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O jornal da Santa Sé, "L'Osservatore Romano", informou nesta segunda-feira (26) sobre esta descoberta em biblioteca particular daquilo que parecia ser "um manuscrito insignificante" e publicou uma entrevista com o historiador, que sustenta que esta nova biografia apresenta detalhes interessantes, como a passagem que narra uma viagem de Francisco, filho de um rico mercador, a Roma.
Esta versão mantém que "Il Poverello" ("O Pobrezinho"), como ficou conhecido, realizou esta viagem não como peregrino, como se acreditava, mas como um negociante surpreendido com o sofrimento dos mendigos que se amontoavam ao seu redor.
"Nada a ver com a versão edulcorada que se divulgou sucessivamente: um Francisco já religioso que sofre com os mendigos (...) Nesta versão o contraste é muito mais forte. Não é uma mudança paulatina, mas um verdadeiro choque", explicou Dalarun.
Além disso, o livro revela outros detalhes "muito concretos e realistas" sobre, por exemplo, a forma como Francisco remendava sua túnica, usando fibras extraídas das cortiças das árvores.
Francisco morreu em 1226 e no ano de 1260 o Capítulo Geral da Ordem Franciscana encomendou uma biografia oficial para acabar com todas as versões não aprovadas pela congregação. Com o passar dos séculos foi possível encontrar estas obras anteriores.
Trata-se dos relatos de Tomás de Celano, um dos homens mais próximos a São Francisco, e que no ano 1228 recebeu a incumbência do papa Gregório IX de narrar a vida do santo. Esta primeira biografia foi encontrada no século XVIII, enquanto em 1806 foi descoberta uma posterior, redigida pelo mesmo autor no ano 1244.
A obra descoberta por Dalarun é datada de 1237 a 1239 e foi escrita pelo mesmo amanuense, Tomás de Celano. Esse achado abre um novo episódio de uma das pesquisas historiográficas mais "vastas e complexas": a busca de "vidas" não oficiais de "il Poverello".
"Estava procurando este texto há sete anos. Durante os meus estudos, encontrei fragmentos soltos e tudo indicava à existência de algo intermediário de Tomás de Celano, sucessiva à primeira versão e precedente à segunda biografia que conhecemos", apontou.
O especialista afirmou que "ainda resta muito por compreender", mas que encontrou entre suas páginas outros "elementos de interesse", como um resumo escrito entre o ano de 1232 e 1239 da primeira versão, "considerada longa demais pelos contemporâneos".
"É um texto amplo: a edição latina conta com 64 partes com algumas folhas de papel. Muitos comentários acrescentados na primeira versão foram eliminados e há alguns pontos novos", explicou.
Nesta nova biografia, segundo disse o pesquisador, "se ressalta muito mais a experiência da pobreza", mas não em sentido simbólico ou meramente espiritual, "mas real". Além disso, o autor se aprofunda sobre a questão da fraternidade com a criação, um traço essencial da filosofia franciscana.
"No começo, Tomás de Celano falava disto como algo admirável, estranho e surpreendente, mas substancialmente alheio a sua experiência. Nesta versão faz uma reflexão sobre o fato de que a fraternidade com a criação afeta também os seres carentes de consciência, não só os seres humanos", acrescentou.
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5.nov.2014
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