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8.13.2016

O país que não pode votar

"A insistência de Michel Temer em dizer que não será candidato em 2018 não deve ser vista como fingimento". "No Brasil de 2016, a única certeza duradoura é a desvalorização do voto popular. Tornou-se uma mercadoria de alto risco, um direito desvalorizado, que a visão golpista identifica com oportunismo, irresponsabilidade e demagogia - exatamente como ocorria nos primeiros anos da ditadura de 64"; "Isso se explica pelo caráter extremo e radical do ajuste que se pretende impor ao país, que só poderá ser implantado caso a maioria da população seja mantida numa situação de absoluta impotência política, destituída de qualquer meio de resistência, a começar pelo voto", completa PML; para ele, "tudo será feito para que o povo não possa votar. Esta é a mensagem"

Chanceler do golpe, Serra critica falta de democracia na Venezuela“Reprimir manifestações é golpe à democracia”


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Em carta enviada neste sábado 13 aos países do Mercosul, o chanceler interino José Serra aponta como um dos argumentos para quebrar as regras do Mercosul a suposta ausência de democracia na Venezuela; no texto, o tucano afirma que o país governado por Nicolás Maduro "descumpriu unilateralmente" o protocolo de adesão ao bloco e promete trabalhar para fortalecer laços e "restabelecer a democracia" no país; golpe brasileiro já foi denunciado por senadores franceses, pela maior entidade de intelectuais dos Estados Unidos voltada para a América Latina, a LASA, pelo senador americano Bernie Sanders e por toda a imprensa internacional; Serra foi também delatado por Marcelo Odebrecht por um caixa dois de R$ 23 milhões
 

BRASIL

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Presidente Dilma Rousseff se manifesta contra a repressão a manifestações que vêm ocorrendo em todo o Brasil contra o governo interino de Michel Temer, especialmente durante a Olimpíada; "O povo na rua se manifestando pacificamente é uma das melhores expressões de um País democrático", postou Dilma no Twitter neste sábado 13; "Reprimir essas manifestações, como aconteceu no Rio de Janeiro e com os estudantes em São Paulo, é um golpe à nossa democracia", completou; nessa semana, atos nas duas cidades contra o governo interino e os "jogos da exclusão" foram reprimidos pela Polícia Militar; na noite desta sexta, no Mineirão, um policial disse que contra Temer podia ter protesto, mas contra a Globo, não; vídeos de manifestações em arquibancadas mostram que atos também vinham sendo reprimidos, com cartazes tomados e torcedores expulsos dos locais

Al Jazeera denuncia ao mundo a hipocrisia do golpe brasileiro

247 – Um dos maiores exemplos de hipocrisia. Assim o jornalista Mehdi Hassan, que faz o programa Up Front, um dos mais populares da Al Jazeera, retrata o golpe brasileiro de 2016.
Hassan divulgou um vídeo neste fim de semana sobre o caso. Nele o âncora lembra que a presidente Dilma Rousseff foi afastada temporariamente para que se colocasse em seu lugar um interino inelegível por fraudes eleitorais, chamado Michel Temer.
Hassan ironiza ainda a proteção a Eduardo Cunha, o cérebro do golpe, e lembra que 303 deputados e 49 senadores brasileiros são investigados por acusações muito mais graves do que as que pesam contra Dilma.
"Olhem-se no espelho", diz ele, que também cita os três ministros já demitidos por Temer por escândalos.
Hassan é o mesmo que, recentemente, fez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passar vergonha numa entrevista à Al Jazeera (relembre aqui).
Assista seu novo vídeo na página do Up Front no Facebook.

Lula: nota de Época confirma perseguição e reforça ação na ONU

O julgamento de Dilma, parte 5: a armação do cenário

Pedro França/Agência Senado:
No quinto capítulo do livro sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o jornalista Raimundo Rodrigues Pereira destaca que, para se condenar alguém, são fundamentais três cuidados, e o primeiro deles é a necessidade de se mostrar algo como um cadáver, ou seja, o crime tem de ser concreto, material; o autor detalha o parecer pró-golpe do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da Comissão Especial do Impeachment, e diz que o importante do documento não é o que Anastasia diz e que todos sabem e com o que concordam, mas o que ele não diz ou não destaca. Por exemplo, que os 62,3% da dívida bruta como porcentagem do PIB do governo Dilma no final de 2015 eram menores do que os 64,9% da mesma dívida no final de 2002, último ano do segundo mandato de FHC

Dilma escreverá carta para senadores e outra ‘para a história’, dizem aliados

dilma-golpe-ditadura 
Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo
Dilma Rousseff pretende dividir a já célebre carta sobre o impeachment em duas partes. A primeira será enviada ao Senado nos próximos dias. A outra deve ser divulgada no dia de seu afastamento definitivo, se ele ocorrer.
A segunda será, de acordo com aliados, um documento “para a história”, uma espécie de carta-testamento, como foi a que Getúlio Vargas deixou ao se suicidar, em 1954. Dilma deve falar da memória do país e das lutas da esquerda brasileira em contraponto às forças contrárias, introduzindo-se, e também a Lula, nesse contexto.
A carta ao Senado, por sinal, deverá ter, sim, a palavra “golpe”.
“A presidenta me disse que vai usar essa expressão, que define com precisão o momento que vivemos”, diz o senador Lindberg Farias (PT-RJ). Ele se reuniu com ela na noite de quinta (11).
O uso da palavra “golpe” na carta virou uma novela. Ela saiu do rascunho do documento pela primeira vez por sugestão do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que passou os últimos meses dizendo estar indeciso sobre o impeachment mas votou a favor da saída da presidenta.

