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7.04.2007

Qualidade de Vida: inimiga silenciosa (hipertensão)

INIMIGA SILENCIOSA
01/07 - Falta de conhecimento facilita o avanço da hipertensão, que já atinge 25% dos brasileiros. Doença ataca órgãos vitais como o coração e pode ser evitada com hábitos saudáveis. Criança, jovem, adulto, velho. Homem ou mulher. Quando se trata de hipertensão, o alvo é tão elástico quanto suas conseqüências. Doença sorrateira, atinge um bilhão de pessoas no mundo e 25% dos brasileiros. Segundo pesquisadores da Escola de Economia de Londres, do Instituto Karolinska (Suécia) e da Universidade do Estado de Nova York, o número de hipertensos nos países em desenvolvimento, como o Brasil, deve aumentar 80% até 2025. Os números são alarmantes. A doença ataca artérias, coração, rins, provoca infarto, angina, derrame - doenças cardiovasculares responsáveis por 1,18 milhão de internações no Sistema Único de Saúde (SUS), só em 2005. A desinformação também impressiona. A Sociedade Brasileira de Cardiologia constatou que apenas 18% da população sabem que pressão alta aumenta chances de problemas cardíacos. O desconhecimento leva a outra conseqüência grave: a falta de prevenção. A pressão alta não tem cura, mas pode ser controlada com medidas simples, basicamente com mudança de hábitos, como a que se submeteu o aposentado João Francisco Miranda. Ele se descobriu hipertenso aos 67 anos. Desde então, segue uma rotina rigorosa de exercícios físicos e dieta saudável. Hoje, aos 82 anos, está saudável. Já o auxiliar gráfico André Lima, de 29 anos, hipertensão diagnosticada aos 23, faz pouco caso do distúrbio. "Não sou hipertenso, sou relaxado", diz. O tom brincalhão contraria a seriedade do assunto e a orientação para evitar a pressão alta. O cardiologista Bruno Ganem é categórico: "O segredo é reduzir sal e bebidas alcóolicas, fazer pelo menos 30 minutos de exercícios físicos todos os dias e manter o peso em níveis ideais. Uma receita que vale para as pessoas de 30, 40, 70, 80 anos ou mais, hipertensas ou não", ensina. A INDÚSTRIA LUCRA E O PACIENTE ADOECE - Entre março de 2006 e março deste ano, o mercado farmacêutico lucrou cerca de R$ 1,87 bilhão com a venda de comprimidos, pílulas e drágeas anti-hipertensivas. Os dados fazem parte do levantamento anual do IMS-Health, órgão que confere as vendas e o faturamento dos laboratórios. No mesmo período, pela primeira vez na história, o medicamento que mais rendeu dividendos ao setor foi um anti-hipertensivo. Um único remédio atingiu a cifra de R$ 200 milhões, desbancando os anticoncepcionais, antiinflamatórios e medicamentos para disfunção erétil, que tradicionalmente são os mais lucrativos. Desse balanço, advém a óbvia conclusão: os brasileiros estão consumindo mais medicamentos para controlar a pressão. Essa certeza vem acompanhada de uma outra: ao mesmo tempo em que procuram na farmácia a solução para a pressão alta, desconhecem informações básicas sobre o distúrbio. Segundo a pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), apenas quatro em cada 10 entrevistados sabem que o nível de pressão arterial recomendável para uma pessoa adulta é 12 por 8. O estudo ouviu 2.012 pessoas em 70 cidades do país. "Estamos alarmados com o nível de desinformação sobre os fatores de risco. Precisamos criar programas de alerta", propõe Álvaro Avezum, diretor de Promoção à Saúde Cardiovascular da SBC. Para a cardiologista Núbia Vieira, do Instituto do Coração, unidade do Distrito Federal, o importante, antes de tudo, é convencer as pessoas sobre o perigo da pressão alta. "A doença é assintomática, silenciosa. As complicações vão surgir depois de 10, 15 ou 20 anos. E os pacientes não gostam de pensar no que vai ocorrer no futuro, não tomam uma atitude agora", afirma a médica do Incor-DF. Sem adotar mudanças no estilo de vida para evitar o pior, os portadores de hipertensão ignoram possuir um risco duas vezes maior de sofrer um infarto ou três vezes maior de um derrame. SINAL VERMELHO - 1 bilhão de pessoas são hipertensas hoje, no mundo; 1,5 bilhão será o número de pessoas com pressão alta, em 2025; 25% dos brasileiros são hipertensos; O TAMANHO DO ESTRAGO - No Brasil, a hipertensão é responsável por: 60% dos registros de infarto; 25% das hemodiálises por insuficiência renal crônica; 80% dos casos de acidente vascular cerebral (AVC), o derrame. Fonte: Sociedade Brasileira de Hipertensão - MULHERES EM RISCO - Um grupo em