Operação da Polícia Federal no Galeão apreende recorde de drogas
Foram recolhidos 113 quilos de cocaína e 101 mil comprimidos de ecstasy em 2014
Christina Nascimento
Rio - Nos saguões por onde passa, por mês,
cerca de 1,5 milhão de passageiros, cada movimento pode ser suspeito: um
homem inquieto, uma mulher que olha para os lados. Em meio a essa
multidão que circula pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão,
agentes fazem um trabalho de observação, que ajudou a Polícia Federal
(PF) a bater, no ano passado, seu recorde de apreensão de cocaína e
ecstasy na principal porta de entrada de visitantes para o estado. Foram
113,05 quilos de pó (60% a mais que no ano anterior) e 101 mil
comprimidos da droga sintética, o dobro de 2013, recolhidos com
traficantes que se passavam por passageiros.
Os números altos de apreensão são resultado,
segundo a delegada federal Rita Favoreto, responsável pelo Aeroporto do
Galeão, de um minucioso trabalho do setor de Inteligência. O que é feito
por sua equipe em parceria com um sistema de comunicação, que inclui
informações até de adidos de outros países. “Em 90% dos casos, a
apreensão vem da observação do policial, que vai para o saguão e a sala
de embarque, e atua na fiscalização do porão. Lá, todas as bagagens
passam por um aparelho de raios X e são farejadas por cães treinados. Se
houver alguma suspeita na mala, o dono é chamado e convidado a abri-lá.
Isso evita a possibilidade de ele alegar, na Justiça, que a droga foi
‘plantada’”, disse a delegada.
A
cadela Jackie fareja bagagens em busca de entorpecentes, antes de serem
levadas para aviões, no Aeroporto do Galeão, onde a PF ganhará nova
carceragem e depósito
Foto: Márcio Mercante / Agência O Dia
A cadela Jackie e o cão Yoshi são os
braços direitos dos agentes. Os dois são figuras conhecidas no Galeão,
onde ficam num canil, com direito a ração mais cara do mercado e horário
fixo para se alimentar. Diariamente, eles passeiam pelo maior aeroporto
internacional do país com uma tarefa pra lá de desafiadora: encontrar
drogas em malas e escondidas no corpo de traficantes. Entre um afago e
outro recebido por passageiros, que se empolgam com os cães que passeiam
pelo saguão, pode haver uma surpresa: se o animal se sentar, há fortes
indícios de que na pessoa há entorpecentes.
A verdade é que por mais experiente que o
‘mula’ — pessoa que transporta droga — seja, há sinais corporais quase
inconscientes que o denunciam. Em 2014, 30 pessoas foram presas por
tráfico de drogas, no Galeão, sendo 13 estrangeiros. No ano anterior,
esse número foi menor: 19, sendo 13 de outros países. Os homens
continuam sendo a maioria.
As técnicas que eles usam são as mais
inusitadas. “Já encontramos droga em carrinho de bebê, em biscoito, sola
de sapato. Agora, eles estão escondendo na borracha de vedação das
malas”, explicou a delegada.
Toda cocaína que foi apreendida estava com
passageiros que iriam embarcar, o que corrobora a tese de que o Brasil é
rota de distribuição de entorpecentes. Já o ecstasy segue o caminho
inverso. Como não é produzido aqui, os traficantes presos tentavam
entrar no país com os comprimidos. A apreensão de maconha em 2014 foi de
apenas 200g. Em 2013, foram 19.965Kg.
De olho em ampliar o cerco ao combate às
drogas, a PF começa a melhorar suas instalações no Galeão, em parceria
com a concessionária RioGaleão. As obras estão previstas para começar em
março. Uma das novidades é que os policiais vão ter dormitórios
individuais. A carceragem e o depósito também vão ganhar mais espaço, e o
canil será modernizado. Daime é controverso
Um chá alucinógeno, feito da mistura do
cipó-mariri com o arbusto chamado chacrona, e que causa dependência
física e psíquica. O santo daime — ayahuasca —, que chegou a ser centro
de discussão na área jurídica, por causa da possibilidade de ser droga
ilícita, pode ser apreendido, mas, confirmado seu uso em rituais de
seitas religiosas, é devolvido ao passageiro, posteriormente. Isso
porque o entendimento do Ministério Público Federal (MPF) e a
corregedoria da Polícia Federal é que não deve instaurar inquérito
policial quando a utilização para cultos.
A decisão se ampara na Resolução nº 1, de 25 de
janeiro de 2010, do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas
(Conad), que regulamenta a utilização do chá.
Quando apreendido, o santo daime é submetido a
perícia, e como não há inquérito, é entregue de volta ao proprietário.
Somente no ano passado, a Polícia Federal teve que devolver 100 litros
de santo daime, apreendidos durante embarque no Aeroporto do Galeão.
Entre o final de 2013 e o início do ano
passado, ocorreram sete apreensões do chá — que tem versão líquida e em
gel.Em números, isso representa aproximadamente 140 litros do
alucinógeno. Os passageiros seguiam para fora do país. A bebida tem
entre seus componentes uma substância psicotrópica e está oficialmente
liberado para consumo pelo governo.
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