Por Ricardo Cappelli
Crise dificilmente se resolverá com as eleições.
Sem nenhum movimento de reaglutinação de forças importante e com a Copa tomando conta da agenda pública, a tendência é que nenhuma alteração significativa aconteça até o fim de julho. As apostas vão continuar:
1 – Mesmo preso politico, Lula continua sendo a principal liderança e o maior cabo eleitoral. Imbatível.
2 – O plano B do PT testado, Haddad, não ganha de ninguém no segundo turno hoje. É natural. O ex-prefeito não está em campanha. A leitura dos que votam, não votam, ou podem votar em alguém indicado por Lula dá margem a todo tipo de interpretação. Prendê-lo foi estratégico para reação. A aposta do PT é que o plano B, quando exposto, assumirá os índices de Lula.
3 – A unidade do campo popular e democrático colocaria um candidato no segundo turno. Não acontecerá. PT e PDT têm estratégias e candidatos bem definidos. Dois apostadores que bancarão seus jogos até o final.
4 – Marina, sem Lula, aparece imbatível no segundo turno. É a candidata “do meio”. Colhe votos entre vermelhos e azuis. FHC não flerta com ela por acaso. Seu partido é muito frágil. Uma boa carta sem uma mão que sustente a aposta.
5 – Bolsonaro lidera no primeiro turno sem Lula. No segundo, empata com Alckmin e Ciro e perde de Marina. A liderança fortalece sua estratégia de não se expor e evitar debates. Este artifício já foi usado fartamente por candidatos em outros pleitos. Teremos uma campanha curta. Com muitos candidatos sua estratégia pode funcionar.
6 – Ciro se mantém bem colocado. Um percentual expressivo considera que Lula deveria escolhê-lo como alternativa. Seu destino está atrelado à sua capacidade de ampliar. Isolado não vai longe.
7 – Alckmin se segura na força do PSDB, partido estruturado nacionalmente. É o inverso de Marina. Se conseguir aglutinar a centro direita entra no jogo. Do contrário pode ser cristianizado ou até substituído.
8 – A disputa se mantém em torno destes cincos candidatos. PT, Ciro, Marina, Alckmin e Bolsonaro estão no páreo. Dois poderão ir ao segundo turno.
Muito provavelmente o próximo presidente será eleito com a minoria dos votos. A soma dos votos não válidos com os votos do perdedor deve chegar perto de dois terços dos votos, com os não válidos beirando os 50%.
Um presidente eleito nestas condições terá enorme dificuldade de recolocar o país nos trilhos. A instabilidade deve continuar presente.
A era de sombras e de erosão da democracia iniciada com o golpe tende a ser longa e tortuosa. A crise institucional dificilmente se resolverá no dia 7 de outubro.
Apesar disto, o resultado das urnas será fundamental. Apontará se nosso destino é a luz ainda distante ou o aprofundamento do obscurantismo que nos ronda.
Em tempos de esterilização higienista patrocinada por setores do judiciário, uma esterilização democrática não pode ser descartada.
Neste quadro, vestir a fantasia de apostador do futuro do Brasil e de seu povo, brincando com a razão, é uma grave irresponsabilidade histórica.
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