De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ingestão de açúcar deve representar de 5% a 10% das calorias diárias, o que corresponde a cerca de 100 a 200 calorias (em uma dieta de 2.000 calorias). No entanto, segundo especialistas, o consumo diário do brasileiro chega a atingir 16% a 18%, número muito acima do recomendado, o que pode trazer muitos malefícios à saúde, como ganho de peso, aumento do risco de diabetes e das reservas de gordura no fígado, por exemplo.
Para evitar o consumo exagerado, algumas pessoas reduzem a quantidade de açúcar das refeições, preferindo optar pelos adoçantes, que costumam ser utilizados principalmente por quem deseja controlar o peso ou monitorar o diabetes. Apesar disso, muitos consumidores desconhecem as variedades disponíveis no mercado, quais são as diferenças entre elas e se existe algum risco em utilizar o produto.
Devo optar pelo adoçante?
O corpo utiliza o açúcar como fonte de energia, que se não for gasta, acaba acumulando no organismo e virando gordura. Em momentos em que essa energia não é necessária — como após uma refeição ou antes de dormir —, o açúcar pode ser excluído, o que ajuda a evitar o ganho de peso. No entanto, quando o corpo demanda um aumento energético, como antes de uma atividade física, o uso do açúcar é muito bem-vindo já que a energia será gasta.
De acordo com a nutricionista Elaine Moreira, qualquer pessoa que queira se adequar às recomendações da OMS ou evitar os riscos do consumo demasiado de açúcar pode utilizar o adoçante. Ela ainda conta que os edulcorantes (aditivos utilizados na fabricação do adoçante) não aumentam a glicemia, entregam pouca ou nenhuma caloria, e não causam cáries.
No entanto, existe muita preocupação quando o assunto é adoçante na alimentação infantil. Para a nutricionista, o produto deve ser utilizado apenas em caso de necessidade (obesidade e diabetes, por exemplo) para evitar o baixo peso, que pode atrapalhar no crescimento e desenvolvimento da criança.
Adoçantes: naturais e artificiais
A principal diferença entre os adoçantes naturais e artificiais está nos ingredientes utilizados na sua produção e no sabor. Os primeiros são produzidos com edulcorantes vindos da natureza, como é o caso da stevia, que é extraída de uma planta chamada de Stevia Rebaudiana, cujas folhas possuem substâncias doces, conhecidas como glicosídeos. Os adoçantes a base de xilitol, extraído do milho, também são de origem natural.
Já os adoçantes artificiais são feitos com substâncias químicas sintéticas que estimulam os receptores de sabor doce na língua. Os mais conhecidos são o aspartame, sacarina, sucralose e acessulfame de potássio.
Apesar das muitas polêmicas envolvendo os adoçantes, a nutricionista afirma que ser natural ou artificial não torna o produto melhor. “Antes de chegarem ao mercado os adoçantes são testados, se eles passam é porque são seguros. A diferença está no gosto, alguns deixam sabor residual na boca, como é o caso da sacarina. Outros como a sucralose e o xilitol têm um sabor mais parecido com o do açúcar”, explica.
Outras opções
Além da distinção entre natural ou artificial, outras dúvidas podem surgir a respeito dos adoçantes, como a diferença entre a versão líquida e a de sachê ou entre a opção Blend ou 100%.
Líquido e sachê
Elaine afirma que os edulcorantes têm alto poder de dulçor — alguns chegam a ser 300 vezes maior que o do açúcar —, por isso é necessário diluí-lo em outras substâncias, como água ou lactose. Quando a diluição acontece em água, obtém-se o adoçante líquido. Quando é em lactose, o edulcorante vem em sachê.
100% e Blend
A especialista ainda esclarece que a denominação 100% natural ou Blend indica se houve — ou não — mistura de substâncias na produção do adoçante. No caso dos 100%, apenas um edulcorante (de origem natural) é utilizado na composição. Nas versões Blend misturam-se vários (naturais e artificiais) com o objetivo de melhorar o dulçor e reduzir custos, pois alguns edulcorantes são muito caros.
Quanto posso consumir?
A quantidade diária de adoçante a ser consumida varia de acordo com o peso do indivíduo e o edulcorante usado na fabricação. Alguns produtos oferecem na embalagem informações de consumo e quantas miligramas têm em cada gota. Caso não tenha, a recomendação é entrar em contato com o Sistema de Atendimento ao Consumidor (SAC) do fabricante e tirar as dúvidas. Entretanto, antes de começar a utilizar o produto, é importante consultar um especialista para orientar a dieta.
Adoçante traz riscos?
Segundo um estudo brasileiro publicado recentemente na revista Reproductive BioMedicine Online, o adoçante pode reduzir em até 30% as chances de gravidez pela técnica de reprodução assistida, como inseminação artificial e fertilização in vitro. A pesquisa revelou que o consumo frequente de adoçantes prejudica a qualidade dos óvulos e reduz a taxa de sucesso de fixação do embrião no útero.
De acordo com os pesquisadores, a ingestão diária de mais de uma lata de refrigerante (light ou zero) ou 240 mililitros de café adoçado artificialmente ao longo de seis meses pode acarretar nesses resultados. No entanto, o estudo não revelou se a redução ou abstenção de adoçantes pode reverter os prejuízos causado ao óvulos.
Problemas de saúde
No ano passado, o periódico científico Canadian Medical Association Journal publicou um relatório apontando que os adoçantes artificiais compostos por sucralose, aspartame e glicosídeo de esteviol (stevia) não ajudam na perda de peso e ainda podem aumentar a probabilidade de desenvolver diabetes, pressão alta, doenças cardíacas e obesidade.
Alguns dos estudos analisados, apesar de observacionais, mostraram que os participantes que consumiam adoçantes regularmente — consumindo por dia uma ou mais bebidas adoçadas artificialmente — apresentavam maiores riscos de ter problemas de saúde relacionados ao ganho de peso, doenças cardíacas e outras enfermidades.
Apesar das descobertas, os pesquisadores não sabem dizer como e porquê os adoçantes artificiais poderia causar esses efeitos negativos e ressaltam que outros fatores, como o consumo de alimentos processados, que geralmente utilizam adoçantes artificiais na composição, podem ser responsáveis pelos resultados. Por isso, eles recomendam a diminuição do consumo até que os efeitos dos edulcorantes artificiais sejam completamente compreendidos.
No sistema digestivo
Outro estudo de 2016, publicado no periódico científico Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism sugere que o aspartame, adoçante artificial utilizado nas bebidas diet, pode engordar e causar doenças crônicas.
Segundo o site especializado New Scientist, o estudo sugeriu que a quebra do aspartame no intestino interfere com ação da fosfatase alcalina intestinal (IAP, na sigla em inglês), enzima crucial para a neutralização de toxinas nocivas produzidas pelas bactérias que vivem no sistema digestivo. Essa interação leva ao acúmulo de toxinas, que podem irritar o revestimento intestinal causando pequenas inflamações capazes de, em alguns casos, causar doenças crônicas.
A equipe também encontrou evidências de que, quando consumido em combinação com uma dieta gordurosa, o aspartame pode levar a um aumento de peso. O estudo, feito em camundongos, apontou que os animais alimentados com aspartame também apresentaram maiores níveis de açúcar no sangue entre as refeições.
Os pesquisadores alertaram que os resultados se aplicam somente ao aspartame e não a outros adoçantes artificiais, já que o produto de sua quebra é diferente. Eles ainda ressaltaram que são necessários estudo em humanos para que essas descobertas possam se confirmar.
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