Medicamentos possuem em sua composição substâncias químicas potencialmente tóxicas ao ecossistema e que contaminam a água e o solo. Grande parte dos consumidores finais não sabe o que fazer com os medicamentos que sobram ou vencem.
Nos
sete primeiros meses de 2014, foram comercializadas no Brasil mais de 3
trilhões de caixas de medicamentos, números que colocam o país entre
os 10 maiores consumidores destes produtos. Mas nem todo medicamento
que é comprado é utilizado - sobram comprimidos nas cartelas, xarope
nos frascos e fica um pouco de pomada nas bisnagas. A primeira reação
de todo consumidor, quando há resto de medicamento, é guardá-lo para
utilizar novamente. Além destas sobras, temos em casa medicamentos com
prazo de validade vencido e aqueles indicados pelos amigos, vizinhos,
parentes.
Dois
aspectos relacionados ao uso doméstico dos medicamentos devem ser
considerados pelos consumidores. O primeiro é que não devemos guardar
aqueles que não estamos utilizando. Guardar as sobras estimula a
auto-prescrição, ou seja, o uso por conta própria, prática que pode
trazer consequências negativas e graves para a saúde. Portanto, é
preciso descartá-los. Mas como jogar fora corretamente os medicamentos
que temos em casa?
De
modo geral, o consumidor final faz o descarte de medicamentos líquidos
em pias e vasos sanitários e, de produtos sólidos, como comprimidos e
cápsulas, no lixo doméstico. Bisnagas e frascos vazios ou com sobras
são jogadas diretamente no lixo. Como a disposição final de todo o lixo
doméstico é o lixo urbano e tudo o que é descartado na pia ou vaso cai
na rede pública de esgoto, são jogadas, diariamente, toneladas de
medicamentos no meio ambiente - a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) estima que este número pode chegar a 34.000
toneladas anuais.
Estas
alternativas de descarte que julgamos certas e que são praticadas
rotineiramente pela população, provocam impacto negativo no meio
ambiente. É crescente o número de estudos realizados no Brasil e no
mundo que comprovam a presença de fármacos (o princípio ativo dos
medicamentos) e outros farmoquímicos em águas de lençóis freáticos,
rios, oceanos, solo e, até mesmo, na água para consumo humano. Embora os
efeitos decorrentes da exposição ambiental a estes produtos ainda não
estejam totalmente elucidadas, pesquisas recentes mostram que estes
compostos podem interferir no metabolismo e no comportamento da biota
aquática, podem provocar alterações da comunidade microbiana do solo e,
podem causar efeitos nocivos à saúde humana.
Sendo
assim, a melhor maneira de descartarmos os medicamentos que temos em
casa é devolvermos os medicamentos de uso doméstico em postos de
coleta. O Governo Federal e a ANVISA, além de representantes da
iniciativa privada, debatem, desde 2010, o destino que deve ser dado
aos medicamentos não utilizados pelos consumidores. Pretende-se que,
por meio de uma ação de responsabilidade compartilhada, seja delegada ao
consumidor a tarefa de levar os medicamentos a locais específicos para
coleta. A parir daí, farmácias, drogarias, distribuidores,
importadores e laboratórios farmacêuticos, devem providenciar o
descarte e a destruição segura, dividindo com o consumidor a
responsabilidade. Diversos programas de descarte ("Descarte
Consciente", "Descarte Responsável", "Destino Consciente", "Descarte
Correto", "Papa Medicamentos") foram lançados no país por redes de
farmácias, drogarias, supermercados, conselhos regionais de Farmácia e
planos de saúde e muitos municípios brasileiros já contam com pelo
menos um ponto de coleta.
O
que o consumidor tem a fazer então? Guardar todos os medicamentos que
sobram e que têm data de validade vencida na embalagem original, em uma
caixa de papelão ou em um saco plástico lacrado. Sempre longe do
alcance de crianças. Depois, deve descobrir onde fica o ponto de coleta
mais próximo e levar, periodicamente, a caixa com os produtos para
descartar lá. O consumidor pode descobrir se existem locais específicos
para coleta nas Secretarias de Saúde, nos postos municipais da
Vigilância Sanitária, na Prefeitura ou diretamente nas farmácias e
drogarias onde costuma comprar medicamentos.
