7.22.2009

Quando tudo dá errado / Nturalmente Obcecado / ciência e cientistas / celula - troco e o cãncer

Quando tudo dá errado

Não tinha desculpas, havia sido alertado anteriormente, horas antes, para ser mais preciso. A protuberante barriga de minha vizinha, que não via há anos desde que saí do país, não era gravidez. O tempo, a força da gravidade e algumas guloseimas a mais haviam transformado uma delicada e desejada barriguinha em um avantajado calo estomacal que insistia em não se esconder por detrás das roupas.

O diálogo abaixo aconteceu tão logo eu desci do carro, após uma cansativa viagem pela Marginal Pinheiros, do aeroporto até a casa:
Dá pra imaginar o embaraço da cena - como me saí dessa fica para uma outra vez. Por hora confesso que eu me esforçara mentalmente para evitar a constrangedora situação e de nada havia adiantado. O pior aconteceu, como se fosse o oposto do que eu desejasse.
Numa outra ocasião, observava um pai ensinando o filho a andar de bicicleta pela primeira vez num parque de estacionamento. Após diversas tentativas, o garoto finalmente havia adquirido o equilíbrio necessário para executar a complexa, e tipicamente humana, atividade que é pedalar sem auxílio. Confiante, o pimpolho se arriscava cada vez mais pelo amplo e absolutamente vazio espaço do parque, que só era interrompido por um poste de luz no centro. Ao perceber a ousadia do filho, o pai grita para que rodeie o parque, mas se mantenha afastado do poste no centro.
Como que por mágica ou alguma força irônica do destino, a bicicleta do moleque começa a ir exatamente em direção ao poste.

O pai grita para que desvie do poste. Mas, de novo, o oposto acontece, e a bicicleta acerta em cheio o alvo improvável. Para aqueles que ainda não vivenciaram o drama de um selim no escroto, resta dizer que a dor e a vermelhidão nos testículos permanecem por um longo tempo.
As duas situações apresentam algumas características em comum. Primeiro, tanto eu quanto o garoto estávamos nos esforçando mentalmente para evitar uma situação indesejada. Além disso, estávamos mentalmente ocupados, eu pelo cansaço da viagem e premeditando os próximos compromissos e o garoto concentrado em manter a velocidade, o equilíbrio, as orientações do pai etc.
Aparentemente, o cérebro age de forma estranha quanto tentamos reprimir um determinado pensamento. Curiosamente, o fenômeno é mais claro quando envolve situações sociais. O mais simples exemplo desse ato contraintuitivo acontece quando tentamos suprimir um pensamento, por exemplo, um elefante rosa.

A imagem do elefante rosa inevitavelmente aparece na nossa mente e fica retornando pelo menos uma vez por minuto. Esse protótipo tem aplicações práticas.
Fumantes e alcoólatras sabem muito bem disso quando se esforçam para tentar largar o vício. O esforço para evitar o vício acaba por trazer à mente diversas razões para quebrar o hábito, o desejo torna-se mais forte. Notou-se que, aparentemente, esses “erros irônicos ou contraintencionais” ocorriam principalmente em situações de estafa mental ou estresse.
Para testar se isso realmente acontece, um grupo de pesquisadores organizou o seguinte experimento.

Voluntários foram instruídos a não pronunciar uma determinada palavra enquanto tinham que ler diversas outras palavras em voz alta. Inevitavelmente, o ato falho acontecia e, cedo ou tarde, a palavra proibida saia inconscientemente.

Curiosamente, esse tipo de experimento também funciona no nível físico.
Quando pessoas segurando um pêndulo tentam evitar que ele balance numa determinada direção, o pêndulo acaba balançando justamente na direção não desejada. E, como predito pela teoria do processo irônico, o experimento funciona melhor quando os voluntários repetem o experimento contando 1.000 de trás para frente.

O fenômeno já é conhecido nos esportes. No futebol, câmeras que filmaram a direção do olhar de um jogador instruído a evitar um canto do gol ao cobrar um pênalti, revelaram que eles acabam por se denunciar e miram justamente no canto a ser evitado. O mesmo efeito funciona no controle da dor. Normalmente, pessoas expostas a estímulos dolorosos reportam níveis mais altos de dor quando a atenção esta focada na dor.

O efeito irônico foi usado em situações experimentais e mostrou ser efetivo.
Apesar dos mecanismos neurológicos e evolutivos ainda nãos estarem claros, algumas coisas podem ser feitas para evitar traumas causados por esses atos falhos. Aceitar os sintomas ao invés de tentar lutar contra eles é uma solução. Terapias direcionadas para um melhor controle mental ainda não foram comprovadas cientificamente, e é preciso cuidado ao extrapolar situações de laboratório para a vida real.
As pesquisas atuais indicam apenas que, em determinadas situações, é melhor evitar pensar no pior, evitando evitar pensamentos negativos.

Complicado? Então a melhor opção é trabalhar sempre para se manter num contexto ou circunstância sem distração ou estafa mental quando é preciso exercer algum controle mental. Acredite, é melhor não dar um fora do que tentar se livrar dele depois.


Naturalmente obcecado

Existem alguns cientistas que são naturalmente obcecados. São esses os que possuem uma ansiedade que não passa nunca. Ansiedade que só consegue ser levemente atenuada pelo prazer de uma descoberta. Tudo começa novamente instantes depois.
O que me faz acordar cedo todos os dias é a esperança de que hoje eu vou ter a reposta para a pergunta que busco. Então eu terei mais questões para ir atrás. É um desafio diário, você quer saber por que isso funciona ou como isso funciona. Você fica obcecado por um problema e não consegue parar de trabalhar ou de pensar naquilo até você chegar à descoberta, à resposta para sua pergunta. No momento da descoberta você é único, é a única pessoa no mundo que sabe daquilo, que tem aquele conhecimento. A obsessão é ainda maior se a motivação está na cura de uma doença ou se o cientista tem uma razão pessoal para o problema estudado. Muitos cientistas são movidos pela paixão de descobrir algo que auxilie a vida de milhares de pessoas. Outros buscam fama ou reconhecimento. A vaidade faz parte da personalidade do cientista.
Ciência não é fácil e não é para qualquer um. Não existe ninguém que te acompanha ou motiva no laboratório a cada instante. Ninguém marca ponto quando chega ou sai. Você acha que está livre, mas o problema te acompanha. Você fica preso e ansioso, sempre. Você não relaxa nunca. Não existe final de semana, feriado, Natal, cedo ou tarde. Esses são conceitos temporais do mundo exterior ao laboratório. Ao final de um período, você será julgado pelos resultados produzidos. Ninguém está nem aí se você ficou trabalhando por doze ou duas horas. Os melhores cientistas trabalham duro. Os medíocres também trabalham duro. O trabalho por longas horas do dia não é o diferencial, mas é imprescindível.
Chefes de laboratório são, em geral, cientistas obcecados. Outros derivam, acabam partindo para carreiras menos obsessivas ou permanecem ligados à ciência de forma superficial. Os que ficam acabam contratando alunos e pesquisadores para acelerar a pesquisa. O sucesso dos alunos influencia o sucesso do pesquisador principal, que se reverte em melhores condições para o laboratório. Por isso mesmo, o interesse é que todos os membros do laboratório sejam produtivos. Ao contrário do Brasil, nos EUA a situação é ainda mais complicada, pois o salário dos pesquisadores muitas vezes vem direto dos projetos. Ou seja, o salário não é estável e depende da produtividade. Avaliações de desempenho acontecem anualmente. É estressante, mas o sistema acaba por se autoajustar e eliminar os mais acomodados.
Esse estresse e essa obsessão muitas vezes tornam o cientista frio e direto. Em ciência, ao contrário do que ocorre no mundo fora do laboratório, a forma direta de criticar e apontar os erros é corriqueira e não deve ser vista como algo pessoal. Cientistas de fato até gostam de críticas; mesmo as não construtivas são bem-vindas. Obviamente que existem limites, e um comportamento negativo ou pejorativo por parte dos cientistas mais seniores afasta jovens estudantes.
Estudantes são a locomotiva dos laboratórios. São eles que, literalmente, colocam a mão na massa e realizam os experimentos. Talvez mais importante seja o fato de que novos estudantes chegam sem os vícios daqueles que estão no mesmo laboratório por mais tempo. Essa rotatividade é essencial para manter o dinamismo de ideias e projetos, trazendo perspectivas únicas. Em algumas ocasiões, o estudante acaba por estabelecer caminhos próprios, criando novas linhas de pesquisa.
Estudantes muitas vezes têm um projeto individual, menos ambicioso, que faz parte de um projeto mais abrangente, desenhado pelo chefe do laboratório. Noutras vezes, fazem parte de uma rede de colaboração. Questões fundamentais ou de impacto direto para a humanidade atraem investimentos maiores e têm maior competitividade. Quando isso acontece, é comum encontrar diversos grupos trabalhando numa mesma área. Eventualmente um dos grupos chega à resposta antes. Eles publicam em revistas científicas de maior impacto, e só resta aos competidores a publicação em revistas inferiores, se possível. Essa competição acadêmica pelo conhecimento é feroz.

