NITERÓI - O ditado “Errar é humano, e perdoar é divino” sempre transitou
pela religiosidade. Perdão e consciência vêm ganhando, entretanto, espaço nos
meios acadêmico e científico, que analisam os benefícios à saúde alcançados
por quem cultiva bons sentimentos e deixa para trás rancor, mágoa e raiva.
Uma prova dessa mudança é a disciplina optativa Medicina e Espiritualidade,
que caminha para o quarto semestre na faculdade de Medicina da
Universidade Federal Fluminense.
Os mestres da cadeira trabalham com a ideia de medicina integrativa seguindo
conceitos da Carta de Ottawa, que conclamou, em 1986, organizações sociais
e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a esforços para um novo padrão
de saúde pública. O documento defende que saúde não é apenas a ausência
de doença, mas uma condição decorrente do bem-estar físico, psicológico,
familiar, social e espiritual, como explica o coordenador da disciplina,
José Genilson Ribeiro.
— Na Europa e nos Estados Unidos, cerca de 80% das faculdades já têm
essa cadeira no currículo. No Brasil, ainda estamos devagar — diz Ribeiro,
urologista e professor da UFF responsável pela implementação da
disciplina em 2017. — Em aula, trabalhamos os sentimentos.
Acreditamos que a doença começa na alma, se instala no corpo físico,
e que é preciso tratar o paciente de maneira integral. Não basta tratar
o efeito da doença, mas os aspectos totais. Muitas pessoas têm mágoas
e não conseguem perdoar. Isso as deixa presas em suas dores,
o que dificulta a melhora física.
Lecionada por um grupo de profissionais atuantes nas áreas de psicologia,
medicina e arteterapia, a disciplina Medicina e Espiritualidade vai além
das salas de aulas. No Núcleo de Estudos em Saúde, Medicina e
Espiritualidade (Nesme) da UFF, pacientes são atendidos gratuitamente
por professores e estudantes.
Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), alunos criaram
a Liga Acadêmica de Medicina e Espiritualidade (Liame), em 2014,
para dar espaço a pesquisas e debates sobre o tema.
Abrangendo a necessidade de “cuidar de quem cuida”, um grupo
de apoio aos estudantes da Liame recebe alunos de Medicina para que
eles também expressem suas emoções e tenham melhores condições
de lidar com elas.
— Criamos a Liame com base no aumento do interesse acadêmico-científico
pelo tema de saúde e espiritualidade. Em 1998, foi proposta pela OMS
a inclusão da dimensão espiritual do ser à sua definição de saúde,
convidando-nos a repensar o paradigma científico frente ao diálogo
com o sentido espiritual da vida — contextualiza Carlos Roberto
Figueiredo, estudante da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj
e fundador da Liame.
Perdoar faz bem à saúde
Para a psiquiatra Carmita Abdo, diretora da Associação Médica Brasileira
(AMB) e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), uma
comprovação do que é defendido pela disciplina de Medicina e
Espiritualidade e pela Liame está nos efeitos, negativos ou positivos,
das substâncias produzidas pelo corpo humano após a experiência de
sensações boas ou ruins.
— As emoções levam a modificações de substâncias no organismo.
Quando liberamos ocitocina e endorfina, elas nos levam à melhora na
imunidade e a sensações de bem-estar. O contrário ocorre com sensações
negativas, que liberam substâncias que baixam a imunidade. Com o
perdão não é diferente. Quando perdoamos alguém temos a sensação
de alívio, de gratificação, o que é revertido em ocitocina — explica.
O conscienciólogo — profissional que estuda a consciência humana
— Mário Oliveira é membro da Associação Internacional de
Parapsiquismo Interassistencial (Assip), com sede em Foz do Iguaçu,
que tem em uma de suas frentes a compreensão da importância do
perdão para o processo de cura das doenças.
— Mantemos um curso para conscientizar sobre a importância
de perdoar. Acreditamos que a falta de perdão tem criado problemas
de saúde, seja câncer, depressão, alergias ou dores, todos associados
às mágoas guardadas. Com o tempo, esses sentimentos tendem
a se manifestar de alguma forma, de maneira comportamental
ou física. É difícil fazer essa ponte, e por isso criamos um seminário
dedicado à prática do perdão. Com exercícios e palestras, os
participantes são estimulados a perdoar — explica Oliveira,
que tratá o seminário ao Rio, no Flamengo, nos dias 4 e 5 de agosto.
Em Niterói o Instituto Internacional de Projeciologia e
Conscienciologia (IIPC), em Icaraí, realizará um curso com
a temática do perdão no dia 19 de agosto. Alessandra Nascimento,
coordenadora do IIPC no Estado do Rio, acrescenta:
— Estudamos a ciência que tem como base a relação da consciência
com o corpo físico e suas energias, e acreditamos que a energia
tem interação muito grande na saúde. Seu desequilíbrio pode
causar doenças. Quem tem dificuldade de perdoar tem muito
apego, o que atrai energias de baixo padrão, podendo adoecer o corpo.
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