Em
cidades onde existem faculdades ou universidades, estas instituições
também podem ser consultadas. Alunos de cursos de Biologia, Farmácia,
Engenharia Ambiental realizam, com frequência, trabalhos junto às
comunidades que envolvem o descarte consciente de medicamentos. Assim,
cada elo da cadeia responsável pelo medicamento, que envolve desde o
fabricante até o usuário final, cumpre com o papel de manter nossas
casas seguras e o meio ambiente saudável. Nos dois casos, garantimos
nossa qualidade de vida e nosso bem-estar.
Fonte: Diário da Manhã
O simples ato de jogar um remédio no lixo, no vaso sanitário ou na pia
pode gerar consequências graves ao meio ambiente. No Brasil, falta uma
política pública para o descarte de medicamentos, e a população nem
sequer tem consciência sobre os malefícios que as substâncias químicas
podem causar à natureza no contato com a água, a terra e a atmosfera (na
forma de gases).
A maneira correta de jogar fora os medicamentos vencidos ou sem uso é a incineração. A questão é: como o cidadão comum pode descartar os remédios? O desafio das autoridades é oferecer uma logística reversa, ou seja, um caminho de volta das casas para a cadeia produtiva.
O que tem ocorrido são campanhas pontuais, principalmente em grandes redes de farmácia para o recolhimento de medicamentos, seringas, frascos de vidro, pomadas etc. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não definiu o Acordo Setorial de Implantação da Logística Reversa de Resíduos de Medicamentos, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Coordenadora do projeto de extensão "Descarte Correto de Medicamentos", da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a professora Louise Jeanty de Seixas alerta para os cuidados necessários no recolhimento das drogas legais.
"Não estimularia a colocação de pontos de coleta em qualquer estabelecimento comercial, pois lembro que um medicamento vencido não é lixo, mas, sim, um produto químico que deve ser adquirido, utilizado e descartado com responsabilidade."
Desde 2010 as farmácias da rede Extra e Pão de Açúcar oferecem, nas
cidades de São Paulo, Piracicaba e Araraquara, uma urna para coleta, em
parceria com a Eurofarma e com as prefeituras. "As drogarias
identificaram um valor agregado ao negócio por oferecerem esse tipo de
serviço. Houve um retorno favorável, porque você amplia e fideliza o
consumidor. É um diferencial, atrai o cliente consciente", comenta
Isamara Freitas, gerente da área de meio ambiente e segurança da
Eurofarma.
Uma opção é o Ecomed, desenvolvido desde 2011 pela empresa BHS (Brasil Health Service). Trata-se de uma máquina com tela LCD, que registra por código de barra os medicamentos depositados em seus compartimentos. O objetivo é monitorar os remédios coletados até que atinjam seu destino final, a incineração, para evitar fraudes.
Essa solução, entretanto, não preenche nem metade do território nacional, pois está presente em apenas 11 Estados (todos das regiões Sul e Sudeste, mais Bahia, Pernambuco, Ceará e Goiás) e no Distrito Federal.
"Hoje temos 347 Ecomeds em estações de coleta, hospitais, farmácias e ambulatórios de empresas privadas. Fechamos também uma parceria com o Walmart. Mas existe uma dificuldade pela falta de patrocínio", aponta José Francisco Roxo, sócio da BHS e especialista em Gestão Empresarial Ambiental.
"O assunto é muito novo e as pessoas não sabem o tamanho do problema. Pesquisamos em outros países e trouxemos para o Brasil algumas ideias, porque o consumidor é muito desconfiado em relação a contrabando e falsificação. A solução exigia uma rastreabilidade desde inicio do descarte até a incineração, que é o final correto", explica Roxo, mencionando que a população fica com um pé atrás ao devolver um medicamento caro.
Seixas afirma que os remédios devem ser devolvidos às farmácias. "A farmácia continua sendo o ponto de coleta. O Ecomed é importante para que se possa acompanhar e registrar todo o fluxo de descarte, com isto temos a segurança de todo o processo. Em não sendo possível, quanto mais documentado e registrado for o processo, maior será a segurança de que os medicamentos foram recebidos, identificados e destinados corretamente".