Trabalho de anos pode perder o valor da noite pro dia. Carreiras inteiras podem ser desmanteladas por uma semana de diferença.

Ver isso acontecendo na frente dos seus olhos é frustrante.
É interessante notar que os experimentos realizados no laboratório serão eventualmente incorporados em livros didáticos no futuro. A responsabilidade e o prazer de saber que você é responsável pelo conhecimento e aprendizado de outros é extremamente gratificante para alguns cientistas.
O laboratório é um mundo que a maioria das pessoas, lendo esta coluna, nunca vivenciou. Milhares de outros fatores estão envolvidos, como os dramas pessoais, a relação com a mídia, com a religião, o convívio dentro do laboratório etc. Infelizmente, nunca ninguém escreveu sobre isso ou se preocupou em representar esse mundo. Sabemos desde pequeno o que um advogado faz, o dia-a-dia de um médico, um policial etc., mas o cientista é sempre caricato. Em geral, associado a algum experimento maluco ou antiético.
Fico feliz em poder terminar esse texto receitando um documentário exatamente sobre o cotidiano de um laboratório de biologia molecular. “Naturally Obsessed: the making of a scientist” (http://www.naturallyobsessed.com) foi produzido por Richard e Carole Rifkind. Eles frequentaram o ambiente de um laboratório de pesquisa na Universidade Columbia, em Nova York, por três anos.

A edição do filme levou mais de um ano e finalmente está pronta. É a história de como a ciência é feita, quem são os cientistas, as frustrações, a paixão e o prazer.
Infelizmente, não acredito que o filme chegue às telonas. Questiono se é falta de interesse do público, pois acho que muita gente tem interesse em saber como o conhecimento é produzido e aplicado. De qualquer forma, é um começo que deve estimular projetos semelhantes em outras partes do globo.

Avaliando revistas de ciência e cientistas

O progresso na ciência é fruto da publicação de novas ideias e experimentos, na maioria das vezes em periódicos ou revistas científicas que se baseiam na revisão anônima por outros cientistas da mesma área. Existem diversas opiniões sobre quais são as revistas científicas mais influentes. Infelizmente, tem sido difícil encontrar um método métrico simples para quantificar esse impacto.
A maioria dos cientistas acaba confiando no já desgastado Fator de Impacto (FI), que é publicado virtualmente pelo portal ISI Web of Knowledge.
O FI consiste na média do número de citações num determinado ano dos trabalhos científicos publicados em revistas nos dois anos prévios. Diversos fatores podem influenciar o FI, como o número total de citações ou número total de trabalhos publicados por ano.
Um recente trabalho de estatística concluiu que nenhum dos parâmetros usados atualmente reflete com clareza a influência das revistas científicas (Bollen e colegas, e-Print Archive 2009).
No entanto, um novo parâmetro foi recentemente proposto, o Eigenfactor, que tenta classificar a importância das revistas de uma maneira semelhante à usada pelo algoritmo do portal de buscas do Google. Durante a busca, o Google mostra os resultados baseando-se na frequência de acesso aos links relacionados à palavra-chave utilizada. Dessa forma, classifica os links mais utilizados como os mais relevantes, colocando-os no começo da página que mostra os resultados da busca.

Na prática, o Eigenfactor tem uma correlação forte com o número de citações recebidas por uma determinada revista. Por exemplo, o gráfico ao lado mostra o Eigenfactor de 2007 das 200 revistas mais citadas, contra o número total de citações (Alan Fersht, PNAS, 2009). Para quem está acostumado com os periódicos científicos, o resultado é um tanto inusitado. Três revistas se destacam das outras como as mais influentes em ciência: “Nature”, “PNAS” e “Science”. Uma das surpresas é a “PNAS”, que publica alguns artigos sem a revisão por pares - privilégio esse restrito a membros da academia americana de ciências. Outra surpresa fica por conta da revista “Cell”, cuja reputação é respeitadíssima no meio acadêmico, e que aparece numa posição bem inferior a outros jornais tidos como de baixo impacto.
O terrível legado do FI é que ele tem sido empregado para avaliar cientistas, e não as revistas em si. Essa percepção é, a meu ver, totalmente equivocada. A avaliação de um pesquisador deve ser feita através da análise cuidadosa de sua produção científica ao longo dos anos por cientistas experientes em áreas semelhantes. Infelizmente, burocratas buscam uma fórmula métrica simples. A ênfase no FI aumenta com a falta de avaliadores competentes em determinadas áreas.
Um exemplo extremo disso acontece em alguns países europeus, que avaliam seus cientistas e a qualidade dos trabalhos dando valor zero aos trabalhos publicados em revistas com FI menor que 5 e valores acima de zero aos trabalhos publicados em revistas com FI maiores que 5. Segundo essa lógica, um trabalho publicado na revista “Journal of Molecular Biology” não vale nada, mesmo sendo essa uma das melhores revistas na área de estrutura de proteínas.
Vale lembrar que todas as revistas têm um amplo espectro de citações nos trabalhos lá publicados. Mesmo as revistas de maior FI já publicaram trabalhos que nunca foram citados, trabalhos fraudulentos e mesmo alguns que são bem ruins. Dessa forma, fica ridículo julgar um cientista baseando-se apenas no tipo de revista em que publica seus achados.
Talvez a melhor das piores maneiras métricas de se julgar a contribuição de um cientista seja pelo índice h, que classifica a influência do pesquisador levando em conta o número de citações que este recebe pelo número de trabalhos publicados. Um “h” de 100 significa que 100 trabalhos publicados foram citados pelo menos 100 vezes cada (Hirsch J., PNAS 2005). Curiosamente, o trabalho do índice “h” já teve um assombroso número de acessos pela internet comparado ao número de citações (262) desde a publicação em 2005. O sistema do índice “h” também não é perfeito. Por exemplo, uma descoberta fenomenal pode levar tempo até ser reconhecida pela comunidade científica e ficar sem receber citações por um tempo longo.
Conforme a ciência avança e se especializa cada vez mais, fica difícil fazer uma avaliação justa da produção cientifica de um pesquisador num espaço de tempo curto. Daí a tentação de usar sistemas métricos. Por isso mesmo, é importante não se basear num sistema único. Afinal de contas, ciência é sempre relacionada com progresso social que, em última instância, é um fator baseado no julgamento humano.


