10.28.2015

Tema da redação do Enem gera polêmica além das provas

Manifestação de feministas na Uerj comemora dissertação sobre violência contra a mulher

Gustavo Ribeiro e Paloma Savedra
Rio - Com o tema ‘A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira’, a redação do Enem, aplicada neste domingo, provocou debates que ultrapassaram os muros dos locais de prova, colégios e cursos. Na Uerj, ao acabarem os testes, estudantes se juntaram a uma manifestação contra o machismo na frente do prédio da universidade. O tópico foi divulgado no Twitter pelo Ministério da Educação logo no início da tarde, e feministas que não faziam o exame foram rápidas, e organizaram o ato.
Com cartazes, os estudantes davam apoio e lembravam que os machistas iriam ser reprovados. Para a educadora Daniela Aizenstein, a escolha do tema deste ano foi acertada e apresentou um avanço para a sociedade.
“É um tema simbólico. Não é todo mundo que se propõe a discutir a questão. Assim, o exame fez com que 7 milhões de brasileiros discutissem isso, e de um jeito muito particular, porque o edital dispõe que a violação dos Direitos Humanos, como a defesa da violência contra a mulher, pode anular a redação”, avaliou ela, que é professora e coordenadora do curso Poliedro.
Estudantes se juntaram ao protesto iniciado por feministas que foram à Uerj ao saber do tema da redação
Foto: Carolina Moura / Agência O Dia
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Ao sair da prova, a estudante Clara Rodrigues, 18, estava otimista com a redação. “Achei um tema fácil. Consegui dissertar bem principalmente pelo fato de ser mulher e sofrer isso todos os dias. Espero que isso possa alertar a sociedade e os meninos que ainda têm pensamento arcaico”, opinou. 
No sábado, o feminismo já havia aparecido em uma questão de Ciências Humanas, com uma frase de Simone de Beauvoir,“Não se nasce mulher, torna-se mulher”. O assunto gerou polêmica e memes nas redes sociais. Os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marcos Feliciano (PSC-SP) acusaram o exame de doutrinação. “O João não nasceu homem e a Maria não nasceu mulher”, ironizou Bolsonaro, em seu perfil no Facebook.
Delegada titular da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher (DPAM), Marcia Noeli Barreto elogiou a escolha da redação. “É importante para o debate, e, principalmente quando esse assunto é posto para os jovens. Minha esperança é que as redações demonstrem que os jovens estão preparados para enfrentar essa violência e tenham a consciência do que está acontecendo. Espero que sejam muitas notas 1000”, disse.
O nervosismo era visível antes e depois do exame. Em todo o país, quase 6 milhões fizeram o Enem, que terminou neste domingo com as provas de redação, Linguagens e Matemática
Foto: Bruno de Lima / Agência O Dia
Além da redação, os estudantes fizeram as provas de Linguagens e Matemática. O motorista de ônibus Albano de Viveiros, 53 anos, que quer cursar história, fez o Enem pela primeira vez e disse que a prova de Matemática foi a mais complicada. “Chutei tudo o que podia”, confessou. Já para a estudante Carolina Jonas, 18 anos, a maior dificuldade foi a prova de Linguagens. “Era muito texto. Não conseguia mais ler”, reclamou.
Estudantes começam a pensar nos próximos passos
Foram dois dias de muita... muita adrenalina. O nervosismo que deixou milhões de corações batendo mais forte neste fim de semana de Enem passou. Difícil é segurar a ansiedade na espera pelo gabarito oficial e pela classificação. Qualquer que tenha sido o desempenho de cada um, desistir não é uma das opções na prova da vida.
A futura engenheira ambiental Clara Moreira, de 17 anos, enfrentou a maratona de 180 questões em 10 horas pela terceira vez este ano. Apesar de estar confiante, já pensa em alternativas. “Fui melhor do que nas outras, mas, a partir de terça, vou cair dentro das específicas para a segunda fase da Uerj. Se passar, ótimo. Senão, outro ano vem aí!”, ensina a aluna do 3º ano e craque em Enem, que participou das últimas edições para se testar.
Memes fizeram piada com a questão que citou Simone de Beauvoir
Foto: Reprodução Internet
Alexandre de Souza Batista, 30, é um daqueles candidatos que acabam virando notícia por terem chegado atrasado. Neste domingo, ele saiu de casa na mesma hora de sábado, mas acabou encontrando os portões da Uerj, onde prestou o exame, já trancados. Chegou dois minutos depois. “Fiz boa prova no primeiro dia, mas sou brasileiro e não desisto nunca. Volto em 2016”, contou ele, que estudou o ano inteiro para concorrer a uma vaga em Matemática ou Engenharia Civil.
Estalar de dedos. Unhas indo à boca. Tecladas frenéticas no celular... A estudante Bruna Ribeiro Boavista, 17, foi afetada por alguns desses sintomas causados pela expectativa do tão especulado tema da redação.
“Estudar para concurso é um projeto de vida. É normal quem não passar dessa vez ficar frustrado por um tempo, claro, mas o sonho não acabou! Novos vestibulares vêm aí. Esses estudantes devem reconhecer o que podem fazer diferente na próxima vez para conseguir a vaga”, recomenda a psicóloga Miriam Pontes de Farias.
Já para os candidatos que vão encarar a segunda fase da Uerj no fim de novembro, é hora de relaxar. Mas só um pouquinho. “Uma pequena pausa, de uns três dias, é um tônico para começar tudo de novo. Fazer alguma atividade prazerosa ajuda a diminuir o estresse”, diz Miriam.
Diretor de ensino do curso preparatório Descomplica, Rubens Oda também tem um recado para acalmar os ânimos. “Saber se foi bem ou não na prova é muito difícil, até porque professores e alunos concordaram que esse Enem foi um dos mais difíceis.”
A delegada Marcia Neoli elogiou a escolha do tema da redação e disse esperar muitos ‘1000’
Foto: Agência O Dia
Menor abstenção desde 2009
A taxa de abstenção no Enem 2015 foi a menor desde a edição de 2009, quando o concurso foi reformulado. Segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o índice de faltas foi de 25,5% este ano. Em 2014, 28,9% dos candidatos inscritos não compareceram.
Nos dois dias, 740 pessoas foram eliminadas em todo o país. O número de desclassificados também caiu — na edição passada, 1.519 haviam sido excluídos durante a aplicação das provas.
De acordo com Mercadante, 677 foram eliminados por uso de equipamentos proibidos pelo edital da prova
O QUE VEM AÍ
GABARITOS
Os gabaritos das provas objetivas serão divulgados na página do Inep na internet até quarta-feira, dia 28, no endereço: portal.inep.gov.br/enem.
UERJ
A segunda fase do vestibular é dia 29 de novembro, com questões discursivas.
SISU
As inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) terão início em janeiro. O sistema é uma das principais portas de entrada no Ensino Superior. No Rio, para vagas nas universidades públicas (exceto a Uerj), os candidatos deverão ter participado do Enem 2015.
Colaborou a estagiária Carolina Moura

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