Aposentado pode ficar sem benefício se previdência não mudar, diz Padilha Ministro do governo interino

Agência Brasil
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse, em vídeo divulgado hoje (12) por sua assessoria, que, sem uma reforma da Previdência Social que possibilite amenizar os déficits que vêm sendo registrados, “não vai haver mais a garantia do recebimento da aposentadoria” pelos beneficiados. O vídeo foi publicado na página do Gabinete Civil no Facebook.
“A reforma da Previdência é indispensável para que o Brasil volte a ter confiança, seja no mercado interno ou externo. O déficit da Previdência em 2015 foi R$ 86 bilhões. Em 2016, foi R$ 146 bilhões, e, em 2017, entre R$ 180 e R$ 200 bilhões. Isso não pode continuar sob pena de não conseguir mais pagar a aposentadoria”, disse o ministro. 
Eliseu Padilha disse que, sem uma reforma da Previdência que possibilite amenizar os déficits, “não vai haver mais a garantia do recebimento da aposentadoria" 
Eliseu Padilha disse que, sem uma reforma da Previdência que possibilite amenizar os déficits, “não vai haver mais a garantia do recebimento da aposentadoria" 
“Então, tem de mudar para preservar, porque se não mudar, não vai haver mais a garantia do recebimento da aposentadoria”, afirmou.
Segundo o ministro, as mudanças defendidas pelo governo não vão colocar em risco os direitos já adquiridos pelos trabalhadores. “Ninguém perderá nenhum direito adquirido. Não precisa correr para o posto do INSS. Todo mundo terá o seu direito preservado. Não perderá absolutamente nada”, finalizou Padilha.

8.12.2016

O risco na estratégia de aniquilar o PT

Por Róber Iturriet Avila, no site Brasil Debate:

Desde 2013 o Brasil vive momentos de tensão política e social. Indubitavelmente, o resultado desse processo foi uma derrota política retumbante do governo Dilma Rousseff, do seu partido, o PT, e da esquerda brasileira de uma maneira geral. Essa alteração é complexa e envolve uma miríade de variáveis, as quais podem ser categorizadas com profundidade. Análise essa que escapa dos objetivos deste pequeno texto.

Entretanto, é possível observar que houve uma derrota no campo das ideias e no imaginário da “opinião pública”, simbolicamente direcionada ao PT. De forma mais abrangente, é possível dizer que a esquerda brasileira perdeu corações e mentes no período recente. A despeito de seus enormes erros na condução do partido e dos governos, a transformação que se deu no poder foi paulatinamente construída pelos conservadores.

As ideias antagônicas foram constantemente plantadas, de maneira nítida a quem consegue enxergar além das obviedades: seja na mídia tradicional, seja nos partidos políticos, seja no enfoque pontual de problemas estruturais. É do jogo. A disputa de ideias e de versões é constante em qualquer sociedade minimamente sadia e organizada.

As disputas entre os “progressistas” e “conservadores” não conformam uma especificidade do nosso tempo e tampouco do Brasil. O PT apenas encabeçou um grupo que possui alguma articulação desde o PTB, pelo menos. Podemos chamar esse segmento de “centro-esquerda”, com enraizamento em setores populares. Quer dizer, não são grupos políticos e sociais que buscam acabar com o capitalismo, mas compreendem que existem distorções históricas e mesmo do próprio sistema que requerem interferências de políticas públicas e, portanto, do Estado.

No campo econômico, particularmente, tais grupos partem da visão de que é preciso correções na distribuição porque o livre mercado tende a concentrar a renda e a riqueza. Seja porque uns capitais são maiores do que outros, seja porque há assimetria na relação capital-trabalho, seja porque os países estão em estágios distintos de acúmulo de capital e, por consequência, de inserção tecnológica.

No caso do PT, ao longo dos últimos governos, houve uma identificação de grupos populares com as políticas implementadas, como as de transferência direta de renda, elevação do salário mínimo em termos reais e políticas de acesso à educação superior. Sejam esses grupos mais ou menos conscientes disto, os 13 anos de governo “do PT” proporcionaram uma inclusão social nunca ocorrida no Brasil.

Ao redor do mundo, há segmentos mais à direita que também patrocinam tais políticas. Não por acaso, desde o século XIX, traços social-democratas nasciam na direita e no conservadorismo, o caso alemão é icônico. Remediar os pobres e ampliar direitos sociais, trabalhistas e civis era uma forma de garantir a estabilidade social em um sistema que reproduz cronicamente a desigualdade.

Sob outra perspectiva, pode-se dizer que dominar grupos sociais exige sacrifício. Aqueles que exercem o poder precisam de consentimento dos dominados. A dominação não ocorre mais através da força bruta, como era nas sociedades mais primitivas. Os dominados precisam se sentir beneficiados com o sistema para que haja estabilidade. Coloquialmente, essa ideia está na analogia de entregar alguns anéis e preservar os dedos.

Contudo, no caso brasileiro, os grupos políticos que emergem ao poder não parecem ter tais intenções. Os sinais autoritários são claros. Na proibição de protestos nos estádios, na tentativa de restringir o pensamento crítico que contesta a ordem social posta (sob o rótulo de “escola sem partido”) , na constante tentativa de criminalizar e desqualificar a esquerda, seus representantes políticos e intelectuais.

