5.12.2013

A depressão severa é o inferno, até para os famosos

Se o sofrimento das celebridades bipolares começar a provocar fadiga de compaixão, é ruim para a saúde mental de todos

Catherine Zeta-Jones, em Rock of Ages
Por Barbara EllUm novo livro, Strictly Bipolar [Estritamente Bipolar, em tradução livre], de Darian Leader, examina em parte o "rebranding" -- a reformulação da marca -- da depressão, quase como uma espécie de estilo de vida. O que parece bastante adequado aos tempos atuais. Certamente, cheguei a me perguntar se o termo "bipolar" se tornou um gatilho para a fadiga de compaixão automática.
Algum tempo atrás, a bipolar Kerry Katona, que despencou bêbada em seu programa matinal na televisão, foi alvo de zombaria com uma malícia que na época pareceu se basear em classe social, mas agora não tenho tanta certeza. Hoje em dia, me perguntaria se sua condição bipolar também estava sendo desdenhada, só porque as pessoas estão "tão cansadas" de a bipolaridade estar "em todo lugar", ou, mais especificamente, de as celebridades bipolares estarem em todo lugar.
Na última semana, Ronnie O'Sullivan, que sofre de depressão, tinha voltado a jogar sinuca e acabou sendo repreendido por fazer um "gesto obsceno" para seu colega de jogo Judd Trump. Enquanto isso, quando Catherine Zeta-Jones ingressou em uma clínica para a "manutenção" de seu transtorno bipolar recentemente, a notícia foi tratada quase como se ela tivesse embarcado em um cruzeiro no Caribe, em vez de ter tomado uma decisão madura de tentar controlar sua doença.
Essas pessoas, e muitas outras, incluindo Stephen Fry (embora ele se refira a si próprio como "bipolar light"), preenchem os requisitos da percepção pública de bipolaridade como: eles têm esse problema, mas também são famosos e foram abençoados com criatividade e carisma.
Alguns poderiam dizer que a psicose maníaco-depressiva, o antigo nome da bipolaridade, nunca foi tão aceita. Mas em termos de percepção pública, talvez fosse mais exato dizer que também nunca foi tão hostilizada e desacreditada.
De fato, algumas atitudes (caçoar, revirar os olhos) para com o bipolar são profundamente preocupantes, e todas parecem derivar do desprezo pelos famosos. Como alguns salientaram com razão, incluindo Alastair Campbell, a bipolaridade não é uma doença exclusiva das celebridades. No entanto, é fato que alguns famosos sofrem dela e parece não apenas malicioso, mas também ilógico, supor que eles sofram menos que as outras pessoas com essa condição.
Onde isso termina? Como está ficando incrustado na psique pública que a bipolaridade é principalmente um diagnóstico na moda, adorado por celebridades que gostam de falar a respeito em suas memórias ("Você não é nada hoje em dia sem uma dose de bipolaridade, querida!"), como isso afeta o paciente comum?
Bem, talvez gerando um novo nível de estigma, na verdade um estado de duplo estigma. Não apenas aquele geralmente ligado aos doentes mentais (de que eles são diferentes, perigosos, assustadores), mas também que os bipolares são provavelmente apenas mal diagnosticados, fingidores em busca de atenção, paparicados. E que, por associação, a bipolaridade de certa forma não é tão verdadeira quanto outras doenças mentais, como a esquizofrenia.
Com a fama, qualquer tipo de desconfiança ou ridicularização é obviamente ampliado, mas isso deve estar tendo um efeito de conta-gotas sobre as pessoas comuns com transtorno bipolar. Se os pacientes famosos são zombados, e quase desacreditados, então que esperança existe para os sem dinheiro e desconhecidos? (Qualquer pessoa que afirme que o sofredor comum provavelmente é mais respeitado e mais bem tratado está sendo assustadoramente ingênua.) Toda a confusão é agravada porque os bipolares famosos são condenados quando falam sobre sua doença e condenados quando não falam. A ironia é que eles são os únicos pacientes de saúde mental que podem conseguir tempo na televisão.
Talvez esteja na hora de nos contermos quando começarmos a revirar os olhos sobre "mais uma celebridade bipolar". Enquanto as pessoas famosas têm dinheiro e acesso a terapias para esse problema complexo e terrível, também são para-raios para inúmeros preconceitos que muitas vezes parecem apenas uma nova maneira disfarçada de diminuir pessoas com doenças mentais. Não seria demais lembrar disso quando ouvirmos falar de pessoas como Zeta-Jones, que foram internadas -- qualquer simpatia humana que sentirmos por ela só pode ser uma coisa positiva para seus colegas não famosos.
Nada como um dinamarquês sexista
Quando você pensa na televisão dinamarquesa, provavelmente lembra de "The Killing" ou "Borgen", mas não em dois Jeremy Clarksons dinamarqueses rindo de uma mulher nua na frente deles, avaliando seu físico, com comentários sobre depilação púbica e "mamilos animados".
É o que acontece no programa de entrevistas Blachman, em que o anfitrião homônimo (Thomas, que também é jurado no "X Factor" dinamarquês) fica sentado com um convidado criticando mulheres nuas. Pense bem, Clarkson não seria tão baixo; pelo menos faria as mulheres se deitarem sobre um Lamborghini.
Parece uma piada, ou uma "pegadinha". Não tivemos tanta sorte. Defendendo seu conceito, Blachman declarou: "O corpo feminino tem sede de palavras, as palavras de um homem". Ora, sim, Thomas, mas no seu caso só se essas palavras forem: "Sou um verme retrógrado chauvinista e vou mergulhar minha genitália em um balde de piche fervendo como penitência".
Para Blachman, o programa é "uma maneira de discutir a estética de um corpo feminino sem permitir que a conversa se torne pornográfica ou politicamente correta". Fascinante, mas por que tão tímido? Por exemplo, por que Blachman e seus amigos risonhos não aparecem nus, para que mulheres pudessem discutir sua estética, sem permitir que a conversa se torne pornográfica, politicamente correta ou... lamentável e até nauseante?
A pior coisa em tudo isso é que não é nada novo. Possivelmente, o programa é apenas uma ampliação do sexismo geral que invade a cultura popular. O que, em termos de televisão, significa objetificar as mulheres, reduzi-las a sua aparência, depois julgá-las e diminuí-las. A única diferença é que (geralmente) as mulheres podem continuar vestidas. Assim, dinamarquesa ou não, a TV Misógina não é um conceito novo -- a versão de Blachman é apenas um pouco mais direta.
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