7.07.2013

Proteção muito além da camisinha

Para complementar o preservativo, há desde o uso de gel e remédios até a circuncisão. Casais em que só um dos parceiros tem HIV estão entre os públicos-alvo das pesquisas

Beatriz Salomão
Rio - Há décadas, o preservativo é o recurso mais famoso na proteção contra o vírus HIV. Mas, com o avanço da Ciência, deixou de ser o único. Técnicas que incluem desde o uso de gel e medicamentos até a circuncisão figuram como novas opções, complementares à camisinha, sobretudo para casais sorodiscordantes (quando apenas um parceiro tem Aids).
Os métodos integram a chamada profilaxia (prevenção) pré-exposição e não envolvem apenas o portador da doença. Por exemplo, uma das opções é o parceiro soronegativo fazer uso contínuo de antirretrovirais como forma de prevenção. O estudo norte-americano Iprex, com cerca de 2,5 mil homens que fazem sexo com outros homens e são soronegativos, revelou que o uso diário do remédio Truvada (usado no tratamento da Aids) oferece proteção que varia de 43% a 92%, dependendo da quantidde de comprimidos ingeridos.
No Brasil, o Truvada possui registro na Anvisa apenas para tratamento da Aids e não pode ser utilizado de forma preventiva. O Ministério da Saúde oferece antirretrovirais somente para o parceiro soropositivo.

O Truvada é usado no tratamento de quem tem Aids
Foto:  Divulgação

Brenda Hoagland, infectologista e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), da Fiocruz, alerta que os métodos não substituem o preservativo, mas atuam de forma complementar. “A camisinha é eficaz, mas o uso dela em todas as relações não acontece. Há anos, o percentual dos que utilizam sempre o preservativo não passa de 40%”, alerta.
Recurso pouco convencional, a circuncisão pode reduzir as chances de contágio do parceiro soronegativo em até 45%, de acordo com pesquisa feita com africanos. Brenda explica que o prepúcio, pele retirada na cirurgia, é mais sensível e vulnerável a lesões e infecções que favorecem a entrada do vírus HIV. “Retirar o prepúcio não indica que o homem não vai se infectar, mas o risco é reduzido” declara a especialista.
Outra novidade é a versão em gel do Truvada. O creme microbicida deve ser aplicado no ânus ou na vagina antes e depois da relação sexual. Na África do Sul, a técnica trouxe 39% de redução do risco de contágio em 889 mulheres com alto risco de contaminação. Mas, segundo Brenda, a adesão das participantes ao método foi baixa.
Nos Estados Unidos, há testes com medicamentos injetáveis com maior duração. No Brasil, a metologia pré-exposição não é realidade no SUS. Além dos portadores da Aids com relação sorodiscordante, têm direito ao antirretroviral pacientes com CD4 inferior a 500, sinal de estágio avançado da doença. Pessoas expostas ao vírus, por relação sexual ou acidente, recebem o medicamento, gratuito, por 30 dias.
Diagnósticos recebidos de forma errada
A pesquisa ‘Vulnerabilidade ao HIV/Aids entre Casais Sorodiscordantes’, da Fiocruz, analisou questões sociais (renda, escolaridade, conhecimento da doença e religião) e de acesso aos serviços de saúde em 17 casais sorodiscordantes (13 heterossexuais e quatro homossexuais).
Desenvolvido pelo psicólogo Nilo Martinez Fernandes, do Ipec, o estudo durou quatro anos. Segundo ele, o dado mais impressionante foi a forma de divulgação do diagnóstico da doença para pacientes. “Teve gente que soube que era soropositivo por email, telefone ou por uma atendente. Isso impacta de forma negativa o início do tratamento”, avalia.

Nenhum comentário: