuro-vegetativos).
É muito comum aos portadores da síndrome um medo constante de sentir-se mal na rua e em outras situações onde a saída e o socorro seriam difíceis. É a agorafobia, em que a pessoa apresenta uma esquiva fóbica em relação a diversas situações públicas. Com esse medo, a pessoa não consegue mais frequentar ambientes cheios, tais como supermercados, shoppings, cinemas, teatros, bancos cheios, filas, multidões, etc. Também é comum sentir pânico de altura, de elevador, de avião, túnel, ponte Rio-Niterói, de temporal, de afastar-se de casa para outras cidades ou países; são situações onde a saída e o socorro são difíceis. Cria desculpas para não sair de casa. E, com frequência devido à incompreensão, começam a surgir os problemas familiares. Devido o mal estar constante, o ambiente familiar fica comprometido, chegando até a separação.
O portador do pânico sofre duplamente, pois além do sofrimento físico que a própria doença proporciona, sofre por não ser compreendido por alguns familiares. É comum o portador da síndrome ouvir frases como “reaja!”, “isso é frescura...”, “para de chilique”, “você tem medo do quê?”
Ocorre, com muita frequência, a associação da síndrome do pânico com o Transtorno Obsessivo Compulsivo.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo (T.O.C.):
Também conhecido como distúrbio obsessivo compulsivo, o T.0.C. caracteriza-se por ideias, imagens, impulsos e comportamentos repetitivos, contrário à vontade, irracionais, sem sentido e que causam sofrimentos às pessoas, como por exemplo:

a) Verificar, várias vezes, se as portas e as janelas estão fechadas;

b) Verificar repetidas vezes se o botijão, o fogão e as torneiras estão fechadas;

c) Ver, várias vezes, se preencheu corretamente o cheque ou documentos;

d) Tomar inúmeros banhos, chegando até mesmo ao absurdo de jogar álcool, éter ou até outros tipos de desinfetantes no corpo para evitar qualquer contaminação; Lavar, também várias vezes, as mãos sem necessidade;

e) Tem medo mórbido de doenças como câncer, aids, enfartos e até daquelas não contagiosas, como o vitiligo. A pessoa é capaz até de ligar várias vezes para um hospital, a fim de saber se mosquito transmite aids; além de ficar obcecada por exames que comprovem a não contaminação.

f) Tem medo de contaminação ou de sujeira como: animais mortos, pó, suor, fezes, urina, sangue menstrual, sêmen, germes, toxinas, e até evita tocar nas pessoas para não ser contaminado;

g) Detesta que outras pessoas toquem seus objetos pessoais.

h) Tem medo desesperador de cometer tragédias, dentre elas, matar alguém com instrumentos pontiagudos, como facas, tesouras, armas de fogo; estrangular o filho recém-nascido ou mesmo jogá-lo pela janela; cortar a garganta do filho ou do cônjuge enquanto estes dormem, por isso fazem questão de guardar todo tipo de instrumento cortante.
Com isto, entra em pânico, ficando extremamente angustiada. Mas, felizmente, não é loucura e nada disso ocorre, pois são apenas sintomas.

i) As repetições podem ser também em forma de pensamentos, repetindo sem parar letras e melodias de músicas, palavras soltas, desconexas, aparentando insanidade.

j) Outras vezes, sob a forma de rituais, trazendo muito sofrimento. Os rituais de verificação têm caráter preventivo, procurando assegurar que nenhuma catástrofe irá acontecer.

k) Acender e apagar a luz diversas vezes; se não fizer isso, algo trágico pode acontecer.

l) Beijar um certo número de vezes uma imagem ou objeto sagrado; a repetição poderá ser o múltiplo de um número. Exemplo: múltiplo de três, então repetir uma oração 33 vezes, pois esta é a idade da morte de Cristo.

m) Ter a obsessão de sair de casa ou entrar em qualquer lugar sempre com a perna direita.

n) Ideias de colecionismo: fazer uma coleção de livros ou juntar todas as caixas vazias de remédios durante anos.

o) Ter que olhar o rosto de uma pessoa seis ou mais vezes. Caso não consiga cumprir o número de vezes, sente muita aflição e angústia; (em outras ocasiões, necessita ver um certo número de vezes as nádegas de uma mulher, mesmo na presença da esposa, trazendo até problemas conjugais.)

p) Colocar os objetos numa ordem, seguindo um padrão simétrico. Exemplo: arrumar suas roupas numa gaveta ou colocar objetos numa mesa, todos numa mesma direção, de modo que todas as linhas sejam paralelas; ou então, quando necessita passar numa porta, passar exatamente no meio, nem um milímetro a mais.

q) Também apresenta pensamentos repetitivos, tais como: "Tenho cara de homossexual". Com isso, todas as vezes que alguém olha para ele, para falar alguma coisa, principalmente os homens, imagina logo que seja por ter cara de homossexual.

r) A pessoa presencia um acidente, mesmo que não tenha nada a ver com ela , sente-se culpada. E fica reafirmando esta culpa com um sofrimento constante.