"É importante destacar o papel do profissional farmacêutico, orientando para o uso correto dos medicamentos, assim como alertar para os riscos da automedicação, de maneira a minimizar as sobras. As embalagens nem sempre contém a quantidade recomendada pelo profissional: ou sobra ou falta. Destaco aqui a proposta dos medicamentos fracionados, isto é, cada usuário poderá adquirir a quantidade exata indicada na sua prescrição", comenta.
Segundo o empresário Roxo, a tecnologia do Ecomed conscientiza as pessoas a armazenarem a bula e a caixa. No momento de depositar o remédio, é preciso ter a embalagem em mãos com o código barras para o registro na máquina.
Além disso, há uma parceria com universidades. "Informações são enviadas à comunidade acadêmica para pesquisas de interesse da população, como, por exemplo, o tratamento da água contaminada pelos princípios ativos dos medicamentos", pontua Roxo.
Um dos problemas mais graves está na contaminação das águas. "Atualmente, e cada vez mais, já estão sendo relatados casos de identificação de princípios ativos de medicamentos, principalmente nas águas", afirma Louise de Seixas.
Para citar um exemplo, hormônios femininos contidos em pílulas anticoncepcionais, ao chegarem, via esgoto, a rios de água doce, têm efeitos 'afeminantes' em peixes machos, segundo estudo realizado nos Estados Unidos e no Canadá. Os pesquisadores encontraram óvulos dentro dos testículos de alguns peixes, em pesquisa da Unicamp (Universidade de Campinas).
"Muitos destes compostos são derivados do próprio consumo e do metabolismo de excreção, que vão para o esgoto doméstico. Então, é importante destacar que o esgoto, mesmo quando tratado, não obrigatoriamente consegue eliminar estes produtos químicos, pois o tratamento é muito mais focado na eliminação da carga orgânica, e não química. Se somarmos a isto o descarte das sobras de medicamentos no vaso ou pia, poderemos ter uma ideia da dimensão do problema", pontua a professora de Farmácia da UFRGS.
Outro risco é o contato de crianças com os remédios. Nos lixões, elas podem confundir comprimidos com doces ou balas. Mesmo em casa, medicamentos armazenados incorretamente podem ser ingeridos pelos pequenos. Esta é a principal causa de intoxicação infantil.
Brasil não tem política de descarte de medicamentos e depende de empresas
Carlos Padeiro
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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Medicamentos que vão par o lixo poluem o meio ambiente
A maneira correta de jogar fora os medicamentos vencidos ou sem uso é a incineração. A questão é: como o cidadão comum pode descartar os remédios? O desafio das autoridades é oferecer uma logística reversa, ou seja, um caminho de volta das casas para a cadeia produtiva.
O que tem ocorrido são campanhas pontuais, principalmente em grandes redes de farmácia para o recolhimento de medicamentos, seringas, frascos de vidro, pomadas etc. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não definiu o Acordo Setorial de Implantação da Logística Reversa de Resíduos de Medicamentos, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Coordenadora do projeto de extensão "Descarte Correto de Medicamentos", da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a professora Louise Jeanty de Seixas alerta para os cuidados necessários no recolhimento das drogas legais.
"Não estimularia a colocação de pontos de coleta em qualquer estabelecimento comercial, pois lembro que um medicamento vencido não é lixo, mas, sim, um produto químico que deve ser adquirido, utilizado e descartado com responsabilidade."
Ampliar
Fevereiro
- Peixes estão ficando mais ativos, menos sociais e correm mais riscos
depois que uma droga ansiolítica poluiu rios de praticamente todo o
mundo, afirma pesquisa da Universidade de Umea, na Suécia, apresentada
na reunião anual da Associação Americana pelo Avanço da Ciência (AAAS,
em inglês). A concentração de 1,8 micrograma do remédio oxazepan é baixa
para comprometer a água consumida por humanos, mas tem efeitos
drásticos nas percas, peixes da família da tilápia (foto), causando
desequilíbrio ecológico Leia mais Bent Christensen/AAAS / AFP
Serviço |
Ecomed - o site informa em quais cidades estão instaladas a máquina coletora |
Eurofarma – lista indica quais farmácias da rede Extra e Pão de Açúcar fazem a coleta em São Paulo |
Sesi/SC – a rede Sesifarmácia, de Santa Catarina, oferece o programa Papa-Pílula, veja onde |
Drogamais - No Paraná, também há uma lista para coleta |
Drogaria São Bento - Veja farmácias no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul |
Uma opção é o Ecomed, desenvolvido desde 2011 pela empresa BHS (Brasil Health Service). Trata-se de uma máquina com tela LCD, que registra por código de barra os medicamentos depositados em seus compartimentos. O objetivo é monitorar os remédios coletados até que atinjam seu destino final, a incineração, para evitar fraudes.