Papo animal

Durante um curto período da minha infância, lembro que confessava segredos de colégio ao meu único amigo canino, Rex. Antes de continuar, devo declarar que a originalidade do nome deve ser creditada ao meu irmão mais velho, primeiro responsável quando o assunto era o cão da família.
Rex sabia da menina de quem eu gostava e quem era o verdadeiro culpado por urinar na porta da sala dos professores, infernizando as freiras do colégio. O fato de saber que Rex jamais revelaria meus segredos era, certamente, confortável. Infelizmente, o cão não permaneceu conosco por muito tempo, insistia em cavoucar os vasos da Dona Vitória…
Muitas pessoas cultivam esse desejo de se comunicar com animais. Imagine então se realmente pudéssemos ouvi-los responder. No último volume da famosa revista científica “Cell”, um grupo de cientistas alemães acredita que deu um pequeno passo nessa direção, ao criar um camundongo carregando um gene relacionado com a linguagem humana (Enard, W. e colegas, “Cell”, 137: 961-971, 2009).
O gene em questão, o FOXP2, foi descoberto em 1998 porque, numa família inglesa, ele continha mutações que causavam um bloqueio na articulação da linguagem. A descoberta empolgou evolucionistas e estudiosos da linguagem, pois outros animais também possuem o gene FOXP2. No entanto, a versão humana difere da dos camundongos e chimpanzés na seqüência do DNA, como se espera de um gene que tenha sido selecionado evolutivamente para ter um papel importante na linguagem. O que os cientistas fizeram foi substituir o gene do camundongo pelo gene humano usando técnicas tradicionais de engenharia genética.
Acredita-se que diversos genes contribuam para a linguagem humana, pois não só tivemos que modificar a anatomia de nossa garganta e cordas vocais como também usamos várias conexões cerebrais para formar e compreender sentenças e vocabulário durante uma conversa. Existem diversas evidências apontando para o fato de que a linguagem não é produto de um único gene. Dessa forma, seria surpreendente se o camundongo com a cópia genética humana alterasse a forma como se comunica com outros camundongos ou mesmo modificasse algumas estruturas cerebrais envolvidas com a comunicação verbal. Pois foi exatamente isso que o grupo alemão diz ter conseguido.
Para começo de conversa, a substituição do gene FOXP2 pela versão humana no camundongo não trouxe grandes alterações físicas ou fisiológicas no camundongo. Foram analisadas cerca de 300 características nos roedores, e elas simplesmente não são diferentes daqueles animais com a versão não-humana. No entanto, no cérebro, o grupo detectou uma pequena diferença na região conhecia como gânglio basal. Essa região está envolvida com o processamento da linguagem em humanos. Segundo os autores do trabalho, nos camundongos humanizados, essa região do cérebro parece conter neurônios com estruturas mais complexas. Neurônios são células ultraespecializadas e bem diversificadas do cérebro. Alguns neurônios são simples e outros possuem uma arborização bem ramificada. Acredita-se que, quanto mais complexo ou ramificado o neurônio, maior o número de conexões em que ele estaria envolvido.
E para saber se essas alterações possuíam alguma implicação funcional, o grupo usou um conhecido teste comportamental em roedores. Ao isolar os bebês-camundongo de suas mães, esses passam a emitir uma vocalização característica de alerta, apenas detectada por ultra-som. O som emitido é usado pela mãe como um auxilio para achar e identificar sua prole dispersa. O grupo alemão detectou que nos camundongos “humanizados”, o grunhido emitido era ligeiramente diferente do produzido pelo grupo controle normal.
Parece fenomenal, não? Com mais de 20 milhões de diferenças entre o genoma de humanos e chimpanzés, a alteração de um único gene humano ser capaz de modificar a “fala” de camundongos é realmente intrigante. Tão intrigante que eu resolvi ler o trabalho para maiores detalhes e acabei me decepcionando. Talvez a principal razão do meu descontentamento seja que os principais resultados foram extrapolados de um número reduzido de amostras de neurônios em cultura. Ora, quando retirados os neurônios do seu ambiente natural no cérebro, esses estão sujeitos a diversos artefatos. Isso pode ser controlado, e o grupo certamente usou controles adequados, mas as diferenças observadas são tão pequenas que me questiono se continuariam sendo significativas caso fossem aumentados os números amostrais.
Além disso, ao observar os resultados das outras figuras, noto estatísticas semelhantes, sugerindo que o grupo formou conclusões baseando-se em uma série de diferenças sutis, nenhuma individualmente forte o suficiente, o que diminuiu drasticamente meu entusiasmo pelo trabalho. O grupo fora liderado pelo respeitado pesquisador alemão Svante Pääbo, cuja reputação é mundialmente conhecida por trabalhos cientificamente bem fundamentados, como a publicação de partes do genoma do homem de Neandertal. Estaria esse trabalho apoiado nessa reputação ou será que os quase 300 resultados negativos sensibilizaram os editores? Será esse mais um caso de um trabalho da “Cell” impossível de se reproduzir?
Talvez alguns leitores achem que eu estou sendo muito duro com o trabalho, mas acredito que as implicações propostas pelo grupo alemão são de grande impacto e, portanto, devem passar por rigorosas críticas científicas. Enquanto a publicação aguarda a validação do tempo e o surgimento de novos modelos animais para estudar evolução humana, continuo a imaginar o que seria de mim se o Rex conseguisse algumas cópias humanas do gene FOXP2…
Você já passou pela sensação de querer se desligar um pouco? Talvez sua vida estivesse tão complicada que você gostaria de entrar num estado de hibernação, para depois retornar quando tudo estivesse melhor. Ou então optar for ficar congelado enquanto a cura para sua doença não chega?
No filme “Vanilla Sky” (uma refilmagem americana do original espanhol), o protagonista opta pelos serviços de suspensão animada com “sonhos lúcidos” oferecidos por uma firma de biotecnologia, após sofrer um acidente que deforma sua face. Assim, permanecerá em suspensão animada até um futuro quando a tecnologia de reconstrução facial esteja mais avançada. Mas algo dá errado com seus sonhos, e ele tem de chamar a assistência técnica…
Diversos animais são capazes de, literalmente, desligar seu organismo por um tempo utilizando uma flexibilidade metabólica.