Além de tirar o PT do poder, os grupos mais conservadores querem aniquilar com o partido e com tudo o que ele representa. O Ministro do STF Gilmar Mendes chegou a ensaiar um pedido de cassação do partido, tal qual ocorreu com os “comunistas” após o golpe de 1964. Eles não querem adversários que contestem seu poder, sua ordem e o modus operandi na Terra Brasilis.

Suas intenções no campo da organização são igualmente claras: privatizações, perda de direitos sociais e trabalhistas, enxugamento das políticas públicas como saúde, educação e assistência social, redução de salários, congelamento de gastos e sepultamento da constituição de 1988.

A derrota do PT parece irreversível. É bastante provável que haja uma disputa nas esquerdas pelo seu espólio, ou mesmo internamente, caso o partido sobreviva. Cabe a reflexão, entretanto, do que ocorrerá caso o partido seja banido e não haja um substituto à altura. Ora, o partido nunca foi revolucionário e sempre esteve de acordo com a ordem posta, ele propõe apenas remédios e ajustes para que haja maior justiça social e menor desequilíbrio econômico. É um partido que representa a conciliação de interesses, a partir da voz dos trabalhadores e dos mais excluídos. Sem esse campo político, sob o nome de “PT” ou sob outro agrupamento, a possibilidade de conciliação é mais difícil.

O Brasil é um país bastante heterogêneo, desigual, com um passivo social de 388 anos de escravidão, com periferias imensas nas principais capitais. É preciso ter em mente que 50% da população recebe menos de R$ 1.300,00 mensais! Na derruba recente, os grupos populares não saíram em massa às ruas para defender o governo, possivelmente por insatisfações diversas, já sentindo os efeitos do austericídio de 2015.

A partir do momento em que esses grupos sentirem na pele o que representa o aniquilamento da esquerda e sem uma direita consciente de que é preciso atender aos dominados, os riscos de disrupção social não são pequenos. Indaga-se se o caminho escolhido pela elite brasileira de destruir seus adversários é mesmo inteligente. Aniquilar a voz e os direitos dos dominados pode ter efeitos deletérios sobre os interesses de quem executa essas articulações

José de Abreu: “Susana Vieira pensa que o Nordeste é feito de idiotas?”

No ato em defesa do juiz Sérgio Moro, atriz elogiou ‘civilidade’ de Curitiba e disse que Norte e Nordeste não sabem da Lava Jato
A participação de artistas no ato em defesa do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, está dando o que falar. Os atores Victor Fasano, Lucinha Lins, Luana Piovani, Susana Viera e Jorge Pontual, além do cantor Fagner, participaram do evento em Curitiba. Porém, o que marcou o encontro foi uma declaração de Susana durante uma entrevista, que foi considerada preconceituosa.
“Eu acho que as pessoas do Norte e Nordeste não têm conhecimento do que está sendo feito aqui [em Curitiba]. Tem que espalhar isso para o Brasil”, disse. Em contrapartida, fez diversos elogios à capital do Paraná: “Uma das capitais mais adiantadas do Brasil em civilidade, educação, limpeza, educação das crianças”.
A hashtag #norteenordeste ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter na manhã de terça-feira (9) e gerou inúmeras críticas a Susana. Em 2012, ao interpretar Maria no espetáculo A Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém (PE), a atriz já havia se referido ao Nordeste como uma região atrasada e miserável.
Na rede social, o também ator José de Abreu não deixou o assunto passar em branco. “Na boa, Susana Vieira, Victor Fasano e o ator pornô [se referindo a Alexandre Frota] é tudo o que eles têm no meio artístico? Tá ‘maus’! Susana Vieira pensa que o Nordeste é feito de idiotas?”, questionou.
“Será que Fagner concorda com a Susana Vieira? O Nordeste não sabe o que é a Lava Jato. O futuro vai cobrar a fatura dos artistas que apoiam o passado”, prosseguiu. Fonte: Forum.

Justiça quer saber onde está morando Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha

Esposa do ex-presidente da Câmara dos Deputados não está sendo encontrada para intimação pessoal. Ela é ré em ação penal na Lava Jato, por evasão de divisas e lavagem de dinheiro

