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11.26.2020

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA. E O BRASIL É RACISTA, SIM!

Resultado de imagem para vidas negras importam

Por Roseli Rocha
“Não, não consigo respirar!”.
É estarrecedor o número de casos de pessoas negras perseguidas, torturadas e mortas pelo racismo brasileiro. Se a miscigenação e a morte por inanição fracassaram como estratégias da política de branqueamento implementada no final do século XIX pelo Estado racista brasileiro, não significa que o projeto idealizado pela elite branca dominante desse país tenha sido derrotado.
A branquitude impera no comando da nação, sem perder a sua hegemonia desde o Brasil colônia. E seus tentáculos ideológicos alcançam, de forma bastante exitosa, todas as esferas da vida social. A omissão expressa no “silêncio ensurdecedor” da sociedade frente ao extermínio de negras e negros no Brasil comprova, inegavelmente, que a política de branqueamento se encontra ainda em curso: pessoas negras representam 76% das vítimas de homicídio no país. Há quase 500 anos, a carne mais barata do mercado continua sendo a negra.
Embora negros e negras tenham conseguido resistir à fome, às doenças decorrentes da miséria, às violências simbólicas, materiais e físicas perpetradas pelo Estado, tornando-se hoje maioria da população (quase 56%), ainda continuam sendo alvo de violenta desumanização e violação sistemática de seus direitos. Não têm acesso à terra, à moradia e trabalho dignos, à educação, à saúde de qualidade e a todas as riquezas produzidas por eles e seus antepassados.
Negros e negras sentem, diariamente, seus pescoços estrangulados pelas mãos, joelhos e pés desse sistema racista, sexista e capitalista. Sentem, desde o nascimento, o ar sendo retirado de seus pulmões pelas condições que lhes são impostas para sua sobrevivência. Sentem essa ausência de ar quando precisam enfrentar transportes superlotados, abarrotados de outros iguais. Sentem quando a cor de sua pele importa mais que o volume e o conteúdo de seu currículo para admissão em um bom emprego ou para ascensão a cargos de melhor remuneração. Falta-lhes ar quando não há saneamento básico, nem acesso à saúde, à educação, à justiça e quando são impedidos de professar a sua fé religiosa, se esta for de matriz africana.
São sufocados pelas mãos brancas e racistas do Estado quando recursos para investimento público em políticas de saúde, educação e outras políticas de seguridade social são congelados por vinte anos pelos representantes da elite política e econômica desse país. Negros e negras representam quase 80% da população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) e são a maioria dos que demandam a política de assistência social.
Então, sobre quem os impactos dessas medidas de “austeridade” recairão mais fortemente? A precarização dos serviços públicos e o sucateamento de seus equipamentos de atendimento à população atingirão, sobretudo, quais corpos e vidas? Sobre quem a pandemia da covid-19 tem exercido maior impacto epidemiológico? Quem são, majoritariamente, as vítimas fatais do novo coronavírus?
O racismo é estrutural e estruturante das relações sociais, por isso, não adianta não ser racista só no dia da consciência negra. E não adianta não ser racista no discurso, se na ação cotidiana reproduz comportamentos racistas, não abre mão de privilégios e subestima pautas e reivindicações negras. O que adianta autodeclarar-se antirracista se, na hora de defender ações afirmativas, se omite ou engrossa o coro de que essas ações são “mimimi” ou “racismo reverso”?
Não adianta ler manifestos antirracistas, Angela Davis e dizer que “vidas negras importam” se, na hora de compartilhar espaços de poder historicamente ocupados por brancos, utiliza o discurso da meritocracia para justificar a manutenção do “status quo” monocromático.
De fato, vidas negras importam... Mas, para quem? E se todas as vidas importam, por que negras e negros continuam sendo as maiores vítimas de homicídios, agressões e representam os índices mais alarmantes das desigualdades? A luta pela equidade e o combate ao racismo têm que ser agora e durante todos os 365 dias do ano!
Vamos celebrar sim, Zumbi e o espírito quilombola vivem em nós!
Mas o Dia Nacional da Consciência Negra não é só dia de festa. É momento de reflexão, diálogos e ações de fortalecimento da luta pela superação dessa sociabilidade estruturalmente racista. Parafraseando a grande escritora Conceição Evaristo, “nós somos eternamente náufragos, mas os fundos oceanos não nos amedrontam e nem nos imobilizam. Uma paixão profunda é a boia que nos emerge”.
Viva Zumbi, viva Dandara! Viva, povo negro, viva!

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