Assim, conseguem reduzir o metabolismo e os batimentos cardíacos dependendo do ambiente em que se encontram. Essa flexibilidade tem, obviamente, um custo evolutivo, pois essas espécies acabam por ficar vulneráveis durante essa suspensão.

Mas e no caso de humanos? Seria possível quebrar esse dogma médico? Relatos de casos isolados de indivíduos que treinaram mente e corpo durante anos para chegar nesse estágio podem ser encontrados na internet. Seria isso fato ou ficção?
Abre tus ojosNo começo de 2001, Erika Nordby, um bebê de apenas 1 ano de idade, saiu engatinhando de sua casa no Canadá durante uma noite gelada de 0 grau Celsius. Quando sua mãe a encontrou congelada, duas horas depois, o coração de Erika tinha parado de bater, sua respiração cessado e sua temperatura corpórea tinha abaixado para 16oC (a temperatura fisiológica do corpo humano é 37oC).

Erika foi levada as pressas ao hospital, onde foi ressuscitada e hoje não tem nenhuma sequela do incidente.
Em outubro de 2006, Mitsutaka Uchikoshi, 35 anos, adormeceu enquanto escalava a montanha gelada Rokko, nos arredores de Kobe, Japão. Ele foi considerado morto ao ser resgatado, 24 dias depois do ocorrido, com a temperatura corpórea de 21oC, sem pulsação, sem comida ou água. Entretanto, ao chegar ao Hospital Geral da Cidade de Kobe, algo fantástico ocorreu: Mitsutaka acordou.

Mais impressionante ainda, ele não havia sofrido nenhum dano cerebral.
Em maio de 1999, a esquiadora norueguesa Anna Bagenholm ficou submersa em águas geladas por mais de 1 hora, sendo considerada clinicamente morta.

Sem batimentos cardíacos, sem respiração e temperatura corpórea de 13oC, ela foi ressuscitada poucas horas mais tarde no hospital (Gilbert, M e colegas. “The Lancet”, 2000).
Tanto o bebê quanto o japonês e a norueguesa foram capazes de driblar a morte entrando em um estado conhecido como animação suspensa, no qual a maquinaria vital reduz sua atividade ao mínimo necessário, mas sem parar completamente. Esse estado é comparável à hibernação em alguns mamíferos e, em geral, é acompanhado de redução da temperatura corpórea ou hipotermia.

O estudo desses casos isolados fez especialistas concluir que, em condições especiais, o homem também poderia hibernar.
Ainda que a hipotermia não esteja sendo explorada por completo na medicina, já são conhecidos os benefícios de diminuir a temperatura abaixo de 37 graus Celsius em casos de parada cardíaca na recuperação das funções vitais, evitando danos no sistema nervoso centr
Ovo podreEssa capacidade de flexibilidade metabólica entre a vida e a morte através da hipotermia chamou a atenção de Mark Roth, pesquisador do Centro de Estudos do Câncer Fred Hutchinson, em Seatle, EUA. Ele queria encontrar uma forma química (consequentemente mais rápida e prática) de induzir o estado de animação suspensa.
Roth refletiu que outra maneira de reduzir a atividade metabólica em mamíferos seria restringindo o consumo de oxigênio (hipoxia). Foi então que ele teve uma ideia, enquanto assistia a um documentário sobre escavações em cavernas no México. Trabalhadores das minas mexicanas tinham de utilizar máscaras constantemente, para se proteger do gás sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio (símbolo químico: H2S).

Em altas concentrações, esse gás pode matar em minutos, pois bloqueia os receptores de oxigênio das células, que não conseguem mais absorver o oxigênio.
Daí veio a sacada de Roth: o H2S é um produto do metabolismo celular que está naturalmente presente no sangue e só apresenta riscos vitais em altas doses. Se administrado em concentrações mínimas, o H2S teria, em princípio, o potencial de reduzir profundamente a demanda de oxigênio, a ponto de diminuir o metabolismo celular e proporcionar um estado de animação suspensa. Para quem acha que nunca respirou gás sulfídrico, ledo engano… A grande maioria de nós já teve a chance (infelizmente) de sentir o cheirinho desagradável de ovos podres.
Voltando ao Roth, ele imediatamente resolveu expor seus camundongos a baixas concentrações de H2S e foi capaz de induzir até 6 horas de hibernação reversiva. Seus resultados foram publicados na prestigiosa revista “Science” (Blackstone e colegas, 2005) e uma fila de investidores veio bater na porta do seu laboratório. Em pouco tempo, havia acumulado 10 milhões de dólares para financiar seus próximos experimentos.
Pílulas de hibernaçãoMuito mais do que uma curiosidade biológica, a manutenção do estado de animação suspensa em humanos tem o potencial de ser uma poderosa ferramenta clínica. Desde a publicação original em 2005, a empresa farmacêutica americana Ikaria (nome inspirado na ilha grega cujas fontes sulfurosas foram associadas à medicina regenerativa) reformulou o H2S em líquido injetável que está sendo utilizado nos primeiros testes clínicos.
As aplicações de dessa tecnologia extraordinária podem ser imensas. Imagine se pudéssemos induzir o estado de hibernação em um acidentado enquanto esperamos o socorro que não chega? E soldados em batalha, será que teriam mais chances se ganhassem mais tempo durante o transporte? Ou então para manter pacientes na fila dos transplantes enquanto esperam? Carregaríamos no bolso pílulas de hibernação assim como carregamos aspirinas. Parece ficção científica nos dias atuais, mas talvez não em 50 anos. Lembre-se disso da próxima vez que cheirar ovo podre!