Estadão Conteúdo
Brasília - O juiz federal Sérgio Moro mandou a mulher do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) apresentar 'de imediato' seu novo endereço. Ré em ação penal na Operação Lava Jato, por evasão de divisas e lavagem de mais de US$ 1 milhão, Cláudia Cruz não está sendo encontrada para intimação pessoal.
A mulher de Cunha é acusada de ter evadido dinheiro e lavado US$ 1 milhão provenientes de crimes praticados pelo ex-presidente da Câmara no esquema de corrupção na Petrobrás. Em despacho na terça-feira, 9, Moro afirmou que foi programada a audiências das testemunhas de acusação do processo para 26 de agosto e que 'há dificuldades para intimação pessoal da acusada Cláudia Cordeiro Cruz'.
"O endereço disponível nos autos informado pela defesa era o endereço da Presidência da Câmara, não mais ocupada pelo marido da acusada", afirmou Moro. "Não há outro endereço disponível. A defesa contatada por telefone não prestou objetivamente informações sobre o endereço residencial."
Reprodução Cunha e sua esposa, a jornalista Cláudia Cruz
Após renunciar ao mandato de presidente da Câmara, em 7 de julho, Eduardo Cunha devolveu as chaves da residência oficial em Brasília, em 1º de agosto. O deputado suspenso vai ocupar um apartamento funcional oferecido pela Casa.
O juiz da Lava Jato afirmou taxativamente que 'é dever da defesa manter o Juízo informado sobre qualquer mudança de endereço de seu cliente'. "É evidente que aqui não há um propósito de ocultação, mas apenas a intenção da defesa de ter mais prazo para se manifestar sobre o despacho (que trata da audiência). Não obstante, a recusa além de violar dever processual prejudica o andamento do processo. Assim, intime-se a defesa para apresentar de imediato o endereço atual e onde a acusada Cláudia Cordeiro Cruz pode ser encontrada", determinou o magistrado.
"Esclareço que isso não afetará o prazo para manifestação. Faça-se a intimação por telefone ou outro meio expedito, já que inviável esperar o prazo do processo eletrônico."
Esta não é a primeira vez que a Justiça Federal encontra dificuldade para intimar Cláudia Cruz. No fim de junho, após o juiz Moro aceitar a denúncia da Procuradoria da República contra ela, a Justiça tentou por duas vezes achar a mulher de Eduardo Cunha para informá-la que havia se tornado ré no processo.
Defesa
O advogado Pierpaolo Bottini, que defende a mulher do deputado Eduardo Cunha, afirmou que ela está à disposição da Justiça para prestar todos os esclarecimentos. Pierpaolo esclareceu que Cláudia Cruz estava de mudança (da residência oficial da Presidência da Câmara).
"Uma vez instada, a defesa apresentou dois endereços de Cláudia, tanto em Brasília como no Rio", disse Pierpaolo Bottini. "Mais que isso, ela se deu por intimada, dispensando a necessidade de intimação pessoal no sentido de contribuir com a Justiça e dar celeridade ao procedimento. Claramente, não há nenhum interesse em procrastinar, mas interesse em colaborar com a Justiça."

Cunha prova que continua mandando no País

247 - O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB) mandou avisar que não admite ser cassado. Admite menos ainda ser enviado para casa antes do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff. Em privado, Cunha diz que Michel Temer e os partidos que apoiam o seu governo lhe devem gratidão por ter deflagrado o golpe. Ignorado, ameaçou reagir. E seu encontro com a guilhotina foi empurrado para 12 de setembro —uma segunda-feira, dia de quórum fraco. Contrariando aqueles que esperavam a votação para agosto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) deu nova sobrevida ao antecessor.
Segundo o jornalista Josias de Souza, "empenhado em evitar confusões que coloquem em risco o afastamento de Dilma, o Planalto celebra o silêncio de Cunha". Ele complementa: "Na Câmara, o mutismo da maioria evidencia o poder de fogo do personagem. Nesse cenário, basta que um deputado agache no plenário para ser considerado um político de grande altivez".
O jornalista Kennedy Alencar faz avaliação semelhante. Para ele, adiar a votação de Cunha para 12 de setembro "mostra que o governo e boa parcela da Câmara temem segredos que Cunha possa tornar públicos" e "uma clara articulação para facilitar a vida do ex-presidente da Câmara".
"Aprovar o impeachment de Dilma e dar a Cunha a chance de escapar confirma o uso de dois pesos e duas medidas e reforça a tese de um golpe parlamentar contra a petista", ressalta.
Ele pontua que "será um escândalo realizar essa votação num dia de baixa presença no Congresso Nacional". "Como são necessários 257 votos dos 513 deputados para que Cunha seja cassado, essa data é um presente para o peemedebista e um tapa na cara da sociedade diante da quantidade de acusações graves que pesam contra ele", diz.

FHC pediu a Emílio Odebrecht blindagem para Serra e Aécio

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"Recentemente, Emílio Odebrecht, presidente do conselho da maior empreiteira do País que leva o sobrenome da família, recebeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para uma conversa delicada. FHC falou sobre a possibilidade de um abrandamento da denúncia envolvendo José Serra e Aécio Neves", informa o jornalista Maurício Dias, da Carta Capital; "Emílio, delicada e amavelmente, respondeu mais ou menos assim: 'Temos 52 executivos. Se quiséssemos, não teríamos condições de influenciá-los'
Por Maurício Dias, na coluna Rosa dos Ventos (Carta Capital)
Recentemente, Emílio Odebrecht, presidente do conselho da maior empreiteira do País que leva o sobrenome da família, recebeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para uma conversa delicada.

Encontro posterior ao vazamento de trechos das delações premiadas dos executivos da empresa e, principalmente, a de Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, preso em Curitiba pela Operação Lava Jato.

FHC falou sobre a possibilidade de um abrandamento da denúncia envolvendo José Serra e Aécio Neves.

Emílio, delicada e amavelmente, respondeu mais ou menos assim: “Temos 52 executivos. Se quiséssemos, não teríamos condições de influenciá-los”.

E arrematou: “Se não temos condições aqui dentro, imagine lá fora”.

