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8.22.2010
Salto plataforma é pior que o agulha
Segundo estudo, plataforma prejudica mais a circulação das pernas.
Cirurgião vascular avaliou mulheres com idade entre 20 e 35 anos.
De acordo com pesquisa, salto agulha prejudica
menos a circulação que o plataforma
O salto plataforma pode ser o preferido das mulheres por causa do conforto, mas ele é mais prejudicial à circulação das pernas que o salto agulha. A afirmação é feita pelo cirurgião vascular Wagner Tedeschi Filho, pesquisador da USP que analisou a influência da altura e do tipo de salto na circulação das pernas femininas.
A pesquisa teve duas fases. Em uma delas, o médico avaliou 30 voluntárias saudáveis, com idade entre 20 e 35 anos. Cada uma repetiu o mesmo exame quatro vezes: usando um salto plataforma de 7 cm, um agulha de 7 cm, um de 3,5 cm e descalça. O resultado, conta Tedeschi, mostrou que todos os saltos maiores de 3,5 cm são prejudiciais à circulação, podendo causar varizes, vasinhos, flebites (inflamação da parede de uma veia) e inchaço.
Até aí, o resultado não causa espanto. O que tornou o plataforma vilão das pernas bonitas foi o resultado do exame que media o volume residual venoso. Enquanto o percentual considerado normal desta taxa é 35%, após o uso da plataforma as mulheres tiveram taxa média de 59%. No caso do salto agulha, o percentual foi de 56%. Já o salto mais baixo, de 3,5 cm, apresentou volume residual venoso de 49%.
“O estudo mostrou que o salto alto compromete a contração da panturrilha, que funciona como uma ‘bomba’ na perna. A quantidade de sangue represado na perna aumenta para saltos maiores de 3,5 cm”, diz Tedeschi. Esse "represamento" é o volume residual venoso, responsável pelo surgimento das varizes.
Para entender de que forma o salto compromete a circulação e influencia o percentual do volume residual, é preciso entender a diferença entre o sangue arterial e o venoso.
O arterial, explica Tedeschi, sai do coração “limpo” e vai “abastecer” de oxigênio as extremidades do corpo, no caso, as pernas. O sangue venoso é o inverso: ele sai das extremidades do corpo, é pobre em oxigênio – que já foi distribuído – e segue em direção ao coração. Se no meio do caminho ele encontra as veias contraídas pela panturrilha, observa o médico, vai ocorrer o acúmulo de sangue, sobrecarregando as veias.
Daí para frente, surgem as consequências que as mulheres conhecem bem: vasinhos, inchaço, varizes, dor e sensação de peso nas pernas.
Segundo Tedeschi, o salto plataforma é mais prejudicial à circulação justamente por apoiar melhor o pé, o que é responsável pelo conforto. Esse “abraço” nos pés femininos compromete a circulação do sangue venoso, que já enfrenta a força da gravidade no percurso em direção ao coração.
Pesquisa inédita
Segundo o cirurgião vascular Wagner Tedeschi Filho, estudiosos do Brasil já realizaram várias pesquisas sobre o uso de salto alto. O diferencial desta, diz o médico, é o uso da pletismografia a ar completo, tendo como base protocolos internacionais de pesquisa, válidos no mundo inteiro.
“O resultado dá embasamento para orientação de pacientes em consultório, pois muitas se queixam de dor e perguntam sobre o uso de salto alto.”
É BONITO, MAS PODE FAZER MAL
De olho na saúde Pesquisa da USP prova que salto alto pode causar danos vasculares
Saiba mais
Na hora de usar salto alto, não é só nos pés que as mulheres devem prestar a atenção. Uma pesquisa feita no Hospital das Clínicas da USP-RP comprovou que salto alto, principalmente utilizado por longos períodos, pode dar origem a varizes e outras doenças venosas.
O trabalho inédito do cirurgião vascular Wagner Tedeschi Filho avaliou 30 mulheres, com idade entre 20 e 35 anos. Cada uma das voluntárias foi analisada, por meio do exame chamado pletismografia a ar (que mede a pressão na perna), em quatro situações: a voluntária calçada com salto de três centímetros e meio, salto agulha de sete centímetros e salto plataforma, tipo Anabela, de sete centímetros, e descalça.
Segundo Tedeschi, a pesquisa é importante pois afirma cientificamente aquilo que muitas mulheres já comentavam, mas não tinham a comprovação na pesquisa. “É um tema que estava em aberto entre os cirurgiões cardiovasculares e os pacientes. Quando as pessoas dizem que não podem comer sal porque faz mal, ou que não podem fumar pois o tabaco é prejudicial à saúde, existe um estudo por trás. Estamos em 2010 e é necessário que haja respaldo científico para orientar os pacientes em qualquer tipo de consulta. É isso que a pesquisa pretende fazer com o salto alto”, afirmou.
Ainda de acordo com o cirurgião vascular, já existiam trabalhos sobre a problemática osteomolecular, mas não sobre os efeitos cardiovasculares do uso dos sapatos. “Isso não significa que as mulheres devem parar de usar salto alto, mas sim que devem estar atentas à saúde”, disse.
A estudante Renata Cezario, 19 anos, usa salto alto o dia todo. Quando os pés começam a doer, ela tira, mas fica com eles nos pés o máximo possível. Ela acha que os sapatos deixam as mulheres mais elegantes. “Acho que fica mais bonito quando as mulheres estão mais altas”, disse. Ainda de acordo com Renata, sua paixão pelos saltos começou na adolescência. “No trabalho, na faculdade e quando saio prefiro o salto alto. Só tiro mesmo quando dói o pé”, afirmou.
FRASE
“E necessário que haja respaldo científico para orientar pacientes em consultas.”
Wagner Tedeschi Filho
Cirurgião vascular
Dica é usar sempre com moderação
Para as mulheres que gostam de usar salto, a recomendação é usar com moderação. Segundo o cirurgião vascular Wagner Tedeschi Filho, o sapato de salto alto possui um valor estético e não deve ser banido, mas as mulheres precisam ficar atentas. “O sistema fica sensivelmente prejudicado. Não há um coração embaixo para bombear. Quando o sangue venoso vai para a perna, temos todas as implicações, como varizes”, afirmou. Ainda segundo ele, o salto prejudica a panturrilha e o objetivo do trabalho foi mostrar se havia piora a longo prazo. “As mulheres podem usar o salto e não devem parar por conta dos dados. Os saltos têm sua importância e o importante é prestar a atenção e ter cuidado com o corpo”, disse. (MA)
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