O humanzé e os bolcheviques: a tentativa de mandar a igreja pros infernos

A possibilidade de cruzamento entre humanos e outros primatas tem sido discutida tanto na ficção quanto na literatura científica há séculos. A possibilidade de cruzar a fronteira que separa os humanos das outras espécies é um campo fértil para diferentes pontos de vista e viola diversos tabus culturais e éticos.
O interesse nesse assunto sempre acompanha certo medo e aversão. De certa forma, essa reação faz sentido. Afinal, estamos aprendendo que a relação próxima de humanos com outros animais pode favorecer a transmissão de microrganismos fatais à espécie humana, como no caso do vírus causador da Aids, o HIV. Porém, sabemos dessa conseqüência hoje em dia apenas. No passado, experimentos para estudar um possível híbrido entre humanos e chimpanzés foram propostos. O que pouca gente sabe é que, de fato, ocorreram, e com consentimento da sociedade.
Estamos em fevereiro de 1926, quando o governo da então União Soviética, com o apoio de sua Academia de Ciências, enviou uma curiosa expedição para a África. O objetivo era inseminar artificialmente chimpanzés fêmeas com esperma humano e obter, caso viável, um híbrido das duas espécies. O líder dessa expedição era o respeitado professor russo Ilya Ivanov.
Ivanov era um nome de peso na área de reprodução no começo do século (1907). Com seus experimentos de inseminação artificial (um sacrilégio na época), conseguiu exterminar a idéia de que o ato sexual era necessário para a reprodução. Ivanov desenvolveu instrumentos que permitiam uma operação simples e rápida no campo, conseguindo colocar a Rússia em posição de destaque na pecuária. Logo, sua tecnologia estava sendo aplicada em cavalos e outros animais de interesse. Esse sucesso foi conseguido por causa do constante apoio financeiro que recebia dos ministérios russos e da aristocracia da época. Mais tarde, Ivanov ganharia seu próprio laboratório, recebendo cartas de recomendação de Pavlov, o primeiro prêmio Nobel da Rússia.
O trabalho experimental de Ivanov sofreu influências da genética, ciência que começava a surgir em solo russo, fazendo com que se interessasse por questões fundamentais sobre a fertilização de diferentes espécies animais. A fertilização artificial permitia o cruzamento de animais diferentes, construindo novas formas de vida que não existiam na natureza. Diversos experimentos foram feitos, resultando em híbridos exóticos. Em 1910, Ivanov comenta publicamente que o uso da inseminação artificial poderia gerar um híbrido entre humano e outros primatas. No entanto, não existem evidências de que estaria planejando algo assim, talvez pela falta de acesso direto às espécies para experimentos. A situação mudaria drasticamente após a Revolução Russa de 1917.
O radicalismo do comunismo bolchevique chegou destruindo o sistema de terras privadas e toda a hierarquia da sociedade russa. No entanto, a revolução respeitava o significado da ciência e seus especialistas. A revolução eliminou a rede de apoio financeiro que Ivanov tinha, principalmente da aristocracia e realeza. Para seguir seus estudos, Ivanov acabou indo para a Alemanha e depois para a França, onde lançou a ideia dos experimentos de hibridização de humanos e chimpanzés aos diretores do Instituto Pasteur. Curiosamente, os diretores permitiram que Ivanov utilizasse as instalações da estação de primatas em Kindia, na Guiana Francesa.
Com o apoio francês, Ivanov pediu permissão para sua missão aos bolcheviques. A aceitação dos experimentos e da proposta foi feita com base no fato de que, caso ele gerasse um híbrido, esse seria usado como propagando do partido contra os ensinamentos religiosos e para a libertação dos trabalhadores do poder da Igreja Ortodoxa. Literalmente, o que o partido queria era esfregar na cara dos religiosos um híbrido primata, meio humano, meio chimpanzé, como evidência crucial da teoria evolutiva de Darwin.
A definição de humanos como superiores aos outros animais influenciou diversos pensamentos racistas, classistas e machistas. O estado “degenerado”, também considerado como primitivo ou animal, era visto como um ataque moral à espécie humana. O programa revolucionário socialista tentava aniquilar esses conceitos, destruindo tabus sociais e culturais. Era mais fácil falar em experimentos cruzando espécies dentro desse contexto bolchevique.
O medo de que a Rússia não se industrializasse tão rapidamente quanto o Ocidente tinha como principal razão a falta de cultura e analfabetismo da população, parcialmente causada pelo forte contexto religioso. Assim, a elitização da ciência e principalmente o experimento de hibridização proposto por Ivanov seriam fortes aliados para “iluminar” a população. A ressonância pública de tal híbrido seria uma forma de o comunismo derrotar visões religiosas. Darwin, em particular, tinha um valor político direto como ferramenta de propaganda antirreligiosa. Curiosamente, não existem evidências sobre qualquer discussão a respeito do aspecto ético de tal experimento. Aparentemente, o fato de que os experimentos seriam executados longe da “sociedade civilizada” era suficiente para que as questões éticas e morais fossem deixadas de lado.
No primeiro semestre de 1927, Ivanov, auxiliado por seu filho, já havia inseminado três chimpanzés fêmeas, mas nunca obteve um híbrido. As descrições das inseminações nos animais extraídas do diário de Ivanov mostram claramente o trato brutal com os animais, muitas vezes causado pela pressa em realizar os experimentos, longe do olhar crítico do pessoal que trabalhava na estação e que não tinha a capacidade mental para entender tais experimentos. A natureza do esperma também não é clara. Se por um lado Ivanov havia escrito que esperma de um “negro” poderia funcionar melhor, é possível que tenha usado esperma do próprio filho. A falta de sensibilidade de Ivanov durante os experimentos talvez reflita a necessidade de se distanciar psicologicamente de um bebê híbrido em potencial.
Aparentemente, a razão do fracasso em Kindia foi atribuída ao fato de que os animais usados eram pré-adolescentes, fato desconhecido na época. O financiamento inicial de Ivanov estava chegando ao final, mas ele esperava que, se conseguisse obter ao menos um híbrido, garantiria fundos futuros. Quando seu período terminou, Ivanov levou alguns primatas para Sukhum, uma estação de primatas com clima subtropical no território soviético.
Nessa etapa, Ivanov tentou continuar seus experimentos, mas desta vez usando mulheres voluntárias que seriam inseminadas com o esperma de um orangotango macho, conhecido como Tarzan. Num primeiro momento, Ivanov estaria disposto a fazer os experimentos sem o consentimento das mulheres, mas foi vetado pela Academia de Ciências Russa. A única opção viável seria executar os experimentos com voluntárias.
Interessante notar que, ao mesmo tempo em que a Revolução Russa buscava uma sociedade sem classes, também buscava a igualdade entre os sexos. Mulheres deveriam ter participação política e liberdade para divórcio ou aborto. Milhares de jovens mulheres participavam das campanhas de emancipação promovidas pelo Partido Comunista. E foi nesse contexto que foi anunciada a necessidade de voluntárias para o experimento de Ivanov, o qual buscava mulheres “iluminadas pelo comunismo e livres de tabus supersticiosos”. Ivanov e os cientistas da época ignoravam completamente que uma voluntária poderia se afeiçoar sentimentalmente ao bebê. Por incrível que pareça, Ivanov conseguiu uma voluntária.
Em carta destinada a Ivanov, a voluntária se mostrava desesperada com problemas particulares e só via razão em existir ao servir a ciência. A análise microscópica do esperma de Tarzan mostrou espermatozoides ativos. Infelizmente, Tarzan morreu de forma inesperada de uma hemorragia cerebral. O experimento teve de ser adiado e novos animais foram requisitados.
Ivanov estava numa posição delicada. Se por um lado a revolução cultural russa tornou seus experimentos ideologicamente aceitáveis, por outro o colocava em risco pessoal. Ivanov era considerado um dos “tradicionais especialistas” e corria o risco de sofrer críticas políticas e repressão. De fato, Ivanov acabou sendo acusado e exposto por seus antigos assistentes, um padrão comum usado pelo partido para afastar antigos cientistas que haviam servido à aristocracia.
Os experimentos de Ivanov terminaram quando foi aprisionado pelo serviço secreto russo em 1930, acusado de atividades antirrevolucionárias. Foi liberado no ano seguinte, mas morreu com 61 anos sem ter publicado nada sobre suas tentativas de gerar um híbrido. Documentos referentes a isso ficaram esquecidos em antigos arquivos durante anos. Até que algum roteirista de Hollywood se interesse pela história, a grande maioria das pessoas não saberá nada sobre os experimentos de Ivanov.
Nas décadas seguintes, diversos pesquisadores propuseram que esses experimentos fossem realizados, mas eles estavam cada vez mais impossíveis do ponto de vista ético: o que aconteceria se o experimento fosse um sucesso? O híbrido seria considerado humano ou animal? Poderíamos usar a definição de “humano” para os híbridos?
Uma vez que os humanos diferem de outros primatas no número de cromossomos, é possível que eventuais híbridos sejam estéreis. Hoje se sabe que, muito provavelmente, a inseminação de esperma humano em outros primatas não resulta em fecundação, pois o esperma humano é imunogênico, sendo atacado prontamente pelo sistema imune de primatas não-humanos. No entanto, o inverso pode não ser verdade. Aliás, hoje em dia a fertilização in vitro poderia, em tese, gerar embriões híbridos em laboratório e implantados diretamente no útero. Acredita-se que o embrião não conseguiria se desenvolver por muito tempo por causa da incompatibilidade genética.