De volta para o passado: PM X estudantes


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O cheiro acre do gás lacrimogêneo pairou ontem sobre a rua da Consolação, em São Paulo, onde a Polícia Militar dispersou com bombas e cassetetes um protesto estudantil. Um outro confronto entre policiais e secundaristas, na Praça Roosevelt,  já havia produzido 13 prisões, inclusive a apreensão de alguns menores, segundo publicou no Facebook o movimento Território Livre. Os estudantes não protestavam contra Temer mas contra o projeto “escola sem partido”, que tramita na Câmara, apoiado por um movimento conservador, e visa esvaziar de conteúdos críticos os currículos e práticas pedagógicas no ensino fundamental e médio. Mais informações em https://www.facebook.com/tlivre
A ação policial contra os estudantes foi mais um ensaio da escalada repressiva que se anuncia no horizonte da vida depois do golpe. Precisamos nos adaptar ao lema de Temer, Ordem e Progresso. É disso que falam ensaios como este, bem com a proibição de protestos nos Jogos Olímpicos do Rio. Precisamos entender que daqui para a frente tudo será diferente,  não haverá complacência com protestos, movimentos sociais, com aquela farra democrática a que estávamos acostumados.
Temer tenta enquadrar o Brasil mas é enquadrado pelas elites. Por isso disse aos empresários que não será candidato à reeleição em 2018.  Com os sinais de reprovação à gastança e ás medidas populistas,  os que de fato mandam no país avisaram ao interino que está para ser efetivado: “não foi para isso que te colocamos aí”.
Mas para implementar a agenda neoliberal que é a razão do impeachment de Dilma, Temer vai ter que reprimir. E para isso, é bom ir ensaiando. Um ensaio no Rio, outro em São Paulo, afora as operações atabalhoadas contra supostos terroristas.  Tudo isso lembra um passado que parecia sepultado. Não é paranoia. Não vê quem não quer.

Na cara dura, aliados tentam salvar Cunha

Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcou para 12 de setembro a votação da cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma segunda-feira, a 20 dias das eleições municipais; aliados já comemoram a provável impossibilidade de se ter quórum no primeiro dia útil da semana, somado ao esvaziamento que haverá em plenário próximo da data do pleito municipal; para votar a cassação, são necessários ao menos 257 votos; Paulinho da Força (SD-SP) comemorou descaradamente a escolha da data; Jovair Arantes (PTB-GO) foi outro, ao dizer que o quórum não pode ser controlado pela Câmara nesse período; fiéis escudeiros de Cunha, que disse ao delator Júlio Camargo que sustentava 200 deputados, já imaginam que a votação ocorra apenas em novembro