especial chama a atenção dos médicos, segundo Otávio Gebara, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). São as mulheres na faixa dos 50 anos, que estão na menopausa. "Elas deixam de produzir o hormônio feminino estrogênio, que protege as artérias, e ficam mais propensas a ter picos de pressão alta", esclarece o cardiologista. Segundo ele, 30% das mulheres com mais de 50 anos são hipertensas. "Algumas ficam até assustadas porque, quando jovens, até por volta dos 45 anos, tinham pressão arterial normal ou baixa. Por isso, é importante fazer a medição periodicamente", orienta. Esse acompanhamento é vital para o controle da hipertensão de qualquer pessoa, seja ela criança, adulta ou idosa, homem ou mulher. "Todo médico deve medir a pressão do seu paciente. Não precisa ser um cardiologista para fazer isso. Um dermatologista, um ortopedista, um psiquiatra, qualquer especialista deve fazer o procedimento", explica Gebara. Fernando Nobre, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, propõe medidas incisivas. "Precisam ser implantadas políticas para o diagnóstico e o tratamento. As entidades médicas têm boas idéias, mas falta dinheiro. O governo tem recursos, porém, não implementa ações concretas para o controle e o combate da doença", critica. O duvidoso e o certo. André Lima, 29 anos; Hipertenso desde os 23; Como controla: futebol nos fins de semana e redução do sal. O auxiliar gráfico André Lima sofre picos de pressão alta desde os 23 anos. Neto e sobrinho de portadores do distúrbio, ele descobriu o problema por acaso, quando passou mal e recebeu o diagnóstico de arritmia cardíaca. Mesmo assim, não é o que se pode chamar de um exemplo de controle. Certamente, os médicos ficarão seriamente preocupados se souberem que sua rotina inclui atividade física sem regularidade, dieta livre e sobrepeso. André não adota medida preventiva para manter a pressão sob controle. "Como de tudo, apenas com pouco sal. Adoro um churrasco. A minha atividade é o futebol nos fins de semana com os amigos." O peso está acima do recomendável - 92kg em 1,70m de altura. Para ele, a pressão alta tem a ver com o estado de espírito. "A minha hipertensão é de fundo emocional. Sempre que fico muito triste, preocupado ou tenho alguma contrariedade, ela sobe." O maior pico foi de 22 por 18, na morte de um amigo. "Às vezes sinto uma dor de cabeça e é só medir: ela está alta, em torno de 15 por 11, 16 por 12", revela. João Francisco Miranda, 82 anos; Hipertenso desde os 67; Como controla: exames preventivos, medicamentos, calorias contadas, exercícios diários e dança nas horas vagas. A vida do aposentado João Francisco pode parecer insípida e sem sal para muita gente. Sem sal, é mesmo, pois ele baniu o tempero da alimentação por orientação médica. Aos 82 anos, tem um estilo de vida disciplinado. Não por acaso. A rotina diária é organizada para controlar a hipertensão, com a qual ele convive sem problemas desde os 67 anos. "Tive duas crises, a última há nove anos. Desde então mantenho minha pressão em 12 por 8, 13 por 9", conta. Além de dois remédios diários, João Francisco segue uma dieta rigorosa de 1.800 calorias, pobre em gordura. Todo dia, exercita-se por uma hora e 10 minutos, o que lhe valeu uma silhueta de causar inveja a qualquer garotão: 70kg distribuídos por 1,65m de um corpo magro e musculoso. "Estou melhor do que muito jovem", brinca. "Faço os exames cardiológicos de três em três meses e os resultados sempre são normais. Isso porque me cuido." Nas horas vagas, ele gosta de dançar com a companheira Maria Adália, com quem vive há 17 anos. "É um bom exercício. Movimenta todo o corpo e ainda relaxa", ensina. Tânia Battella, 59 anos; Sofria de hipertensão decorrente da obesidade; Como resolveu: emagreceu 45 quilos, com uma cirurgia de redução de estômago, indicada para o caso dela. A arquiteta Tânia chegou ao seu limite em outubro de 2005, aos 57 anos. Os ponteiros da balança marcavam 118kg e os do esfigmomanômetro, o aparelho que mede a pressão arterial, atingiam picos de 18 por 10. Um caso de obesidade mórbida, com um índice de massa corpórea de 46 pontos, pois Tânia mede 1,59m, e de quebra, a hipertensão. O tratamento para o seu caso, segundo os médicos, era um só: emagrecer. "Fiz várias dietas e nenhuma dava certo. Sempre voltava a engordar e a pressão continuava alta", conta. A qualidade de vida só se deteriorava. "Sentia muito cansaço, não conseguia me movimentar, subir escadas