Apesar de termos cerca de 99% de nosso DNA semelhante ao dos chimpanzés, as duas espécies seguiram caminhos evolutivos muito distintos.
Muito provavelmente esses experimentos nunca foram realizados. O sentimento de aversão que surge na maioria das pessoas quando expostas a essa idéia não tem uma explicação clara. Parte disso parece estar ligada a um resíduo na crença de que o material humano é sagrado. Mesmo um dos maiores racistas de todos os tempos, Adolph Hitler, expressou indignação sobre possíveis experimentos de hibridização humana, acreditando que qualquer mistura levaria à degeneração da espécie.
Do ponto de vista cientifico, vejo pouco fundamento em tais experimentos. Mas o fato de que eles foram plenamente justificados por uma sociedade humana é um alerta que faz pensar. Valores morais não são estáticos.


Células-tronco e câncer

Uma das ideias mais quentes na área de células-tronco é a hipótese de que o processo cancerígeno seja originado a partir de algumas células-tronco que se replicariam rapidamente, dando origem à massa tumoral com células mais diferenciadas.
A idéia surgiu há uns 15 anos, quando o pesquisador canadense John Dick descobriu que nem todas as células do câncer são iguais. Com uma estratégia bem elegante, seu grupo demonstrou que apenas uma pequena parcela de uma população de células oriundas de um paciente com leucemia era capaz de gerar tumores. Essa pequena parcela tinha como característica a capacidade de se expandir rapidamente quando comparada com as outras células, mais vagarosas. Essas células foram então batizadas de células-tronco de câncer.
O modelo foi revigorado em 2003, com a demonstração de que cânceres sólidos também continham uma pequena fração de células com o potencial de gerar novos tumores (Al-Hajj e colegas, “PNAS”, 2003). Desde então, o isolamento dessas células-tronco em diversos outros tumores, incluindo cérebro, pulmão e pâncreas, vêem reforçando a idéia original. A excitação de médicos e pesquisadores com essa idéia é óbvia. Afinal, bastaria atingir as células-tronco do câncer para impedir que o tumor prolifere.
DesafioEm 2007, um grupo de Harvard publicou dados que confrontavam essa teoria. No trabalho, o grupo mostrou diversas diferenças genéticas entre as ditas células-tronco de um câncer de mama e outra população de células mais diferenciadas do mesmo tumor. Acabaram por descobrir que as populações eram geneticamente diferentes, sugerindo que cada uma teria uma origem distinta e não que as células-tronco do câncer fossem o foco originário da massa tumoral (Shipitsin e colegas, “Cancer Cell”, 2007).
Esse novo dado sugere que, ao contrário da teoria das células-tronco cancerígenas, as células do tumor teriam origem clonal. Eu explico: seriam necessários eventos isolados que levariam uma única célula a perder o controle da proliferação celular. Assim, essa única célula daria origem a outras que poderiam sofrer novas alterações genéticas, criando populações de células geneticamente distintas (clones) que competiriam entre si. Dessa forma, eliminar as potenciais células-tronco do tumor não seria suficiente, pois as células restantes ainda poderiam sofrer novas alterações, contribuindo para o crescimento do tumor.
Apesar da dicotomia entre essas duas idéias, é possível que a carcinogênese seja uma mistura desses dois fenômenos. Afinal, a teoria das células-tronco de câncer não exclui o surgimento de novas mutações em células mais diferenciadas. Além disso, essas células-tronco não são homogêneas entre si e já foi relatado que podem surgir variantes genéticas com o tempo.
Outro conceito instável atualmente é o de que as células-tronco seriam extremamente raras. No ano passado, o grupo de Sean Morrison demonstrou que bastaria apenas 1 em 4 células para iniciar um processo tumoral em um modelo animal para melanomas humanos (Quintana e colegas, Nature 2008). A percepção original era de 1 em 1 milhão de células!
Faltam modelosInfelizmente, um dos problemas nessa área é a falta de modelos biológicos relevantes. Normalmente, esses modelos são criados com a injeção ou transplante de células tumorais humanas em camundongos geneticamente modificados para manter o sistema imune deficiente, evitando a rejeição. Funciona, mas está longe de reproduzir o que realmente acontece no corpo humano. Por isso mesmo, existe uma série de pesquisadores e indústrias farmacêuticas interessados em desenvolver modelos animais mais semelhantes aos seres humanos.
É bem provável que, dependendo do tipo de câncer, uma teoria ou a outra se aplique. Também é possível que surjam novas idéias para explicar por que alguns tumores são mais resistentes e agressivos que outros, e que não envolva nenhum desses dois conceitos. O campo de pesquisa na área é fértil e profissionais de diversas áreas serão necessários para entender um dos maiores mistérios da medicina: afinal, o que causa o câncer?