Propina da Odebrecht a Serra compra 13 triplex e 13 sítios em Atibaia


Valter Campanato/Agência Brasil: <p>jose serra</p>
Apesar de a Operação Lava Jato e a mídia anti Lula tentarem transformar em verdadeiros palácios imóveis que afirmam que o ex-presidente só poderia ter adquirido aceitando propina, na verdade os já lendários tríplex no Guarujá e Sítio em Atibaia são propriedades modestas, de classe média, e, mesmo que fossem de Lula, seriam compatíveis com seus rendimentos.
O apartamento de número 164 A do edifício Solaris, no Guarujá, tem 215 metros quadrados. É um imóvel típico de classe média. O Blog fez uma pesquisa e descobriu que os apartamentos desse prédio pertencem a gerentes de banco, médicos, advogados e até a representantes comerciais, entre outros.
Apesar de toda a mística criada pela mídia, não é sem razão que as imagens do apartamento em si que a mídia divulga são sempre imagens publicitárias do empreendimento imobiliário, em geral produzidas em computador e mostrando o apartamento mobiliado. A intenção é a de vender ao público a imagem de um imóvel nababesco.
Vale conferir imagens mais, digamos, “pé no chão” do imóvel pelo qual a Lava Jato e a mídia anti Lula dizem que o ex-presidente vendeu sua alma.
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Quanto ao preço desse imóvel que dizem que fez Lula perder a cabeça e roubar o país, a mídia diz que custa “entre 1,5 e 1,8 milhão de reais”. As avaliações pouco confiáveis da mídia antipetista e antilulista podem ser conferidasaquiaqui ou aqui
Um detalhe: não existe prova de que o apartamento pertença a Lula, apesar de ser um imóvel tão modesto (em se tratando de um ex-presidente). Para termo de comparação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comprou recentemente um apartamento de 200 mil euros para filho que teve – ou que pensou ter tido – fora do casamento e outro apartamento de 950 mil reais para a nova esposa, 46 anos mais jovem que ele.
De onde vem o dinheiro para o tucano comprar imóveis tão caros para dar de presente? Qual é a atividade de FHC que está lhe rendendo tanto dinheiro? Para Ministério Público, Polícia Federal etc., não vem ao caso.
Quanto ao sítio em Atibaia que os inimigos de Lula na mídia, no Ministério Público e na PF dizem ser dele, esse é alvo de uma campanha ridícula que tenta transformar uma propriedade de meros 800 mil reais (valor lançado em escritura e que não sofreu contestação dos investigadores anti Lula) em outra propriedade nababesca.
A mídia chegou a alardear que o sítio em Atibaia (SP) que dizem ser de Lula tem “até um Cristo Redentor”. Nas imagens abaixo, você confere essa propriedade “faraônica”.
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No último domingo, porém, um fato inédito no jornalismo corporativo brasileiro mostra quão diferentes são os critérios para tratar homens públicos no Brasil. Reportagem do jornal Folha de São Paulo revelou que executivos da empreiteira Norberto Odebrecht afirmaram aos investigadores da Operação Lava Jato que a empresa pagou ao ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), R$ 23 milhões por baixo do pano.
No âmbito da delação premiada de executivos e do próprio presidente da empreiteira, para comprovar que houve o pagamento por meio de caixa dois a Serra a Odebrecht vai apresentar extratos bancários de depósitos realizados fora do país que tinham como destinatário o ex-governador de São Paulo e atual senador pelo Estado.
A Folha também apurou que funcionários da companhia relatarão que os pagamentos foram propina a Serra no período em que ele foi governador de São Paulo (de 2007 a 2010). Os pagamentos estariam vinculados à construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas, obra que não termina nunca – os tucanos governam São Paulo há vinte anos e essa obra já dura uma década.
Contudo, a cereja do bolo é que, em valores atualizados, a suposta propina atinge 34,5 milhões de reais.
Vale lembrar que a Odebrechet é só uma das empreiteiras que acusam Serra. Em junho, saiu timidamente na imprensa antipetista que a empreiteira OAS também afirma, em acordo de delação premiada, ter pago propina a Serra. O valor dos pagamentos não foi divulgado, mas é perfeitamente verossímil supor que não sejam valores muito diferentes dos denunciados pela Odebrechet.
Este Blog não acredita na denúncia contra Serra, assim como não acredita nas denúncias contra Lula. Em benefício do Estado Democrático de Direito, ambos devem ser considerados inocentes enquanto seus acusadores não provarem o que dizem.
Lula foi acusado sem provas, com base em suspeitas e especulações de procuradores. Serra foi acusado com mais elementos. Há provas testemunhais contra ele, enquanto que, contra Lula, vale repetir, só existem suposições de investigadores da Lava Jato. Contudo, os acusadores de Serra têm que provar o que dizem, assim como os procuradores têm que provar as acusações que fazem a Lula.
O que espanta, enoja, indigna, porém, é que a mídia, setores da opinião pública e a própria Lava Jato tratam os dois políticos de forma diametralmente diferente. Não querem saber de presunção de inocência para Lula, mas querem o benefício para Serra. Aliás, os próprios tucanos condenam Lula com base nas evidências contra si, mas absolvem Serra apesar de pesarem contra si evidências igualmente sérias.
E não é só. Apesar das denúncias contra Serra, ele ainda não responde a processo. Como sempre, quando se trata do PSDB as providências da Justiça demoram tanto que eventuais crimes acabam ficando impunes. O mensalão do PT, por exemplo, foi julgado em apenas seis anos. Já o mensalão do PSDB está parado na Justiça há 18 anos.
A comparação entre os casos de Serra e Lula, porém, é de uma eloquência tonitruante. Só para efeito de comparação, os 34,5 milhões de reais de propina que o tucano teria recebido só da Odebrechet seriam suficientes para comprar 13 triplex e 13  sítios em Atibaia.
Apesar disso, a notícia saiu uma única vez na Folha, o resto da mídia soltou notinhas escondidas nos dias seguintes, o Jornal Nacional não noticiou absolutamente nada e o caso caminha celeremente para o ostracismo.
Os colunistas e editorialistas da mídia antipetista e até os comentaristas de internet, eternamente indignados com a “corrupção do PT”, não dizem nada, não cobram apurações, não fazem uma única das ilações que fazem quando a denúncia é contra petistas.
Eis por que este Blog não aceita o linchamento de Lula ou do PT sob a desculpa de repúdio à corrupção. Se houvesse tratamento igual para denúncias igualmente graves contra uns e outros, aqui não haveria a menor queixa – talvez contra o julgamento precipitado e a violação da presunção da inocência. Mas acusar e condenar uns sem julgamento e absolver outros sem nem investigar, isso é inaceitável.
Ou a lei vale igual para todos ou não vale para ninguém. Ou o repúdio à corrupção vale para todos os acusados ou não passa de farsa. E é facílimo mostrar como as suspeitas de corrupção contra tucanos e seus aliados são tratadas diferente das suspeitas contra petistas e os seus.
É irônico a acusação de roubo de dinheiro público contra Serra envolver valores 13 vezes maiores do que os da acusação contra Lula. E é simbólico.
Vale a antiga premissa de que, no Brasil, para ficar impune é preciso roubar muito. Mesmo se formos admitir que tanto o petista quanto o tucano são “ladrões” – e isso é inadmissível, até prova em contrário –, fica claro que o segredo da impunidade dos tucanos pode ser roubarem muito, o suficiente para comprar morosidade da Justiça, comprar impunidade.