e, mesmo tomando remédios, a pressão continuava acima do normal", revela a arquiteta. Depois de conversar bastante com a sua cardiologista, Tânia tomou a decisão de submeter-se a uma cirurgia de redução de estômago no Instituto do Coração, em São Paulo. Em dois anos, emagreceu 45kg, a pressão arterial se estabilizou em 10 por 7 e ela se livrou dos medicamentos anti-hipertensivos. "Fiz a operação por uma necessidade de saúde. Não passo fome, mas me alimento como uma criança de 10 anos, apesar de ter 59. Apenas seleciono o que vou comer. Vivo bem, agora posso brincar com os meus dois netos, caminhar e trabalhar melhor. Isso é o que importa", diz ela. Michele Gomes da Rosa, 28 anos; Sofria picos de hipertensão devido ao uso de anticoncepcional; Como resolveu: suspendeu o anticoncepcional e adotou uma alimentação equilibrada. A advogada Michele sabe que a hipertensão é uma doença séria e ficou preocupada quando em janeiro de 2006 a sua pressão passou de 12 por 8 para 15 por 10. "Pensei que fosse estresse, pois estava cuidando do casamento e da mudança para Brasília", diz. Não era. Os médicos não chegavam a um diagnóstico preciso. Como sentia tontura durante as crises hipertensivas, diagnosticaram labirintite, passaram uma medicação e ponto final. Michele casou, mudou de Porto Alegre para o Distrito Federal, conseguiu um novo emprego, mas continuou a ter crises hipertensivas, apesar da alimentação saudável e de se exercitar. Em janeiro de 2007, ela sentiu uma forte dor de cabeça durante o almoço e procurou um médico que mediu a sua pressão - 19 por 13 - e a encaminhou imediatamente para o Instituto do Coração do DF. "Ali fiz todos os exames possíveis, de sangue, urina, ressonância e tomografia de órgãos internos. Todos normais", diz a advogada. A única exceção foi o monitoramento da pressão arterial por 24 horas, com aquele aparelho que as pessoas usam no braço esquerdo por um dia e que faz a medição enquanto o paciente realiza as suas atividades normais e dorme. A de Michele deu 100% alta. O caso dela virou um quebra-cabeça para os médicos. Poderia ser insuficiência renal, mas os exames descartaram. Até que a cardiologista suspeitou do anticoncepcional. "Só foi retirar o anel contraceptivo e tomar uma medicação preventiva durante três meses para a pressão voltar aos níveis normais", lembra Michele, com alívio. O susto lhe rendeu o hábito de medir a pressão diariamente. "É sagrado. Comprei o aparelho e o meu marido aprendeu a usá-lo." A saída é a prevenção - Crie o seu exercício. Além de diminuir o risco cardiovascular por meio da queda na pressão arterial, os exercícios físicos melhoram o nível de colesterol e o perfil glicêmico, reduzindo a possibilidade de diabetes. O efeito independe da perda de peso que se possa alcançar. A atividade física que traz benefícios não é necessariamente a que se pratica em academia. Os carteiros, por exemplo, se exercitam no trabalho diário e têm risco cardiovascular reduzido em comparação com a população em geral. Qualquer pessoa pode incorporar a atividade física ao seu cotidiano com medidas simples como ir a pé para o trabalho, descer do ônibus um ponto antes, estacionar o carro a um quarteirão de distância do destino, usar escadas em vez de elevador. E adotar hobbies que exercitam, como danças de salão, marcenaria. NA HORA DE COMER... Para manter a pressão arterial sob controle, evite carnes salgadas como bacalhau, charque, carne-seca e defumados, conservas tipo picles, azeitonas, aspargo, patês e palmito, enlatados como extrato de tomate, milho, ervilha. E maionese pronta. O ideal é consumir os alimentos em seu estado natural. Fuja também dos salgadinhos, batata frita, aperitivos como amendoim salgado, castanhas salgadas, e dos aditivos em pacote usados como tempero em sopas e outros pratos. Na hora do queijo, prefira os brancos ou ricota sem sal. SAL NA MEDIDA CERTA - Os brasileiros consomem em média quatro a cinco colheres de café cheias de sal por dia - o equivalente a 10g -, enquanto o organismo precisa de apenas 2,5g, quantidade que existe nos próprios alimentos. A dica é substituir o sal por temperos naturais, como salsinha, cebola, orégano, hortelã, limão, alho, manjericão. E nunca ter um saleiro à mesa. O sal em excesso faz o corpo reter mais líquidos, e o aumento do volume de líquido faz a pressão subir. CONTROLE O PESO - O excesso de peso aumenta o risco de pressão alta, além de provocar excesso de gordura no sangue, diabetes, derrame, doenças