Dois entre três idosos agredidos no DF são vítimas dos filhos, diz estudo.
Trabalho da Central Judicial do Idoso considerou dados de 2008 a 2011.
Muitas vezes a violência não é percebida, segundo defensora pública.
Dois
entre cada três idosos vítimas de violência no Distrito Federal são
agredidos pelos próprios filhos, segundo uma pesquisa da Central
Judicial do Idoso. O órgão, ligado ao Tribunal de Justiça, ao Ministério
Público e à Defensoria Pública, realizou o estudo com base em 2.379
casos coletados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2011. Nesta
sexta-feira (15) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização da
Violência Contra a Pessoa Idosa.
Presidente
do Conselho do Idoso do DF e coordenadora do Núcleo de Defesa do Idoso
da Defensoria Pública, Paula Ribeiro afirmou que os dados refletem
pesquisas feitas em âmbito nacional. Também disse que os abusos
financeiro e psicológico e a negligência são os tipos de violência mais
comuns, embora nem sempre o agressor e a vítima tenham consciência do
que representam.
“A
violência contra a pessoa idosa está se tornando um lugar tão comum que
não se percebe mais isso. O filho parte do seguinte pressuposto: meu
pai e minha mãe já são velhos e por conta da idade não têm mais condição
de decidir sobre o patrimônio deles. Então eu vou cuidar de tudo, vou
me apossar de tudo e vou decidir o que fazer. Isso é uma violência, só
que muitas vezes esse filho não entende isso como uma violência. E
muitas vezes o próprio idoso não consegue visualizar. Ele entende que
está sendo desrespeitado na sua liberdade de decisão, mas não consegue
encarar que isso é uma violência”, afirma.
O
trabalho também apontou, segundo Paula, que há baixa judicialização ou
aplicação de medidas protetivas ao idoso. “O idoso não quer. Não quer,
por exemplo, ser afastado do lar, ou que o agressor seja afastado. Ele
se preocupa com o outro, não com ele. Ele pensa: e meu filho vai para
onde?”, explica. “Ele não quer que o filho seja responsabilizado
criminalmente ou não quer isso porque ele pode perder o emprego.”
Promotora
da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência, Sandra Julião afirma que o
descaso com os idosos é mais complexo do que parece. De acordo com ela,
muitos dos casos atendidos pelo Ministério Público têm a ver com
familiares com dependência de drogas ou álcool ou com falhas na execução
de políticas públicas.
Para
Sandra, a solução para a questão envolve o fortalecimento dos laços
entre gerações e da autonomia dos idosos. “A pessoa idosa vai delegando
seus atos, a sua autonomia, tudo ela vai delegando para o outro. Isso
significa que ela abre mão dela mesma. E fica fragilizada”, disse.
“A
pessoa vai lá, tira o dinheiro do idoso do banco e entrega só metade e
isso é uma violência. Você tem que munir a pessoa de poder, de
autonomia, de vontade de viver”, explica a promotora. “Acho que quando a
gente fortalecer a pessoa, desde antes de ficar idosa, vai ser uma
pessoa idosa ciente dos seus direitos de cidadão. Antes de idosos, somos
cidadãos e temos que cobrar nossos direitos como cidadãos.”
Gênero
A
pesquisa também apontou que 60% dos casos de violência são cometidos
contra a mulher idosa. “É mais marcante contra ela justamente por causa
dessa relação de maior fragilidade e dependência. Qual era o contexto
dessa mulher idosa de hoje? De que época ela é? Qual era o papel dela na
sociedade? Era o papel de cuidadora dos filhos, de cuidar do lar, do
marido, muito pouco saía para o mercado de trabalho, vivia em uma
relação de dependência do provedor. E essa relação muitas vezes é
reproduzida hoje”, explica Paula.
Segundo
a defensora pública, esse sentimento leva à baixa notificação dos casos
de violência. Em geral, afirma, as mulheres idosas tendem a se sentir
culpadas e credenciam a responsabilidade dos abusos às drogas,
desemprego ou outras dificuldades. “Ela pensa: sou um peso para o meu
filho, não tenho renda e não tenho como me sustentar.”
Acho
que quando a gente fortalecer a pessoa, desde antes de ficar idosa, vai
ser uma pessoa idosa ciente dos seus direitos de cidadão. Antes de
idosos, somos cidadãos e temos que cobrar nossos direitos como
cidadãos."
Sandra Julião, promotora da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência
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