O que se passou no domingo no
Brasil foi tão absurdamente grave,
vergonhoso e preocupante que
ainda não dá para mudar de assunto.
Todo o resto ficou secundário diante
do que já não pode ser negado,
a contaminação da Justiça pela política.
Só ontem ficou clara a repercussão
internacional da guerrilha de
despachos na novela
solta-não-solta-Lula.
Ela foi nefasta para o Brasil,
agravando a percepção externa
sobre a extensão da crise em curso,
e de certo modo favorável ao
ex-presidente Lula, ao reforçar a
ideia de que, para mantê-lo preso,
a Justiça e o sistema
político, de mãos dadas,
fazem o diabo.
Partamos do princípio de que o
desembargador Rogerio
Favretto não tinha competência
para conceder o habeas corpus
pedido, como alegou Moro, e que
a candidatura do réu não constituía
fato novo, pois era conhecida antes
mesmo da prisão. Num Judiciário
não contaminado pela política,
não pressionado pelos que temem
a candidatura Lula, ele teria sido
solto sem drama, sem
que Moro e os desembargadores
do TRF-4 tivessem que se expor tanto.
desembargador Rogerio
Favretto não tinha competência
para conceder o habeas corpus
pedido, como alegou Moro, e que
a candidatura do réu não constituía
fato novo, pois era conhecida antes
mesmo da prisão. Num Judiciário
não contaminado pela política,
não pressionado pelos que temem
a candidatura Lula, ele teria sido
solto sem drama, sem
que Moro e os desembargadores
do TRF-4 tivessem que se expor tanto.
Caberia então, como tantos deixaram
claro ontem, inclusive o ministro do
STF Marco Aurélio Mello, ao Ministério
Público Federal recorrer da decisão.
Não a Moro dar ordens à Polícia Federal.
Derrubada a liminar, Lula seria
preso novamente. Quantos réus
já não passaram por tal situação
não pode suportar a liberdade de
Lula por algumas horas ou dias,
a situação é de alta fragilidade.
E não se resolverá com
Lula preso.
claro ontem, inclusive o ministro do
STF Marco Aurélio Mello, ao Ministério
Público Federal recorrer da decisão.
Não a Moro dar ordens à Polícia Federal.
Derrubada a liminar, Lula seria
preso novamente. Quantos réus
já não passaram por tal situação
não pode suportar a liberdade de
Lula por algumas horas ou dias,
a situação é de alta fragilidade.
E não se resolverá com
Lula preso.
Os principais jornais do mundo
fizeram registros depreciativos do
ocorrido mas vou me deter no do
jurista André Lamas Leite, professor
da Faculdade de Direito do Porto,
“A barbaridade de uma justiça
dominical”, publicado ontem pelo
jornal “O Público”. O acadêmico
contesta Moro: “não é verdade
que o juiz de turno tivesse ou
não a liberdade de decidir. Estava
vinculado à decisão. Outra coisa
é saber se havia motivo juridicamente
fundado para o fazer”. E passa então
à questão que está no fundo de tudo
isso, a execução antecipada da pena,
a partir da condenação em
segunda instância, contrariando
o princípio constitucional da presunção
da inocência: ninguém será
considerado culpado até o
completo trânsito em julgado da
sentença. Conclui ele que “Lula está
em cumprimento inconstitucional e
ilegal de pena de prisão”.
E por isso, dá razão jurídica a Favretto.
fizeram registros depreciativos do
ocorrido mas vou me deter no do
jurista André Lamas Leite, professor
da Faculdade de Direito do Porto,
“A barbaridade de uma justiça
dominical”, publicado ontem pelo
jornal “O Público”. O acadêmico
contesta Moro: “não é verdade
que o juiz de turno tivesse ou
não a liberdade de decidir. Estava
vinculado à decisão. Outra coisa
é saber se havia motivo juridicamente
fundado para o fazer”. E passa então
à questão que está no fundo de tudo
isso, a execução antecipada da pena,
a partir da condenação em
segunda instância, contrariando
o princípio constitucional da presunção
da inocência: ninguém será
considerado culpado até o
completo trânsito em julgado da
sentença. Conclui ele que “Lula está
em cumprimento inconstitucional e
ilegal de pena de prisão”.
E por isso, dá razão jurídica a Favretto.
Mas, diz ele, como no Brasil não se
sabe onde acaba a política e
começa a Justiça, pesaram
contra ele as antigas ligações com o PT.
Nem por isso, tinha Moro competência
para “revogar” o despacho
de magistrado hierarquicamente
superior.Gebran Neto, sim, a seu ver
poderia derrubar a liminar,
quando o plantão terminasse.
Lula já estaria solto, que fosse
novamente preso. Mas tudo, a
seu ver, deriva do “entendimento
indefensável” do STF sobre prisões
antecipadas: “Um país que não
respeita a sua lei fundamental
descaracteriza-se e abre crises
gravíssimas de desfechos imprevisíveis.”
sabe onde acaba a política e
começa a Justiça, pesaram
contra ele as antigas ligações com o PT.
Nem por isso, tinha Moro competência
para “revogar” o despacho
de magistrado hierarquicamente
superior.Gebran Neto, sim, a seu ver
poderia derrubar a liminar,
quando o plantão terminasse.
Lula já estaria solto, que fosse
novamente preso. Mas tudo, a
seu ver, deriva do “entendimento
indefensável” do STF sobre prisões
antecipadas: “Um país que não
respeita a sua lei fundamental
descaracteriza-se e abre crises
gravíssimas de desfechos imprevisíveis.”
Passando do Direito ao jornalismo,
não menos áspero foi o comentário
do jornalista, escritor e advogado
(profissão que já não mais exerce)
Miguel Sousa Tavares, no principal
telejornal de Portugal, na SIC.
Ressalvando seu amor pelo Brasil,
definiu o ocorrido como uma
“fantuchada jurídica”. Palhaçada,
cá para nós. Censurou os petistas
por recorrerem no dia do plantão
de Favretto mas desancou
mesmo foi com Moro, desejando
que estivesse a ouvi-lo, já que passa
férias em Lisboa. Em Portugal, sete
diferentes juízes teriam feito todos os
papeis que Moro acumulou em relação
a Lula: juiz de instrução, de acusação,
de sentença etc. Conclui que a Justiça
no Brasil está completamente
contaminada pela política, não
restando outra saída senão a refundação
do país, por uma nova Constituinte.
não menos áspero foi o comentário
do jornalista, escritor e advogado
(profissão que já não mais exerce)
Miguel Sousa Tavares, no principal
telejornal de Portugal, na SIC.
Ressalvando seu amor pelo Brasil,
definiu o ocorrido como uma
“fantuchada jurídica”. Palhaçada,
cá para nós. Censurou os petistas
por recorrerem no dia do plantão
de Favretto mas desancou
mesmo foi com Moro, desejando
que estivesse a ouvi-lo, já que passa
férias em Lisboa. Em Portugal, sete
diferentes juízes teriam feito todos os
papeis que Moro acumulou em relação
a Lula: juiz de instrução, de acusação,
de sentença etc. Conclui que a Justiça
no Brasil está completamente
contaminada pela política, não
restando outra saída senão a refundação
do país, por uma nova Constituinte.
Lamentavelmente, hoje faz sentido
o apelido que Paulo Francis dava
ao país nos anos 80: “o bananão”.
o apelido que Paulo Francis dava
ao país nos anos 80: “o bananão”.
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