respiratórias e cardíacas, cálculo na vesícula e câncer de próstata, mama, útero e cólon. A perda de peso diminui o risco de diabetes e doenças do coração, porque proporciona a redução do açúcar e das gorduras do sangue, como os triglicerídeos, o colesterol total e o colesterol ruim (LDL-colesterol) que se deposita nas artérias. Além disso, aumenta o colesterol bom (HDL-colesterol), que retira colesterol do sangue, evitando, assim, o seu acúmulo nas artérias. E não tem erro: os grandes segredos para a redução de peso são a dieta e atividade física. PARECE, MAS NÃO É... Há pessoas que só têm pressão alta quando estão no consultório médico - são os chamados "hipertensos do avental branco". Fora do consultório, a pressão é normal. Para saber se o paciente se enquadra nesse caso, o médico pode adotar a monitorização ambulatorial, que mede a pressão durante 24 horas com aparelho automático. Fontes: Decio Mion Junior e Carlos A. Segre, médicos, Sociedade Brasileira de Hipertensão, ROTINA DE ESTRESSE - Mário Tomelin, 69 anos; Hipertenso desde 2004, provavelmente devido a estresse; Como controla: medicamentos, exercício físico e alimentação balanceada. O professor Mário é um intelectual. Reitor da Universidade Latino-Americana? e do Caribe e autor dos livros Brasília, cidade quaternária e O quaternário, seu espaço e poder - em que defende a tese de que o conhecimento é a quarta força do mercado -, ele tinha uma rotina bastante atribulada até julho de 2004. Viajava constantemente para países europeus e da América do Sul e Central, dava palestras em universidades e empresas. "Era hipertenso, procurei vários médicos, mas nunca segui nenhum tratamento adiante", confessa. Em 12 de julho daquele ano, ao participar de um evento em um hotel de Brasília, Tomelin teve um pré-infarto, submeteu-se a um cateterismo para desobstruir as artérias e mudou o seu modo de viver. Hoje, caminha 4km três vezes por semana e, aos domingos, aproveita o Eixão livre de carros para andar de bicicleta. Todos os dias, toma dois medicamentos. "Tentei suspendê-los algumas vezes, mas a pressão sobe", explica Tomelin, que agora também cuida da alimentação. "Atribuo a minha hipertensão ao estresse. Tinha uma rotina muito agitada", conclui. DIAGNÓSTICO PRECISO - A pressão arterial varia ao longo do dia. É mais elevada pela manhã e mais baixa à noite, durante o sono. Para medi-la, de acordo com a cardiologista Chris Paulini , o paciente deve ficar sentado ou deitado durante cinco minutos. Verificam-se dois valores: o mais alto é medido quando o coração se contrai (sístole) e o mais baixo, quando ele relaxa entre os batimentos cardíacos (diástole). Nos casos de hipertensão, é comum tanto a pressão sistólica quanto a diastólica estarem elevadas. A pressão é considerada alta quando igual ou superior a 14 por 9. Mas não é apenas medindo a pressão que se diagnostica se o paciente é hipertenso. "É necessário todo um acompanhamento médico, medidas repetidas, exames que auxiliam no parecer definitivo", afirma Chris Paulini. Segundo ela, é comum, nos consultórios, o paciente manifestar a "hipertensão do jaleco branco": a pressão aumenta com o nervosismo da pessoa diante da consulta, mas ela não é hipertensa. Um exame que dá um resultado preciso é a monitorização ambulatória da pressão arterial (Mapa). Durante 24 horas, o paciente usa um aparelho de medição preso ao braço esquerdo para aferir a variação da pressão arterial. Chris Paulini aconselha as pessoas a procurar um centro de saúde ou a emergência de um hospital caso se sintam mal e suspeitem que a causa seja a elevação dos níveis da pressão. "A aferição deve ser feita por um médico ou profissionais de enfermagem treinados para isso. Ter um aparelho em casa e pedir que alguém da família o faça nem sempre dá resultados confiáveis", orienta a cardiologista. O mesmo ocorre em relação aos medidores digitais e máquinas instaladas em algumas farmácias. Os centros de saúde funcionam de segunda a sexta-feira, das 7 às 17h, e as emergências do hospitais, em regime de 24 horas, incluindo sábado e domingo. DE OLHO NAS CALORIAS - Se precisa perder peso para evitar a hipertensão, preste atenção nas bebidas: # 300 calorias estão numa garrafa de cerveja; # 100 calorias, em um copo de vinho; # 120 calorias, em apenas uma dose de uísque, pinga ou conhaque. - Maria Vitória, da equipe do Correio - Fonte: Correio Braziliense

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