Essa solução, entretanto, não preenche nem metade do território nacional, pois está presente em apenas 11 Estados (todos das regiões Sul e Sudeste, mais Bahia, Pernambuco, Ceará e Goiás) e no Distrito Federal.
"Hoje temos 347 Ecomeds em estações de coleta, hospitais, farmácias e ambulatórios de empresas privadas. Fechamos também uma parceria com o Walmart. Mas existe uma dificuldade pela falta de patrocínio", aponta José Francisco Roxo, sócio da BHS e especialista em Gestão Empresarial Ambiental.
"O assunto é muito novo e as pessoas não sabem o tamanho do problema. Pesquisamos em outros países e trouxemos para o Brasil algumas ideias, porque o consumidor é muito desconfiado em relação a contrabando e falsificação. A solução exigia uma rastreabilidade desde inicio do descarte até a incineração, que é o final correto", explica Roxo, mencionando que a população fica com um pé atrás ao devolver um medicamento caro.
Seixas afirma que os remédios devem ser devolvidos às farmácias. "A farmácia continua sendo o ponto de coleta. O Ecomed é importante para que se possa acompanhar e registrar todo o fluxo de descarte, com isto temos a segurança de todo o processo. Em não sendo possível, quanto mais documentado e registrado for o processo, maior será a segurança de que os medicamentos foram recebidos, identificados e destinados corretamente".
Medicamento fracionado
Diante dos obstáculos atuais para o recolhimento, é necessário ponderação na aquisição de remédios."É importante destacar o papel do profissional farmacêutico, orientando para o uso correto dos medicamentos, assim como alertar para os riscos da automedicação, de maneira a minimizar as sobras. As embalagens nem sempre contém a quantidade recomendada pelo profissional: ou sobra ou falta. Destaco aqui a proposta dos medicamentos fracionados, isto é, cada usuário poderá adquirir a quantidade exata indicada na sua prescrição", comenta.
Segundo o empresário Roxo, a tecnologia do Ecomed conscientiza as pessoas a armazenarem a bula e a caixa. No momento de depositar o remédio, é preciso ter a embalagem em mãos com o código barras para o registro na máquina.
Problema ambiental
"Cada quilo de medicamento coletado deixa de contaminar 450 mil litros de água", comenta o proprietário da BHS, empresa vencedora do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, em São Paulo.Além disso, há uma parceria com universidades. "Informações são enviadas à comunidade acadêmica para pesquisas de interesse da população, como, por exemplo, o tratamento da água contaminada pelos princípios ativos dos medicamentos", pontua Roxo.
Um dos problemas mais graves está na contaminação das águas. "Atualmente, e cada vez mais, já estão sendo relatados casos de identificação de princípios ativos de medicamentos, principalmente nas águas", afirma Louise de Seixas.
Para citar um exemplo, hormônios femininos contidos em pílulas anticoncepcionais, ao chegarem, via esgoto, a rios de água doce, têm efeitos 'afeminantes' em peixes machos, segundo estudo realizado nos Estados Unidos e no Canadá. Os pesquisadores encontraram óvulos dentro dos testículos de alguns peixes, em pesquisa da Unicamp (Universidade de Campinas).
"Muitos destes compostos são derivados do próprio consumo e do metabolismo de excreção, que vão para o esgoto doméstico. Então, é importante destacar que o esgoto, mesmo quando tratado, não obrigatoriamente consegue eliminar estes produtos químicos, pois o tratamento é muito mais focado na eliminação da carga orgânica, e não química. Se somarmos a isto o descarte das sobras de medicamentos no vaso ou pia, poderemos ter uma ideia da dimensão do problema", pontua a professora de Farmácia da UFRGS.
Outro risco é o contato de crianças com os remédios. Nos lixões, elas podem confundir comprimidos com doces ou balas. Mesmo em casa, medicamentos armazenados incorretamente podem ser ingeridos pelos pequenos. Esta é a principal causa de intoxicação infantil.
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