Democracia e integração foram palavras de ordem na cerimônia de apresentação dos novos diretores da Fiocruz
Alexandre Matos e Edmilson Silva
Neste dia 29 de maio de 2017 foi escrito mais um capítulo da história do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz). Nele, em mais uma data que marca a democracia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), houve a cerimônia de posse do 9º diretor da unidade, Jorge Souza Mendonça, realizada na manhã desta segunda-feira no campus Fiocruz, mais precisamente na Tenda da Ciência, que ficou pequena diante de tanta gente.
A solenidade, que apresentou também os demais diretores eleitos pelas unidades da Fiocruz para a gestão 2017-2021, foi marcada pela emoção. A abertura foi feita uma apresentação do coral Flor do Mangue, integrado por mulheres, moradoras da comunidade de Manguinhos, que sofriam de Síndrome do Pânico. Com base na música, o projeto tem conseguido que elas retomem as coisas boas da vida, como cantar e namorar. “Mulher Rendeira”, de Zé do Norte, eternizada na voz de Luiz Gonzaga, foi um clássico da MPB, cuja interpretação delas emocionou a plateia.
Porta-voz dos diretores eleitos, Valdiléa Gonçalves Veloso dos Santos, eleita pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), ressaltou a democracia, a união e a integração em seu discurso. “Essa eleição é importante por vários motivos, um deles é o alto índice de comparecimento às urnas. Mas o principal é pela democracia, que está cada vez mais fragilizada em nosso País. Esta democracia deve ser aperfeiçoada e exercida diariamente. Cabe a nós diretores lutar pela democracia nas unidades. Porque as pessoas devem ser ouvidas”, frisou Valdilea.
Ainda, em nome dos demais diretores, ela defendeu maior integração entre as unidades da Fundação. “É a partir das unidades que a Fiocruz funciona. Portanto, é preciso colocar em prática um trabalho integrado entre as unidades, sem abdicar da autonomia de cada uma. Além disso, é importante fazer uma gestão mais inclusiva. Incluir não somente os trabalhadores, como também os estudantes, os bolsistas e a comunidade, esta, por sua vez, deve ser protagonista e não apenas receptora. A comunidade deve estar no nosso espaço físico, pois é com ela que vamos enfrentar os desafios nos próximos anos”, avaliou a diretora do INI.
Bastante emocionado, o responsável pelo Instituto de Informação Científica e Tecnológica (Icict), Umberto Trigueiros, falou em nome dos diretores que estão sendo substituídos. Ele exaltou o papel permanente da Fiocruz na luta pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), assim como destacou a importância da democracia interna da Fundação. Vigilância que, segundo Trigueiros, foi indispensável no posicionamento da instituição para que o processo eleitoral da Fiocruz, que resultou na vitória de Nísia Trindade, fosse respeitado no embate com a gestão Temer.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, também fez referência à democracia, ressaltando o processo eleitoral, parabenizou a conquista
obtida pelos novos diretores e dedicou uma mensagem aos candidatos que não conseguiram se eleger, muitos dos quais presentes à cerimônia. “Gostaria de agradecer aos demais candidatos e dizer que não houve derrota. Essa palavra deve ser retirada do nosso vocabulário. Peço a vocês que continuem colaborando com a instituição a fim de encontrar um rumo político e democrático”, propôs a presidente.
Nísia recitou um trecho do poema Madrugada Camponesa, de Thiago de Mello, em homenagem às integrantes do coral Flor do Mangue, que têm conseguido se reerguer apenas do cotidiano violento do local em que moram, e também aos candidatos que não venceram as eleições:
“(…) madrugada Camponesa
faz escuro (já nem tanto)
vale a pena trabalhar
faz escuro, mas eu canto
porque a manhã vai chegar”.
Mas o bordado ao discurso feito por Nísia não ficou restrito ao final do discurso da presidente da Fiocruz. Ao saudar os eleitos e convocar os segundos das listas a se empenharem a favor da cidadania, ela citou o galo do poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto:
“(…) Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos. (…)”
A presidente lembrou ainda que ao longo desta semana está sendo comemorado o 117º aniversário da Fundação (celebrado em 25 de maio) e o centenário da morte de Oswaldo Cruz. “Será uma semana com várias atividades. Começamos hoje com um café entre o CD (Conselho Deliberativo) e parlamentares, a fim de que os interesses da Fiocruz sejam expressos nos espaços legislativos. Ficou acertada a criação de um comitê pluripartidário para isto”, informou.
Aniversário saudado com adjetivos exaltadores pela diretora da Organização Panamericana da Saúde (Opas), Carissa Etienne. Em vídeo exibido à assistência, Carissa ressaltou a importância estratégica da Fiocruz para a saúde global, destacando o papel primordial e assertivo dos seus cientistas na agilidade das respostas ao enfrentamento da zika. Frisou que coube a pesquisadores da Fiocruz o pioneirismo de correlacionara, em tempo recorde, os casos de microcefalia à infecção pelo vírus da zika.
Na quarta-feira (31/5), a Presidência homenageará os trabalhadores com mais de 30 anos de dedicação à sociedade brasileira. “Deem uma olhadinha na programação, pois ela foi elaborada com muito carinho para todos vocês”, assinalou Nísia.
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