Mazelas do marketing científico
A divulgação de dados científicos é uma das formas mais comuns de que a sociedade dispõe para se educar a respeito do que se passa nos laboratórios de pesquisa, amplamente financiados com dinheiro público, fortalecendo a confiança da sociedade em seus cientistas.
Quando um resultado científico é divulgado através da mídia, a sociedade acaba por aceitar a informação como correta. Isso porque ela não possui conhecimento suficiente para questionar experimentos sofisticados ou ultraespecializados. Acaba confiando demasiadamente no jornalista e/ou meio de comunicação, assumindo que está lidando com dados científicos, comprovados, revisados e publicados. Infelizmente, hoje em dia essa é uma atitude passiva e não combina com o rápido crescimento do conhecimento gerado através das novas tecnologias.
Um dos problemas é a divulgação de resultados preliminares ou ainda não publicados em revistas científicas de impacto internacional. Em geral, esses dados preliminares estão sempre reportando grandes avanços ou descobertas fenomenais. Infelizmente, a maioria dessas pesquisas acaba por não passar pelo crivo da revisão por pares (forma que os cientistas encontraram de julgar a qualidade de um trabalho científico) e nem chega a ser publicada. Outras acabam por alterar as conclusões originais, invalidando o que foi previamente divulgado.
Quando isso acontece, as conseqüências são sérias. Cada vez que a mídia divulga algo errado, acaba por abalar a credibilidade de ambos: cientistas e jornalistas. Além disso, pode-se causar pânico ou esperança desnecessária, uma vez que as pessoas começam a imaginar as conseqüências da nova descoberta, como a descoberta de um vírus mortal ou a cura para uma doença. Por último, diria que as agências de fomento ou doadores filantrópicos em potencial podem evitar o investimento em determinada área científica, atrasando o conhecimento. Todo mundo perde.
Em alguns casos, o estrago é difícil de consertar. Vou exemplificar com um caso conhecido e que, apesar de ter sido solucionado cientificamente, ainda não está claro para a sociedade em quem acreditar. Em 1998, a famosa revista médica inglesa “The Lancet” publicou um artigo de autoria de Andrew Wakefield sobre uma possível ligação entre autismo e a vacina contra sarampo. Essa ligação nunca foi confirmada, e diversos trabalhos científicos foram publicados posteriormente negando qualquer correlação entre vacinação e incidência de autismo. Infelizmente, o mal já estava feito, e os dados preliminares originais foram amplamente divulgados pela mídia inglesa e mundial. Pais assustados com a nova informação deixaram de vacinar seus filhos, aumentando drasticamente o número de casos de sarampo na Inglaterra.
A história tem um apelo quase novelístico, mantendo-se na mídia quase diariamente. Os pais de crianças autistas têm, finalmente, uma explicação conveniente para justificar o desenvolvimento da doença. Alguns até hoje acreditam que essa é realmente a causa, rejeitando qualquer outro dado científico que mostre o contrário. Preferem acreditar que exista uma conspiração mundial para esconder a verdade. A história rende.
Mas não quero passar a impressão que sempre a culpa é do jornalista, que não entende o que, nós, nobres cientistas, querem dizer. Muitas vezes, o cientista também se apóia na mídia. Esse apoio, em geral, tende a ser saudável, auxiliando a compreensão e digestão das novas descobertas pela sociedade, que passa então a julgar se a pesquisa é relevante ou não. Agências de fomento estimulam, corretamente, os cientistas a divulgar seus dados na mídia. O problema é quando a divulgação acontece antes da publicação ou confirmação dos dados. Essa é uma área cinza e, a meu ver, só existe uma solução: jamais divulgar dados não publicados. Lembro de um orientador que costumava dizer que dados não publicados simplesmente não existem. É verdade, na ciência é assim. Nos EUA, onde a competição e a massa crítica científica são maiores, isso é levado muito a sério, e a divulgação antes da hora é vista quase como charlatanismo. Além de perder potenciais diretos de patente, o cientista perde o respeito de colegas e da instituição de vínculo que, dependendo do estrago, pode até repreender o pesquisador com a expulsão.
Jornalistas também poderiam adotar medida semelhante, colocando o sarrafo na mesma altura. Aliás, a sociedade poderia elevar o nível e se proteger ao exigir que as matérias de divulgação científica mencionem sempre onde o trabalho foi, ou está, sendo publicado.

Reparem que toda grande matéria, ou respeitável jornalista, menciona a publicação dos dados como referência para maiores detalhes, caso o leitor deseje saber mais. Ao perambular pelos dois mundos, eu mesmo tenho me deparado com leitores exigindo as referências corretas das pesquisas que cito nos textos. Os leitores dessa coluna estão corretos e passei a me preocupar ainda mais com isso quando escrevo um texto de divulgação científica.
A excitação com os resultados preliminares é perfeitamente natural, mas não justifica os potenciais danos sociais.

Além disso, que lição estaríamos dando aos novos pesquisadores? Que é suficiente ou melhor publicar no jornal ou na TV do que numa revista científica? E aos novos jornalistas? Que pouco importa se o trabalho foi publicado ou não? Que o furo é melhor do que o conteúdo? Infelizmente, tanto jornalistas quanto cientistas são seres humanos, vaidosos, que dividem um medo em comum: o medo da insignificância, de passar desapercebido.

A fórmula contra esse medo é achar valor no próprio trabalho. Para os cientistas esse valor pode estar na publicação nas melhores revistas. Para os jornalistas, na matéria imortal.

Eliminando memórias

Imagine que exista vida após a morte. Imagine agora que, antes de partir para essa outra vida, você fosse direcionado para um lugar especial, um lugar onde você teria um tempo para refletir sobre sua existência e escolher apenas uma memória que o acompanharia para todo o sempre. Todas as outras memórias seriam cuidadosamente “apagadas” do seu cérebro. Qual seria a memória que você escolheria? Escolher uma única memória, ou apagar outras, pode significar a redescoberta de sua própria vida. Memórias são importantes, representam quem você é ou foi. Esse é justamente o roteiro do belo filme “After Life”, de Hirozaku Kore-eda.
Curiosamente, a escolha de memórias pelas personagens do filme estava vinculada à remoção de outras memórias do cérebro. Até recentemente, não sabíamos se a remoção de memórias específicas do cérebro seria ou não possível. Semana passada, um artigo publicado na prestigiosa revista especializada “Science” (Han e colegas, 2009) relatou experimentos em camundongos mostrando ser possível apagar seletivamente memórias do cérebro.
Acredita-se que as memórias são armazenas em redes neurais, “dentro” de um grupo restrito de neurônios que se comunicam. No entanto, a exata correlação entre grupos de neurônios e memórias nunca havia sido demonstrada de forma convincente.
No estudo da “Science”, o grupo de pesquisa gerou uma memória de “medo” num grupo de camundongos. A memória foi gerada a partir do condicionamento do animal ao som de um apito com um pequeno choque elétrico nas patas. Logo depois de ouvir o apito, o animal levava um pequeno choque. Após algumas sessões, bastava ouvir o apito que o animal já se colocava em um comportamento característico: literalmente congelava de medo, como se ficasse esperando pelo choque.

Amígdala
Sabia-se que o medo estava correlacionado com atividades de neurônios da amígdala lateral (uma região do cérebro, não na garganta…). Depois de gerar a memória de medo nos animais, o grupo usou uma estratégia genética para ativar uma toxina que atacava preferencialmente os neurônios dessa região do cérebro. Após eliminar de 10% a 20% desses neurônios, a memória de medo foi eliminada por completo do cérebro dos animais. Comportavam-se ao ouvir o apito como se nunca tivessem sido expostos aos choques: os animais não apresentavam o comportamento característico de medo. Como se tivessem esquecido que, ao ouvir o apito, levariam um choque.
Num estudo publicado anteriormente, já havia sido mostrado que, estimulando esses neurônios, conseguia-se amplificar a memória do medo. Juntos, esses dois experimentos confirmam o papel da amígdala no conteúdo emocional da resposta ao medo e começam a determinar quais seriam as redes neuronais envolvidas. Em humanos, a síndrome de Kluver-Bucy, um distúrbio comportamental que ocorre quando regiões da amígdala são retiradas por algum motivo, os indivíduos tornam-se mais dóceis, menos estressados e perdem a capacidade de avaliar situações de perigo.
O mais intrigante do estudo da Science é que nenhuma outra memória foi, aparentemente, atingida. Mesmo memórias de outros medos não foram apagadas. O procedimento também não interferiu em nada com a capacidade dos animais de adquirirem novas memórias. Os animais foram inclusive capazes de reaprender a memória do medo dos choques depois de um período novo de treinamento. Os resultados obtidos foram específicos, potentes e duradouros.
Apesar dos avanços, não estamos nem perto de apagar memórias em humanos. Memórias constituem a base do aprendizado e personalidade de cada um de nós. Na verdade, devemos pensar direito que memórias apagaríamos se tivéssemos realmente essa oportunidade. Apagar memórias ruins não é nada trivial, afinal elas existem por uma razão: hoje em dia você não coloca a mão no fogo ou na tomada, correto?
Por outro lado, eliminar memórias deletérias para a saúde humana, como no caso de episódios de estresse pós-traumático, poderia funcionar como uma nova terapia. Ainda chegaremos lá.