Temer e a Odebrecht: não foram 10, foram 11 milhões

BETO BARATA: <p>Presidente Interino Michel Temer durante cerimônia de posse do senhor Torquato Jardim no cargo de Ministro da Transparência, Fiscalização e Controle. (Brasília - DF, 02/06/2016) Foto: Beto Barata/PR</p>
Acusado no depoimento de Marcelo Odebrecht de ter pedido em pleno Palácio do Jaburu uma doação de R$ 10 milhões, via caixa dois, que teria sido entregue em dinheiro vivo, o interino Michel Temer tratou do tema, em entrevista ao Valor; "Eu era presidente do partido e ele acertou uma contribuição. Até se falou em R$ 10 milhões, mas na verdade foram R$ 11,3 milhões que ele entregou ao partido — tem a prestação de contas para todos os candidatos a governador...", disse ele, afirmando que as doações de empresas foram criminalizadas no Brasil; Temer anunciou uma "luta feroz na Previdência", a abertura do pré-sal e disse que não será candidato em 2018, como se tivesse voto para isso – hoje, segundo a Vox Populi, 79% dos brasileiros defendem sua saída imediata O interino Michel Temer concedeu uma entrevista ao Valor Econômico (leia aqui), em que falou de temas como a reforma da Previdência, a abertura do pré-sal e o pedido de R$ 10 milhões feito ao empreiteiro Marcelo Odebrecht, em pleno Jaburu, que teria sido materializado numa doação em dinheiro vivo (leia aqui).
Sobre Previdência, ele defendeu idade mínima de 65 anos para os homens e 62 para as mulheres. "Sabidamente as mulheres hoje vivem mais que os homens, mas tem essa coisa da dupla, tríplice jornada. Na minha cabeça, tem que haver uma pequena diferença. Se o homem se aposenta com 65, a mulher pode se aposentar com 62. Já é um avanço", disse ele, que previu uma batalha sobre o tema. "As centrais vão acabar não apoiando, seja qual for a reforma. Se não apoiarem, vamos mandar ao Congresso e ver o que acontece. Queremos fazer depois uma publicidade aos jovens e dizer: 'Vocês, daqui a dez, 20 anos, não vão ter como receber' (...) Sim, vai ser uma luta feroz, mas vai ter que ser enfrentada. Quando você me pergunta o que ocorrerá depois do impeachment, essa será uma das batalhas."
Temer também falou sobre seu pedido de R$ 10 milhões à Odebrecht, em pleno Palácio do Jaburu, que, segundo Marcelo Odebrecht foi doado, via caixa dois e em dinheiro vivo – dos quais R$ 4 milhões para Eliseu Padilha, braço direito de Temer.
"Eu não tenho medo dessas coisas. Eu era presidente do partido e ele acertou uma contribuição. Até se falou em R$ 10 milhões, mas na verdade foram R$ 11,3 milhões que ele entregou ao partido — tem a prestação de contas para todos os candidatos a governador...", disse o interino. "Eu não sei se ele falou. A coisa vai para a imprensa e você não sabe se é fruto da delação, se é fruto do advogado. Você não sabe de onde veio. Então, o que eu faço? Eu não vou negar que ele esteve comigo, como tantos outros empresários estiveram comigo. Ainda hoje, quando não há a menor possibilidade de pessoa jurídica [doar dinheiro para campanha] eles vêm me perguntar como vão colaborar. Quando havia a possibilidade das doações, era uma enxurrada de gente pedindo para colaborar." 
Temer também disse que não será candidato em 2018, como se tivesse voto para isso e fosse um candidato viável – hoje, 79% dos brasileiros, segundo o Vox Populi, defendem sua imediata saída, seja com novas eleições, seja com a volta de Dilma.
Sobre a abertura do pré-sal, outro tema polêmico, também rejeitado pela maioria dos brasileiros, Temer disse que vai passar. "É prioridade na Câmara, será aprovado, mas o problema é que as eleições municipais atrapalham as votações."
O interino também disse não temer a ação movida pelo PSDB no Tribunal Superior Eleitoral, que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. "São questões apartadas, o vice e o presidente são instituições separadas no texto constitucional. Embora examinadas conjuntamente, minha conta foi prestada separadamente. O que é preciso é verificar se o que eu recebi foi fruto também de desajustes eleitorais."

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108 Comentários em "Temer e a Odebrecht: não foram 10, foram 11 milhões"
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Anistia entre amigos prepara nova ordem política