Quanto ao tratamento, o prognóstico é excelente, pois a síndrome do pânico tem cura. O tratamento tem princípio, meio e fim.


Não fuja do tratamento médico

Observei que a maioria dos portadores da síndrome do pânico, antes de encontrar o tratamento certo, experimenta vários tratamentos alternativos; os mais conscientes procuram alternativas como: florais, homeopatias, ioga, acupuntura, terapias, cromoterapias, bioenergéticas, biodanças e até centros-espíritas, sem solução.

O que existe, de fato, é um enorme preconceito com o psiquiatra. As pessoas não querem ir ao psiquiatra, por achar que este profissional só cuida de loucos. De fato, os especialistas no ramo da psiquiatria cuidam de pessoas com patologias irreversíveis, como a loucura. Mas trata-se de um médico como outro qualquer, que cuida de pessoas perfeitamente normais, com distúrbios em seu sistema nervoso. O outro fator que afasta as pessoas do tratamento ideal é o preconceito para com os remédios. A primeira coisa que a pessoa faz, antes de iniciar um tratamento, é ler a bula do começo ao fim. O portador da síndrome tem muito medo de passar mal, inclusive com os próprios remédios.



A Síndrome do Pânico e os Entorpecentes

Os indivíduos menos conscientes procuram a saída nos calmantes ou dependentes químicos, tais como álcool, maconha, cocaína e outros entorpecentes. Como o álcool é um depressor do sistema nervoso central, os portadores do pânico têm forte tendência ao alcoolismo, porque ao ingerir bebidas alcoólicas, os sintomas desaparecem, momentaneamente, em função do seu efeito antidepressivo. É muito comum que as pessoas com a síndrome sintam a necessidade de ingerir bebidas alcoólicas para conseguir sair de casa ou realizar coisas que já não conseguem mais.

O problema é que a abstinência alcoólica nessas pessoas pode resultar numa forte crise de pânico, pois o álcool desorganiza ainda mais com os neuro-transmissores. Os portadores da síndrome do pânico não devem beber; o alívio inicial que o álcool traz fatalmente se transformará em alcoolismo.


O Tratamento

Como a síndrome do pânico não é psicológica, a crise não desaparece com terapias. O máximo que se pode alcançar com isso é adiar o sofrimento. A terapia comportamental é importante como auxiliar no tratamento medicamentoso. O pânico não desaparece espontaneamente; ao contrário, tende a agravar com o tempo.

Os pacientes são tratados com remédios que atuam diretamente no sistema nervoso central, equilibrando os neuro-transmissores (noradrenalina, adrenalina, serotonina e outros) e evitando as crises. O tratamento considerado específico conjuga o antidepressivo a outras medicações, conforme o caso; e assim mesmo, não existe um antidepressivo único para todos.



Os medicamentos

O antidepressivo (tarja vermelha), ao contrário do tranquilizante (tarja preta), não causa nenhuma dependência mesmo quando combinado com este; ao contrário, afasta a dependência de qualquer tranquilizante. Os portadores do pânico têm um medo cruel da dependência dos remédios, principalmente daqueles que possuem tarjas pretas.

Se um profissional médico prescrever somente o tranquilizante (tarja preta) com o objetivo de cura e a pessoa tomar por mais de três meses, aí sim, poderá tornar-se dependente, pois os tranquilizantes são depressores do sistema nervoso central. Os tranquilizantes apenas aliviam, acalmam momentaneamente os sintomas. Passado o efeito do medicamento, os sintomas retornarão. A maioria das pessoas costuma generalizar os remédios psiquiátricos quanto a seus efeitos. Elas imaginam que todos são tranquilizantes, dopantes ou causadores da impotência sexual. Ou então que são nocivos à saúde. Puro engano. E o mal maior que a doença traz? O indivíduo tem medo do remédio causar impotência e acaba ficando impotente por causa da doença. O importante é lembrar que cada caso é um caso, portanto, vai depender e muito do feeling do médico na hora de lidar com o paciente.

Existem antidepressivos tricíclicos, tetracíclicos, IMAOS (inibidor da monoaminooxidase) e o mais recente, que é o ISRS (inibidor seletivo de receptação de serotonina), que tem uma variedade enorme. Mas só os médicos entendem como eles devem ser usados.
Um dos maiores problemas é que os remédios antidepressivos não são administrados de forma adequada aos pacientes. Essa não é só a minha opinião, mas também a de especialistas internacionais que estiveram em São Paulo durante o V Congresso Brasileiro de Clínica Médica, em novembro de 1999. Os remédios podem prejudicar, sim, quando mal receitados.
Diagnosticar a síndrome do pânico não é nenhum mistério, a questão principal é acertar nos remédios. Se você não teve sucesso com alguns remédios, não desanime.Insista, procure o profissional da sua confiança. Ninguém morre do pânico e nem perde o autocontrole.
Num lar onde existe um portador da síndrome do pânico, deverá haver muito amor, carinho, muita compreensão, apoio moral e espiritual. 
Saiba ainda: sindromedopanico

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