O cérebro moral

O recente caso da menina de 9 anos, estuprada pelo padrasto e que interrompeu a gravidez, comoveu o mundo. Mas comoção maior veio depois das críticas e julgamento moral de grupos religiosos contra médicos e familiares que consentiram com o aborto.

O episódio ilustra uma das questões filosóficas mais antigas e que está sendo trabalhada pela neurociência: o que é certo e o que é errado? Esse valor moral é particular dos humanos ou outros animais também o possuem?
A questão da origem do valor moral intrigou grandes pensadores, e basicamente três fontes foram cogitadas. Primeiro, o que é certo ou errado tem origem em uma autoridade divina. Os seres humanos não interferem nisso, apenas aceitam a opção da divindade. Segundo, o que a origem estaria na razão, ou seja, seria através da troca de argumentos que se chegaria a uma conclusão para cada caso.

Por último, cogitou-se que a origem da moral estaria na biologia de cada espécie, no seu conjunto genético, mas passível de interações com o ambiente.
A primeira hipótese foi contestada por Sócrates, que se baseou no fato de que culturas que vivem sem um “Deus”, ou entidade divina definida, possuem valores morais. Da mesma forma, culturas politeístas também possuem valores morais. Seu outro argumento foi a falta de se conseguir identificar uma linguagem clara da divindade.

Afinal, diversas pessoas começavam a defender pontos de vista discrepantes baseando-se apenas no fato de que era o mesmo “Deus” que havia assim ordenado. Como saber quem fala a verdade e quem mente?
Já Aristóteles identificou os humanos como animais sociais e sugeriu que a moral ajudaria a resolver conflitos sociais, trazendo uma satisfação para os elementos envolvidos. Esse ponto foi muito bem aproveitado por Darwin, que argumentou que a moral humana deveria ter origem nos instintos sociais, nos hábitos e na razão. Pensando assim, o isolamento social teria um custo alto para o indivíduo, da mesma forma que a falta de confiança entre membros do grupo. Ou seja, indivíduos que se ajustariam às redes sociais se dariam melhor na vida, deixando mais descendentes.

O caso do vampiro pidão
Morcegos-vampiro costumam viver juntos, são animais altamente sociais. À noite, saem em busca de sangue e voltam carregados para alimentar seus filhotes. Os menos afortunados pedem sangue aos vizinhos, que têm a opção de doar ou não um pouco do que conseguiram coletar. Aí vem o fato curioso: ao negar alimento ao vizinho, o elemento é rapidamente marcado e não receberá nenhuma ajuda futura de nenhum outro membro da comunidade. Basta um curto período sem alimento e os indivíduos de toda a família morrerão de fome, na presença indiferente de todo o resto.
O caso do roedor ricardãoApenas 3% dos mamíferos são monogâmicos. Inclui-se aí uma espécie de roedor que, quando encontra seu par, permanece fiel até que a morte os separe. Machos membros de uma outra espécie, quase indistinguíveis entre si, são exatamente o contrário e não conseguem ficar com a mesma fêmea, estão sempre trocando de parceiras, sempre preferindo a novidade quando a escolha é apresentada. A diferença entre essas duas espécie está na ação de um único gene, o receptor do hormônio oxitocina. Elevados níveis de oxitocina foram relacionados com um aumento de confiança, redução da ansiedade e pressão sanguínea e redução dos mecanismos de defesa. É justamente esse o hormônio liberado na lactação, responsável por manter mãe e filho unidos. Assim, nos roedores fiéis, a presença elevada dos receptores no cérebro elevam a sensação de prazer ao se associar a uma fêmea única. Ao contrário dos machos infiéis, cujas redes nervosas foram geneticamente criadas para não se saciar nunca.
O caso do macaco descoladoO cultivo da confiança entre os membros de uma sociedade pode ser uma qualidade em alguns primatas. Nas comunidades de babuínos, a reciprocidade e a reputação contam muito para o estabelecimento de redes sociais. Curiosamente, o sucesso social nesse caso está diretamente relacionado com o sucesso reprodutivo.
O caso da cenoura americanaMas no caso dos humanos tudo é mais complicado, pois alteramos constantemente as forças seletivas “naturais” (veja coluna passada). Um número grande de amigos no Orkut não necessariamente coloca você em vantagem reprodutiva e pode até ser visto como algo negativo. As sociedades humanas se organizam de formas distintas. Criamos instituições e essas estão sempre a julgar os comportamentos sociais, seja com base na vontade divina (mulheres acusadas de bruxaria já tiveram que segurar uma barra de ferro quente, só Deus poderia intervir e fazê-las suportar caso fossem inocentes), na vontade monárquica ou na vontade de um júri popular.
Uma explicação para o surgimento de intuições desse tipo pode ser o grande número de indivíduos nos agrupamentos humanos. E quanto maior o grupo, mais difícil de selecionar novos membros. Estudos recentes de comportamento humano e em outros primatas apontam para o valor inconsciente dos gestos. A imitação dos pares parece ser crítica, pois sugere um funcionamento normal do cérebro e eventual lealdade com o grupo. Empresas americanas costumam perguntar em entrevistas de emprego que tipo de vegetal você seria. Por mais louco que possa parecer, 90% do inconsciente americano responde “cenoura”, de primeira. Respostas próximas, de vegetais que lembrem cenouras, são aceitáveis, mas respostas muito diferentes indicariam um desligamento social ou ausência da capacidade de trabalhar em grupo. O candidato pode até ser supercriativo e competente. Mas, se não veste a camisa do time, não será contratado.
As regras sociais humanas também variam muito, mesmo dentro do mesmo grupo social, algo não muito comum em outros animais. Crianças aprendem desde cedo que mentir é ruim, mas conforme crescem e ampliam as redes sociais, a mentira passa a ter um outro valor. Criou-se até o termo “mentira branca” para mentiras que supostamente não causam danos. Na complexidade das relações humanas, o julgamento moral também fica mais complexo.
Voltando ao triste caso da menina: como deveríamos agir como sociedade se fosse descoberto causas genéticas que justificassem o comportamento do padrasto? O mesmo valeria para os padres acusados de abuso de crianças? O que é pior: estupro ou aborto? Não acredito que a ciência vá gerar respostas para essas questões. É função dos cientistas gerar dados, mas a função da sociedade é decidir o que fazer com eles. Costumo discutir sobre questões éticas com pessoas com que me relaciono no dia-a-dia, desde o parceiro de trabalho ao motorista do ônibus. A tentativa é ampliar o pouco espaço para a reflexão e pensamento crítico nas redes sociais. Em geral, esse espaço é massacrado pelas respostas enlatadas que vêm dos jornais ou das novelas.

Globo.com

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