"Esforço para descriminalizar contribuições eleitorais destinadas a Temer e Serra, iguais àquelas usadas para perseguir lideranças ligadas ao governo Lula-Dilma, não reflete apenas a realidade de um país onde a Justiça funciona seletivamente. Expressa uma tentativa de construir uma nova ordem republicana, pós-impeachment, com exclusão de lideranças populares e sem alternâncias no poder, como aquela iniciada pela chegada do Partido dos Trabalhadores ao Planalto, em 2003". Temer foi citado por Marcelo Odebrecht como responsável por um pedido de R$ 10 milhões, doado via caixa dois, e Serra de R$ 23 milhões.
Sem um grama de espírito panfletário, pode-se dizer que o poder de uma classe dominante funciona assim mesmo.  
     Depois de conduzir um processo seletivo de criminalização e encarceramento de  adversários políticos, os aliados de Michel Temer, acusados de envolvimento nos mesmos crimes de corrupção apurados na Lava Jato resolvem preparar um conforto exclusivo -- encerrar a operação e garantir anistia para os amigos que deram o azar de serem apanhados na operação. Depois que as forças do adversário foram duramente atingidas, suas fileiras se encontram dispersas e boa parte das lideranças,  encarceradas, procura-se fazer uma previsível correção de rota.
     A entrevista de Michel Temer publicada no Valor de hoje é parte deste esforço. Apanhado numa delação premiada de Marcelo Odebrecht, Temer admitiu que recebeu o dinheiro. Não foram 10 milhões de reais. Foram 11,3 milhões esclareceu, com prudência profissional, já que este é o número  consta da "prestação de contas do período." Temer fala de um período em que, como vice presidente da República e presidente do PMDB, havia uma "enxurrada de empresários querendo colaborar" e que, na época, 2010, isso era perfeitamente legal. Tocando no nervo da discussão, afirmou aos jornalistas:
     "Essas doações estão sendo criminalizadas. Por quê? Não pelo seu aspecto formal, mas pelo seu aspecto mais indutivo, achando que aquilo entrou porque havia propina. Então, vai precisar provar que aquele valor que entrou no partido e que houve prestação de contas é fruto de propina. É uma questão a ser examinada."
      Este é o ponto em discussão. Envolve o destino de investigações que começam a se aproximar de figurões do governo Temer -- além do próprio interino, estão citados José Serra e Eliseu Padilha, sem falar no eterno Aécio Neves.
     Também diz respeito a quem está interessado em debater formas de reconstruir o sistema democrático massacrado por condenações duríssimas. Ainda  envolve os debates sobre acordos de leniência, que protegem os empregados de uma empresa -- e o PIB do país inteiro -- contra desmandos e abusos cometidos por executivos e dirigentes acusados de corrupção. Podemos avançar numa saída democrática. Ou abrir espaço para um regime autoritário, que exclui a participação das lideranças populares.
     O argumento do presidente interino ajuda  a recordar que o eixo das condenações da Lava Jato foi constituido por essa mudança de natureza. Alterou-se a visão do chamado objeto investigado. Aquilo que se via como doações de campanha, e que eram perfeitamente legais na época, constituindo no máximo irregularidades fiscais conhecidas como caixa 2,  passaram a ser classificadas como propina. Não era um percurso fácil, porém.
 Em março do ano passado, quando  o impeachment não passava de um projeto obsceno   dos adversários de Dilma vencidos cinco meses antes nas urnas presidenciais, a Folha de S. Paulo registrou a dificuldade de separar uma coisa da outra."Doação ou propina," escreveu o jornal em editorial, que informou: "Em relatórios enviados ao STF, Polícia Federal diz que, em alguns casos, dispõe de 'elementos iniciais' a indicar que a doação eleitoral foi utilizada como forma de corrupção." Conforme o jornal,  em alguns casos a própria "PF ressaltava a necessidade de aprofundar análises."
   Já naquele momento, as investigações apontavam para um equilíbrio notável na distribuição de doações de campanha, que jamais seria acompanhado, mais tarde, pela investigações e punições. Um levantamento do Estado de S. Paulo mostrou que entre 2007 e 2013, o PMDB, PSDB e PMDB receberam um bolo total de R$ 571 milhões em donativos de empresas, dos quais 77% haviam saido de empresas com negócios ligados a Petrobras, alvo da Lava Jato. Segundo o jornal, o Partido dos Trabalhadores ficou com a maior parte e o PSDB veio logo atrás, com mais 42% dos donativos. Na campanha de 2014, as grandes empreiteiras envolvidas também fizeram doações aos grandes concorrentes, partilhando somas equivalentes mas não iguais. Se a OAS chegou a doar R$ 30 milhões a Dilma, deixando R$ 10,7 milhões para Aécio, a candidata do PT recebeu R$ 16,8 milhões da Andrade Gutierrez, contra R$ 20,2 milhões para Aécio.
    Como registrei em A Outra História da Lava Jato:  "Estamos falando de quem negocia bilhões de reais, para lá e para cá.  Dinheiro puro, sem ideologia. Vamos falar em cortesia e boas maneiras?"
    Interpretando o espírito da legislação, escrevi: O jogo sempre foi este e é para ser este: pedir e prometer, pagar e esperar."
    O que separa uma coisa da outra? A política.
    Entrevistado neste espaço, o professor Sidne Chalhoub, que leciona História do Brasil em Harvard, esclarece o ponto:
    -- Hoje o Judiciário tem hoje um poder imenso, sem paralelo. A tese é que 'tudo é corrupção e todos são corruptos.'A partir daí, cria-se o arbítrio, que é o caminho para a seletividade, para o uso político da Justiça."
      Avançando no ponto de vista, Chalhoub explica que a natureza da legislação contribui para esse poder discricionário dos magistrados:  
     "Nosso sistema legal tem regras múltiplas, contraditórias e incoerentes. Essa situação cria um espaço infinito para se agir arbitrariamente, porque a cada dia você pode mudar a interpretação de determinada lei, de uma regra, e aplicá-la seletivamente."
    A política entrou em cena, nos primórdios da Lava Jato, para culpar e criminalizar. Volta a cena, agora, para aliviar e inocentar.
    Essa é a questão. As coisas não poderiam estar mais claras.
    Após a destruição do sistema político construído a partir da Constituição de 1988, que instituiu o mais amplo e duradouro regime de liberdades públicas da história do país, o plano é consolidar uma nova ordem republicana.
    Ampla, geral e irrestrita, a anistia de 1979 preparou a democracia dos anos seguintes. Recusou as objeções contra Leonel Brizola, Miguel Arraes e outras lideranças consideradas indesejáveis pelos poderosos de então. Deu-se um jeito para abrir a porta das cadeias para os condenados por ações armadas. Nasceu um país onde a liberdade de expressão e o direito de organização eram valores absolutos. Os partidos comunistas, mantidos na ilegalidade desde 1947, foram legalizados antes da Constituinte. As centrais sindicais, alvo de perseguição duríssima por parte dos golpistas de 64, puderam ser organizadas.
   O debate, hoje, envolve o país dos próximos anos, onde a votação do impeachment de Dilma será uma fronteira. A anistia entre amigos humilha os que acreditam que todos são iguais perante a lei. Institui a desigualdade como método preferencial de tratamento político.
   O acordo que se busca em 2016 tem como base a preservação dos amigos e a exclusão de lideranças populares que têm sua  expressão maior é o Partido dos Trabalhadores, cuja extinção já aparece no radar, e a consolidação de um monopólio político conservador, à prova de alternâncias no poder, como aquela iniciada pela chegada de Lula ao Planalto, em 2003. Recuperando uma posição de força perdida no final da ditadura militar, a classe dominante não quer riscos.